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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Sáb Abr 28, 2018 10:36 am
* As sombras retraíram-se subitamente. A voz, suave como a de um mestre, ecoou uma vez mais no salão de pedra escura*

- Serás feito, Aulus Otavios. Saibas, contudo, que este Conselho anseia pela noite na qual Dázbov de Ai-Petri retornes a nós. Pois, a ele estendemos a nossa confiança e dele esperamos não menos que o triunfo.

* As silhuetas parecem não ocupar mais os tronos e Dázbov retorna pela escadaria até encontrar Daharius Sarosh a esperá-lo. Ele parecia fitar o mar, perdido no movimento das ondas e da vastidão escura que delas se prolongam.*
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Sáb Abr 28, 2018 2:35 pm
Dázbov contemplou o mar, após se por ao lado de Sarosh. Algo havia mudado nele. Aquele homem, branco como a lua, não se lembrava mais de quem era.

Virou-se para encarar Sarosh.

- É engraçado, não é? Quantas vidas podem ser vividas.

Ouviu o som do mar e deixou que eles preenchessem seu corpo. Depois, forçou a respiração somente para expirar pesadamente. Era Aulus Otavius.

Virou-se para o vampiro que o acompanhava e acenou com a cabeça. Sabia que sua habilidade era ainda inicial, incipiente. Ainda assim, sem sequer lembrar que um dia viveu a dualidade entre Dázbov e Czernobog, concentrou-se e abriu o Abismo diante de si. Não governaria o destino, porém, esperando que Sarosh o levasse aonde deveria ir.


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Sáb Abr 28, 2018 6:31 pm
* Ao ouvir a afirmação, Sarosh sorri. O filho de Laza lembrou-se, em parcos segundos, de quantas vidas viveu em sua experiência com a noite.

A escuridão se abre como um portal convidativo e, ao adentrarem e serem envolvidos pelo piche obscuro, Sarosh determina a localização da saída de ambos. Quando o horizonte começa a se desenhar, a voz de Daharius ecoa pelo abismo*


- Nestas terras tu encontrarás a quem procura.

- Me despeço agora de Dázbov, o branco, na esperança de que Aulus Otavius cumpra seu papel e lembre-se, no fim da jornada, de sua origem. De sua real origem.


* A escuridão se vai e com ela a presença do filho de Lasombra. Dázbov, ou melhor, Aulus Otavius se vê em um campo longo e verdejante, com uma vegetação rasteira. Poucos passos revelam luzes ao longe, após uma pequena depressão no relevo, que revelam um acampamento de grande extensão. Após a mesma depressão, Otavius vê também o mar de corpos usando armaduras típicamente romanas que preenchem aquele solo.

Milhares. Com ferimentos profundos e comuns à guerra. Nenhum deles esboça qualquer sinal de vida durante sua passagem.*



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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Sáb maio 05, 2018 11:28 am
* Uma vez mais, Dázbov caminha pela escadaria de pedra a ouvir o chocar das ondas no paredão da montanha, atrás de si. E como era bom ali caminhar. Lhe preenchia de paz, a mesma e talvez ainda maior, sensação de pertença e tranquilidade do ponto mais alto de Ai-Petri. Sim, era mais, muito mais tangível e emocional.

Ao adentrar ao salão enegrecido, notou haver somente uma das silhuetas presentes, a do trono da esquerda com sua notável voz de maior autoridade que o recepcionou apropriadamente*


- Aulus Otavius, retornastes brevemente. Suponho tratar-se do assunto envolvendo os Filósofos e, em específico, Hannibal Barca.
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Sáb maio 05, 2018 12:02 pm
Dázbov fez uma mesura com a cabeça para a silhueta. Não havia pensado em um discurso nem em um relatório preciso. Decidiu que o mais sábio a fazer seria compartilhar suas impressões e deixar que o Conselho das Sombras cuidasse do resto. No entanto, sabia que suas palavras, quaisquer que fossem, carregariam um senso de urgência e uma pesada responsabilidade.

- Sim, meu Senhor. Retornei com brevidade pois breve foi o diálogo, mas importante o suficiente para nortear meu julgamento.

Olhou diretamente para a silhueta.

- O Brujah Hannibal não tem, aparentemente, relações de amizade ou afeto com Ta-Urt. Mantém sob seu controle uma de suas crias, acreditando que desta forma a mão da Setita pesará menos sobre ele e sobre os seus. Que desta forma a passagem de seus homens, presos no Egito, seja permitida. Existe, portanto, um acordo. Um acordo falho, na minha opinião, pois os Filhos de Set estão mais do que prontos a abdicar de suas crias para obter o que desejam que, neste caso, é a nossa destruição.

- Aníbal declarou que Ta-Urt será destruída por suas mãos, embora não nos tenha dito como. Aníbal sabia da natureza da Serpente, mas optou por escondê-la do restante do Conclave, pondo a não vida de todos em risco. Aníbal se recusou a ser derrotado, uma atitude nobre. Mas não tão nobre quando o preço a ser pago é compactuar com o inimigo.


Dázbov suspirou, brevemente.

- É por isso que considero que Ta-Urt deverá ser destruída o mais rápido possível. Independentemente do bem estar dos homens de Aníbal Barca e dele próprio. Odoacro lhe deu um prazo para que os homens se retirem do Egito, e acho sábio respeitar este tempo antes de agir. No entanto me preocupo, e penso que em cinco dias tudo pode mudar. Meu pensamento é que Aníbal, embora tenha agido imprudentemente e se comportado como um neófito inexperiente, não deve ser executado por suas ações. No entanto, no momento em que se opuser frontalmente à nossa ação, e se o fizer, deverá ser neutralizado, pois demonstrará que se preocupa muito mais com o bem estar da Serpente do que com a evolução do que planejamos.

- Se houver uma forma de romper o cerco ao qual seus homens estão submetidos, um cerco construído por Marcus Verus que, possivelmente, conspira com Ta-Urt, nossos problemas estarão resolvidos, e uma quantidade razoável de homens será poupada. Se não tivermos escolha e caso precisemos agir de imediato, o sacrifício de mortais faz parte das casualidade para as quais estávamos prontos.
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Sáb maio 05, 2018 8:05 pm
* A silhueta da esquerda parece não responder. Pelo contrário, se retrai e desvanece deixando o trono vazio.

Não tarda e as sombras preenchem o salão como Dázbov jamais vira. A sensação era de que o mar negro e ondulante, abaixo do castelo, o havia inundado. Sentiu-se abraçado pelo abismo como nem mesmo a Travessia das Sombras o proporcionava.

Sentiu frio, calor e pertença. Sentiu e isso bastava.

Após as sensações e notar-se na mais profunda escuridão, embora leves silhuetas em seu entorno o fizessem ter a certeza de que se mantinha no mesmo salão do Conselho das Sombras, ergueu o olhar e viu uma figura sentada no trono central. Não se tratava de uma sombra, um vulto, era um homem que se destacava da escuridão a seu redor como se apenas ele estivesse sob a luz da lua.

Sua pele era tão branca quanto a de Dázbov, mas em palidez ao invés de falta de pigmentação. Seus cabelos eram longos e escuros e misturavam-se as sombras de seus ombros. Seus olhos eram como orbes negros e profundos de onde todo o abismo parecia fluir. Era magro, esbelto e longilíneo.

Não havia nenhum peso sobre os ombros de Dázbov, havia apenas a sensação de que ele havia aguardado a sua não-vida inteira por aquele momento. Quando sua voz ecoou, em tom grave porém suave, baixo, foi como se pela primeira vez Dázbov ouvisse Borghav, Ekimmu e todos os que o antecediam de uma só vez. As palavras foram breves, mas decisivas.*


- Qual o seu decreto, meu filho?
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Dom maio 06, 2018 5:42 am
O Deus de Ai-Pétri caiu de joelhos diante do trono. Estava em choque. Não conseguia se mexer, pensar ou falar. Não ousava encarar a figura. Dázbov intuía, ou melhor, sabia de quem se tratava. Merecia tamanha honra?

Tentava organizar os pensamentos, se pronunciar diante do Deus do Rio das Trevas, mas era inútil. Sua mente foi inundada de recordações, a tundra siberiana, os anos que passou caminhando pelas montanhas até encontrar Borghav. Quem era aquele homem, frágil, quase morto, que havia alcançado os pés do Ai-Pétri para fugir do frio e da fome? Quem era ele agora? Não importava, realmente. No fim das contas, tudo o que Dázbov era e seria estava vinculado àquele homem que agora estava diante dele. Lágrimas rubras rolaram pela face albina do cainita. A presença Dele era grande demais, forte demais para alguém tão pequeno quanto Dázbov.

Se ergueu. Queria se aproximar. Desejava tocá-lo, medir se aquilo era real. Mas tinha medo. A última coisa que Dázbov queria era agir de forma equivocada, excessivamente íntima. Não pôde se conter, contudo. Avançou, com passos tímidos, vacilantes. Estendeu a mão em direção à mão de seu Ancestral. Beijou-a demoradamente, e as lágrimas escorriam em profusão.

Lembrou-se de seu nome. Se recompôs, enxugando as lágrimas com as costas das mãos.

- Sou Casimir, meu Senhor, filho do frio e da fome. Sou Dázbov, o Deus Branco da Montanha, que ao Norte defendeu o teu legado e que o Norte abandonou quando foi chamado pela Tua Casa. Serei Aulus Otavius, aquele que levará a tua vontade e a tuas justiça até as entranhas de Roma. Não importa quem sou. Tudo o que me define me reconduz ao Senhor. Eu o agradeço.

Tremia. A voz vacilava. Lembrou-se, porém, que deveria responder uma pergunta.

- Meu decreto é que a destruição da Filha de Set que atende pelo nome de Ta-Urt seja uma prioridade do Clã da Noite. Que os homens de Aníbal Barca possam ser libertados do cerco em que se encontram, pois imagino que são homens valorosos e, ainda que não o sejam, serão úteis nas batalhas que virão e diminuir as casualidades mortais neste conflito é também nossa obrigação. Aníbal Barca, porém, não deve responder à nossa justiça, mas sua submissão à Serpente deverá ser tornada pública, pois um segredo ele manteve, e todos aqueles que foram enganados tem o direito de saber. Aníbal deverá enfrentar o julgamento dos outros membros da aliança, assim como o de seu Clã, por ter cometido um erro tão grosseiro quanto o de associar-se a uma Serpente. Se isto reduzir a sua autoridade na frente que comandamos, tanto faz. Os espaços abertos serão competentemente ocupados.
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Seg maio 07, 2018 7:54 pm
E o tempo parou.

Nada mais importava além daquele momento. Talvez Dázbov, não, Casimir, tenha imaginado que aquele ser reagiria de outra forma ou julgaria sua timidez e lágrimas.

Não.

A escuridão o envolveu e, o agora Aulus Otavius, viu aquele homem alto e esguio ainda sentado em seu trono inclinar o corpo aproximando-se de seu descendente e erguer uma de suas mãos que enxugou-lhe, lentamente, as lágrimas que  escorriam por sua face. Era como um pai a acalentar um filho machucado, que tombou em aprendizado e precisava de conselho. Foi somente após algum tempo em silêncio que a voz dele se fez ouvir novamente. Aquela voz era como se a própria escuridão lhe falasse. Baixa, suave e emanando uma paz que somente era encontrada no local mais escuro, longe da luz e dos sons, de tudo que o perturbava.*


- És nobre, Sangue do meu Sangue. Saibas que tua nobreza será testada nas noites por vir e que escolhas das mais pesadas recaírão sobre teus ombros. É nelas que os meus filhos demonstram o sangue que carregam.

- Não espero nada menos de Casimir que se tornou Dázbov e deste que se chamará Aulus Otavius.


* Sua mão longilínea e branca como a neve mais alva do Ai-Petri segurou o queixo de Casimir. Sim, do mortal, era assim que se sentia. E ele olhou, profundamente, através das pupilas de Dázbov. Havia um abismo inteiro naquele olhar.*

- Daharius Sarosh, meu segundo filho, cumprirá vosso decreto à exatidão de tuas palavras. Não haverão falhas, mas consequências se abaterão sobre as próximas noites. Consequências estas que residem na nobreza de vossa escolha.

*  Dázbov sentiu o peso daquela mão em seu queixo se esvair e a presença no trono se tornar apenas uma sombra inanimada. Estava sozinho no salão de pedra enegrecida, uma vez mais.*
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Ter maio 08, 2018 4:34 am
Por um tempo indefinido Dázbov se manteve ali, de pé, sozinho. Seus olhos estavam fixos no trono. Sentia-se bem. Era como se depois de séculos tornasse a sentir uma sensação de pertencimento. Seu isolamento em Ai-Pétri, temperado somente com visitas ocasionais a outros membros do seu Clã, lhe impedia de sentir-se assim em qualquer outro lugar que não a Montanha. Agora, aquele Castelo recortado contra o mar noturno era também sua casa. O havia visto, aquele que deu origem ao seu Sangue e a parte de sua personalidade, pois se enganavam os cainitas que pensavam ser completamente independentes de seus Ancestrais. Não, pensou Dázbov, somos um reflexo do que eles foram.

O Deus Branco estava pronto. Havia sido abençoado pelo seu Progenitor e faria tudo o que fosse necessário para que os planos do Clã da Noite dessem frutos. Não estava seguro de que seria bem sucedido. Dázbov era um cainita relativamente jovem imerso em uma trama muito maior que ele. Não obstante, procederia. Curvou-se diante do trono vazio, expressando seu respeito e sua gratidão. Depois, sem nem mesmo deixar o castelo, invocou a Escuridão que rodava o local, comandando que elas lhe envolvessem e portassem seu corpo à próxima etapa de sua missão. Deveria encontrar Canatos e, portanto, partiu para a Macedônia.
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Dom maio 13, 2018 8:41 pm
* As sombras envolvem Dázbov que caminha pelo Abismo rumo a seu destino. A Macedônia lhe foi explicitada por Daharius Sarosh, em detalhes, durante a viagem à Mecca. Embora jamais a tenha visitado, com o auxílio de um mapa e as descrições dadas por seu ancestral consanguíneo, Dázbov rumou até a Macedônia. Notou que quanto menor a familiaridade com o local, mais difícil é fazer a travessia.*

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Dom Jul 15, 2018 9:15 pm
Das frestas daquelas pedras escuras, as trevas brotaram como sangue a jorrar de uma veia aberta. Inundaram o salão e preencheram o local com suas dançantes formas.

Do turbilhão, Aulus, Appius, Salianna, Qaphsiel, Arhmad e Sejanus foram expelidos como corpos estranhos a serem regurgitados por um organismo vivo. Viram, ainda, um evocador daquela massa sombria cair de joelhos à sua frente.

Seus olhos negros vertiam sangue, sua expressão era de agonia. Aulus percebeu o quão extenuante e sacrificante havia sido a travessia sombria para aquele cainita. Aquele, capaz de sentar em um dos três tronos negros.

Viram-se sem um salão de pedra negro, amplo e escuro, com visíveis três tronos em um andar acima como se anéis de pedra formassem andares superiores. Apesar da escuridão, conseguiam enxergar-se e ao ambiente. Aulus percebeu que o ambiente estava notoriamente mais claro que das últimas vezes. Não haviam sombras a deslizar pelas paredes e a sensação de vazio naqueles tronos era absoluta. Desesperadora.

O cainita de cabelos escuros e longos, pele alva como a lua e manto negro mantinha-se no chão, tentando recompor a força necessária para  o simples ato de ficar de pé. Demorou-se, seu corpo pagava um preço alto por desafiar a leis do mais antigo. Sua voz era suave e falha em virtude da dor visível que sentia.


- Ouçam-me...

Primeiro, direcionou seu olhar cansado e manchado de sangue à Aulus Otavius, embora o tenha chamado por outro nome.

- Dázbov, neste momento Laza e seus dois filhos que ainda caminham nestas noites além de mim, Montano e Sarosh, batalham nos confins do abismo para que terrores inimagináveis não rompam o véu que os guarda. Até que isto aconteça, o Abismo está fechado através da vontade de nosso progenitor.

A mente daquele homem insinuou-se sobre a de Aulus. Não foi sutil, não esperou permissão, o senso de urgência era maior.

" Somos uma família fragilizada neste momento. Estaremos privados da força que extraímos da escuridão. O que há no Abismo lá deve ficar, até que o inimigo seja vencido.

Continuou, falava e de sua boca sangue começava a verter.


- Meus últimos esforços fecharam os caminhos pelos quais percorremos. O inimigo não chegará a nós, não por meios místicos. Não aqui.


Por fim, encarou os demais, demorando-se em Salianna a qual olhava com ternura.


- Reúnam-se e ouçam, há muito a ser definido nesta noite. O inimigo ergueu-se.

Houve silêncio, o local pareceu mais escuro embora Aulus soubesse que suas habilidades estavam limitadas. Parecia ser natural ao Castelo e não vontade daquele que os falava.

- Moloch caminha sobre a terra uma vez mais ao lado de sua amante, Troile.
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Seg Jul 16, 2018 10:50 am
Aulus acompanhou tudo como um espectador passivo. As coisas ocorriam em uma velocidade estonteantes, alcançaram Qaphsiel e depois viram a queda de Odoacro. O Rei do Norte havia caído. Aulus pensou na possibilidade de intervir e salvar seu aliado, mas a Escuridão que o dragava era muito mais forte, selvagem, do que o que estava acostumado. Sentiu-se contente de ter Ahrmad e Qaphsiel, neste contexto. E não deixou de notar a presença do general romano que, felizmente, os acompanhou. Restava saber se ele sabia quem era Aulus, se se recordava do nome Dázbov.

Quando foram vomitados no salão, Aulus se levantou com celeridade, pronto para pôr-se em posição de defesa. Não sabia o que poderia encontrar. Seu primeiro instinto foi proteger-se na Escuridão, mas se lembrou imediatamente das palavras de seu superior. Controlou-se. Então, vieram as palavras.

Aulus as ouviu com atenção e respeito. Novamente, não pensava em questionar ou se opor. Seus conhecimentos sobre o Abismo eram vastos, e ele tinha pela ciência das consciências que ali habitavam. Nunca as subestimou, aprendeu a respeitá-las. A Escuridão do Abismo era a Escuridão que existia dentro de Aulus, e respeitá-la significava respeitar a si próprio.

Respondeu à mensagem com uma outra mensagem:

"Não deveremos usar nenhum dos Dons de Escuridão que comandamos?"

Esperou a resposta ao mesmo tempo em que escutava a notícia final. Moloch. Senhor Oculto de Cartago. Aulus, ou melhor, Dázbov, já caminhava entre os mortos quando Cartago foi destruída. As notícias das abominações de Moloch alcançaram mesmo o norte gelado. Dázbov leu muitos dos textos acumulados por Borghav e, dentre eles, a figura de Moloch era sempre uma constante. Jamais imaginaria que veria tal ser caminhar novamente sobre a Terra, não depois do que os Romanos fizeram a Cartago. Aulus sentiu um calafrio, uma sensação clara de estar sendo observado. Não era medo mas, talvez, uma excitação.

E não era somente isso. Troile. A alegada assassina do progenitor dos Brujah. Aulus começou a ter pensamentos estranhos. Havia negligenciado suas obrigações de pesquisa e não conseguia fazer as conexões necessárias. Estava cansado, havia visto muito para uma única noite. Desejou estar na presença do Outro Lasombra a ocupar a sala do Trono, aquela presença que lhe confortava e lhe enchia de audácia. Sentou-se no chão, esperaria que os outros se pronunciassem.
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Seg Jul 16, 2018 11:48 am
Quando as sombras surgiram abaixo da sacada na villa romana, Qaphsiel foi tomado por uma terrível certeza. Pedira um sinal dos céus e agora o recebia, ainda que de modo inesperado e desolador. Seu momento havia chegado.

Vislumbrou figuras desconhecidas envolvidas nas sombras sólidas que se aproximavam. Quem seriam? Almas perdidas, igualmente tragadas para o She'ol, o mundo dos mortos, tal como ele também estava prestes a ser tragado? As figuras não apresentavam expressões de desespero nem dor. Simplesmente estavam ali.

E então as sombras vieram em sua direção. Sua própria sombra adquiriu vida própria e se juntou aos negros tentáculos que surgiam do nada. O desânimo do Arcanjo era tamanho que decidiu não oferecer nenhuma inútil resistência. Seria levado. Pensou que poderia encontrar alguma espécie de paz no She'ol, mas assim que o mundo escureceu e mergulhou no abismo de trevas, Qaphsiel viu que estava errado. Um frio sobrenatural e uma agonia nunca antes sentida invadiram seu corpo e sua alma. As vozes das almas perdidas, que nunca sairiam do mundo dos mortos para ascender ao Olam Habah, sussuravam e gritavam maldições e desespero em seus ouvidos.

Foi em meio à agonia que pôde ver a clareira e o Rei Odoacro em batalha. Viu sua queda diante do poderoso e desconhecido guerreiro que corria entre os soldados romanos. Ouviu a figura pálida em meio às trevas. Ele parecia ser uma espécie de condutor. Qaphsiel pensou que talvez estivesse diante de Azrael, o anjo da Morte, em uma viagem ao redor do mundo conhecido, onde levaria todas as almas destinadas à morrer naquela noite.

Mas não. Odoacro não foi tragado pelas sombras. Seu corpo queimava no campo de batalha e simplesmente fora deixado lá.

A partir desse fato, Qaphsiel se forçou a raciocinar, ainda que em meio às trevas. Algo não fazia sentido. Algo estava diferente. Foi então que lembrou-se da frase de Verus, alegando que seu Senhor, Mithras, os encontraria nas próximas noites...

O Arcanjo estava dividido entre seus pensamentos e a agonia gerada pelo frio das trevas, quando tudo subitamente acabou. Foi expelido, junto com seus estranhos novos companheiros, além de Arhmad e Sejanus. Estavam todos ali, em meio a um estranho salão de pedra negra. Tocou-se e percebeu que tudo estava como antes. Não-vivo, porém ainda no mundo dos vivos. Não havia sido, afinal, tragado ao She'ol.

Em meio à desorientação, sorriu. Deu-se conta de como o clã da Noite, os Filhos de Laza, tinham domínio sobre as trevas. E ao ouvir o estranho homem de pele pálida e cabelos negros, percebeu que havia sido forçado à viajar pelas sombras que controlam.

Quando colocou-se de pé, o ouviu dizendo os nomes de Troile e Moloch. Sabia das histórias, contadas várias vezes por Za'aphiel. Troile, a Cainita responsável pelo comando de Cartago, seduzida pelo poder maldito oferecido pelos infernalistas. Cartago caiu por isso, e não haveria de ser diferente. Mas como haveria de estar viva? Como poderia caminhar novamente, se Roma havia destruído a tudo e a todos?

Qaphsiel olhou para todos ali, com um semblante inquisidor. Sem um tom de ameaça, mas com urgência em sua voz, perguntou:

- Quem são vocês? E por que nos trouxeram até aqui?
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Seg Jul 16, 2018 3:13 pm
*Em meio ao turbilhão das trevas, em meio ao pânico e horror, as palavras do visitante, aquele que presumia ser Boukephos, pela reação de Salianna, o fazem voltar àquela fatídica noite, quando Lisandro lhe visitara em seu refúgio há tanto tempo. Ele se lembra das figuras demoníacas sobre o trono de Roma. Troille e Moloch, despertos. O pesadelo de toda uma geração de romanos, tanto filhos de Set como de Caim, caminhava de novo sob a noite, e o mundo não conheceria mais qualquer semblante de paz.*

*Appius tenta se recompor, e olha ao seu redor. Alguns dos recém-chegados lhe eram desconhecidos, e um deles logo se ergue para interpelar a todos. Pelo semblante, e pelas palavras de Aulus na Macedônia, julgava ser seu aliado hebreu.*


-Acredito que a resposta seja razoavelmente simples. Aos que não me conhecem, me chamam de Appius Galerius Buteo, cria de Dionysius dos Capadócios, sacerdote de Plutão e cidadão romano. Me parece que nos reunimos sob os auspícios do Clã Lasombra por uma causa em comum... Causa essa que eu imagino ter se tornado muito mais urgente a partir desta noite.
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Seg Jul 16, 2018 11:13 pm
A incerteza pairava naquele salão de pedra escura. Os olhares encontravam-se em dúvida mas uniam-se em uma única certeza: o inimigo por detrás da cortina de intrigas e mentiras havia se revelado e era terrível. Seu mero despertar os alçoou a visões dolorosas de um trágico futuro. Era assim tão grande o seu poder?

Os olhos negros de seu interlocutor traziam a resposta em um semblante denso e urgente. Havia vitae a escorrer do canto de sua boca e daqueles olhos que carregavam a escuridão. Estava exausto. Aulus poderia avaliar rapidamente que o emprego da travessia o havia esgotado e, mais que isso, o ferido.

Primeiro, sua consicência projetou-se sobre a de Dázbov, em sua aparência alterada, confirmando seu temor.


" O Abismo deve ser selado por ambos os lados. Laza e seus filhos o fazem no mais profundo âmbito da escuridão e cabe a mim selar a passagem deste lado. As criaturas aguardam somente uma brecha, Dázbov, uma única brecha para que possam rasgar sua liberdade e inundar o nosso mundo de podridão. O uso de nossas habilidades e mesmo  nossos corpos podem abrir-se para eles, se falharmos na difícil tarefa que é manipular o Abismo a partir desta noite."

Em seguida, levantou-se do chão apoiando-se nas paredes escuras. O longo cabelo negro cobria-lhe parte da face enquanto o vitae gotejava lenta mas incessantemente de seu olho esquerdo. Falou e mesmo este ato lhe pareceu doloroso.

- Ouçam-me, não há tempo e me faltam forças. Ouçam-me pois estas serão as útimas e decisivas palavras que direi. Nomes serão citados e a compreensão dos fatos delimitará o futuro destas terras e de todos aqueles que por elas caminham.

Ele ergueu-se, mantendo-se em pé com clara dificuldade.

- Nós falhamos em enxergar o plano do inimigo. As cortinas de sangue de suas ações nublaram nosso entendimento. Foi apenas graças à um antigo Senador que pagou o mais alto dos custos - seu próprio sangue - que a verdade nos é entregue neste momento tempestuoso.

- Falhamos em impedir o despertar do inimigo, mas ainda há esperança...


...- Troile, a regente de Cártago - a cidade do sangue e do sacrifício - e Moloch, O Profano - seu amante, despertaram de seu sono imposto pela derrota de outrora. Ergueram-se do chão ao qual foram sentenciados a ficar graças ao emprego das habilidades de Lamdiel, progênie de Malkav - o Antigo.

- Nós, os que batalhamos naquela noite, também sofremos perdas consideráveis.


Destinou o olhar à Aulus Otávius.

- Khanon-Mer, minha irmã e sua cria Ekimmu, vossos ancestrais, pagaram com sangue e dor os custos da invasão que derrubou os muros de Cártago. Jazem em sono profundo, de onde talvez jamais despertem.

Os olhos escuros e profundos fitaram Qaphsiel.

- Za'aphiel, Progênie de Samiel, Cria de Saulot também se fez presente. Lutou bravamente ao lado de Rayzeel, Cria do Primeiro dos teus. Esta brava guerreira pagou o mesmo preço que minha irmã, Khanon-Mer, perecendo sob as chamas infernais do inimigo e caindo em irreversível torpor.

- Os cito por acreditar que o destino nos prega peças curiosas e, às vezes, terríveis...a vós, descendentes dos que lutaram, caberá o fardo...

O homem de longos cabelos negros cospe sangue inesperadamente que é bloqueado por sua própria mão à frente da boca. Parecia cada vez mais debilitado. Torna a erguer a face já suja de seu próprio vitae e, ofegante como se seu corpo não-vivo ainda precisasse respirar, continuou.

- Meu tempo se encerra...antes dele, lhes revelarei a verdade contida no último esforço de Addemar, cria de Lamdiel, Progênie de Malkav, o último dos antigos Senadores fundadores de Roma - A verdadeira Roma. Abram as suas mentes, permitam que as imagens consigam adentrá-las.

O Sangue que gotejava de seu olho esquerdo escorreu por seu braço e alcançou a palma de sua mão, que estava voltada para cima. Daquela gotícula de vitae, as sombras esvoaçantes se fizeram presentes. Era notório que as trevas tentavam escapar-lhe por entre os dedos, buscando desvencilhar-se do poder daquele cainita, ainda sim ele as doma como a um animal selvagem e um globo de escuridão maciça e profunda se forma em suas mãos.

Vultos ganham forma dentro daquele globo e logo imagens, vívidas e da perspectiva da visão de um outro, se mostram através dele. Os olhos do cainita tornam-se negros como o globo viscoso que segura e todos sentem a consciência daquele vampiro forçar passagem por suas próprias. Era urgente, doloroso até.

Enxergavam agora da perspectiva de um outro. Como se estivessem em um outro lugar e a habitar um outro corpo. Sentem cansaço, dor, exaustão. De súbito, a visão sobe, tornando-se uma panorâmica da cena a seguir, deixando-os com a certeza de que antes de enxergar o que viria de cima, estavam habitando o corpo à sua frente.

Cabelos dourados como ouro, olhos azuis profundos e pele alva com um tom oliva. Seria belo, não fossem as inúmeras lacerações e decrepitude que consumiam a sua pele. Sabiam todos naquele momento, mesmo que jamais o tenham visto anteriormente, que enxergavam o aparente corpo de Titus Venturus Camillus, o Imperador de Roma.

Jazia acorrentado por grilhões de ferro negro em um salão escuro e repleto de musgo escuro. O chão era pedregoso e havia um forte cheiro de mar a inebriar o ambiente. O olhar mais atento, visto de cima, revelou que tais correntes eram feitas por pequenos dedos sombrios e pegajosos, tal qual as trevas empregadas pelos Lasombra aos olhos de quase todos. Ainda sim, diversas, notou Aulus Otavius.

A perspectiva superior possibilitava ver as sombras agitarem-se e silhuetas sombrias tornarem-se visíveis. Caminharam em direção àquele corpo acorrentado e conforme aproximavam-se, desvencilhando-se das sombras que os circundavam, suas aparências eram reveladas.

O primeiro deles era um notável conhecido de Appius Galerius Buteo. Longos cabelos castanhos, olhos verdes penetrantes, pele alva e traços belíssimos. Ali, caminhando por entre as trevas, estava Juno Prestes - O Conselheiro do Imperador.

Ao lado dele, um homem alto com um semblante pesado. Trajava vestes comuns aos políticos de Roma. Um manto branco sobre seu corpo recoberto por finos tecidos púrpuras que lhe caíam sobre os ombros. Cabelos bem cortados e um olhar autoritário. Era também conhecido por Appius, chamava-se Plínio, Senador e pertencente ao Clã da Noite.

Atrás dos primeiros, para a surpresa dos espectadores daquela cena macabra, aproximava-se um homem de aparência idêntica àquele acorrentado. Tratava-se de outro a assemelhar-se fielmente à Camilla, o Imperador. Este possuía a pele intacta, sem qualquer chaga, enquanto caminhava ao lado de Juno Prestes.

A confusão os tomou por um segundo, mas logo deixou-se de lado quando os outros dois se fizeram ver. Nada mais importava, a visão deles os atraía completamente.

Primeiro, veio o homem. Pele negra, alto, braços poderosos. Apenas um tecido imaculadamente branco lhe caía sobre o ombro esquerdo e cobria-lhe parte do corpo. O que mais os atraía eram os olhos. Dourados como o sol que jamais tornariam a ver. Havia uma chama contínua a arder dentro daqueles olhos. Havia uma realeza incontida na presença daquele homem. Pesava-os sobre os ombros, apenas em vê-lo.

Ao lado dele, ela se fez ver.

A pele ébano e os cabelos cacheados em tom cobre lhe davam um aspecto diverso do comum daquela região e daquele tempo. E como era bela. Os traços de sua face eram perfeitos. Havia harmonia entre o tamanho do nariz, dos lábios grossos e carnudos e daqueles olhos redondos que, assim como os de seu par, eram dourados em um tom vibrante. Quando seus passos a fizeram aproximar-se, nada mais importava. Todo o resto era pequeno diante daquela visão.

Sabiam, através da mente daquele que os possibilitava enxergar, que ali estavam Moloch e Troile. Amantes Profanos.

Foi Troile, a Bela, que olhou para o decrépito ser com a aparência de Camilla acorrentado ao chão. Sua voz ecoou límpida pelo salão negro e, assim como a sua aparência, era terrivelmente bela.


- Addemar. Quiseram as areias do tempo que fostes tu, Cria daquele que aprisionou-me, o primeiro a pagar por tua insolência.

Aqueles olhos dourados fitaram o outro Imperador, Camilla, de pé ao lado de Juno Prestes.

- Chega destes truques infantis. Livre-se e livre-o desta aparência enojante.

Foram os olhos incandescentes de Moloch que fitaram o homem de pé que parecia-se, em perfeição, com Titus Venturus Camillus como se endossasse aquela ordem.

- O faça.


A pele do Imperador - aquele de pé ao lado de Prestes - começou a tornar-se arenosa, caindo ao chão e desprendendo-se do homem que "vestia" a aparência do governador máximo de Roma. Aos poucos, suas feições se fizeram presentes. Para a surpresa do Capadócio Appius Galerius, tratava-se de um velho conhecido. Cabelos bem cortados e escuros, aparência jovial, olhos atentos e maliciosos. A voz de Moloch ecoou grave, uma vez mais.

- O tempo para estas máscaras inúteis se foi, Filho Meu. Tornes a ocupar vosso lugar a meu lado, Tanit-Baal Sahar.

Ao mesmo passo, a pele decrépita do outro homem que assemelhava-se ao Imperador - aquele acorrentado sombriamente ao chão - começou a desfazer-se e a revelar a face exausta de Addemar, Senador Romano. Cabelos longos e olhos cansados que vertiam sangue.

Troile aproximou-se tocando-o a face, erguendo-a enquanto o questionava.


- Diga-me, onde está o corpo dele.

Addemar, exaurido e quase sem forças, sorriu debochadamente.

- Ouses adentrar a minha mente e terás a resposta.

A ira percorreu aqueles olhos dourados que ocupavam a face perfeita da belíssima mulher e sua mão fechou-se contra o queixo de Ademmar, girando-o em um ângulo impossível arrancando a cabeça do Senador de seu corpo. Sangue espirrou nas paredes escuras atrás de seu corpo que caiu inerte, aos poucos convertendo-se em cinzas.

Juno Prestes erguia a voz.


- Senhora...Creio que...

- Cale-se, Iontius. O encontraremos, há outros meios.
Sentenciou Troile.

Inquietantemente, aqueles olhos dourados fitaram o teto do salão negro e pareciam encarar os dos espectadores que a viam em outro tempo e outro lugar. Sentiram suas existências prescrutadas e avaliadas e ouviram a sua voz em suas mentes. Troile lhes falava de um tempo passado. Era impossível e, por isso, assustador.

- Porque lutam? Roma caiu. Os algozes e corruptos caíram. Haverá paz, a minha paz. Todos são bem-vindos na Capital dos Romanos que tomarei como minha. Todos aqueles que buscarem a paz. Venham a meu encontro, serão ouvidos e atendidos. Lhes garanto a segurança e, caso decidam partir, ainda sim partidão livres pois é este o meu desejo. Punir os culpados e libertar os acorrentados.

- Unam-se a mim, crianças da noite, e contemplem a longa noite de paz que criarei.


A escuridão tornava aos olhos dos espectadores e, conforme a visão desvanescia por completo, a voz de Addemar - inquietantemente já convertido em cinzas - ecoou nos ouvidos de todos.

- Perdoem-me os que conseguirem ouvir-me, perdoem-me pois fui fraco. Appius, cria de Dionysius, se minhas palavras o alcançarem espero que não compartilhes de meu destino pois, preparam-te o corpo para que sejas sacrificado como eu fui.

- Deixo-os minhas últimas palavras como um fio de esperança a guiá-los nas noites escuras que virão:

- A maldição de Lamdiel, meu Criador, não se quebrará facilmente. O corpo de Troile cobra-lhe o preço do despertar e do desafio ao ritual que lhe aprisionou. Ela precisa alimentar-se do coração de um Rei. Do coração do maior Rei de nosso tempo. Achem-no, antes que ela o faça. Achem o Imperador. Sua localização foi confiada aos três. Encontrem-nos.

- O Belo de Ebla, O Rei Senador e o Dragão Ancestral.


A visão, obscurescida pelas trevas do salão de pedra, se foi. Ao abrir os olhos, o cainita que segurava o globo não mais ocupava o seu corpo físico. Tratava-se de uma silhueta sombria, com as trevas a lhe percorrer o corpo, seus braços estavam abertos e deles prolongações escuras como tentáculos uniam-se às pedras daquele local. Sua voz ecoou sombria e distorcida. Era como o vento a soar rouco e profundo.

- As criaturas do submundo adentraram, poucas, mas adentraram. São muitas a tentar. Daharius Sarosh e Ontai persistem, Laza - nosso pai - segura o fluxo da escuridão.

- As portas estão fechadas de ambos os lados. As abominações libertas pelo despertar de Moloch não mais atravessarão o véu pois eu, Boukephos, Filho de Laza, manterei as portas fechadas. Deixem-me, filhos amados, e cumpram a parte que vos cabe.

As próximas palavras destinaram-se à Aulus, mas trouxeram a atenção de Qaphsiel à tona.

- Deixe-me, Dázbov, e carregue consigo o Clã da Noite. Se perecermos em nosso intento, caberá a voz continuar o nosso legado. Busque teus ancestrais, desperte Khanon-Mer e Ekimmu. Teu sangue o levará a eles.

- Persista, Cannatos, Filho Meu. Persista à escuridão que os cerca.

As sombras cresceram e diminuíram e, enfim, cessaram subitamente. Silêncio, profundo e absoluto. Aquele sombrio cainita não estava mais presente. Aulus Otavius sentiu-se vazio, faltava-lhe força, faltava-lhe a escuridão.

- Pai!
Gritou Salianna, derramando uma lágrima rubra.

Estavam a sós. O Arcanjo, o Deus de Ai-Petri, O Filho do Senador. Além de Cannatos, cria de Boukephos e Lucius Aellius Sejanus, Progênie de Daharius Sarosh. Estavam a sós, guiados apenas por seus próprios discernimentos.

Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 0112

Addemar, Senador, Cria de Lamdiel, Progênie de Malkav.

Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 1610

Tanit Baal Sahar, Cria de Moloch.

Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 1510

Plínio, Lasombra, Senhor Desconhecido.

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Iontius, Origem Desconhecida.

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Moloch, O Profano.

Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Troile10
Troile, A Senhora do Tempo.
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Ter Jul 17, 2018 1:11 pm
Aulus aquiesceu diante das palavras de Boukephos. Entendia, e obedeceria, às ordens de seu Ancestral. Mais ainda se o que estivesse em jogo fosse a incolumidade daquele mundo. Não que o amasse em particular, não que fosse preocupado com os outros. Mas aquele era Appius, não Dázbov.

Dázbov teve vontade de amparar Boukephos diante de sua fraqueza evidente. Quis cuidar dele e limpar suas feridas. Era excessivamente preocupado com o bem estar alheio, mais ainda com o de alguém de sua estirpe, de seu Sangue. Aquele não era Appius.

Cassimir pensou imediatamente no que significaria enfrentar os planos de Moloch e Troile. Tinha medo da Morte Final, ele, que havia superado tudo em seu caminho. Cairia, agora? Não tinha acesso à sua Escuridão interior, não dispunha de seus Ancestrais ao seu lado. Era fraco. Mas aquele não era nem Dázbov, nem Aulus. Era Cassimir.

Diante das visões apresentadas, o cainita tremeu. Havia visto Moloch e Troile uma vez, mas desconhecia suas identidades. Vê-los desta forma era, sem dúvidas, uma experiência fascinante. O cainita ouviu suas palavras, anotando mentalmente todos os nomes e referências que ouvia. Era como um espectador neutro, seu coração se acalmando das visões anteriores e da sensação de fragilidade, seu cérebro começando a funcionar. Olhou profundamente nos rostos dos presentes, viu suas marcas e histórias. Recordou-se da aparência dos dedos de escuridão que detinham Addemar, e desconfiou que jamais os esqueceria.

Roma já não existia mais. Em seu lugar, uma monstruosa conspiração havia surgido. Uma que ameaçaria os povos, fossem mortais ou cainitas, colocando-os sob os pés de uma tirania de poder inigualável. Aulus, Dázbov e Cassimir se preocupavam com isso. Aulus pois defendia que a única tirania possível era aquele exercida pelo Clã Lasombra. Dázbov reconhecia somente a sua. E Cassimir se opunha a qualquer tipo de tirania. O convite de Troile passou pelos seus ouvidos como se não fossem sido proferidos. Nenhum dos três cainitas ouviu o que ela tinha a dizer ou, ao menos, não deram atenção.

Os três cainitas choraram a morte de Addemar e regozijaram-se ao ouvir sua voz. Não esqueceria do Belo, do Rei e do Dragão. As palavras de Addemar traziam esperanças. Onde estaria o corpo de Camilla. E, mais importante, o que os três cainitas fariam quando, e se, o encontrassem?

Havia razão para esta distinção? O cainita começou a pensar. Sua mente, apesar das circunstâncias, funcionava intensamente.

Mas foi o pedido final de Boukephos quem coroou o processo. Os três cainitas se encontraram diante do dever. No final das contas, todos os três se resumiam a uma única coisa. Eram todos Lasombra. E o Clã Lasombra sobreviveria, pois era seu dever e seu direito. Era seu Destino. E aquele cainita se encarregaria de garantir isso, através dos tempos, com quaisquer meios que fossem necessários. Foi o Sangue de Laza, o Grande Ancestral, que os havia forjado, seus orgulhos, medos e defeitos e suas enormes qualidades. E os havia forjado para o Seu serviço e para o serviço ao Clã da Noite.

Encontraria Khanon-Mer e Borghav, seus ancestrais. Os traria de volta ao Mundo, para que governassem a Grande Casa na ausência de seus governantes. E o cainita auxiliaria no que fosse necessário, dando somente o melhor de si.

O medo se dissipou. Surgia o líder. O Deus, o Soldado e o Pastor. Eram estes pilares, juntamente àqueles que permaneciam fiéis à Casa de Laza, que sustentariam o Clã na noite porvir. Os inimigos seriam esmagados diante do Clã Lasombra. E isso incluía Moloch e Troile.

Quando as visões cessaram, e o cainita retornou ao salão, tocou com a mão direita o local onde Boukephos tinha estado até então. Depois, voltou-se para Qaphsiel.

- Sou Cassimir, Arcanjo, mas em uma outra vida me conhecestes como Dázbov, Deus de Ai-Pétri. Estou contente em revê-lo, assim como à Ahrmad. Espero que meus companheiros se recuperem velozmente das visões que nos foram impostas e das revelações que trouxeram. O tempo é curto, e precisamos definir o nosso curso de ação.
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Ter Jul 17, 2018 7:09 pm
Qaphsiel preparava-se para responder à colocação daquele que se apresentara como Appius quando foi interrompido pelo misterioso Lasombra que havia trazido todos até ali. Mesmo estando claramente debilitado, a aura de poder que emanava daquela figura era quase palpável. O Arcanjo não o conhecia, não nutria por ele nenhum sentimento mais forte, e ainda assim sentiu-se impelido à ajudá-lo. Não houve tempo, contudo.

Seu discurso era imponente e carregava um forte tom de urgência, de modo que o Salubri manteve-se parado, ouvindo-o. Ao escutar novamente os nomes de Moloch, Troile e Cartago, Qaphsiel foi emocionalmente golpeado com a gravidade da situação em que se encontravam. Os grandes malditos da cidade que se tornou maldita estavam de pé, caminhando entre vivos e não-vivos. E estavam com Sede. Sede de sangue Cainita. Sede de Poder. E Sede de Vingaça. Qual não foi sua surpresa ao ouvir o Lasombra se dirigir especificamente a ele, mencionando o nome de Za'aphiel.

Em todos os sete anos em que estiveram juntos, Za'aphiel nunca havia mencionado sobre sua participação na queda de Cartago. Falava constantemente sobre a cidade em suas lições, ressaltando como uma nobre empreitada pode ser corrompida pela presença dos infernalistas. Tudo o que tocam, dizia seu Mestre, está destinado à danação. Não há salvação para nada no qual estejam envolvidos, e é papel dos Filhos de Saulot extirpar sua existência. Za'aphiel sempre fora veemente quanto à isso, mas nunca, nunca, contou sobre seu envolvimento. E agora Qaphsiel sabia, por meio do Clã da Noite, que não só seu Mestre estivera lá, quanto que Rayzeel, uma das mais antigas de seu sangue, fora levada ao torpor como consequência. Era irônico e triste constatar que a mesma maldição que condenara Moloch e Troile ao sono nos confins subterrâneos da terra havia também condenado, ainda que indiretamente, os descendentes do Sangue de Saulot a continuar vivendo as consequências daquela guerra. E a guerra não tinha fim.

Havia uma outra ironia naquela situação. Após o encerramento da visão, Qaphsiel não pôde deixar de sorrir. Era um sorriso triste, resignado. Balançou a cabeça lenta e negativamente, como se conversasse consigo mesmo. Quando fora condenado à ter um vislumbre de um futuro tenebroso - coisa que agora sabia ser fruto do despertar dos amantes malditos - o Arcanjo pedira um sinal do Criador. E ele veio. Veio na forma das trevas dos Lasombra. Veio na forma de um vislumbre da verdade, compartilhada através dos últimos momentos de um pobre Filho de Malkav. Veio - e esta era a grande ironia que o fazia sorrir resignadamente - na realização de que, para eliminar o verdadeiro Mal, teria que se aliar com Roma.

Lembrou-se, agora com carinho, das últimas palavras trocadas com Marcus Verus. Pois agora compreendia. Pedira um sinal dos céus, quando na verdade Yahweh lhe mostrou o tempo todo. Yahweh lhe falou por meio de Marcus Verus. A Roma que odiou durante toda a sua existência era o Império que aqueles romanos ali reunidos também queriam ver o fim, em nome de uma Roma que talvez tenha existido em algum momento, mas que o Povo de Y'srael nunca tivera a oportunidade de conhecer. O Mal que deveria combater havia se apossado de Roma. Não se tratava enfim, de um Império. Tratava-se do Mal, puro e simples.

Qaphsiel olhou para todos os presentes. Seu terceiro olho estava aberto e sua postura, até então deprimida e desolada, tornava-se nobre e decidida. Falou, em tom calmo, pois apesar da urgência e gravidade, estava novamente em paz consigo mesmo:

- Não conheço a todos aqui, mas me parece que temos as mesmas intenções. Creio que as intruções foram claras. Nos uniremos para encontrar o verdadeiro Imperador Camilla antes que os dois amantes o façam.

Olhou para Cassimir. Ou seria Dázbov? Estava diferente, não só em aparência, mas em presença. Qaphsiel esforçou-se para reconhecer ali uma essência familiar. Gentilmente, tocou os ombros do Lasombra. E reconheceu.

- Na última vez que nos vimos, eu disse que o Dázbov que desceu a Montanha não era o mesmo que lutou ao meu lado em Meccah. Quantas vidas precisamos viver para nos encontrarmos, não é verdade?

Virou-se novamente para os outros.

- Como eu disse, não os conheço. Mas enquanto estivermos do mesmo lado, minha espada é sua espada.
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Ter Jul 17, 2018 8:18 pm
*Addemar... Addemar era o Imperador que haviam visto. Appius não soube o que dizer quando Camilla lhe falou com as palavras do Senador de Malkav, mas agora ficava mais claro do que nunca, Addemar não lhe mandara uma mensagem, era o próprio ali. E agora perdido para a eternidade, assim como seu senhor. E Sahar... Se vangloriando de sua própria dor, seu sofrimento ao lhe ordenar, EM SUA FRENTE, a destruição de Dionysius. Tudo era claro, cristalino. Principalmente, era claro como Appius havia sido tolo.*

*Não podia mais se dar ao luxo de sucumbir ao horror. Era irônico como havia perdido a conta dos carneiros e touros que havia sacrificado em nome dos deuses, e agora se via no lugar dos animais. Deveria sobreviver. Deveria sobreviver por algo muito maior do que autopreservação ou vingança por Dionysius e Addemar. Deveria sobreviver pelo legado de Roma, da Roma que amara, pela qual sangrara sob o estandarte de Júlio César, e a que foi construída pelo Senado Eterno. Ele, que nunca fora inclinado a moralismos, agora se via determinado a sobreviver, e lutar, em nome da justiça.*

*Appius saúda o guerreiro judeu que fez seu juramento, e em seguida se dirige a todos os presentes.*


-Agradeço, filho de Yaweh. Desconfio que não haverá escassez de necessidade para boas espadas nas próximas noites, e é reconfortante saber que mantém suas prioridades no lugar certo.

-Nossa tarefa é urgente, como todos sabemos. Vou presumir que todos aqui saibam a situação que nos encontramos, mas pode ser resumida em uma frase simples: Roma está, pelo menos desde minha entrada na Longa Noite, pouco menos de duzentos anos atrás, sob jugo infernalista. Antes velado, e agora abertamente, sob a luz do dia, poderia dizer de forma metafórica.

-Precisaremos reunir nossos recursos e mentes para descobrir quem eram os três referidos pela mensagem de Addemar, embora já tenha meu primeiro palpite. O Belo de Ebla pode muito bem ser Mi-Ka-Il. Já o vi uma vez, nas memórias de meu senhor, e acredito que ninguém mais sob o firmamento merece mais essa alcunha. E, igualmente, ele era um aliado de Dionysius, ambos responsáveis pelo Grande Incêndio de Roma numa tentativa, agora vejo, de destruir seus governantes. Eu, porém, posso apenas supor quem seria o Senador Rei, e não posso imaginar quem é o Dragão Ancestral. Me agradaria ouvir seus pensamentos.


Última edição por Appius Galerius Buteo em Seg Jul 23, 2018 6:38 pm, editado 1 vez(es)
Cassimir
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Qua Jul 18, 2018 12:50 pm
Cassimir caminhou, lentamente, até os três tronos que, com sua presença, tornavam a sala o epicentro do poder Lasombra. Não se sentou, porém. Pôs-se diante deles, mas voltado aos seus aliados. A responsabilidade em guiar os Magistrados pelas noites de guerra seria dele, embora se sentisse muito jovem e pouco capacitado para tal. Não sentou-se em nenhum dos assentos em respeito aos seus ocupantes, e jamais o faria, não enquanto não tivesse sido diretamente apontado para fazê-lo.

- Tenho poucas impressões, Appius. A maior parte de minha não vida foi vivida entre as montanhas do norte. Do pouco que li, concordo sobre a identidade do Belo de Ebla. Sobre os outros, tenho intuições. O mais próximo que um Senador chegou da Monarquia foi o exílio autoimposto de Mithras na Bretanha. Mas o epíteto pode muito bem se relacionar com um outro Ventrue de poder, como Lisandro. Quanto aos Dragões são, universalmente, tido como símbolo do Clã Tzmisce. Eu sugeriria também uma eventual ligação com os Setitas. Ou, ao menos, na maneira em que enxergam a si mesmos.

Cassimir sorriu.

- Fato é que a nossa escolha estará limitada àquele de quem temos mais certeza sobre a identidade que poderá, eventualmente, nos guiar até os outros dois. Dito isso, acredito que devemos alcançar Miguel. Sua personalidade volúvel, porém, pode fazer com que a colaboração seja difícil.

Caminhou, de um lado a outro diante dos tronos.

- Há uma outra preocupação que, para mim, é tão urgente quanto encontrar o corpo de Camilla. Em que grau, se é que acontecerá, se dará a nossa colaboração com aqueles que porventura continuam fiéis à Roma? Se o Império foi tomado por infernalistas, pode significar que muitas de suas ações nos últimos séculos se deram graças a estes cainitas. Pode significar, também, que ainda existem cainitas fiéis ao ideal romano. Gostaria de lembrá-los que não estamos em condições de dispensar aliados. Eu, contudo, seguirei as instruções dos homens que viveram dentro da Besta: Appius Galerius e Lucius Sejanus.
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Qua Jul 18, 2018 2:18 pm
Qaphsiel voltou a fitar o chão enquanto Appius e Cassimir falavam. Fazia isso para absorver e processar as informações que discutiam. Deu-se conta que pouco conhecia a respeito da política interna de Roma. Não sabia muito a respeito da longa história do Império, incluindo a política Cainita do Senado Eterno. Para ele, Roma sempre fora uma entidade monolítica, construída sobre o sangue e a dor de outros povos. Agora via o quão errado sempre esteve.

Poucos eram os nomes ou referências que faziam algum sentido para o Arcanjo, mas tendo em vista os últimos acontecimentos, algumas conexões eram possíveis de serem feitas. Levantou o rosto e dirigiu-se aos dois Cainitas que acabaram de se pronunciar:

- Como devem imaginar, pouco sei sobre os meandros da história e constituição de Roma. Contudo, tal como Appius Galerius, consigo presumir quem seja o Rei Senador. Estive a poucas horas com o Senador Marcus Verus, onde travamos um combate que felizmente se encerrou em uma trégua. Poucos segundos após sermos acometidos pela visão gerada pelo despertar de Troile e Moloch, enquanto eu era arrastado pelas sombras para este local, pude escutar Verus dizendo que Mithras iria entrar em contato conosco... Não sei como ele pretende fazê-lo, mas se for de fato aquele que o Filho de Malkav se referiu como "Rei Senador", tal como imagino, ele terá interesse para falar-nos em breve.

Qaphsiel se interrompe. Agora olha apenas para Cassimir:

- Creio que o próprio Marcus Verus pode ser um aliado, ao menos circunstancialmente. Ele ouviu a mim e a Sejanus, e sabe que algo podre acontece no Senado Eterno. Disse que investigaria o que acontece por conta própria, mas não vejo porque negaria a ajuda de um conterrâneo. ao dizer isso, o Arcanjo volta o olhar para o sacerdote de um dos deuses romanos.

Por fim, o Arcanjo olha para uma das paredes, como se mirasse uma janela com vista para o horizonte.

- Por ora, há também uma preocupação de ordem prática. O Sol se aproxima e precisaremos de um local seguro para descansar. Não tenho dúvidas que Moloch e Troile tenham aliados que possam andar na luz do dia, mas se existe algo que nos aproxima de todos os antigos é a maldição que nos foi imposta pelo Arcanjo Mikha'el. Tanto eles quanto nós dormiremos por mais um dia.
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Sex Jul 20, 2018 10:46 pm
A noite aproximava-se do fim. Teriam ainda algum tempo - pouco - para aprofundarem-se na discussão antes que a letargia do dia vindouro os atingisse. Caberia a Cassimir destinar seus companheiros para os locais adequados ao sono. Lembrou-se que o Castelo estava inacabado e seguia sendo erguido pelos mortais, dia e noite. Talvez a torre na qual se encontram seja a única parte da construção realmente pronta e segura contra os raios solares que já ameaçam avolumar-se no horizonte.

O General Lucius Sejanus pronunciou-se após as palavras de Cassimir.


- Dázbov...não compreendo a razão de vossa mudança mas passarei então a chamar-te de Cassimir. É um alento encontrá-lo como aliado, após o evento naquela montanha gelada. No entanto, eu sinto que não serei de grande ajuda para desvendar aqueles que possam ser aliados nas próximas noites. Não faz tanto tempo que caminhei durante o dia e sob o manto escuro da ignorância de que os mortais, os únicos Senadores que de fato conheço, são apenas lacaios de criaturas como nós - vampiros.

- Marcus Verus é o único a quem posso verdadeiramente indicar. Servi sob seu comando antes de alçar uma posição destacada e posso atestar a moralidade intacta daquele homem. Ele será fiel à Roma até o último de seus dias - ou melhor, noites - e como está claro, as criaturas que despertaram ameaçam Roma assim como o fazem contra tudo que caminha, vivo ou não.

- Devo dizer-lhes que minha crença no ideal romano já não existe. Adentrar à longa noite permitiu-me ver o quão corrompidos tornaram-se os cidadãos de Roma. Corrompidos por outros como nós, com interesses pessoais e que em nada se assemelham ao significado da águia dourada que mantive sobre o estandarte da Décima Primeira Legião. Perdoem-me, estou a divagar sobre o que não mais importa.

- Temos inimigos revelados e precisamos de aliados capazes para destruí-los. É uma infelicidade que meu Senhor não nos acompanha. Ainda desconheço a profundidade de sua ação naquilo que chamamos de Abismo, mas tenho a plena certeza de que a ausência dele  se faz necessário.

- Indico apenas que teremos um segundo problema a tratar: os mortais. Nem mesmo Marcus Verus conseguirá controlar suas legiões se as ordens da Capital forem diferentes das suas. Um soldado romano obedece a seu comandante, mas devota sua vida inteira à Roma. Um General pode cair e ser substituído, a Águia Dourada deve permanecer.

- Tenho um punhado de homens fiéis à mim, ao que vivemos por longos anos. Creio que Verus também os tenha. Ainda sim, as massivas legiões estarão fadadas a receberem ordens dos que ocupam Roma, desconhecendo - obviamente - a natureza daqueles que os comandam.


Salianna, ou melhor, Cannatos, divagou em seguida.

- Da mesma forma, imagino que meus planos para reivindicar Neápoles utilizando-me desta casca que privou-me de quem sou também seja impossível. joguetes políticos menores não me parecem mais cabíveis. Há, ainda sim, uma arriscada forma de proceder.

Ela suspirou, em um gesto forçado sobre seu corpo não-vivo

- Talvez eu possa jurar fidelidade ao inimigo e agir por dentro da besta. Há o risco de forçarem-se um laço de sangue ou...pior, dado o histórico infernalista dos que despertaram. Ainda sim, não me vejo útil de outra forma. Não sou um guerreiro, não possuo homens para batalhar. A lábia e as tratativas sociais são meus únicos trunfos. Não posso deixar de arriscar-me após ver o sacrifício de meu Criador aqui, neste salão.


Arhmad continuou.


- Preciso retornar e buscar o Ancião da Montanha, em Alamut. O ninho deverá tomar ações enérgicas quanto ao despertar dos infernalistas e cabe a mim, o representante dos meus na empreitada contra Roma, trazê-los à ação. Se me permitirem e não houver objeções ou um outro curso de ação planejado, viajarei na próxima noite.


Durante a conversa, todos ouviam o mar chocar-se contra o que intuía-se serem pedras em um ir e vir infinito. Mesmo sob tais circunstâncias, o som trazia uma calmaria. Para Qaphsiel - o guerreiro - estava claro que era o silêncio que se apresenta antes do confronto. Noites cada vez mais escuras e sangrentas viriam.

Havia ainda algum tempo, mesmo que pouco, para que as próximas noites fossem discutidas.
Cassimir
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Sáb Jul 21, 2018 9:01 am
- É uma honra caminhar pela Longa Noite ao teu lado, Sejanus. As razões pare a minha mudança são só minhas. Dirija-se a mim como Dázbov, se o desejar, agora é irrelevante. Tivemos um começo... difícil, mas acredito que, neste momento, não seja importante o que vivemos.

Cassimir estava sério, concentrado, como jamais estivera antes. Aquele salão vazio, os tronos desocupados lhe davam uma sensação muito próxima ao desespero. Mas deveria se manter firme. Ele era a rocha na qual ancoraria o navio dos Magistrados. Não somente naquele momento, mas por enquanto durasse sua não vida. Continuava, de pé, ao lado de um dos tronos. Dirigiu-se a Cannatos.

- És importante aqui, Cannatos. Na ausência dos nossos anciões, caberá a nós guiar o Clã da Noite nas noites de guerra. No entanto, sua entrada em Roma, ainda que compreenda riscos, será necessária. Você deve partir imediatamente, irmão meu, e nos manter atualizados sobre o que acontece nas entranhas da besta. Infelizmente, não fomos capazes de recuperar o cristal de Odoacro. Deixo a Ahrmad, que tem meu apoio na decisão de seguir para Alamut, a decisão. Não consigo avaliar se é mais útil comunicar-se contigo, Ahrmad, ou com Cannatos.

Voltou a olhar para Sejanus.

- É essencial que nos reunamos com Marcus Verus nas noites porvir. Se aquele cainita é o que parece ser, honrado e verdadeiro, será nosso aliado. Assim como seu mestre, o Rei da Bretanha. Não podemos dispensar aliados. A minha proposta é que, enquanto uma parte de nós segue ao encontro de Mi-Ka-Il de Ebla, uma outra parte se encarregue de congregar-se com Verus e, se possível, com Mithras. Sei que nos dividir pode nos tornar vulneráveis mas, infelizmente, não disponho mais da minha capacidade de cobrir grandes distâncias em pouco tempo. Precisaremos cobrir mais fronts em menor tempo.

Cassimir observou o salão. Queria estar próximo aos seus ancestrais. Mas, ao mesmo tempo, sua ausência dava a Cassimir uma sensação de dever que o tornava extremamente focado. Retirava força dos tronos que enxergava.

- Sobre o dia, permaneceremos neste salão. É protegido da luz do sol e de invasores, então aqui recuperaremos nossas forças para seguir adiante.
Qaphsiel
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Sáb Jul 21, 2018 12:20 pm
Qaphsiel olha para Arhmad. Se aproxima do Assamita e lhe coloca a mão no ombro direito, sorrindo gentilmente:

- Sabe o quanto fui honrado por ter viajado contigo até aqui. As circunstâncias mudaram, de fato. Creio que a caçada à Ta-Urt tornou-se algo menor diante do mal que se levantou esta noite. Concordo contigo: deve retornar aos seus, comunicar o que acontece e ouvi-los. Espero vê-lo novamente, em breve.

O Arcanjo se vira, mas continua dirigindo a palavra à Arhmad.

- Cassimir tocou em um ponto importante: o cristal que estava na posse de Odoacro. Se os feiticeiros do Alamut forem capazes de desativá-lo, devem fazê-lo o mais rápido possível. Não sei se o inimigo tem ciência desse artefato, mas temo o que poderiam fazer caso tenham em mãos um artefato que liga o sangue de vários entre nós... Se a partir disso conseguirem criar mais um para ser passado àqueles que estarão nas entranhas do Império, ainda melhor.

Voltando-se agora para Cassimir, Qaphsiel continua:

- Creio que não haverá outra alternativa além de nos separarmos. Se formos rápidos, ainda encontraremos Marcus Verus em Y’srael. Como eu disse, ele mencionou que seu senhor nos buscaria, mas não vejo motivos para não nos adiantarmos com esse encontro. Pessoalmente, eu gostaria de encontrá-lo, apesar de me colocar a disposição de seguir ao lado de qualquer um entre vós.

Suspirou. Começou a sentir, aos poucos, a letargia que a chegada do dia traz àqueles do seu Sangue. Se preocupava também com o fato de que precisaria se alimentar em breve. Ainda não tinha fome, mas sabia que não conseguiria lutar em plenas capacidades com o sangue que circulava em seu corpo.

- Por ora, descansemos. A próxima noite será a primeira de muitas noites terríveis.
Albert Osmund
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Seg Jul 23, 2018 7:01 pm
*Enquanto os presentes falam, Appius permanece imóvel, como uma estátua... ou um cadáver. Após longos minutos de deliberação, ele se mexe novamente, ciente dos caminhos que se apresentavam.*

-Mithras... Sim, um Rei-Senador, talvez o último membro de valor dos seus contemporâneos. Seu braço direito e senescal é de meu Clã e do meu sangue. Camden, como ele é chamado, é um erudito notável, e um diplomata não-oficial entre os Ventrue e Capadócios. Já nos correspondemos antes, e talvez isso facilite nosso contato com Mithras.

-Da mesma forma, também gostaria de encontrar o Senador Verus. Ele é, eu acredito, fiel a Roma além de uma cidade ou Imperador. Vai lutar para preservar seu ideal, e por isso talvez seja melhor conversar com um colega romano. Em verdade, assim como ele, ainda não consigo aceitar que a destruição de Roma seja inevitável, e batalharei para salvar o que ainda resta de bom no Império. *Ele para e olha todos os presentes.* Mesmo que seja o único aqui que pensa assim.

*Appius dá uns passos e para diante dos filhos das Sombras, e demora seu olhar em cada um dos três. Soldado, política e andarilho.*

-Eu jamais poderia presumir lhes dar direções. Posso ver o tamanho da cruz que têm para carregar, se me perdoam a expressão; como Cassimir disse, agora são o que resta da liderança de seu Clã, portanto seu caminho cabe a vocês e apenas vocês. Porém, eu devo apontar para um fio na sua tapeçaria: o Senador Plínio. Ele é um dos seus, e embora suas alianças pareçam claras, suas motivações não. Seria um bom ponto a se descobrir.

*Antes de se retirar para seu sono diurno, Appius se dirige ao guerreiro israelita, com um sorriso fraco no rosto.*

-Parece que nossa estrada será a mesma, por ora. *Ele franze a testa enquanto pensa por um momento.* Chazak u'varuch seria o certo a se dizer? Certamente é meu desejo.
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Territórios onde a Águia Dourada não repousa - Página 3 Empty Re: Territórios onde a Águia Dourada não repousa

Ter Jul 24, 2018 8:59 am
Imersos nas diversas possibilidades e desdobramentos dos eventos daquela noite, os cainitas são acometidos pelo cansaço e sono diurno. Descansam ali mesmo, na torre principal do Castelo das Sombras, sob a tutela de Cassimir. Limitando-se, porém, aos andares inferiores. Somente Cassimir repousou no salão dos tronos negros. Ele sabia que deveria fazê-lo.


Este dia não os propiciou um descanso apropriado. Suas mentes em imersão nos problemas a serem resolvidos permaneceram ativas, fervilhantes, em virtude das visões pessoais que os acometeram por conta do despertar daqueles cainitas. Ainda assim, o dia se vai e a noite retorna, como as ondas a chocarem-se contra o paredão da montanha na qual o Castelo está sendo construído, em um ir e vir eterno como as não-vidas daqueles amaldiçoados.

Despertam separados por poucos instantes. Qaphsiel, Sejanus, Arhmad e Cannatos encontraram-se subindo os degraus escuros daquele lugar. Appius prosseguiu alguns instantes depois e logo estavam todos reunidos no salão principal, escuro como a noite e com os tronos em um andar acima a observá-los, vazios, mas impositivos.

Foi quando chegaram no salão que Qaphsiel o sentiu. Uma consciência que forçava à sua. Sabia que poderia tentar impedí-lo, a quem quer que fosse, mas sentiu que a imposição trazia com ela urgência e se debruçava sobre a sua mente limitando-se a mostrar que ali estava, pedindo passagem. Uma voz ecoou no raso do seu pensar. Era uma voz masculina, grave e carregava um senso de autoridade natural, de quase realeza.


- Qaphsiel, Filho de Za'aphiel, Progênie de Samiel, O Guerreiro de Saulot. Releve a imposição de minha consciência sobre a tua, são tempos urgentes nos quais as formalidades perdem-se em importância. Sou Mithras, Progênie de Verddartha e Senhor de Marcus Verus, cuja mente me possibilitou vislumbrá-lo e, assim, procurá-lo.

- A situação é emergencial. Desvencilhei-me das cadeiras do Senado Eterno muitos séculos atrás e, confesso, absorto do caminhar do Império não previ o desenrolar dos fatos. Outros se reunirão em noites vindouras em meu território, a Britânia. As ilhas estão abertas para vós, Qaphsiel, junto a seus aliados. Aqui, sob a segurança dos meus auspícius, traçaremos o curso a seguir para a destruição do mal que assola nosso tempo e que nos obriga a deixar de lado divergências políticas.

- Há navios que pertencem à Verus a circundar o mediterrâneo, informem vossa posição e providenciarei que sejam trazidos através de um deles. Os aguardo em seis noites. Espero, com sinceridade, que considerem o convite.


Sentiu a mente desprender-se da sua e novamente sua atenção voltou-se aos presentes. Estavam uma vez mais reunidos.
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