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Apocalypsis Empty Apocalypsis

Qua Jul 11, 2018 12:45 am
Nenhum segredo permanece enterrado pela eternidade.

Não havia vida. Nenhum traço de bondade se sustentava sobre aquela terra. Era escura e pútrida. Sobre o chão arenoso e ressequido nenhuma vegetação aflorava, nenhum animal caminhava e mesmo o ar era escasso e mortífero. Ali, no local esquecido pelos vivos e mortos, por aqueles que caminham sob o sol ou escondem-se dele, havia apenas uma mágoa ancestral.

Primeiro as areias escuras deslizaram gerando um sulco profundo que escorria para as entranhas da terra. Arrastou consigo as pequenas pedras que circundavam o local tendo somente a lua cheia e de brilho fúlgido nos céus escuros como testemunha. Era tímido, pequeno. Apenas um punhado de terra a ser engolido pelo solo abaixo de si.

Foi então que se fez enxergar. A mão, fechada, que rompeu a superfície e abriu-se com os dedos que há muito não se moviam estalando e agarrando-se ao solo frágil e molhado do interior da terra, agora expelido para fora, rasgando a passagem para seu corpo recoberto por raízes há muito mortas e detritos obscurecidos pelo tempo. Escavava com as mãos nuas em busca da saída, ansiava por deixar o calor da argila negra que o envolvia e castigava a sua pele que um dia fora alva como as estrelas do firmamento.

A terra também parecia querer expelí-lo como uma inflamação. Um corpo estranho e nocivo àquele lugar. O solo abria-se e deslizava para que aquele corpo pudesse brotar e se arrastar alcançando a superfície. Finalmente, como um recém-nascido a deixar o ventre de sua mãe, ele deixou as entranhas da terra.

E então se fizeram ver, pois eram dois corpos entrelaçados, abraçados pela eternidade.

Ambos estavam encobertos por um musgo escuro e fétido. Os longos cabelos do primeiro tornavam-se indistintos de sua face, graças a lama escura que lhe escorria pela face e tronco. Os olhos estavam fechados pela lama e pelo tempo.

Ah, o tempo.

E foi quando os abriu - os olhos - que tudo começou. Um verde que amarelou-se rapidamente. Eram grandes, vistosos e vibrantes aqueles olhos. Foi a última coisa que viram.


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Doze mil vampiros.

O velho cainita jamais imaginou que veria tantos que compartilhavam de seu sangue em um só local. E como poderia? Eram o Clã da morte e, ainda sim, possuíam o vitae tão fértil a ponto de inundar o mundo com os seus? Eram muitos. Os de valor, contudo, eram muito poucos.

Noites conturbadas se seguiram. O Primeiro dos seus deliberava e dividia, categorizava e escolhia. Atribuia funções para os seus descendentes em Kaymakli.

As três perguntas se seguiram enquanto Caias e Japhet lideravam os que se enquadravam nas respostas solicitadas. E então o portal da cidade irmã de Derinkuyu foi selado. Coube à Japhet entoar o ritual, à Caias espalhar os itens na entrada e à Appius colocar a pedra fundamental sobre a entrada. Cappadocius então selou, assim como o portal, o destino dos seus.


“Nenhuma Cria de Caim será capaz de sair por esta passagem. Nenhum filho de Set será capaz de entrar.”

Havia uma colina. Verdejante e bela. Atrás dela, esplendoroso, o sol se punha e não maltratava a sua pele. Não. Acariciáva-lhe o corpo com os raios quentes e aconchegantes do fim da tarde.

No topo do monte, Cappadocius jazia crucificado. Caias e Japhet tocavam-lhe as feridas enquanto Appius enxugava o sangue que escorria de seu torso nú. Aos pés do monte, infindáveis humanos lamuriavam e adoravam - ao mesmo tempo - o Deus crucificado.

Era uma mulher de meia idade, daquelas da qual se espera sempre uma palavra sábia. Os cabelos ruivos e o corpo com poucas curvas lhe eram característicos. Mas era a sua voz que sempre o atraía. Quando Constancia falava, parecia que por alguma razão havia mais alguém a falar com ela. O primeiro dos seus, talvez? Jamais soube. Acreditava, porém, que ela sempre possuía razão sobre o que dizia.

- É um homem deveras interessante, o Augustus. Deveria caber à mim a preparação para o abraço, assim penso, Appius. Não me cabe questionar as ordens Dele e, ainda sim, me descontenta ser você a colher estes louros. Não por ti, pois o amo imensamente, mas por não me permitir avaliar o promissor da família Giovanni. Espero que tenhas sucesso neste intento. Sim, antes que questione-me, há ciúmes em minhas palavras e como não haveria?

Sua face era esquelética e a pouca carne que habitava em suas bochechas estava em estágio avançado de decomposição. A cartola branca e as vestes claras compunham um macabro visual naquele homem sentado no pomposo salão. O lustre acima de sua cabeça continha centenhas de lâmpadas. Ah, as maravilhosas invenções da humanidade. Em sua mão direita, uma bengala com a haste prateada na qual um nome há muito esquecido está entalhado. Memórias lhe percorrem a cansada mente até que um de seus criados adentra pela porta dupla de madeira, chamando-o polidamente.

- Barão?

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Era uma cela escura e fria. As sombras - sempre elas - a preenchiam de forma a deixar o prisioneiro desconfortável e inquieto. Seis noites haviam se passado e em todas elas ele o visitou.

Os passos no corredor de pedra eram os primeiros e se fazerem presentes. Depois, a silhueta bem definida. Só então e em um capricho macrabo, quando se aproximava o suficiente para adentrar à sua prisão, a face se revelava.

Cabelos escuros, olhos negros, sobrancelha grossa, masculina. Nariz fino, equilibrado. Barba por fazer. Era encantador, não fosse terrível.


- Aceites a noite e as sombras, aceite a eternidade ou sofras por negá-las.

O mesmo questionamento, noite após noite. A mesma resposta, sempre se fazia ouvir.

- Sou um Veronese. Jamais me curvarei aos desejos de monstros como vós.

O mesmo resultado. As mãos poderosas do carcereiro encontravam os joelhos do homem acorrentado e os giravam em um ângulo impossível. Dor, agonia, gritos. Desmaiava tamanha e excruciante dor que sentia para então ser despertado, sem qualquer ferimento, na noite seguinte. O ciclo recomeçava.

Estava cansado. Assumiu muitos nomes ao longo dos séculos e por isso estava cansado. Fora um Deus, um Senador, um Poeta, um Carceireiro e agora era um Guardião.

Siracusa estava sob o seu comando. O Castelo das Sombras, morada do Primeiro dos seus, era seu para vigiar.


Primeiro ouviu os gritos. Foram eles que o alarmaram sobre o que viria. A torre foi logo tomada pelos invasores, houve pouca ou nenhuma resistência e eram muitos os que a tomaram. Eram parcos e fracos os guardiões? Ausentes os que lá deveriam estar? Não houve tempo para divagações. A horda dos filhos de Haqim e dos demais Rebeldes de seu próprio sangue - liderados por Ele - alçaram os andares superiores da torre primeiro. Rechaçaram os que resistiam e destruíram os que negavam-se a sair do caminho.

Cruzaram-se em uma das escadarias. Gratiano mantinha o ar arrogante que o caracterizava, caminhando em meio ao turbilhão de eventos com parcimônia. Emanava autoridade e, estranhamente, paz. Seu olhar cruzou-se com o dele.


- Onde?

Questionou o Traidor.

- A Cripta.

Respondeu o Guardião.


Admirava-se sempre daquele homem. Os olhos castanhos escuros e a pele negra desenhavam a origem nas estepes africanas em um tempo há muito ido. Admirou-se de sua negativa, como não poderia deixar de ser.

- Deixe-me agora. Não seguirei os teus. Jamais poderia. A Ele eu devo tudo e somente a Ele eu seguirei, mesmo que Ele não esteja mais entre nós.

Tentou fazê-lo reconsiderar. Aquele homem era um símbolo para todo o clã e sua partida deixaria marcas profundas e duradouras. Talvez, durasse uma eternidade.

- Ontai, reconsidere. Sabes o tirano que Ele se tornou. Sabes que teria condenado a todos nós!

A sombra se foi antes do homem, como não poderia deixar de ser. Aquela foi a última vez que se viram. Duas das três vozes que ocupavam os tronos escuros do Castelo das Sombras haviam partido, a terceira exilou-se para nunca mais ser encontrado. Caberia ao Carcereiro e ao Prisioneiro liderar os seus nas noites que se estenderiam pela eternidade.

Era a sua cria mais problemática e, também, a que mais amava. Os eventos das últimas noites foram catastróficos para a Seita. Havia sido ela a tramar e assassinar o Arcebispo Ambrosio. Monçada jamais alcançou sua afeição, de fato, ainda assim era ultrajante.

Havia ela não somente assassinado um dos mais proeminentes de sua linhagem, além de uma figura política fundamental dentro da estrutuda da Espada de Caim, como o fez auxiliada por aquela descendente de Haqim que atende pelo nome de al-Faqadi, Fátima. Haveria ele de lidar com o desenrolar dos traumáticos fatos que decorreriam.

Observava a cidade de cima. Contemplava o sucesso. Nova Iorque era sua. Os tolos remanescentes que seguiam os flagelados e caducos Ventrue nada puderam fazer. A Camarilla cairia como em tempos idos demais Impérios caíram. Seus olhos viram e seus olhos verão.


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Cavalgava veloz, inquieto e angustiado. A seu lado, Uriel e Nuriel seguiam aflitos. A demanda havia fracassado e os feiticeiros escaparam por entre seus dedos.


- Não chegaremos a tempo.

Nuriel desesperava-se.

Ao longe era possível enxergar as fagulhas alaranjadas alcançarem os céus. Fogo. As labaredas consumiam o que restara do templo. A besta recolhia-se e os mantinha longe, temendo o avanço do calor causticante sobre suas peles facilmente inflamáveis.

Lágrimas rubras verteram em suas faces. Ele estava lá. O sono profundo e duradouro que o tomou há tanto tempo o enclausurou no templo. Havia sido destruído pelas chamas? Não! Não poderiam crer nisso.

E então ouviram os céus lamentarem. Um grito agonizante e estridente ecoou em seus interiores. Sentiram as cinzas dele tocarem o chão mas não notaram sua existência se esvair. Sabiam, em seu íntimo, que o Primeiro dos seus havia sido consumido pelo Usurpador.

Naquela noite, lágrimas carmesim não cessaram de cair e o fogo da vingança queimou em seus interiores.


Tinham sido semanas de caça ao inimigo. Os batedores liderados pelo Eremita localizaram a Capela onde os Sete estariam e o ataque fora arquitetado. Os mais notórios Vozhd estavam presentes e a aliança se fez existir. Avançaram, ávidos pelo sangue dos usurpadores. Vingança, Ódio, destruição. Justiça?

Caiu de joelhos. Praguejou contra Deus e contra o homem. Contra o criador e a criatura. Milhares, não, milhões dos seus eram consumidos pela arma mais terrível que um homem pode possuir: o ódio.

Viu crianças serem consumidas, derretidas ainda vivas por um gás amarelo e corrosivo. Suas faces puras enrugavam-se e seus gritos agudos acoavam em sua mente. Viu idosos e mulheres enfileirados serem alvejados por armas que estalavam altas e ensurdecedoras ao dispararem. Viu homens torturados e brutalmente mortos. Viu o fracasso da humanidade, da esperança e de Deus.

O drink - um misto de sangue com algo a mais - era aprazível, até. Curioso era aquele homem a dialogar com ele.

- Ele precisa ser contido. Não se trata mais do homem que lutou a seu lado, sabes disso.

Os óculos de Hesha refletiam a face curiosa do Salubri. Como ousava? Logo ele, filho da Serpente.

- E porque deveria me importar?
Retrucou, pouco abalado, o herdeiro de Samiel.

- Por que a ele foi confiado o amuleto.
Hesha jogou as cartas na mesa. Ele sabia quando ninguém mais deveria saber. Foi então que o último dos Salubri Guerreiros percebeu que batalha jamais teria fim.




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O viu cair.

Enquanto sobrevoava os céus na qual a sangrenta batalha se desenrolava, o viu cair.

Odoacro sentiu a espada romana atravessar-lhe o peito. O urro que seguiu acompanhou o fluxo de suas entranhas que banharam o solo. Seu peito havia sido aberto em um único e devastador golpe.

A queda do Rei reduziu o ânimo dos seus e a horda romana avançou com os escudos erguidos e os gládios em riste. Sangue, morte, perda.

Viu o cainita que o derrotou. Possuía cabelos longos e castanhos, olhos amarelo-dourados. Trajava uma armadura prateada e brilhante. Inspirava os seus e intimidava os oponentes. Aquele homem era uma figura aterrorizante nos campos da Guerra. Não sabia seu nome, mas sentia em seu âmago que deveria fugir. Deveria deixar tudo para trás pois tudo estava perdido.

Um soco na mesa e um gole no copo de whisky barato misturado com sangue. O bar fedia a sexo.

- Desgraçados! Depois de tudo que fizemos!? Claro que deixaremos esta maldida seita!

Uma motocicleta desmonada, apenas com sua carcaça exposta, estava pendurada na parede. Moonlight, a Striper, mergulhava na sensualidade de sua terceira dança da noite. Ali havia Bebida e comida vagabundas, marginais e membros de diversas gangues.Era um simplório pub nas periferias de Nova Iorque. Os membros presentes, no entanto, em nada beiravam a simplicidade. Dentre eles destacavam-se Xaviar e aquele ao qual chamavam de Eremita.

Han jamais se contentou com migalhas e os excessos dos Sangue-Azul haviam sido muitos nas últimas noites. Apesar de ser o único e último dos Justicares Gangrel em duzentos anos, era o primeiro a liderar os seus em êxodo.

- Esta noite! Ainda esta noite deixaremos a podridão para trás!
Clamou, raivoso.

- O seguiremos uma vez mais, Eremita!
Exclamou Xaviar, o antigo arconte indicado por Han.


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Contemplavam as cinzas Dele.

De joelhos, Qaphsiel lamentava e orava para que enfim ele encontrasse o seu caminho.

Pesaroso e pensativo, o velho homem que atendia pelo nome de Appius imaginava o que poderia ter feito diferente.

Inquieto, a golpear o solo, o Eremita deixava o sangue lhe escorrer pela face.

Em silêncio, introspectivo e ausente de autoridade, Aulus via o seu - e somente seu - fracasso cobrir de cinzas o chão daquele Átrio Romano.



"O que fazemos em vida, ecoa pela eternidade"
Gladiador, o Filme.
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