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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Qua Mar 14, 2018 2:56 pm
Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Caaa3f10


Paris é a mãe de todas as cidades, o centro do mundo civilizado, o exemplo no qual se inspiram todas as cidades do mundo. É uma cidade velha, cheia de mistérios obscuros que esperam para ser descobertos sob as suas iluminadas avenidas. Paris é a sede de um imenso império colonial, que se estende do Pacífico até a América, passando por Ásia e África. O que quer que seja decidido aqui, afeta a vida de milhões de pessoas.

Os cainitas de Paris são mantidos mais ou menos coesos graças à capacidade e autoridade de seu Príncipe, François Villon. A estabilidade parisiense é lendária, igualando-se somente àquela londrina. Os inimigos são poucos, o país é protegido física e magicamente. O Conselho de Primogenitura é forte e atuante, e o Sabá espanhol, assim como o italiano, foram derrotados tantas vezes que desistiram de invadir a fortaleza dos Toreador. Com um cenário assim, o que poderia dar errado?
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Qua Mar 14, 2018 9:40 pm
*Várias coisas estavam erradas. A noite devia ser o domínio das feras e dos Membros. Agora, com lamparinas de gás inundando a cidade como estrelas, mortais não mais tinham medo da noite e das sombras, mas andavam impunes e rindo por ruas bem-calçadas e bem iluminadas. Talvez o riso fosse a pior coisa; o riso mostrava acima de tudo como a humanidade havia enfim conquistado a noite. Talvez isso fosse o motivo principal para seu Clã ter engolido o orgulho e se juntado à Camarilla há tantos séculos: mais do que qualquer coisa, era uma estratégia de sobrevivência contra uma humanidade que, ano após ano, conquistava o seu medo do escuro.*

*Ainda assim, especialmente assim, várias coisas estavam erradas. Lâmpadas a gás ofendendo os seus olhos, risos e trânsito ofendendo seus ouvidos e, principalmente, uma quantidade tão inimaginável de humanos, seus dejetos e fumaça que seu nariz era ofendido de formas indizíveis. Rajmund agradecia a Deus por ao menos não experimentar as sensações da cidade com os sentidos aguçados que sua forma animal possuía. Uma pequena benção em meio a todo o caos, embora mesmo assim a viagem tenha sido infinitamente melhor do que o seu destino, passando noites contínuas correndo sobre quatro patas ou voando sobre os campos da Europa até chegar naquela cidade que merecia o nome de Cidade das Luzes.*

*O homem desembrulha um papel tirado do bolso de seu casaco surrado e, com um indicador rombudo, lê o endreço com certa dificuldade enquanto balbucia as palavras: Palais Royal. Pelo menos seu senso de direção funcionava tão bem dentro da cidade quanto fora dela. Só havia precisado perguntar para cinco pessoas, assustado três e reagido a dois assaltos.*

*Por mais de cem anos, Rajmund Samiec havia se perguntado como era Paris, a cidade-coração do país pelo qual havia lutado uma vez sem nunca conhecer. Agora que se via a frente do palácio suntuoso, não podia deixar de admirar o contraste: um camponês mal barbeado com roupas surradas e gastas pela viagem em frente a um palácio que traduzia toda a vaidade e, por que não, o amor pelo qual o Clã da Rosa desfrutava das coisas humanas. O Gangrel solta um riso gutural enquanto sacode a cabeça, amassa o papel e o joga no chão, enquanto dá um passo a frente.*

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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sex Mar 16, 2018 6:40 am
Segundo o que havia sido informado à Rajmund, o Palais Royal era o centro de poder das Cortes do Amor, nome coletivo pelo qual respondiam os cainitas franceses que se submetiam à autoridade do Príncipe François Villon. Era um construção impressionante, com infinitas janelas nas quais cascateavam pesadas cortinas que, ainda assim, não ocultavam totalmente a luz dos lampiões elétricos. Diante do Palácio se estendia uma pequena praça, onde transitavam um sem número de mortais, imersos em suas próprias existências e ignorantes ao governo sombrio que ali se instalava. Rajmund conseguia distinguir uma suave melodia clássica, um piano era acompanhado de uma voz feminina elegante e aguda. Ainda que a balbúrdia externa fosse quase ensurdecedora, a melodia ecoava, estranhamente impondo-se acima da algazarra e do caos parisiense.


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Os portões eram guardados por um pequeno grupo de homens vestidos em uniformes antiquados, que remontavam ao século XVIII. Pareciam alheios à movimentação do lado de fora mas, ao aproximar-se de Rajmund, indicam claramente um acesso menor, sem trancas. Os jardins é limpo e bem cuidado, ainda que seja inverno, e Rajmund tem a impressão de que são estruturados na forma de um estranho diagrama. A canção que preenche o ar parece ser mais potente ali dentro, possivelmente escapando pelas poucas janelas abertas.

Um dos soldados conduz o viajante através dos jardins cobertos de neve cuidadosamente empilhada nos cantos. Não fala, sequer olha a face do viajante. Nas escadas que dão acesso ao Palácio, um homem, vestido elegantemente com um terno acinzentado aparentemente feito sob medida e protegido do frio intenso com um pesado casaco azul escuro, parece esperar. Seus olhos são de um castanho, quase amarelado, e brilham intensamente refletindo as luzes da cidade. No seu rosto, um sorriso gentil, que evidenciam as marcas de expressão nas bochechas pálidas. Quando se prepara para falar, a música cessa repentinamente. A voz, então, flui num francês lento, como o de alguém que não tem certeza da fluência linguística do interlocutor.


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- Saudações, viajante. Imagino que sejas Rajmund Samiec. Me chamo Nicolas von Houten, porta voz de Sua Majestade François Villon. Paris é feliz pela sua chegada. Diga-me. Fizestes uma boa viagem?
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sex Mar 16, 2018 12:22 pm
*O Palais podia ser alienígena aos olhos do Gangrel, mas não menos impressionante. Ao cruzar pelos soldados com uniforme estranhamente familiar, Rajmund segue pelos jardins, contente pelo silêncio de seu guia, enquanto observa o ambiente e escuta a música curiosa, ocasionalmente passando a mão em uma planta, absorto em seus pensamentos.*

*Seu fluxo é interrompido com a chegada do seu anfitrião, e os dois não poderiam ser mais diferentes: ao passo que Von Houten estava impecavelmente vestido e alinhado, Rajmund estava vestido como alguém que não pisou em um centro urbano pelo último mês, com a postura levemente encurvada e um rosto desgastado com feições magras e famintas, consequência de ser Abraçado em pleno inverno russo. A fala lenta de Von Houten acaba ajudando o Gangrel, embora não fosse inteiramente necessária. Porém, ele hesita um pouco antes de responder, remexendo a boca como se estivesse provando o gosto das palavras antes de dizê-las, e cada frase é como uma lição há muito aprendida que retorna.*


-Tak, eu sou Rajmund. Viagem agrrradável, Frrrança tem bom solo e viagem com bom solo e vento ao rrrosto semprrre agrrradável.

*Ele fica parado por alguns segundos, piscando enquanto processa o que lhe foi dito e formula mais uma frase.*

-Parrris é cidade estrrranha. Más do que pensava, se é feliz com chegada.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sex Mar 16, 2018 1:37 pm
Von Houten sorri, um sorriso franco e gentil. Estende a mão direita, sem nenhum tipo de receio ou preconceito, em direção a Rajmund. Posteriormente, dá espaço e convida, com um movimento do braço, o Gangrel a entrar.

Após a porta, apresenta-se um vasto salão pouco mobiliado. O chão é branco e perfeitamente limpo. Os passos de Von Houten e de Rajmund ecoam pelas paredes, reverberando nos quadros que retratam inúmeras batalhas e subindo aos andares superiores, ligados ao salão através de um escada em bifurcação. Von Houten conduz Rajmund por um longo corredor. Ali, quadros surgem em um ritmo alucinante. Belos, floridos e felizes, mas que dão lugar a cenas de guerra e morte conforme o Gangrel avança. Um deles chama sua atenção: retrata um imenso pátio interno, como o de um monastério. Duas imensas estacas fincadas no chão ardem em chamas. Rajmund é capaz de divisar, em meio ao laranja do fogo, tons de escuro denotando corpos amarrados. Ao redor, uma multidão observa, com faces austeras, o macabro espetáculo.

O corredor se alarga posteriormente e as pinturas ali são menos fúnebres. Ao final deste, as flores tornam a ser o motivo principal. A passagem termina em um salão menor e mais aconchegante, com inúmeras janelas fechadas. É iluminado por luzes elétricas, presas no teto e na parede, reutilizando as estruturas dos antigos lampiões a gás. Diante de Rajmund, no centro da sala, um homem o aguarda com as mãos atrás do corpo.

É alto e bem proporcionado. Os cabelos castanhos estão soltos, e alcançam a altura dos ombros. A face é fina e elegante, mas austera. Traja calças escuras e uma camisa de linho branca, coberta por um casaco de tweed cor de mogno. O nariz é fino e alongado, servindo de base para um par de olhos verdes como esmeraldas que, sob a luz amarelada do local, lhe dão um ar fantasmagórico.

- Meu Senhor François Villon, lhe anuncio a chegada de Rajmund Samiec. - Introduziu Von Houten.

A face austera se desfaz. Villon inclina a cabeça levemente para a direita, cumprimentando o Gangrel. Mas é a voz seu instrumento mais potente. Mil melodias caberiam naquela voz, todas em perfeita e simétrica harmonia. Ele fala, em um polonês quase perfeito, mas com evidentes traços de francês.

- Seja bem vindo à minha morada, à minha cidade e ao meu país, Rajmund Samiec. Fui alertado de sua chegada e das razões que lhe trouxeram aqui. Mas sente-se - Villon indica uma poltrona - Quero ouvi-las, novamente, com suas palavras.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sex Mar 16, 2018 5:52 pm
*Rajmund aperta a mão de Von Houten com um sorriso, e com ele mostra um lado inerentemente bestial: seus dentes eram afiados e os caninos prolongados, mesmo quando retraídos, o que tornava sua aparência como que a de um lobo faminto; ao passo que sua mão possuía dedos grossos e rombudos, com as unhas todas pretas, e o dedo mínimo curiosamente atrofiado. Era estranho que o Clã da Rosa, notório por seus Membros vaidosos e superficiais, o recebesse de forma tão amigável. Por outro lado, leis de hospitalidade era antigas como o tempo, e faria sentido que os Toreador as respeitassem.*

*O palácio era algo inteiramente de tudo que havia visto. Se as lâmpadas a gás o deixavam melancólico, a luz elétrica apenas confirmava suas suspeitas: a humanidade havia conquistado a noite, e com isso talvez o próprio medo do escuro. As lâmpadas eram como pequenos sois engarrafados, e se por um lado traziam uma certa nostalgia, algo que achou que não fosse sentir novamente, por outro eram a confirmação que, mais uma vez, a humanidade havia superado sua falta de pelos, presas e garras com engenhosidade.*

Rajmund observa as pinturas com pouco interesse. Havia visto o suficiente de guerra, principalmente para saber que não era nada como retratado, mas mesmo assim seu olhar se demora um pouco nas pinturas de fogueiras. Era curioso observar o fogo sem que sua Besta interior se ajustasse.*

*O Príncipe, por sua vez, era toda uma surpresa à parte. Seu porte e comportamento lembravam o Gangrel de todo um tipo de pessoa que havia conhecido em vida e após ela: oficiais, nobres, burgueses, era como se François Villons concentrasse todas estas figuras numa só, apesar de que a verdadeira surpresa vem quando o Príncipe abre a boca e começa a falar polonês. Não importa quanto tempo fazia, sua língua nativa nunca seria esquecida, e quando Rajmund responde, o faz numa voz límpida, diferente do que Von Houten escutara há pouco. Ele se senta na poltrona indicada, se remexendo de forma desconfortável até enfim responder.*


-Agradeço as boas vindas, Príncipe Villons, Não existe uma Polônia desde que eu sou mortal, mas ainda assim fala a língua como um professor. Acho que foi informado sobre meu caso, mas quer ouvir novamente para procurar diferenças, não é?

-Existe uma resposta simples: Havia uma dívida, e ela só podia ser lavada com sangue.

-Mas essa explicação não deve bastar. Quando o Clã Tremere surgiu, foi através de roubo e usurpação. Tzmisce e Salubri foram sequestrados e tiveram seu sangue roubado para dar a imortalidade a um grupo de bruxos. Este tipo de conduta gera inimigos: Os Tzimisce juram morte aos bruxos até o dia de hoje, os Salubri devem estar todos mortos, mas nenhum dos outros clãs aceitou os usurpadores. E com inimigos, surge a necessidade de guardiões. Rapto e sequestro não era novidade para os Tremere, e eles continuaram a prática, mudando seus alvos para membros dos Nosferatu Gangrel e Tzmisce, fossem neófitos ou anciões, e com eles fizeram experimentos para transformá-los em algo a mais - Gárgulas, monstros horrendos, leais e poderosos. E foi apenas graças a eles que os Tremere sobreviveram até a criação da Camarilla.

-Esta foi a dívida. O senhor teria dificuldade, ainda hoje, de encontrar um Gangrel, Nosferatu, ou especialmente um Demônio que não se lembre dela. E meu Senhor entrou em contato comigo há certo tempo para cobrar esta dívida. Seu próprio senhor havia sido vítima dos Tremere naquele tempo, talvez o mais antigo dentre eles. E Debrecen, meu senhor Vyacheslav me informou, estava o bruxo responsável pela sua perda. Mais do que isso, haviam sinais de que ele não havia se... retratado de seus hábitos antigos. Meu senhor juntou a mim e outros dez membros de meu clã, e nos chamamos de Presas de Arnulf, em homenagem a um grande campeão do clã Gangrel, e especialmente, um grande inimigo dos Tremere; e mais do que isso, entramos em contato com os Demônios. Não sinto orgulho disso, pois os Tzimisce são inimigos antigos e implacáveis a leste do Danúbio, mas independente disso, entendem muito bem o valor da dívida para com aqueles que caíram nas garras dos Tremere. A feitiçaria deles, algo que chamam de Koldun, enfraqueceu as barreiras da capela de Debrecen, o suficiente para que nós das Presas entrassem e fizéssemos nosso trabalho.

-É por isso, Senhor Príncipe, que estou aqui. Se o príncipe de Viena pudesse escolher, eu e todos os Presas que sobreviveram teríamos visto o sol nascer uma última vez, mas felizmente o Justicar Xaviar entende o valor da dívida, e entendeu nossa luta. Portanto, um acordo foi costurado. Cada um dos membros das Presas estaria a serviço irrevogável por treze anos em um dos grandes centros de poder da Camarilla, e proibidos de cruzar o Danúbio, sob pena de morte.

-Senhor Príncipe, quando meu coração ainda batia, eu lutei com franceses e pela França. Senti que talvez fosse a hora de conhecer o país.

*Rajmund fica em silêncio. Em polonês ou não, havia alguns anos que não falava tantas palavras numa mesma ocasião.*
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sáb Mar 17, 2018 6:44 am
François Villon ouve as palavras de Rajmund sem esboçar nenhum sentimento. Apenas fita o Gangrel, com seus inexpressivos olhos esmeralda. Ao fim do testemunho de Rajmund, Villon expressa um juízo breve.

- É uma história interessante.

Caminha alguns passos, até uma outra poltrona num canto da sala. Carrega-a em direção ao centro do salão, colocando-a de frente a Samiec. Senta-se. Dispensa Von Houten com um movimento de cabeça, e o porta voz deixa a sala fechando as portas do salão. Samiec não deixa de notar como Villon é estranhamente mecânico. Suas ações parecem milimetricamente calculadas.

- Agradeço o vosso elogio ao meu polonês, Monsieur Rajmund. Viajei a Europa quando jovem, tentando aprender o máximo possível sobre os meus vizinhos. Eu meu tempo, teu reino era um reino de relativa importância, e dediquei-me ao idioma como forma de expressar melhor minhas intenções.

Curva-se em direção a Rajmund.

- Veja, minha relação com os Tremere é bastante problemática. Alguns conflitos aconteceram séculos atrás, o que me fez estabelecer condições muito específicas para a entrada e permanência dos Feiticeiros em meu território. No entanto, fomos capazes de alcançar algum grau de paz e convivência, com os Tremere ocupando alguns cargos específicos na Corte. Essa trégua foi conquistada a duras penas e, cada vez que foi desafiada, precisei agir rápido para que as coisas não saíssem muito do lugar.

Villon pronuncia as palavras de forma indolente. É como se fosse diverso dos outros Toreador, constantemente afetados e excessivos. O Príncipe, ao invés disso, é quase estoico.

- De forma que aceito a vossa presença em minha cidade sob duas condições muito específicas. A primeira é que os Tremere não sejam incomodados em seus afazeres, que o vosso sentimento de vingança se aplaque enquanto estiver em terras francesas. Não tolerarei ameaças ao estado em que nos encontramos agora alcançado, como eu disse, com muito sacrifício. A segunda condição é que o Monsieur se abstenha de quaisquer relações com Lady D'Arbanville. Não sei se a conhece ou se conhece suas ideias e intenções. Nós nos respeitamos, mas a incapacidade dela de conviver com os Tremere já nos causou alguns problemas. A última coisa que desejo é que dois cainitas, sabidamente anti-Tremere, se juntem para causar problemas à Corte parisiense.

Villon sorri. E, quando o faz, o mundo parece mudar de significado. Rajmund percebe, somente agora, a beleza daquele homem. As leves rugas que emolduram os olhos esverdeados, os dentes perfeitamente alinhados e o rosto angular, masculino.

- Temos um acordo, Rajmund Samiec?

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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sáb Mar 17, 2018 10:15 pm
Rajmund segue se remexendo na poltrona. De alguma forma, parece que ele estaria mais confortável num banco de tábua dura ou no chão de terra batida ao invés do estofado macio. A primeira parte da fala do Príncipe é recebida com quase um murmuro imaginativo*

-Polônia como um reino importante? Deve ter sido um bom tempo...

*Ao ouvir o resto do discurso de Villon, Rajmund fica com o semblante mais sério, e ao ouvir a pergunta, passa alguns instantes remoendo a informação, remexendo o maxilar, antes de dizer.*

-Eu conheço pouco do Ocidente, mas a Leste do Danúbio, três coisas são de grande valor para quem lá habita: sangue, terra e honra.

-Eu disse antes que havia uma dívida, e que só poderia ser lavada com sangue. Assim o foi. É por ela que aqui estou, e no que depende de minha vontade, o conflito está encerrado e minha linhagem satisfeita.

-Direitos de hospitalidade são sagrados, e tanto hóspede quanto anfitrião têm seus deveres. O senhor Príncipe é um anfitrião gracioso, então como bom hóspede me resta atender seus pedidos.

-E por último, honra nos mantém vivos quando nossos corações já pararam de bater, e a palavra tem que ser ao mesmo tempo um grilhão e uma medalha de distinção. Portanto, agora, faço dois juramentos ao Príncipe de Paris:

-Eu juro pela noite, por presa, garra e sangue, que não irei começar nenhum conflito com os Feiticeiros em seu domínio, sejam eles residentes aqui ou não. Não posso jurar que não irei me defender se for atacado.

-Não conheço Lady D'arbanville e nunca tinha ouvido seu nome até essa noite, mas se pede para que não me relacione com ela, não me relaciono, mesmo que isso não me agrade. Juro por lobo, morcego e névoa que não a procurarei, e se for procurado, a tratarei com honra e respeito, mas apenas isso.

*Agora é Rajmund que sorri, mostrando suas presas enquanto estende sua mão calejada e curiosamente bestial*

-Se minha resposta te agrada, mê-si-ê Villon, então temos um acordo.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Ter Mar 20, 2018 10:16 am
- Nós temos um acordo, Rajmund Samiec.

O Príncipe se levanta, caminhando alguns segundos pela pequena sala. Sua expressão é um misto entre satisfação e preocupação. Dirige-se a um ponto da sala, onde repousa uma pequena mesa de madeira. Sobre ela, uma bandeja serve de base a uma elegante garrafa em vidro e ouro, acompanhada de taças igualmente douradas. Villon serve o conteúdo nas duas taças, e entrega uma delas a Samiec. O perfume da Vitae inunda as narinas do Gangrel enquanto as cores dançam na taça: um carmesim profundo com tons de púrpura.

Villon se senta e dá um gole breve no líquido. Samiec tem a ligeira impressão de ver um brilho avermelhado nos olhos do Príncipe. O Príncipe parece ponderar por um segundo, como se o que desejasse dizer fosse relativamente problemático. Ao fundo, o som da música e das conversas na praça é abafado por trovões. Uma tempestade parecia estar a caminho.

- Me agrada que você seja consciente dos deveres de hospitalidade, Samiec. Eu te recebo na minha cidade e espero que Paris possa lhe proporcionar muitas belas coisas. Caso não disponha de uma moradia, ofereço-me uma das minhas residências secundárias: uma encantadora villa na Avenue des Acacias. É próxima a uma das maiores reservas verdes de Paris e pode satisfazer suas... especificidades.

Um outro gole.

- Não obstante, minha posição e os deveres de hospitalidade me impelem a requerer de você, Rajmund Samiec, uma retribuição à minha hospitalidade. É uma tradição da Corte do Amor desde o início do meu reinado. É comum que os recém chegados auxiliem o Príncipe em seus afazeres mais imediatos.

Samiec tem a impressão de ver o Príncipe esboçar um sorriso.

- Eu preciso que alguém acompanhe, na forma de uma escolta, o Primogênito Ventrue Marcus Labianus em uma viagem a Estrasburgo, onde ele encontrará uma delegação alemã para negociar alguns termos de natureza política e econômica. Labianus é um enviado especial da Corte, e sua segurança é de máxima importância. Ao mesmo tempo, outros Primogênitos tem assuntos mais emergenciais para lidar, de forma que minhas possibilidades são limitadas. A razão para essa proteção é muito simples: eu não confio nos alemães.

Villon levanta-se e caminha em direção a Rajmund.

- Veja que não é uma obrigação servir-me nesta forma. Se aceitares, contudo, lhe esclarecerei sobre detalhes da situação. Garanto que podem interessar a você, em certa medida.

O Príncipe entrega a Rajmund um último sorriso antes de esperar pela resposta do Gangrel.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Ter Mar 20, 2018 10:03 pm
*Rajmund aceita a taça, mas não bebe o sangue ainda. Lhe era desconfortável beber sangue que não fosse pulsando de um corpo vivo, muito menos sangue pelo qual ele não havia caçado. Ele olha para a janela enquanto o Príncipe fala. Uma tempestade, de fato, estava a caminho, uma boa noite para se voar e sentir livre.*

*Quando Villon faz sua oferta/pedido, Rajmund ergue uma sobrancelha enquanto fita o Toreador. O Príncipe de Paris parecia ser, grata surpresa, um homem de honra e um político hábil. Fazer o serviço requisitado, além de parte de sua "penitência", também seria uma oportunidade de conhecer mais sobre a situação da França.*

-Morar em uma casa? Seria uma novidade pra mim. Mas Paris é uma terra de novidades, não? Aceito seu presente de bom grado, e a missão que o acompanha. Como o senhor disse, somos homens que entendemos as leis da hospitalidade.

-Mas uma coisa me espanta: que um Ventrue aceite que precise de proteção. Ele sabe disso, ou o senhor ainda precisa convencê-lo? Se preferir, posso seguí-lo sem ele saber. Mas eu só sei de uma coisa: o senhor está certo de não confiar naqueles prussianos.


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Qua Mar 21, 2018 1:38 pm
Villon sorri diante da pergunta do Gangrel. Seus olhos passeiam alguns instantes pela sala, tornando a Samiec em um dado momento. Termina de beber o conteúdo da taça, emitindo um pequeno ruído de satisfação. Cruza as pernas antes de responder, olhando atentamente para Rajmund.

- Não, Labianus não está ciente da proteção e nem precisarei convencê-lo. Para todos os efeitos, vossa senhoria atuará como meu emissário, representando os interesses da corte e dos Gangrel de Paris. Não que o seu Clã tenha - ou manifeste - muitos interesses em relação aos afazeres da Corte do Amor. Esperemos que esse cenário possa mudar com a sua presença na minha cidade.

Villon se levanta. Caminha até a janela e observa o movimento. A chuva começa a cair e o perfume de terra molhada, junto aos trovões e relâmpagos atiçam os sentidos do Gangrel.

- O fato é que os Ventrue alemães defendem os investimentos do seu governo em nosso território. Nós, obviamente, nos opomos a tal situação. Sabemos que onde indústrias se expandem os Ventrue se expandem juntos e a relação entre os Sangue Azul e os Toreador em França são demasiadamente delicadas para permitir um afluxo de Ventrue em nosso território. Obviamente que tal decisão pode ferir certas sensibilidades, logo Labianus foi muito cortes em oferecer-se para negociar, oferecendo ao governo alemão - e aos Ventrue - a possibilidade de investir em uma de nossas colônias ultramarinas. No entanto, Ventrue serão sempre Ventrue, e um observador externo ao Clã é mais do que apreciado.

- Desconfio, contudo, que o súbito interesse Ventrue em marcar uma maior presença em territórios franceses seja muito mais do que puramente econômica. Não sei se vossa senhoria é ciente, mas a França foi governada pelos Sangue Azul durante muitos séculos. Movimentos restauradores foram identificados e desmantelados ao longo do meu reinado, mas continuam a proliferar-se. Desnecessário dizer que uma mudança na estrutura de poder dos clãs, a nível continental, poderia portar a resultados pouco desejados.

- É essa a situação, Monsieur Samiec. Ainda posso contar com vossa disposição?
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Qua Mar 21, 2018 8:28 pm
*O Gangrel alisa seus bigodes enquanto pensa nas palavras do Príncipe. As motivações políticas e econômicas lhe interessavam pouco. Em verdade, lhe interessavam pouco porque ele pouco entendia delas. Mas o que Villon lhe pedia, por outro lado era algo simples e direto, bem mais adequado às suas capacidades.*

-Um par de garras e um segundo par de olhos. Sim, acho que posso fazer isso.

*Aproveitando a deixa do Príncipe, Rajmund se levanta da poltrona alienígena e vai observar a tempestade. Alguma coisa dentro de si, algum instinto, achava que sua presença na reunião a atrapalharia. E esta mesma coisa dizia que era exatamente o que François Villon queria.*
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Qui Mar 22, 2018 6:05 am
Enquanto Samiec observa a tempestade, o Príncipe, com um ligeiro tom de satisfação a transparecer na voz, efetua algumas observações.

- Dentro de dois dias Vossa Senhoria partirá, de trem, até Estrasburgo. Sua presença será informada ao Primógeno Labianus e os meus servos se ocuparão em garantir que a sua viagem seja confortável. Eu o deixo, agora, pois outros assuntos exigem a minha atenção imediata. Fique à vontade para permanecer ou deixar o Palais.

Villon observa um Rajmund absorto por algum tempo. Em seguida, deixa a sala, aparentemente rumando para os andares superiores do Palais Royal. É o porta voz do Príncipe, Von Houten, que adentra o recinto posteriormente, colocando em ordem as poltronas e as taças de Vitae. Permanece em silêncio, respeitando o momento contemplativo de Rajmund. Mas, como é sabido, os Toreador são incapazes de manter-se calados durante muito tempo, e a calma é quebrada pela voz aveludada de Von Houten.

- Sua Majestade me havia informado sobre o que planejava solicitar à Vossa Senhoria. Eu lhe recomendo, Rajmund Samiec, que tome cuidado. Os interesses alemães são defendidos, normalmente, com aço e sangue.

Há um sentimento de alerta nas palavras do porta voz mas existe, também, um certo tom de orgulho. Ele termina seus afazeres e começa a deixar a sala, permitindo ao Gangrel concentrar-se no mundo externo aos muros do Palais Royal.
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Qui Mar 22, 2018 12:14 pm
*Observar a chuva era relaxante. Rajmund quase não percebe o Príncipe falando com ele.*

-Não vou me demorar. Obrigado pela audiência.

*A tempestade podia significar tanto um futuro turbulento pela frente, como também uma faxina para um novo começo. Quem sabe? Paris talvez se mostrasse uma cidade de oportunidades.*

*Suas reflexões são quebradas por Von Houten, e Rajmund se vira para o Toreador antes que este deixe a sala.*


-Esperra, também saio agorra.

*Ele anda lado a lado do porta-voz do Príncipe, enquanto pensa nas palavras que ele disse.*

-Aço e sangue, tak. Perrigosso, más dirreto. Quasse alífio.

*Mas havia algo mais. O orgulho que Samiec percebera, que lhe fez só então notar algo.*

Von Houten, nie? Non perrrcebi ontes. Eu acha que conhece melhorr as alemães do que parrrece, mê-si-ê. Coisas boas entrre Frrança e Alemonha parra que Majestê terr porrta-voz alemon?
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Qui Mar 22, 2018 3:51 pm
Von Houten estaca antes de deixar o salão. Sorri cordialmente para Rajmund.

- Sim, Monsieur Samiec, sou alemão. Mas a minha lealdade incondicionada é ao Príncipe de Paris, François Villon. É a ele que eu devo...

Um calafrio, profundo, percorre o corpo de Rajmund. O som dos portões se abrindo, por um instante, se sobrepões  ao som da chuva.

-... e ele me ensinou muitas coisas. Minhas capacidades artísticas floresceram desde que eu troquei Berlim por Paris e...

Uma carruagem adentra o pátio. É desgastada e antiquada, com as rodas emitindo um barulho intenso. Para diante da porta, num ângulo que a deixa ainda visível.

-...quando ela chegou aqui, mais ou menos em 1860, foi um grande problema. Me lembro que passamos por uma crise, o Conselho dividido.

Um segundo calafrio, mais intenso. O cocheiro desce e abre a porta, oferecendo a mão para auxiliar uma senhora, usando um vestido extremamente vitoriano e completamente negro, a descer do veículo. O cocheiro abre um guarda-chuva, protegendo a estranha mulher da chuva que caia pesada.

-...e é isso, Monsieur Samiec. É essa a história. Me dê licença, preciso atender novos visitantes.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Qui Mar 22, 2018 4:53 pm
*Rajmund se perde um pouco nas explicações de Von Houlten. Conseguiu a informação de que ele era alemão, mas além disso, uma mistura de um francês rápido demais, desinteresse no assunto e a recém-chegada tolheram a atenção do Gangrel. A carruagem, e sua ocupante misteriosa, exercem um fascínio que Samiec não sabe explicar. Distraído entre as falas de Nicholas e a recém-chegada, Rajmund se esquece de um detalhe crucial, e por isso segue o Toreador.*

-Mê-si-ê Von Houten? Esqueci algo. Acho que Majestê deu casa a mim e... onde fica?
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Sex Mar 23, 2018 5:50 am
Von Houten interrompe a caminhada ainda no início do longo corredor.

- Ah, sim. Tens razão. O imóvel é localizado na Avenue das Acacias, número 34. Posso pedir a um dos cocheiros que o acompanhe até o destino sem nenhum problema.

O porta voz, então, continua pela passagem. Dirige-se ao salão principal. Em algum canto da casa a música havia recomeçado, mas agora cantava um voz masculina. Uma melodia profunda e triste, em um francês razoavelmente antigo. Rajmund entendia somente que a canção se referia a um homem com saudades de sua pátria.

As portas principais do palácio ainda estavam abertas quando ambos os cainitas chegaram ao salão. A chuva caia pesada do lado de fora, acompanhada de fortes relâmpagos. O cocheiro com o guarda-chuva se retirava, de volta à carruagem, tendo deixado sua senhora.

Era uma figura estranha. Estranhamente alta e longilínea. Nenhuma parte do corpo era visível a não ser o rosto, uma máscara branca e lisa, com pouca maquiagem. Os olhos eram azuis, o nariz bem proporcionado e a boca ligeiramente torta. O vestido parecia saído de uma peça de teatro inglesa, muito antiquado e bastante vitoriano. Samiec nota as manchas de lama na bainha da indumentária. A mulher exala uma calma anormal enquanto aguarda, parada como uma estátua de mármore. Um terceiro calafrio, mais suave, percorre a espinha de Rajmund. A mulher, contudo, não lhe dirige o olhar.

- Ah, Lady D'Arbanville! É um prazer inenarrável recebê-la na Corte. Se puder aguardar alguns minutos, irei até on andares superiores anunciar ao Príncipe a sua visita. Com licença.

A mulher somente aquiesce com um movimento de cabeça e um meio sorriso. Von Houten se adianta, movendo-se com agilidade pelas escadas, somente para desaparecer nos andares superiores.

Só então a visitante dirige o olhar a Rajmund Samiec. Cumprimenta-o com um movimento de cabeça e o saúda, com um francês elegante e, ao mesmo tempo, tão arcaico quanto aquele cantado em algum lugar do palácio.

- Boa noite, Monsieur.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Sex Mar 23, 2018 3:46 pm
-Nie, sabendo enderresso, eu acha. Achei o Palais, nie?

*Rajmund segue com Von Houten e por fim vê a misteriosa recém-chegada, e entende a razão do porque seus pelos estarem eriçados até a nuca. Eis, enfim, a misteriosa Lady D'Arbanville. Mas o que, em sua presença, o deixava tão incomodado? Seria um aviso instintivo de que a sua companheira de Clã era uma receita para problemas, como advertira o Príncipe Villon? Ou seria meramente a reação de um predador a outro, um verdadeiro predador em meio a essa cidade de luzes e cortes de amor? Lady D'Arbanville parecia distintamente deslocada de seu tempo, uma coisa em comum que tinha com Rajmund. Talvez fosse realmente sábio não manter mais contato com a anciã do que o necessário, assim como havia jurado a Villon. Não obstante, Rajmund responde sua saudação com um cumprimento da cabeça, e seu francês enferrujado.*

-Bon soar, madame.

*Em seguida ele segue para longe do Palais Royal em busca de sua nova villa, a tempestade, somada à hora da noite, deixavam as ruas vazias, exatamente a seu gosto, e ele aproveitava a sensação de liberdade trazida pelo vento e pelas gotas d'água enquanto explorava as ruas da Mãe de todas as Cidades.*
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Sáb Mar 24, 2018 7:15 am
As estradas estão vazias. Não era incomum chover em Paris, mas em Janeiro, quando as temperaturas caem abruptamente, era um fenômeno raro. Enquanto Rajmund caminha pelas ruas da capital do mundo, carros avançam, com suas fortes luzes, em um incessante vai e vem. Música preenche o ar e o cheiro e fumaça invade as narinas do Gangrel. Tinha seus encantos, Paris. Construções impossíveis surgiam uma após a outra, resquícios dos tempos gloriosas das monarquias francesas. Rajmund ruma para sudoeste, orientado por mapas urbanos. Cruzar o Sena, com suas inúmeras pontes, é uma experiência dúbia: de um lado o Gangrel avista a Torre Eiffel, símbolo máximo de Paris. Sob os arcos das pontes às margens do rio, porém, mendigos se associam para dividir pequenas fogueiras e alimentos enlatados.

A viagem, a pé, é relativamente longa. À medida em que o centro da cidade vai ficando para trás, Rajmund sente o inconfundível perfume de floresta a se espalhar pelo ar. As casas ali são menos impressionantes e suas luzes acesas indicam que os moradores optaram por permanecer em casa nesta noite chuvosa. Em pouco tempo, identifica as placas escritas em francês, e uma deles indica o seu destino. A avenida é simples, raras são casas e vastos os terrenos circundantes. Quase ao final da mesma, Rajmund identifica o número 34. É uma residência pequena, de cor branca, com dois andares e cercada por muros razoavelmente altos e portões de ferro fundido. Ao redor, um imenso jardim se conjuga com o quintal, aberto, que dá passagem à floresta localizada nos arredores do distrito, a Floresta de Meudon.

A letargia típica da proximidade do amanhecer, lentamente, se apodera do corpo de Rajmund Samiec. Embora fosse inverno e a noite fosse nublada e chuvosa, o sol não tardaria a nascer.
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Dom Mar 25, 2018 11:56 pm
*Carros. Dentre todas as indignidades impostas pelos mortais à calma sagrada da noite, agora também havia os carros. Feras barulhentas, fedorentas, mas possantes, acima de tudo. Mais do que qualquer criatura que Deus havia colocado sobre a Terra, sem dúvida. Porém, Rajmund não pode deixar de pensar que ir a pé até seu novo destino não foi má ideia. A escolha lhe deu a chance de conhecer melhor seu novo território, ainda que tenha levado a maior parte da noite. E apesar de tudo, das luzes, fumaça e prédios rebuscados e colossais, não podia deixar de sentir certo fascínio. Sempre havia ouvido falar em seus companheiros de Clã advindos da Grécia, que decidiram trocar as áreas selvagens pelas cidades, e agora, pela primeira vez na sua vida como Cainita, adotava uma cidade grande como refúgio. E não seria, afinal, um outro tipo de floresta? Uma onde ele não necessariamente seria o maior dos predadores? Paris poderia se mostrar, mais do que qualquer outra coisa, um desafio, algo verdadeiramente novo nos cem anos de sua não-vida. Paris poderia ser, afinal, uma festa.*

*A Rue des Acacias, por sua vez, era um cenário mais familiar, e imensamente confortável. Rajmund sentia que poderia fazer daquele lugar um protetorado, um refúgio para quando as luzes e intrigas do coração da cidade se mostrassem excessivos. A casa, em particular, lhe intrigava muito, mas não a adentraria hoje. Sentia o sono se aproximando, e com ele, o sol. Por hoje, ainda seria Rajmund Samiec, o Gangrel selvagem. Adentrando na Floresta de Meudon, livre de testemunhas e tendo apenas as árvores à sua volta, o Gangrel adota a prática quase sagrada de seu Clã de se fundir à terra para buscar abrigo dos raios inclementes do sol.*
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Seg Mar 26, 2018 8:28 am
Ao despertar, com o frescor de uma nova noite, a floresta ao redor estava calma. Era possível ouvir os animais noturnos, mas somente isso. O local era uma ilha de calma dentro do furacão de civilização que era Paris. As árvores altas, junto às nuvens pesadas, encobriam o céu noturno. A terra estava ainda molhada da chuva da noite anterior que provavelmente continuou durante as horas diurnas. As casas, a media distância, tinham seus amplos salões iluminados pela fantástica, porém invasiva, luz elétrica.

Diante da porta da casa que lhe havia destinado François Villon, Rajmund encontra um pequeno envelope. No selo de cera violeta, as iniciais "FV".

"Caro Rajmund.

Uma carruagem passará amanhã, pouco antes da meia noite, para buscá-lo. Nos arredores de Paris você encontrará a comitiva de Marcus Labianus. Ele está ciente da sua presença e manifestou profundo interesse em conhecê-lo. Creio que a viagem será agradável.

Seu, nas noites porvir,

François Villon."


A casa estava diante do Gangrel, mas restaria ali por um tempo indefinido. Por outro lado, a floresta parecia convidá-lo para desvelar seus mistérios. Paris também fazia sua oferta, e Rajmund podia notar, mesmo à distância, a iluminação da grande cidade, com seus segredos e intrigas. No entanto, uma sensação estranha se fazia presente. Rajmund sentia os pelos eriçarem. Era um predador, um dos maiores considerados os treze Clãs de Caim. Sabia observar um presa. E sabia, instintivamente, quando estava sendo observado.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Seg Mar 26, 2018 11:58 am
*A nova noite se abria em possibilidades e sensações: uma nova casa, uma nova floresta para relembrar aos parisienses o medo do escuro, e até mesmo a cidade, com todo o seu desconhecido curiosamente atrativo; e o bilhete de Villon confirmava que esta noite era livre para exploração. De fato, uma ostra.*

*Porém, algo não estava certo. A noite não era sua. A floresta não era sua. Rajmund se vira para observar a escuridão a sua volta, e em breve, não haveria escuridão alguma. Se concentrando, o Gangrel usa seus Olhos da Besta, para que seus olhos assumam um brilho vermelho sobrenatural, que por sua vez, mostravam os arredores claros como se fossem iluminados pelas luzes elétricas tão queridas dos parisienses. Ele precisava saber quem o observava. Se fosse um outro Membro, era fundamental vê-lo. E se fosse um mortal, que o havia flagrado no lugar e hora errados... era uma pena...*
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Seg Mar 26, 2018 5:38 pm
Era um corvo.

Um corvo empoleirado em um carvalho que ocupava uma posição próxima ao local onde dormia Rajmund. A ave permanece ali por alguns segundos, antes de bater asas e voar em direção à cidade. A sensação, contudo, não passa.

Súbito elas chegam. As imagens.

Há uma casa. Há fogo e gritos. Figuras indistintas tentam fugir através das janelas, somente para despencar rumo ao chão. Há um homem, um homem escuro como se estivesse coberto de fuligem. Ele olha atentamente o incêndio enquanto centenas de pessoas marcham, acorrentadas pelos tornozelos, em direção a um ponto desconhecido. A lua é de sangue e quando Rajmund observa novamente o homem, e este finalmente se gira, deixa a vista três cabeças que mastigam inúmeros pequenos seres humanos.

Rajmund torna a si com as primeiras gotas de chuva a cair sobre os ombros. A sensação de que alguém o observava passara.
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Paris: A Mãe de Todas as Cidades. Empty Re: Paris: A Mãe de Todas as Cidades.

Seg Mar 26, 2018 6:53 pm
*Um corvo? Hrm. A não ser que estivesse muito enganado, tinha uma boa ideia para onde aquele corvo iria, mas isso não era algo que o incomo...*

*Jesus, Maria e todos os seus santos, o que foi aquilo? Rajmund se vira e ataca, como um animal encurralado, uma árvore à sua volta, antes de perceber que foi uma visão. Uma coisa temível, algo como jamais havia sentido antes.*

*Que tipo de segredos essa cidade de luzes escondia? O que o futuro reservava para ela? E acima de tudo, qual seria seu papel nisso tudo?*

*Rajmund sentiu um calafrio, que nada tinha a ver com espiões ou o frio que se aproximava com a chuva. Para sua primeira noite em Paris, sua primeira noite livre, ele havia planejado conhecer melhor o seu território, e mantinha essa ideia, mas agora com um péssimo humor. Lenta e metodicamente, ele deixa o sangue fluir pelo seu corpo até adotar a forma de um lobo. O cheiro de terra molhada invade suas narinas e o acalma, de certa forma. O mundo era mais simples sobre quatro patas.*

*Rajmund começa a correr, dedicado a explorar os arredores de sua casa e a Floresta de Meudon. E se qualquer criatura, mortal ou humana, parasse em sua frente, estaria numa noite de azar. Rajmund tinha sede, e além disso, precisava descontar sua frustração em algo que sangrasse.*
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Ter Mar 27, 2018 8:54 am
A noite passou velozmente. Rajmund se movia com celeridade, deslocando-se entre a Floresta de Meudon e as regiões circunvizinhas. Paris não era tão desagradável depois de tudo, com vastas áreas selvagens em meio a uma das maiores metrópoles do mundo. A Floresta parecia abraçar e acolher o vampiro, reconhecendo-o como seu semelhante. Muitas das áreas eram quase intocadas, com imensas árvores que seriam capazes de bloquear a luz do sol.

Nos arredores de Meudon, Rajmund o avista. Um homem vaga sozinho até parar diante de um pequeno edifício de três andares. Retira do bolso um revólver antigo e começa, de forma trêmula, a carregar a munição. Parece decidido. Tem um objetivo a cumprir. Antes que abra os portões que dão acesso à parte interna do edifício, porém, precisa superar o grande lobo que se aproxima furtivamente...

Diante dos primeiros sinais de letargia matinal, Rajmund Samiec julga necessário retornar à casa. Alcança velozmente a construção e constata que a porta não está trancada. Dentro nenhum sinal de outras almas. O local é simples, decorado de forma minimalista. Alguns móveis ocupam espaços laterais, mas os espaços centrais são mantidos vazios. As paredes são claras, assim como o teto, e o local, ainda que aparentemente velho, cheira a objetos novos. Uma escada leva ao segundo andar, onde um quarto aparentemente jamais usado repousa em meio à penumbra. Um banheiro, igualmente novo, está localizado diante da porta do quarto.

De volta ao andar inferior, uma abertura no chão de pedra chama a atenção de Rajmund. Há uma passagem escavada no subterrâneo, sem iluminação. Uma alavanca interna permite o fechamento da estrutura. Parecia ser nada mais do que uma velha caverna escavada no subterrâneo, mas parecia também segura o suficiente para proteger um cainita. Caso desejasse, Rajmund poderia sempre fundir-se com a terra ali mesmo...

A noite seguinte chega com velocidade. Rajmund tem sonhos estranhos envolvendo o ser de três cabeças e a casa em chamas. Era como repetir a visão continuamente. E ao despertar o Gangrel sente-se ligeiramente esgotado. Não tem muito tempo para repousar, porém. Uma elegante carruagem encontra-se já parada diante dos portões, embora ninguém tenha saído dela ainda.
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