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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sex Jun 08, 2018 1:05 pm
A escuridão abafara até mesmo os gritos de pavor. Se aquele vilarejo havia visto em algum momento tamanha violência e desafio ao poder dos seus senhores, certamente se tornaria uma pálida memória diante da convicção e da força daqueles que vinham de Nippur. A guarda que protegia a entrada do templo não foi páreo para Sarosh, que lançava no ar os mortais como se fossem bonecas de tecido. O Príncipe da Escuridão sentia, dentro de si, o poder do Abismo e isso o vinculava de maneira profunda ao seu Senhor, aquele que personificava a própria Escuridão. De fato, era como se Laza ali estivesse, guiando a mão obscura de Sarosh, seus tentáculos. É como se sua armadura fosse o corpo de seu Pai, que o protegia dos ataques dos inimigos.

Medon e Mi-ka-il se ocuparam da guarda que, ocasionalmente, surgia de outras partes da cidade. Realizavam um círculo de proteção ao redor de Sarosh enquanto este limpava a entrada das grutas subterrâneas. Moviam-se habilmente, com Medon retalhando os inimigos com a sua lâmina, enquanto Mi-Ka-Il se movia numa velocidade que Sarosh não pensava ser possível mover-se. Sarosh percebeu que Tammuz se esgueirava até a entrada das cavernas, até o momento em que simplesmente desapareceu. Foi a voz de Nakurtum, que ecoou nas mentes dos três cainitas, que explicou o que ocorreu.

- Eu e Tammuz entramos. Vocês nos seguem. Minha intuição diz que o nosso traidor está escondido aqui embaixo. Sinto o cheiro de Nippur nestas catacumbas.

Os mortais não eram nenhum desafio para Sarosh, Medon e Mi-Ka-Il. Talvez o inimigo soubesse disso. Talvez aquele lugar fosse demasiado importante para ser deixado desprotegido. Fato é que, das vielas que davam acesso ao túnel, cerca de oito homens se apresentaram. Eram todos iguais em altura e aparência. Usavam longas túnicas púrpuras com bordados avermelhados que se prolongavam, cobrindo suas cabeças até os tornozelos. A face era branco giz, alongada, estranha. Os olhos eram de um negro tão profundo quanto a Escuridão comandada por Sarosh. Se aproximaram de Mi-Ka-Il e Medon, que cobriam o perímetro. Lentamente. Atrás deles, mais membros da guarda do vilarejo, com suas máscaras de animais, surgiam, urrando e avançando desejosos pelo sangue do inimigo.

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Mas não era tudo. Enquanto a guarda se aproximava de Medon e Mi-Ka-Il, e considerando que a passagem estava aberta, os nove tentáculos convocados por Sarosh passaram a atacar os inimigos. Medon e Mi-Ka-Il pareciam se concentrar nos homens de face de giz, conscientes de que eles ofereciam maior perigo. Mas havia algo além disso. Os tentáculos de Sarosh pareciam obedecer alguma outra força.

Não teve tempo, porém, de pensar.

A entrada dos túneis implodiu, lançando terra e areia por todos os lados. Àquela altura, nenhum mortal transitava na região, haviam escapado em pânico. Sarosh ouvia o som do combate entre seus primos e os estranhos homens, assim como sabia que seus tentáculos o protegiam da aproximação da guarda. Mas o que viu à sua frente o impactou. Nestes séculos, havia testemunhado muitas mistérios e visto coisas que não deveriam existir. Mas nada o havia preparado para o ser que se erguia das catacumbas.

Era uma criatura quadrúpede, o corpo largo e musculoso, que beirava os três metros de altura, apoiando-se sobre duas patas traseiras que lembravam mãos e duas dianteiras, formadas por corpos que pareciam grunhir e odiar tudo à sua volta. Uma outra cabeça se equilibrava no alto do corpo, dela prolongando-se uma boca imensa, disforme, que dava passagem a uma espécie de músculo que se prolongava tendo, ao seu final, um outro corpo invertido que urrava em agonia. O ventre deste se dividia, tornando-se mandíbulas inferiores e superiores. A coisa fedia, fedia como se dezenas de corpos em putrefação acompanhassem sua passagem. De sua boca - ou de todas as suas bocas - escorria uma secreção escura e purulenta. A coisa avançou, lentamente, com os olhos que não existiam fixos em Sarosh. Atrás dela, o Príncipe do Abismo pode divisar um outro cainita. Era alto e pálido, com cabelos escuros compridos e sujos, uma face esquelética e olhos totalmente brancos. Estava nu, e no seu peito havia um pentagrama desenhado em sangue. Sarosh sabia que estava cercado, Medon e Mi-Ka-Il não poderiam ajudá-lo, estando ocupados com os homens cor de giz. Tampouco poderiam seus tentáculos, que se ocupavam de impedir que ele fosse atingido pelas lâminas da guarda.

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O Guerreiro preparou-se para atacar e defender-se. Então, subitamente, sentiu que não estava mais sozinho.

Ao seu lado, as sombras se condensaram. O vilarejo inteiro viu suas tochas serem apagadas. As estrelas desapareceram e a lua minguante deixou um vazio no céu. Não parecia existir luz e parecia que jamais existiria novamente, o mundo havia sido devolvido ao Nada primordial. As sombras condensadas, que giravam rapidamente ao redor de si mesmas, se dilataram. Deixaram a posição horizontal e se levantaram, formando uma espécie de portal. E então, o vento.

Era um vórtice que parecia sugar tudo ao seu redor. Em pouco tempo, porém, Sarosh percebeu que estava direcionado à monstruosidade e àquele que a comandava. Pouco puderam fazer diante de tal poder, foram sugados, apesar da resistência que tentavam impor ao fenômeno. Desapareceram na escuridão, mas Sarosh sabia que tinham sido transportados, e não destruídos. O vórtice, então, deixou de ser um vórtice. Tornou-se uma figura humanoide que, lentamente, deixou de ser escuridão para assumir a forma de Laza Omri Baras, Rei da Escuridão e Senhor de Daharius Sarosh. Laza olhou para seu filho, seu olhar era urgente.

- Certas coisas não pertencem a este mundo. Nem ao nosso. Desequilibram o Todo. É necessário destruí-la e não posso fazê-lo sem você.

Laza não esperou resposta. Sarosh sentiu o corpo afundar no Abismo, as ondas de Escuridão transportando-o para outro lugar. Restou-lhe torcer para que seus aliados fossem bem sucedidos, ainda que em sua ausência.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sáb Jun 09, 2018 1:26 pm
* O Arauto avançou destroçando os inimigos, cercado por seus aliados igualmente hábeis em combate. Medon e sua lâmina inspiradora e Mi-ka-Il com sua velocidade tão terrível quanto impressionante. Venceriam, avançariam até que todos os inimigos caíssem.

O terror representado pela figura sombria de Daharius Sarosh não encontrava rivais à altura. Não até que aquela coisa implodisse a terra e se mostrasse no campo de batalha.

Sarosh fincou os pés envoltos em trevas no chão e segurou firme a espada óssea em sua mão direita.  Não avançou, pois a surpresa e a visão eram em demasiado impactantes. O Guerreiro não sentia medo há tanto tempo que sequer lembrava-se como era. Sentiu seu corpo vibrar, seus músculos se tornarem mais definidos e tensos. Em seus olhos negros e profundos o inimigo ganhava uma forma que o fez enxergar algo que, assim como o medo, não sentia há mais séculos do que poderia lembrar.

Um desafio à altura.

Por baixo do elmo sombrio, sorriu. Não somente pela sensação do combate duro que viria e pela emoção que lhe causava, mas porque notou toda e qualquer luz se extinguir e o próprio Abismo caminhar por aquelas terras. Não precisou ver o início ou o fim do vórtice. Não era necessário. Quando a noite tornou-se mais escura, Sarosh sabia que ele estava presente. O Rei das Trevas assumia uma posição no campo da Guerra, diretamente.

Naquele momento, por puro e simples egoísmo, Sarosh desejou que a guerra contra os infernalistas fosse exatamente igual às suas existências amaldiçoadas: Eterna. Não se importaria em levantar-se todas as noites para empunhar sua espada e ter a honra de lutar ao lado de seu Pai, destruindo toda a mácula e podridão que inimigo carrega, por toda a eternidade.

As palavras de seu Senhor ecoaram urgentes e, da mesma forma, Daharius fez sua voz ecoar nas mentes de seus aliados enquanto seus pés começavam a afundar na escuridão*


- Destruam os inimigos que os atacam neste local e agrupem-se. Aguardem-me antes de avançar. O Traidor e os demais inimigos estarão preparados e precisaremos estar juntos.

- Meu Pai, o Rei da Escuridão, lutará a meu lado contra a aberração monstruosa que impede nosso avanço. Confio em vossas habilidades inteiramente, meus aliados e primos, mantenham a posição até o meu retorno.


* Deixou-se ser engolido pelas trevas que mesclavam-se à sua armadura sombria e mergulhavam para dentro de seus olhos negros. A seu Pai, nada disse. Ali não caberiam palavras, somente ações do Filho de Laza Omri Baras.*
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Dom Jun 10, 2018 6:44 am
Afundou velozmente, deixando para trás seus aliados. Diante de suas últimas recomendações, foi Medon a dar uma resposta.

- Prossiga, Daharius. Esperaremos o teu retorno e o teu triunfo.

O Filho de Ventrue estava coberto de Sangue, a espada movimentando-se com velocidade e elegância. Mi-Ka-Il, cercado por mortais e cultistas agressivos, os derrubava um a um, ainda que seu corpo imaculado já contasse com alguns ferimentos. Sarosh ainda pode ver, antes de deixar o Mundo Físico, a aproximação de Veddartha, o mais velho dos Filhos de Ventrue, que se aproximava montado em um imenso alazão, pronto para cobrir sua ausência e equilibrar a balança da batalha.

Depois, Escuridão.

Não parecia uma viagem qualquer dentro do Abismo. Sarosh sabia que havia atingido camadas muito mais profundas. Pressentia que, graças à vontade de Laza, seus tentáculos tinham permanecido no Mundo Físico, auxiliando seus companheiros. Pressentia também a presença das consciências que habitavam aquele local. Variavam do agressivo ao idólatra, nenhuma ousando se aproximar. Sarosh sentiu que aqueles seres tinham um pavor imenso de Laza, assim como uma inveja e uma adoração que beirava a insanidade. O Abismo tinha, sobretudo, curiosidade sobre o Rei das Sombras e seus Príncipes.

Laza conduzia Sarosh sem tocá-lo. O Príncipe sabia que o inimigo viajava velozmente à frente deles, praguejando e blasfemando diante da perda de controle de seu destino. O Rei da Escuridão abria o Abismo usando somente o pensamento, sua forma pálida e mortal sem se confundir, nem mesmo por um segundo, com a substância que os envolvia. Sarosh percebeu que seu pai tinha os longos cabelos trançados, um penteado usado somente quando Laza assumia sua postura de guerreiro. Em determinado momento, abriu os braços enquanto mergulhava, e Sarosh sentiu a presença de ar.

Aterrissaram.

O local era branco, coberto de neve. Árvores mortas jaziam ao redor de uma imensa clareira enegrecida. A luz minguante estava novamente no céu, acompanhada de uma infinitude de estrelas brilhantes. Ali fazia frio. Nada que incomodasse Sarosh, mas ele sabia que estava muito, muito distante de sua terra natal. Parecia que a noite havia apenas começado ali, de forma que pai e filho teriam tempo para dar conta de seus inimigos.

Diante deles, a besta e o homem nu se recuperavam do trauma imposto pela longa travessia. Pareciam confusos e desorientados, mas se recuperavam rápido. Aquele era o momento, portanto, de atacar com o máximo de força possível e o alvo de Sarosh foi definido por seu Pai.

- Destrua o cainita.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Dom Jun 10, 2018 8:25 am
O mergulho no Abismo era mais profundo e longo que o usual e as consciências sombrias que nele habitam mantinham-se curiosos e, ao mesmo tempo, amedrontados pela passagem do Rei das Trevas.

Admirou-se. Seu pai era o ápice das habilidades possíveis de sua família. Era um artesão das sombras, um moldador das trevas capaz de tornar o abismo em sua argila e esculpí-la, úmida e inconstante, da forma que melhor lhe convir. Mas esta não foi a única razão para admirá-lo naquele momento.

Havia uma trégua imposta, algo que parecia impedir que os Baali e os antigos se enfrentassem abertamente. Ainda sim, lá estava Laza Omri Baras, intervindo e trazendo sua força ao campo de batalha. Daharius o admirou, embora soubesse que além de poderoso e firme, Laza é sábio. Não atacaria se isso desencadeasse sobre ele e sobre os seus a fúria da feitiçaria imposta pela trégua. Havia algo a mais e o Rei da Noite sabia. Afinal, ele sempre sabe, pois as sombras que habitam o todo sussurram à seu ouvido.

Surgiram em um ambiente branco, frio, coberto por uma estranha areia alva. Daharius jamais tinha visto a neve. Por uma fração ínfima de tempo, permitiu-se admirar-se também daquele local. Embora as árvores estivesse mortas e ressequidas - talvez pelo ar gélido que lhe trespassava - o local era belíssimo em sua brancura jamais alcançada pelos olhos negros de Sarosh. Seu olhar circulou aquele que seria o campo de batalha até repousar sobre o cainita, igualmente branco, com um estranho símbolo entalhado em seu peito.

As palavras de seu pai o destinaram ao seu oponente. O Príncipe das Trevas apenas assentiu e caminhou, a passos firmes e decididos, aproximando-se do seu rival.

O Místico do Abismo sabia, embora pouco, sobre as habilidades dos filhos de Baal. Por isso, sua armadura de placas negras reflexivas como um cristal de ébano lhe cobria o corpo, revestida por uma fina e translúcida camada de sombras que garantiria uma maior proteção contra o pior de seus efeitos: o fogo.

O Elmo tornou-se mais claro, de um sombrio transparente, enquanto seus longos cabelos negros esvoaçavam junto as trevas de sua armadura. Em sua mão direita a espada óssea curva vibrava sedenta pelo sangue do inimigo. Trouxe o alcance de sua lâmina à mão esquerda e deslizou um de seus longos e sombrios dedos sobre aquele fio afiado. Conforme sua mão avançava, trevas arrastavam-se do solo e de seus próprios olhos e cobriam a lâmina de forma translúcida e ondulante, como uma chama negra a flamejar na espada.

Ao mesmo passo, seu sangue percorreu suas já mortas veias com mais intensidade, tornando-o mais veloz e resistente. Ainda sentia sua força elevada pela ação anterior, então poupou suas reservas. A noite sangrenta estava apenas começando.

Estava pronto. O confronto teria início.

Iniciativa, Sangue e Disciplinas:
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sáb Jun 16, 2018 7:14 am
Não demorou muito até que a clareira se tornasse um campo de batalha. Sarosh não sabia onde se encontrava, mas sabia que jamais havia estado ali. Era o que lhe dizia a posição das poucas estrelas que podiam ser vistas no céu escuro. E foi deste mesmo céu que uma torrente de escuridão se manifestou no momento em que Laza, punhos cerrados e mandíbula retesada avançou em direção à abominação convocada pelo inimigo. A torrente se precipitou sobre a terra, nas forma de um pequeno turbilhão, abraçando o solo enegrecido. Dela, surgiram sombras longas e alienígenas, mas que faziam Sarosh recordar-se vagamente das formas de seu Senhor. Elas também se precipitaram em direção à criatura, mas Sarosh não teve tempo de observar seu Senhor em ação. O inimigo parecia se preparar para enfrentá-lo, avançando em sua direção resolutamente.

Teste de Iniciativa :
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Seg Jul 02, 2018 7:07 pm
O Guerreiro sorriu.

Por detrás do elmo sombrio e dançante, sorriu.

Recordou-se de séculos atrás quando ainda sentia os raios solares esquentarem sua pele corada e o vento quente das terras áridas que lhe pertenciam açoitar-lhe durante a cavalgada. A espada em mãos era outra, naquele ido tempo. Costumava portar uma cimitarra curva ornamentada com argolas douradas. Foi, uma vez, o Príncipe do Sol. Daharius, o Primeiro. Aquele que aquecia os corações dos soldados apenas com sua presença antes dos combates decisivos por terra, plantações e territórios com nascentes de água.

Sorriu ao notar que não havia mais o sol a aquecer-lhe, que a espada já não era mais a mesma e que sua presença não aqueceria corações de seus seguidores esta noite. Muito havia mudado mas um fato permanecia incólume. Uma ode a quem foi e sempre será.

Sorriu ao encontrar-se consigo mesmo, o Guerreiro nos instantes finais que antecedem o conflito.

A armadura de sombras que o envolve cresceu alçando os céus. Era uma entidade viva, aquela carapaça de placas negras ondulantes como chamas. Contraiu-se e pareceu mais firme, sólida, refletindo a neve que insistia em cair-lhe sobre os ombros e eram engolidas pela escuridão primal. Em suas mãos, uma cimitarra curva como a de tempos passados, mas feita dos ossos de seu primo Enki. A lâmina desta permanecia revestida com um fio negro que parecia borbulhar e emanar pequenas explosões sombrias. Sua voz grave - mas em tom baixo e frio, quase calculista - ecoou, antes do embate ter início.


- Antes de tua destruição diga-me vosso nome Criatura, para que sejas símbolo do início da queda dos teus. Diga-me, também, o nome daquele que ousou trair Nippur e talvez encontres conforto em uma morte rápida.

Avançou e foi possível enxergar apenas um passo. Em seguida a escuridão o envolveu em um borrão indistinguível. Era veloz como uma pantera e poderoso como um elefante.

A lâmina negra em suas mãos cortou o ar gélido deixando-o livre da neve que caía lentamente, havia um rastro de vazio deixado pelo abismo que habitava naquela espada. O corte foi lateral, visando o flanco do inimigo. Foi possível ouvir o deslizar da espada em um açoite violento que assobiou alto e agudo por aquele local.


Teste de ataque - Sarosh:
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter Jul 03, 2018 7:41 am
- Não tens poder sobre mim.

Foi a única coisa que disse o inimigo antes que a espada de Daharius Sarosh cortasse o ar numa velocidade estonteante. À esquerda do Príncipe, o Rei da Escuridão combatia, com as mãos nuas, o horror que havia sido vomitado pelo vilarejo. A cada golpe, céus e terras se distanciavam ainda mais. A cada movimento de Laza, que se movia livremente enquanto suas duplicatas desnorteavam o inimigo, o tempo parecia se mover inversamente. Não era possível que um inimigo resistisse àquela força e, não obstante, aquele resistia.

Teste de Ataque e Dano de Sarosh:

A espada se moveu rapidamente, mas não rápido o bastante. O inimigo se inclinou, com uma graça notável, deixando que a lâmina cortasse o ar, mas deixasse sua pele incólume. Sarosh ainda viu a face do seu oponente enquanto ele sorria, os dentes enegrecidos expostos. Foi nesse instante que Sarosh sentiu que sua ligação com Medon, Nakurtum, Mi-ka-il e Tammuz havia cessado. Teria acontecido algo com o Filho de Arikel ou seria somente a distância a impor limites aos dons de seu primo?

- Você é fraco, Príncipe do Sol, e por isso cessará de existir.

Num ato veloz, o inimigo estendeu as duas palmas das mãos em direção a Sarosh, que sentiu o ar vibrar e se aquecer ao seu redor. Uma sinfonia invadiu seus ouvidos, os sons de milhões de seres a clamar pela sua destruição. Era risadas, blasfêmias e escárnios que desestabilizaram, mesmo que por um segundo, o Filho de Laza. E então, vieram. As chamas. Saltaram das palmas do inimigo, como uma torrente furiosa de destruição. A Besta de Sarosh chiou e se encolheu. Sentiu sua carne ser atingida violentamente pelas chamas, sentiu-a fumegar, uma dor inigualável percorrendo cada um de seus nervos mortos. Lá estava, afinal, a maldição d'Aquele Acima.

Teste de Ataque do Inimigo:
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Ter Jul 03, 2018 2:45 pm
A lâmina cortou o ar em um zumbido agudo que ecoou pelo cume daquela montanha gelada. O guerreiro mantinha o corpo inclinado para frente e a mão envolta em trevas segurando firme a espada que encontraria a carne de seu oponente. O inimigo, contudo, era veloz. Uma antiga e inesquecível sensação percorreu seu corpo secular.

Havia um desejo incutido em sua natureza pela batalha. Era o Príncipe e o Líder, mas acima disso será sempre o Guerreiro.

O golpe no vazio lhe deu parcos instantes para observar o seu entorno. Há uma distância curta, o próprio Rei da Noite lutava contra aquela inominável criatura. Até mesmo ele, Laza Omri Baras, encontrava um oponente formidável. Os embates travados naquele local gélido carregavam mais significado do que apenas vitoriosos e derrotados. Ali gerações distintas, de lados opostos, confrontavam-se opondo povos, cidades e ideias.

Um frio preencheu seu morto interior ao notar a ausência de contato com o grupo sob seu comando. Evidente distância, dolorosa derrota ou intervenção do inimigo eram possibilidades latentes. Daharius conteve-se, não poderia abater-se. Cabe a um líder delegar e, sobretudo, confiar naqueles subordinados a ele. Confiava e acreditava nos seus. Não seriam derrotados pois havia um sentido maior que suas próprias existências individuais naquele embate: havia o desenho de um futuro melhor ou pior que seria traçado pelo lado vencedor.

Não teve tempo de conjecturar por muito mais. O inimigo era implacável, como deveria ser, e logo empregou sua mais temível habilidade.

Daharius Sarosh era uma experiente guerreiro e um Místico do Abismo formidável.  Era filho do Rei das Trevas e, ainda assim, era apenas um vampiro como qualquer outro. Notou o ar aquecer a seu redor enquanto palavras incompreensíveis e lamúrias agonizantes preenchiam seus ouvidos. Agonia, dor, desespero.

O Guerreiro envolto em sua armadura de placas sombrias manteve-se imóvel. Avaliou o ataque e notou que talvez pudesse escapar. Poderia ele, com sua velocidade ampliada, desviar-se das chamas da danação daquele infernalista.

Sarosh não esquivou-se.

Aquele confronto era maior em seus psicológicos do que em seus corpos físicos. Ideias se contrapunham naquele local.

O Príncipe das trevas era um homem a lutar pela liberdade de seu povo, declarando guerra aberta aos seus próprios que chamam-se de Deuses. Acreditava na capacidade de cada homem traçar o seu destino e precisava reforçar essa ideia para os que o circundavam, além de reafirmar para si mesmo o seu compromisso com a causa.

Cerrou os punhos, pressionou a própria mandíbula e cruzou os braços a frente do rosto. Suportaria a dor, a agonia, o desespero.

Mostraria ao inimigo e ao mundo que o poder da servidão infernal jamais superaria a obstinação da honra, do dever, da justiça. Sarosh deixou as labaredas que o inflamaram e as trevas de seu âmago travarem uma batalha silenciosa. A escuridão e o vazio lutavam contra as chamas do inferno.

Venceria. Venceria o fogo, a dor e a morte. Venceria a guerra diante de si e aquela travada pela besta que habita em seu corpo.


- És tu, Servo Infernal, que não possuis poder algum sobre nenhum de nós.

Valores de Sarosh:
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sex Jul 06, 2018 4:37 am
Teste de Dano e Absorção:

Era o inferno.

Daharius era o guerreiro. Estava preparado para tudo. Mas poucas coisas poderiam causar tanto efeito quanto um cainita que comandava a fonte primordial de sua própria danação, que torcia a Maldição d'Aquele Acima para lançá-la contra seus inimigos. Sarosh sentiu parte das chamas serem absorvidas: parte pelo poder que lhe havia concedido por Laza, parte pelo leve brilho dourado como o deserto que envolveu a própria armadura quando ele foi atingido, a Benção de Sutekh. Daharius sabia que esteve muito próximo, no liame entre a existência e a Morte Final no momento em que as chamas, poderosas e desafiadoras, superaram suas defesas e atingiram sua pele.

Dor. Inenarrável dor, maior do que qualquer coisa que o Príncipe já havia sentido.

Acompanhavam os lamentos. Os ouvidos de Sarosh foram inundados de vozes. Promessas sombrias de poder e glória se misturavam a ameaças e sentimentos hostis. Por um segundo, pareceu que não existia esperança, que Nippur estava fadada à derrota, que tudo o que ele amava iria ser retirado dele e afundado na abominação e blasfêmia. O mundo era um lugar escuro e lúgubre, onde mortais caminhavam com pesadas correntes de metal amarradas aos pés enquanto seus Senhores sombrios riam do alto de suas catedrais de pedra e ossos. Riam compulsivamente, e mesmo Sarosh era, outra vez, um mortal, submetido a violações inomináveis do seu corpo e do seu espírito.

Seria este o destino que aguardava o mundo caso os inimigos vencessem? Sarosh não se daria por vencido, mas era difícil. O calor era tanto, tão imenso... Estava cansado, poderia descansar alguns minutos. Laza poderia dar conta das coisas, afinal era seu Senhor. Seriam somente alguns minutos. O conforto do frio, do esquecimento.

- Levanta-te!

Era uma voz desconhecida, mas Sarosh sabia exatamente a quem pertencia. Era a face que vira refletida na água, quando Laza o havia levado para ver o mar e vislumbrar a face de sua primeira progênie. Era ele quem dava forças a Sarosh para prosseguir. Num átimo de segundo, Sarosh descobriu uma força desconhecida. Ergueu-se. Ansiava por aquele vínculo entre cria e Senhor e entendeu o que ele e seus irmão representavam para Laza. Força e Certeza da Vitória. Seu Senhor o observava por entre as chamas enquanto enfrentava a abominação convocada pelo inimigo. As chamas cessaram e o Príncipe se ergueu. Ao inimigo não foi sequer dada a oportunidade de ver sua pele queimada e escurecida, uma cicatriz que demoraria a se curar, se é que se recuperaria totalmente algum dia. O inimigo não a viu pois a Armadura ainda protegia Sarosh quando o Príncipe do Abismo se ergueu mais uma vez, vitorioso, pronto para vencer a batalha.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter Jul 10, 2018 7:16 am
As pernas fincaram-se no chão gélido enquanto os braços mantinham-se cruzados à frente do rosto sombrio. A armadura de placas negras tremulava enquanto as chamas avançavam sobre ela.

Havia determinação, mas havia medo. O instinto sobrepujou a vontade. Daharius Sarosh temeu.

Temeu que o seu fim representasse um risco para o seu Senhor. Temeu que a vitória do inimigo lançasse sobre o mundo as lamúrias, gritos e dor que ecoavam em sua mente. Temeu a própria destruição, envolto nas chamas infernais que o consumiam. Temeu, sobretudo, jamais conhecer o homem por trás da imagem refletida no mar em tempos idos que, neste momento, era apenas um recém-nascido a chegar em Nippur. Temeu, enquanto sua besta interior era açoitada com o maior de seus medos, o fim.

A dor era absurda. Sua pele contraía-se, avermelhava-se e enegrecia. Sentia, a cada pequeno pedaço de seu corpo queimado, sua existência e tudo que ela significava ser consumido pelo ódio e pela mazela do inimigo. Foi então que se deu conta de quem é e por que luta.

Havia escolhido abraçar as chamas ao invés de desviar-se delas. Como poderia ele, o líder, fugir do confronto direto com o principal inimigo de seus iguais na guerra que virá? A fuga não era uma possibilidade. O Príncipe das Trevas precisava confrontar seus medos, suas dúvidas, sua besta e as próprias chamas para convencer-se de que o inimigo, que uma vez resistiu e confrontou seu pai e tios em pé de igualdade, pode ser derrotado. Precisava, além disso, compreender o terror que enfrentariam seus pares nas noites por vir.

Precisava compreender a sua posição na guerra. E, através da dor, compreendeu.

Estava ele, assim como seus iguais filhos dos mais antigos, entre o passado e o futuro. Defendiam os seus e eram as representações dos que os antecederam. Seriam eles, os filhos, a corrigirem os erros dos pais para que pudessem propagar o futuro para as próximas gerações. Representavam o elo, forjado no aço e no sangue, entre os que são e os que viriam a ser.

Precisava resistir, precisava vencer.

Sua responsabilidade era grande demais para desistir. A última imagem que inundou sua mente tormentosa não foi a de seu pai, o Rei das Trevas. Foi sim - e de forma significativa - a de seu futuro filho. Por entre as chamas e a dispor da dor, Sarosh sorriu.

O sacrifício é um espelho para a verdade. Ali, naquele gélido local, as sombras que emanavam de Daharius Sarosh, utilizando-se de sua voz grave, proclamaram a verdade sobre aquela e sobre todas as outras noites que viriam.


- Contemple, infernalista, o poder que emana da liberdade.

Os braços envoltos em trevas abaixaram-se, as sombras que o circundavam cresceram e o fogo se extinguiu. Havia dor, muita dor, mas acima dela estava  a convicção do que deveria ser feito. O inimigo e a mazela deplorável que carrega devem ser extintos nesta guerra pelo futuro de seu criador, por ele mesmo e, sobretudo, pelos que ainda virão.

O corpo envolto em placas de sombras dançantes, como um cavaleiro negro sombrio, caminhou lentamente em direção ao infernalista.


- O poder que acreditas possuir, conseguido fincando teus joelhos no chão e se prostrando em adoração ao profano, é fraco. Perecerás esta noite com a compreensão de que tua servidão é tola e inútil quando confrontada com a liberdade e a justiça.


Estava ao lado do Rei das Trevas. A escuridão da noite o pertencia. O vazio e frio poder das sombras emanava de seu interior. Era ele o Arauto do Abismo.

As mãos levantaram-se até a altura da linha de sua cintura. De seus dedos, prolongamentos sombrios ergueram-se e dançaram. Da própria sombra do infernalista, os braços de Ahriman ergueram-se furiosos. Possuíam quase três metros de altura e serpenteavam pelo solo gélido e pelo corpo do inimigo velozes e poderosos. A neve esvoaçava com sua passagem abissal enquanto o corpo do oponente se contraía ao ser abraçado com violência pelos tentáculos sombrios.


Envolveram suas pernas, braços e tronco. O último deslizou rumo a envolver o seu pescoço. Apertaram firme, com a força das sombras e do próprio Sarosh. Eram implacáveis e assustadores. Por fim, após contraírem-se com um peso descomunal sobre o inimigo, espremendo-o em dor e agonia, os tentáculos puxaram com firmeza e com a própria força do abismo em direções opostas, buscando desmembrar o oponente o fazendo em pedaços tal qual a suas convicções profanas logo estariam.

Darahius Sarosh destruiria o inimigo e o que ele representa. Os faria em pedaços insignificantes pois jamais permitiria que os seus padecessem da mesma dor e agonia que havia experimentado naquela noite. Não, em verdade pensava apenas nele. Naquele homem de cabelos cacheados e barba escura, com olhos claros como o sol que jamais voltará a ver senão através de seu olhar. Era por todos os outros mas, acima de tudo, era por ele. Pelo futuro melhor que ele representava.


Gasto de Sangue e disciplina - Sarosh:
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter Jul 10, 2018 8:57 am
A dor e a agonia ainda eram latejantes, visíveis na carne queimada de Sarosh. Não obstante isso, o Arauto do Abismo concentrou-se por breves segundos. Tempo o suficiente para que a realidade fosse rasgada e o Abismo se manifestasse com um ínfimo de sua força, traduzida nos tentáculos convocados por Daharius.

Eles se agitaram e tremeram no ar, sem emitir nenhum ruído. Não existiam naquele mundo, senão graças à vontade de Sarosh, ao seu comando e à sua força. Se prolongaram, rapidamente, em direção ao Inimigo, que se preparava para, novamente, lançar suas chamas profanas em direção ao seu oponente. Dois dos tentáculos ataram-se a cada um dos braços, abrindo-os e impedindo que o inimigo convocasse as forças do Submundo. Outros ataram as pernas e o pescoço, imobilizando-o.

E, então, começaram a puxar.

O inimigo resistia. Sarosh mordeu os lábios, cerrou os dentes, sentiu o gosto do Sangue. Sabia que uma vez invocados, os tentáculos agiam com a Força do Abismo. Mas o Filho de Laza se concentrava e fitava atentamente o inimigo, como se isso pudesse ampliar o efeito de seus Dons. O inimigo resistia, gritava e blasfemava. Sarosh teve a impressão que sua boca se abriria para proferir maldições profanas, mas um dos tentáculos moveu-se como uma serpente dando o bote e impediu que as palavras fossem proferidas. Não demorou muito tempo e o som inequívoco de carne rasgando e de ossos sendo rompidos pode ser ouvido. O inimigo emitiu um grunhido abafado, seguido de um rumor de sangue na garganta. Em seguida, seus membros e cabeça foram separados e o Sangue jorrou, molhando as árvores mortas e o chão brando. Sarosh não teve tempo de tomar um troféu ou avaliar os danos causados ao inimigo: os tentáculos se agitaram, avidamente buscando os pedaços que sobraram do oponente, arrastando-os consigo rumo ao Abismo.

Ressurgiram, em seguida, longe de Sarosh. Juntaram-se aos outros, imobilizando a abominação que Laza enfrentava. A coisa se mexia em fúria, rompendo um ou outro tentáculo, somente para ser agarrada por um novo, que se prolongava da terra. O Arauto notou que seu Senhor estava ferido, uma grande laceração escura cobria seu braço esquerdo. Laza, contudo, não parecia sentir dor. Somente uma fúria gelada e colossal, que era direcionada à aberração, e não em razão de ter sido ferida por ela, mas por causa da sua ousadia em vir a este mundo, em profaná-lo com suas bocas enormes e seus dentes afiados. Os tentáculos mantinham-o preso ao chão, imobilizado como uma presa que esperava o ataque de um predador.

E Laza era o maior de todos os predadores daquele Mundo.

Sarosh presenciou enquanto Laza fechava os olhos. Parecia despreocupado, agora que Sarosh havia vencido o inimigo que com fogo poderia ameaçar a sua existência. A aberração exibia sinais de mordidas e profundos sulcos causados por garras afiadas, a batalha tinha sido dura enquanto Sarosh também combatia. Súbito, enquanto Laza se mantinha de olhos fechados e murmurava coisas incompreensíveis, Sarosh se sentiu fraco e vulnerável. A armadura ao redor de seu corpo se desfez, deixando à vista uma profunda queimadura escura, na altura do ombro, no braço que havia sido curado. Provavelmente permaneceria ali para todo o sempre. Suas placas de proteção se transformaram em tentáculos, que ajudaram a imobilizar a Besta profana. E então, enquanto Laza se deixava cair no chão, aconteceu.

Os tentáculos libertaram a criatura, voltando-se contra Laza. A Besta se levantou rapidamente e realizou uma carga contra o Rei da Escuridão, mas não foi rápida o suficiente: os tentáculos fizeram com Laza o mesmo que haviam feito com o inimigo de Sarosh. Seus braços e pernas foram separados do tronco, assim como a cabeça, e a besta passou em mei à escuridão, sem conseguir atingir seu alvo. Não teve tempo para se virar, contudo.

No local onde estava Laza, nenhum Sangue. Sarosh temeu por seu Senhor, mas somente por um segundo. A terra tremeu e as árvores murcharam e caíram. As estrelas pareciam chorar e a lua não era mais vista no céu. O que se seguiu foi inédito. Uma grande massa de Escuridão, com a forma aproximada de um grande braço terminado em garras se prolongou do ventre da terra sem rachá-la. Silêncio. Nenhum sensação de poder infinito, incompreensível. Era somente o nada, o Nada absoluto. Alcançou a Abominação e a espremeu, centenas de pequenos tentáculos se propagando de outra centena de tentáculos maiores. Entraram pelas cabeças, bocas, pele e ouvidos da coisa, que tremeu e se retorceu, emitindo um som gutural no processo. A massa de Escuridão era imensa, grossa, mais relevante que a maior das árvores daquele lugar, do que qualquer coisa que Sarosh já tenha visto. Durou somente alguns segundos que pareceram toda uma vida. A coisa foi esmagada como se nada fosse, suas entranhas múltiplas explodindo e banhando as árvores que já jaziam no chão. Depois, a Escuridão colapsou, levando consigo a carcaça morta, as árvores caídas, a neve a terra. Parecia que levaria também Sarosh, e o fez, o corpo indefeso do Arauto do Abismo sendo envolvido por uma Escuridão que ele jamais havia imaginado que existia.

Sarosh afundou. Sentiu que se aproximava de locais onde jamais havia estado. Sentiu uma consciência roçar a sua, algo poderoso e antigo e, ainda assim , extremamente familiar e acolhente. Seu senhor estava por todos os lados. Ele, entretanto, foi expelido violentamente em seus aposentos, na Torre de Laza. Estava sozinho.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sáb Jul 14, 2018 5:21 pm
Sem esboçar nenhuma reação, Ya’rub absorve a mensagem de Haqim. Todos ainda estavam atônitos diante do que viram, incluindo a si próprio. Seus tios já se deslocavam, lentamente, para seus respectivos assentos no salão, mas a sensação de que todos ainda digeriam o que haviam descoberto era evidente nos semblantes.

E como poderia ser diferente?

Aos poucos começavam a se pronunciar. Ya’rub, por sua vez, não tinha mais o que dizer. Continuava tomado pela sensação de leveza e pela pulsão de uma chama em seu peito, impulsionando-o a buscar mais. Mais informação. Mais conhecimento. Sabia que teria a eternidade para isso, mas queria começar agora! Nippur e sua política, os dramas pessoais de seus tios... tudo lhe parecia pequeno. Aquele salão começava a lhe parecer como uma prisão!

Sem esperar mais um segundo, Ya’rub fez uma reverência para seu Pai, despendindo-se. Esse seria o momento. Enquanto todos estiverem ocupados no Grande Salão, poderia encontrar-se com Moloch... Sentiriam sua falta durante as discussões que certamente se seguiriam? Talvez, mas pouco se importava. A perspectiva da conversa que se aproximava o empolgava. O futuro o empolgava.

Nippur estava caindo. A guerra havia começado. Suas não-vidas jamais seriam as mesmas. Que assim seja. Existem infinitos mundos a serem explorados e vidas a serem conhecidas. Como não se empolgar com isso?

Sob o olhar de seus tios e primos, um sorridente Ya’rub deixa o Grande Salão. O Feiticeiro cruza a passagem onde os demais aguardavam, sem dar atenção para nenhum deles. Aos seus irmãos que ali estavam, dirige o sorriso e um olhar confiante.

Ya’rub chega às ruas de Nippur. Sente o ar e o vento tocando a pele de seu rosto. Busca o cheiro dos espíritos. Queria que o acompanhassem. E caminha rapidamente em direção ao local do encontro.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Dom Jul 15, 2018 5:39 am
Não demorou muito pra que surgissem.

Atrás dele, à esquerda, estava o Ghûl. Face sisuda, caminhar lento e comedido. Coçava os braços com as unhas cheias de pequenas argolas, emitindo o rumor característico de sua presença. À direita, o Djiin, olhos flamejantes iluminando a noite de Nippur. Não se comunicaram e não falaram absolutamente nada com Ya'rub. Parecia que haviam acordado em não interromper o momento que vivia o Feiticeiro, quando todas os mistérios do Universo pareciam acessíveis, ao alcance de sua mão. Ya'rub, entretanto, sentia-se protegido. Se lembrava ainda dos acontecimentos em Mashkan-Shapir, mas o Ghûl, cabeça baixa, não parecia disposto a discuti-los.

Nippur estava cheia, viva. Uma primeira parte dos refugiados já havia chegado, e a cidade se esforçava, com seus moradores abrindo suas casas em solidariedade, para recolhê-los das estradas. Indivíduos de diversas tribos da planície agora transitavam por Nippur e, embora a coisa toda parecesse ocorrer em harmonia, Ya'rub sabia que entre as tribos do deserto existiam muitas que se comportavam como rivais na disputa por territórios. O que aconteceria quando estes grupos estivessem na Cidade Sagrada? O vento e as estrelas avisavam a Ya'rub que novos grupos estavam se aproximando, sob a escolta de alguns de seus primos.

O Feiticeiro sabia também que quando Haqim tinha mencionado sua proteção a Moloch, não era simplesmente uma medida formal. Moloch, possivelmente, estaria protegido pelos imensos poderes de Haqim, sua presença passando ignorada aos grandes poderes da cidade. Assim também estava Ya'rub, já que os mortais com quem cruzava não pareciam enxergá-lo. Duvidou que qualquer um dos seus tios fosse capaz de sobrepor os Dons do Grande Caçador.

Alcançou a parte externa da cidade. Era lua crescente, e a planície estava ligeiramente iluminada. O Djinn e o Ghûl estacaram à meia distância, suas presenças não eram mais capazes de causar temor em Ya'rub, não depois dos últimos acontecimentos. Respeito, sim. Eram grandes espíritos, no fim das contas. O Ghûl encarou o Feiticeiro e esboçou um sorriso de reconhecimento. O Djiin parecia preparado para intervir se fosse necessário. Estava protegido.

Não demorou para que Ya'rub avistasse uma figura solitária que se aproximava dos muros de Nippur. Caminhava sozinha por entre as plantações de trigo. Banhado pela luz da lua era uma figura estranhamente onírica, com a pele escura e brilhante a anunciar sua chegada. Os cabelos eram crespos e curtos e ele não dispunha dos brincos e tatuagens comuns aos povos da planície. Ao contrário, sua pele era imaculadamente limpa, sem cicatrizes, sem marcas ou sinais. Vestia-se em modo sóbrio, mas em vermelho, cor que denotava acesso a muitas riquezas. Os olhos, os olhos eram castanho avermelhados, como seu uma grande chama queimasse em seu interior. Era alto, quase dois metros de altura. Era forte, com braços longos, ombros largos e mãos poderosas. Apesar de seu alegado poder e responsabilidades, Moloch tinha uma aparência simples, quase comum. Não era, contudo, oriundo da planície. E, quando se aproximou, Ya'rub sentiu.

As imagens retornaram brevemente ao seu consciente. Saulot que derramava seu Sangue no Poço Sacrificial de Assur. Do poço teria saído aquele homem? A presença de Moloch, Senhor de Assur era grandiosa, quase divina. Brilhava como um farol de conhecimento oculto a Ya'rub, que era um navegante no oceano do desconhecido. Moloch caminhava lentamente, tocando o trigo com as mãos nuas e, à medida em que se aproximava, sua grandeza se tornava mais e mais evidente. Era uma sensação diversa daquela que o Feiticeiro havia sentido em Mashkan-Shapir. Moloch parecia justo e venerável mas, ainda assim, obscuro.

Se aproximava sozinho. Nenhuma comitiva, nenhum seguidor. O Djiin sussurrou para Ya'rub que o Mundo dos Espíritos parecia em paz com a presença de Moloch. Antes de se aproximar do Feiticeiro, o Inimigo estendeu a palma das duas mãos, como num gesto de boa vontade.

- Eu saúdo o Filho do Grande Caçador, a quem temo e respeito. Saúdo a Cidade dos Deuses de Sangue e seu povo. Sou Moloch, teu humilde servo. Venho em paz, em busca de meu filho Tanit, quer servia de espião de Assur na Corte de Nergal, o Decaído. Em troca, ofereço meus conhecimentos sobre a cidade maldita. Diga-me, Ya'rub Bani Qahtani, o que há para saber que ainda não sabes?

Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. - Página 2 Rael-c10

Moloch, Senhor de Assur.
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Dom Jul 15, 2018 6:52 pm
Ya’rub não tinha como negar: estava ansioso. Mesmo sabendo que tinha o Djinn e o Ghül ao seu lado, sentiu um calafrio sobrenatural ao ver a silhueta de Moloch despontar no horizonte, caminhando solitária e lentamente pelos campos de trigo. A ansiedade era um misto de medo e expectativa. Tinha plena noção do perigo que o Baali representava e por isso temia o mal que poderia lhe fazer, mesmo estando sob proteção dos espíritos e de seu Pai. Ao mesmo tempo, ansiava por aquela conversa. Sabia que as circunstâncias a tornariam breve, pois Nippur não demoraria a perceber a presença de Moloch, caso esta se extendesse por muito tempo. Mas gostaria de poder passar horas, dias até, na companhia daquele ser...

O Feiticeiro não avançou mais, aguardando que Moloch se aproximasse. Conforme a distância entre os dois Cainitas ia diminuindo, Ya’rub via o Baali com mais detalhes. Como era belo! Havia uma nobreza discreta em sua figura. Régia, até. Nunca havia visto Nergal, mas de fato, as sensações que Moloch emanavam eram muito diferentes do que sentiu em Mashkan Shapir. Não havia nenhuma aura de opressão ou sequer corrupção. Ficou curioso para conhecer Assur. E os espíritos... eles o respeitavam. Seria possível que aquele homem fosse capaz de cometer as atrocidades notoriamente atribuídas aos Baali? Estas pareciam algo muito distante daquele que ali se fazia presente...

Subitamente, Ya’rub sorriu. Sorriu ao perceber a ironia do universo. Avaliava a nobreza e seriedade de Moloch quando se deu conta que minutos atrás descobrira parte da verdade. Estava diante de um Filho de Saulot, afinal! Moloch era seu primo, tão distante do Primeiro quanto ele próprio e todos os outros que agora estavam no Grande Salão em Nippur.

Mas Ya’rub sentia que Moloch e seus irmãos eram algo distinto. Não eram mais meros descendentes do Primeiro. Os caminhos que percorreram os levaram a ser algo único no Universo. Algo... fora do lugar. Talvez sejam os pactos que fizeram com seus novos Senhores. Talvez fossem as circunstâncias particulares de sua criação. Era impossível saber o porquê, apenas sentir a certeza de que estava diante de algo diferente de si mesmo.

Quando Moloch interrompeu os passos e se apresentou, Ya’rub sorriu e fez uma pomposa reverência:

- Seja bem vindo, Moloch, Senhor de Assur. Estamos sob a proteção de meu Senhor, o Grande Caçador. Tens minha palavra, e portanto a Dele, de que Tanit está seguro e lhe será entregue com sua integridade preservada.

Ya’rub olha para a planície que os circundava. O vento soprava e movia o trigo como se este fosse água.

- Pouco sei sobre esse mundo, Moloch. A cada noite me deparo com algo que me demonstra o quão pequeno sou diante da ordem das coisas no universo. Há muito que eu gostaria de ouvir-te falar sobre. Muito sobre a história do seu Sangue. Sobre seus Senhores. Sobre o porquê de suas escolhas. Sobre como enxerga seu lugar neste mundo. Mas não temos tempo, infelizmente.

O Feiticeiro volta a encarar Moloch nos olhos. Seus profundos e poderosos olhos.

- E por isso, Senhor de Assur, que lhe reservei poucas perguntas para agora, com a esperança de que, no futuro, tenhamos outra oportunidade de nos reencontrarmos.

Ya’rub fica em silêncio. Ele fecha os olhos, sentindo o vento tocar seu rosto. As perguntas surgem em sua mente.

- Sabemos que existem discordâncias entre você e seu irmão Nergal. E foram essas discordâncias que fizeram com que ele abandonasse Assur para construir a monstruosidade que é Mashkan Shapir. Quero que me explique a natureza dessa discordância e quais são os planos de Nergal. Quero que me diga, se souber, qual seria a maior fraqueza dele, algo que possamos explorar para derrotá-lo.

- Por fim, se ainda nos restar tempo, quero que me conceda a honra de ouvir sua história. Ya’rub sorri - Este último pedido não faz parte do nosso acordo, de modo que pode recusá-lo. Digamos apenas que é uma curiosidade pessoal.

Ya’rub continuava sorrindo até que sentiu.

A Tempestade.

Uma onde de entropia varreu o Mundo Além do Véu, levando Ya’rub a cair de joelhos no chão. A plantação de trigo balançava calmamente com o vento, mas os espíritos que até aquele momento estavam tranquilos gritavam em desespero. Perdeu a conexão com seus velhos companheiros.

Medo. Ya’rub voltou a sentir o Medo pela primeira vez desde que fora usado como veículo do Poder de Haqim.

Viu que Moloch também sentiu algo. Virou-se para o Baali e perguntou:

- O que... o que foi isso?
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Seg Jul 16, 2018 9:55 am
Moloch tinha se curvado ligeiramente, como alguém que tenta se proteger de algo que cai sobre a sua cabeça. Os olhos vermelhos eram brilhantes como o fogo, as presas estavam expostas. Tão rapidamente como reagiu, Moloch tornou à sua posição original. Ya'rub tinha razão. Era régio, altivo. Mirava Ya'rub mas também mirava o horizonte. Por alguns segundos, se manteve calado. Depois, respondeu à pergunta de seu anfitrião. Sua voz era a mais bela voz que Ya'rub já havia sentido. Era um trovão e um vento de primavera.

- Isso, Ya'rub, é a Morte. Não sente?

E, de fato, Ya'rub sentia. Sentia que poderia destruir Moloch, seu primo e mesmo Haqim, se desejasse. Tudo o que precisava fazer era beber de Seu Sangue e de sua Alma. Percebeu que Moloch tinha alcançado a mesma conclusão automática.

Mantinha-se, sobretudo, calmo.

Ao lado de Ya'rub, estava o corpo entorpecido de Tanith. Mas, aparentemente, Moloch não o via.

O visitante pareceu se recuperar quando continuou. Optou por retornar ao assuntos, derretendo a tensão que havia surgido.

- Eu terei um prazer inenarrável em contar a minha história, Ya'rub. Em qualquer uma das noites porvir. Quando a guerra tiver terminado.

Sorriu. Ya'rub quase esqueceu da Tempestade que havia apenas esquecido.

- Sobre o meu irmão Nergal, sim, temos desavenças. Profundas e irremediáveis. Nergal optou por destruir aos outros e a si mesmo, entregando-se sem limites aos Senhores do Mundo e atendendo todos os seus desejos e caprichos. Em última instância, tal forma de atuação levará à obliteração da realidade como a conhecemos.

Falava de temas ocultos como se estivesse falando da colheita.

- De forma que eu, Ya'rub, tenho uma perspectiva diferente. Para que a nossa realidade persista, os Senhores do Mundo devem ser convenientemente agradados, adorados e, se necessário, alimentados com o sangue de sacrifícios. Só assim se manterão satisfeitos, inertes em seu Sono Profundo.

Sorriu uma vez mais. Observou Nippur, à distância. Ya'rub poderia dizer que Moloch parecia curioso.

- Meu irmão não tem fraquezas. É um homem de grande poder e sabedoria, e jamais será convencido a recuar. É Mashkan-Shapir que deve ser destruída. E isso só pode ser feito golpeando sua estrutura com o mesmo material com o qual foi construída.

Moloch ergueu uma sobrancelha. Não responderia mais nada, e Ya'rub sabia. No entanto, não avançou em direção à Tanith.
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Seg Jul 16, 2018 12:25 pm
Ya'rub foi se recompondo da sensação terrível causada pela Tempestade. Reergueu seu corpo conforme escutava as respostas de Moloch. Sentia que o epicentro fora em Nippur. Algo grave havia de ter acontecido pra causar tamanha perturbação no Mundo Além do Véu. Mesmo após a passagem do turbilhão, ainda era possível perceber que tudo estava diferente e algo estava errado.

Quando Moloch terminou de falar, Ya'rub suspirou. Deu-se conta que o Baali não falaria mais nada. Foi um suspiro de lamento, pois gostaria de ouvir mais. De saber mais. Mas não seria hoje. Essa noite deveria dar encaminhamento para outras coisas.

E então Ya'rub sorriu para Moloch.

- Estou satisfeito. Mashkan Shapir cairá da mesma forma como se ergueu: com corrupção e dor. E Trevas. Trevas são sua fundação e trevas deverão ser usadas para derrubá-la.

Enfim, Ya'rub se abaixa e pega o corpo de Tanit no colo, deixando-o à mostra pra Moloch.

- Eis o seu filho, são e salvo. Cumpriste sua parte do acordo e agora tens o que pediu.

Lentamente, o Feiticeiro se aproxima de Moloch e coloca Tanit, de modo gentil, aos pés de seu criador. Ainda olhando o Baali nos olhos, Ya'rub volta a se afastar, sem dar-lhe as costas. Lidava com o Cainita do mesmo modo como lidaria com um grande e poderoso felino. Após cobrir uma distância de dez passos, disse:

- Anseio pela noite em que podermos conversar como iguais, Moloch, Senhor de Assur. Até lá, torçamos para que a Guerra destrua apenas o pior entre nós.

Ya'rub despede-se com um aceno de cabeça, mas aguardaria do lado de fora de Nippur, até ter a certeza de que seu convidado tivesse partido. Somente quando este não estivesse mais presente, o Feiticeiro voltaria para dar a notícia à Haqim.
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Seg Jul 16, 2018 4:27 pm
Moloch se abaixa, acariciando a face entorpecida de Tanith com a mão esquerda. Carregava anéis de bronze nos dedos, único ornamento em todo o corpo. Ya'rub viu escritos arcanos nítidos no metal. Levantou-se e encarou o Feiticeiro, realizando um cumprimento respeitoso em seguida. Ya'rub sentia que Nippur pulsava com uma força desconhecida. Moloch não conseguia evitar de encarar, de tempos em tempos, a Cidade Sagrada.

- Você foi leal e respeitoso, Ya'rub Bani Qahtani, e eu hei de recordar-me disso nas noites que virão. As portas de Assur, estarão abertas para ti assim que a guerra se encerrar. E eu o estarei esperando.

Fez uma nova mesura e se abaixou, carregando o corpo de Tanith e colocando-o no ombro direito. Fez menção de girar-se, mas estacou. Num movimento hábil, retirou um dos anéis com as mãos livres. Se aproximou de Ya'rub e estendeu-o ao Feiticeiro.

- Um presente. Te protegerá.

Deu as costas e caminhou de volta ao horizonte.

Haqim recebeu a notícia com satisfação. Seus olhos brilhantes estavam atentos em direção a Ya'rub, parecia analisar as palavras do Feiticeiro, mas sem julgá-las. Por fim, assentiu aos informes de seu Filho. Sorriu. Sua aura era intensa, brilhante. Haqim cheirava, mais do que nunca, a Vitae. Um perfume fortíssimo e inebriante, quase tangível. Olhou uma última vez para Ya'rub.

- Há assuntos que requerem minha atenção. Eu parto. Nos encontraremos em Alamut.

E, ao mesmo tempo em que Haqim estava ali, não mais estava. Só o perfume da Vitae permanecia no ar.
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