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Seg maio 07, 2018 5:03 am
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Sarosh
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Seg maio 07, 2018 8:44 am
* Mantinha-se sentado em uma cadeira de pedra, aquele homem. Sua face parcialmente coberta pela escuridão da sala pouco revelava seus traços, embora os olhos negros e os longos cabelos e barba que se mesclavam com as sombras em seus ombros se fizessem visíveis.

Em sua mão direita havia um globo de trevas a levitar, formado em um círculo perfeito, que emanava pequenas sombras dançantes. Através daquele círculo de escuridão a imagem começou a se formar. O céu escuro coberto de nuvens carregadas e a primeira das gotas que caiu sobre o solo ressequido. O ângulo da visão através do globo se modificava, por vezes estava distante da Torre de seu Pai, aos pés do povo que se regojizava com o frescor da água que caía dos céus. Em outras, estava acima da torre, a tocar a vastidão, sentindo as nuvens deslizarem por sua face.

Através do Abismo e das centenas de Olhos de Ahriman espalhados pela Segunda Cidade, enxergava o Todo e dele retirava suas impressões. De lá, observou Amon caminhar por entre o povo e agraciá-los com sua presença, sabedoria e poder. Amon, aos  olhos do Místico do Abismo, o mais sábio e comedido de seus primos. O que as próximas noites guardariam para ambos?


Aqueles profundos olhos negros observavam a alegria de seu povo ao ver as águas caírem dos céus. Os períodos de seca que se abatiam sobre o crescente fértil eram sempre um lembrete de que não haviam, ali, Deuses. Não em sua essência.

A crença dos mortais era necessária para a coesão daquela sociedade. O Segundo filho de Laza Omri Baras perdeu-se em pensamentos acerca da sociedade montada em torno de Nippur e de seu contraponto ao longe, a Fortaleza da Dor conhecida como Mashkan-Shappir, enquanto assistia a precipitação que caia sob as nuvens escuras e pesadas de chumbo. Noites escuras e tenebrosas viriam. Não são nelas, contudo, que os filhos de Laza se destacam?

Suas deliberações mentais foram interrompidas pelas palavras de seu irmão. Manteve o olhar destinado ao globo negro em sua palma, quase que perdido nas nuvens escuras e repletas de vida e na imensidão dos céus quando começou a respondê-lo. Notar o retorno de seu Pai era um alento. Sempre o era. Estar em sua presença era como ser agraciado por uma entidade maior, quase incompreensível, mas que ao mesmo tempo ocupava o lugar daquele que o criou, que o deu a existência.

Sorriu, ainda voltado para o Olho de Ahriman. Se o Segundo Filho de Lasombra sentia-se assim quanto a seu próprio pai, como condenaria a devoção que os mortais tem por ele? Virou-se para seu irmão e pôs-se a caminhar em sua direção. Algo entorno de Daharius Anun-har Sarosh fazia com que a escuridão o acompanhasse. A parca luz da lua minguava com sua passagem e de seus olhos escuros pequenas chamas de trevas saltitavam, constantemente.

Sua voz era grave, bela e quase hipnótica. Soava em tom baixo e compassado.*


- O retorno do Pai, junto à chegada das águas dos céus, são um alento para o povo e para os seus filhos.

* Passou por Karotos, interrompendo o caminhar ao seu lado. Colocou a mão sobre o ombro esquerdo do mais velho das crias de Laza.*

- Vá em paz, meu irmão. Certo de que aguardaremos o seu retorno à posição que lhe é devida.

* Sarosh buscava, noite após noite, concretizar os desejos de seu pai. Que não houvesse animosidades descenessárias entre seus filhos. Daharius admirava Karotos, pura e sinceramente. Era o primeiro dos filhos de Laza, o comandante militar da Segunda Cidade e a voz dos filhos de Lasombra. Era seu irmão e seu líder, na ausência de seu pai.

Caminhou, levando consigo a escuridão que o segue, em direção ao ponto mais alto da torre de seu Senhor e Criador*
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Ter maio 08, 2018 6:09 am
Sentiu, antes de deixar a sala, que a Escuridão envolvia seu irmão Karotos. Em um breve instante, ele não estava mais ali. Sarosh prossegiu, avançando pelas enormes escadarias e corredores, onde a luz não existia, mas onde ele não precisava de sua presença. A casa de seu Pai era simples, pois simples era o Rei das Sombras. Ali não haviam móveis ou riquezas, exceto pelos objetos que Laza trazia de distantes viagens, hábito que passou a maior parte de seus filhos. Ali era possível passear pelo mundo, partindo do Nilo, passando pelo Tigre e Eufrates e chegando ao distante Indo.

As escadas levaram Sarosh até os andares superiores. Passou pelo recinto privado de todos os seus irmãos antes de alcançar o último lance de degraus. No meio do caminho, juntou-se a ele Tepelit, que o cumprimentou com respeito e deferência, sorrindo com seus olhos escuros. Avançaram juntos até o Grande Salão, onde seu Pai recebia seus filhos e eventuais visitantes, sentado no Trono Negro.

Não importavam os séculos. Não importava a familiaridade e convivência. Seu coração se enchia de admiração e respeito quando visualizava seu Pai.

No Grande Salão não havia nada, exceto pelo grande trono de obsidiana esculpido especialmente para Laza. Nos braços, onde o Pai apoiava suas mãos fortes, estavam inscritos os nomes de seus filhos, aqueles que resistiam e aqueles que já haviam caído. Era um objeto impressionante. Ao redor dele, seus irmãos Khanon-Mer e Tubalcain aguardavam. Khanon era a Grande Fera, como se referia a ele o Pai. Um homem de estatura impossível e músculos de aço. Tubal era O Mentiroso, referido assim não em maneira pejorativa. Era o oposto de Khanon: baixo, magro e de aparência inofensiva. Juntaram-se a eles Tepelit, que Laza chamava de Viajante, pois suas pesquisas o levavam aos cantos desconhecidos do mundo e o próprio Sarosh, a quem Laza chamava de Príncipe, em razão de suas virtudes.

Sentado ao trono estava o Pai. Sorria quando Tepelit e Sarosh entraram, dado que discutia alguma coisa aparentemente divertida com Khanon-Mer. Voltou os olhos para suas crias e Sarosh sentiu o frio na barriga, uma sensação recorrente quando na presença do Pai.

Laza era um homem impressionante. Não como Khanon, forte. Não como Tubal, dissimulado e manipulador. Não era, tampouco, como Sarosh, que concentrava as grandes virtudes de um grande líder ou como Tepelit, com sua aura de sabedoria e efemeridade. Não era como Karotos, pura honra e autoridade. Não era como nenhum dos que haviam estado ali e caído em combate.

O Pai era, simplesmente, a fusão de todos os seus Filhos.

Cabelos escuros, longos e volumosos lhe caíam pelo torso. Vestia um saiote egípcio, feito em algodão branco. Era pálido como a lua. Não era musculoso, mas atlético e alto, com membros fortes. O rosto era fino, com um nariz aquilino, particularmente grande. Os olhos eram duas safiras azuis, grandes e expressivos.

Ele se levantou, abraçando seus últimos dois filhos. Depois, na sua maneira habitual, começou a falar.

- Karotos deve se ausentar de Nippur. Na sua ausência és tu, Sarosh, quem assume minha casa se eu desejar me afastar da cidade. Não tenho planos para que isto aconteça tão cedo, porém.

Voltou a sentar-se ao trono. Seus filhos se reuniram diante dele.

- Tepelit também deixará a cidade, rumando para o Norte, onde eu acredito que segredos podem ser desvelados. Segredos que permitirão que nós aumentemos nossa maestria sobre a Escuridão. Tubal deverá preparar-se para segui-lo, se Tepelit achar que a demanda é por demais grandiosa e perigosa para si.

Olhou para os outros dois.

- Khanon e Sarosh, me foi informado que nossos inimigos se aventuram em nossas fronteiras. Vilarejos foram atacados por emissários de Mashkan-Shapir e eu não posso tolerar tal ação, ainda que Ventru acredite que devamos ter paciência. Não, vocês dois seguirão para o local. Nossos inimigos devem ser destruídos, mas informações devem ser obtidas. Somos os responsáveis pelo bem estar não só do povo de Nippur, mas de toda a planície.

Fez uma pausa.

- Felizmente Galod, filho de... do Estrangeiro concorda com a urgência desta situação. Vocês deverão visitá-lo antes de partir, pois Galod tem já algumas informações que podem ser úteis.

Finalizou com um sorriso.

- É bom vê-los novamente, filhos meus.
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Ter maio 08, 2018 8:43 am
* O Príncipe Guerreiro caminhou subindo as escadarias e as sombras o acompanharam, naturalmente. A sua própria imagem refletida em uma face escura no chão se mesclava as demais e voltava ao normal conforme ele avançava. Encontrou seu irmão, o mais hábil dos Místicos do Abismo, Tepellit e o cumprimentou com um sorriso fraternal.

Ao adentrar no salão de seu pai, O Rei das Trevas, passou o olhar em todos os presentes e deleitou-se com a cena de sua família reunida, à exceção de Karotos.

Assentiu meneando a cabeça, em silêncio, após o decreto de seu pai sobre sua posição de assumir a família caso ele precisasse se retirar. Apesar da honraria concedida, esperava em seu íntimo que não acontecesse. Sabia que Laza destinava-se cada vez mais à Khemet, em busca de Osíris, seu irmão mais novo. O próprio Daharius sentia falta de caminhar sobre as areias das terras de seu irmão, terras estas que desfrutam das plantações à margem do Nilo e dos grãos colhidos no crescente, transportados por sua frota naval. Gostaria, contudo, que Ele ficasse mais tempo entre os seus filhos em Nippur.

Destinou um olhar de satisfação a seu Pai e o observou, por alguns instantes. Forte, Dígno, Capaz. Sim, este era Laza Omri Baras, o Rei da Escuridão. Demorou-se um pouco a mais a falar, em seu íntimo queria apreciar aquele momento de reunião. De ver os filhos e o pai comungarem de conversas triviais e acalentadoras.

Sorriu, verdadeiramente, ao ouvir sobre a demanda. Sarosh era um líder, um Príncipe da noite e da escuridão, mas sua origem remete ao chocar de espadas, ao sangue derramado e ao valor dos homens testado no campo de batalha. Era, e sempre será, O Guerreiro.

Sarosh era um homem alto, de ombros largos, embora seus músculos não fossem protuberantes e aparentes, eram definidos. O corpo atlético, mais longilíneo que largo, portavam os longos cabelos negros e barba que denotavam-lhe um ar de sabedoria e experiência. Fora abraçado na altura dos 30, em seu auge físico e mental.

Usava nada mais que um saiote negro, sem quaisquer detalhes, enquanto seu torso nu bem delineado mas sem exageros ostentava o que pareciam pinturas rupestres negras. Verdadeiras tatuagens de trevas que dançavam sobre sua pele, constantemente. Mudavam de lugar e deslizavam em uma ordem aleatória, somente submissa à vontade daqueles olhos negros e profundos.

Aproximou-se de Khanon-Mer, O Forte, enquanto sua voz ecoava pelo salão de pedra. *


- Uma Caçada. Não me recordo da última vez que a fizemos juntos, meu irmão. Será uma excelente oportunidade para por em prática um novo uso que estou desenvolvendo da força esmagadora que possuímos.


* Sabia o quanto Khanon-Mer era obcecado pelo Dom das Trevas do poder e da força física. Foi ele, magistralmente, que desenvolveu a maior parte de suas aplicações. Atiçaria sua curiosidade, revelando uma competição saudável entre irmãos. Por fim, respondeu a seu Criador*

-Será feito, Pai. A destruição sumária do inimigo se dará após arrancarmos deles as informações de que necessitamos.

* Apenas aguardou Khanon, para que prosseguissem até o Zigurate do Estrangeiro, seu tio.*
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Ter maio 08, 2018 9:44 am
Khanon-Mer deu dois leves tapas no braço de Sarosh, enquanto sorriu diante da evidente provocação do outro.

- Será um privilégio, meu irmão.

Laza se ergueu de seu trono. Acenou com a cabeça para Tepelit, que retribuiu o cumprimento. O Místico despediu-se de seus irmãos, mais intensamente de Tubalcain, com quem tinha uma excelente relação, e deixou o recinto. Tubalcain, posteriormente, fez o mesmo, não sem antes beijar a mão de seu Pai, que o puxou num abraço. Laza sussurrou algo nos ouvidos de Tubal, que assentiu prontamente. O Mentiroso beijou a face de seus dois irmãos e deixou o local.

Restavam Sarosh e Khanon, perfilados diante de Laza. O Pai desceu do pedestal onde se localizava seu Trono e, colocando um braço sobre os ombros de cada um dos filhos, os aproximou de seu corpo. Sarosh viu, no fundo dos olhos azuis, O Abismo, a sugar toda luz e toda a existência. Laza era o Rei da Escuridão, e seu comando sobre o Dom do Sangue de sua Família era inigualável. Contudo, diversamente de Sarosh, Tepelit e Tubalcaim, as sombras não se manifestavam em sua presença. Nenhuma marca, tatuagem ou manifestação denunciava sua Maestria. Exceto pelos olhos.

- Vocês são meus Filhos. Joias da minha coroa. O que compartilho com vocês não compartilho com os outros, pois dentro desta Casa cada um tem a sua função e as suas preocupações. Vocês são meus marechais de campo, os homens a quem eu entregaria a chave do meu Reino.

Deixou os Filhos. Aproximou-se de um dos únicos móveis que compunham a sala, uma mesa de pedra bastante rústica. Sobre ela, um belíssimo vaso de bronze, do qual escapava um perfume de Vitae absurdamente intenso. Depositou o conteúdo sobre três taças de madeira e as ofereceu ao seus Filhos.

- Um presente de Osíris, vosso irmão.

Tornou ao trono e dali começou a falar. A Vitae contida no cálice era forte e intensa, ainda que mortal. Sarosh sentiu na boca o gosto do Egito: o rio, os juncos, a grandeza. A Fé.

- Aparentemente um dos vossos primos contribui com o inimigo. As ações deles demonstram isso. Estão sempre cientes do momento no qual nossas forças patrulham os vilarejos vizinhos. Karotos os viu, uma noite, tratando com um cainita que parecia estar em posição de colaborador interno. Infelizmente, o indivíduo usou dos Dons das Trevas para ocultar-se de Karotos, e o vosso irmão - ainda que eu já tenha pedido que corrija esta falha - é pouco versado nas Artes da Percepção.

Bebeu um gole.

- Por isso, tenham isto em mente quando estiverem em campo. Quaisquer indícios nos serão úteis. É a Casa de Laza que deverá descortinar as sombras que encobrem um potencial traidor.

Laza não falou mais nada, mas recostou-se no Trono. Sarosh viu que seus olhos, de azuis, tornaram-se completamente negros. O Pai não precisava metamorfosear seu corpo para adentrar o Abismo, pois o Abismo estava dentro dele, era ele.

Os irmãos deixaram a Torre de seu Pai. Khanon e Sarosh caminharam até o Zigurate. A chuva ainda caía com força e os  mortais já se haviam recolhido para suas casas; amanhã era dia de preparar as plantações. Toda a cidade cheirava a Sangue, dos vasos dispostos ao lado das portas das casas até a Vitae espalhada pelo chão, que havia escorrido das feridas que alguns mortais se autoinfligiam, para honrar seus Deuses. A construção que abrigava Galod e Enki, únicos filhos do Estrangeiro que habitavam em Nippur, se desenhou diante dos olhos dos dois cainitas. Era uma bela construção, erguida sobre uma plataforma de barro. Parecia desafiar os céus escuros, como os próprios cainitas faziam.
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Qua maio 23, 2018 8:37 am
* Adentrou aos seus domínios sombrios, onde a escuridão lhe trazia paz. A calma e o silêncio se faziam presentes e era deles que necessitava após uma noite de enfrentamentos e sentimentos diversos.

Sarosh apoiou-se na janela, com a face cansada, a fitar o horizonte. As próximas noites seriam decisivas e talvez ainda mais difíceis. Permitiu-se sentir o peso de suas palavras e das respostas de seus tios enquanto estava sozinho pois, em breve, seus primos estariam presentes e contariam com sua altivez na liderança do grupo de ataque às vilas tomadas pelo inimigo.

Ergueu uma das mãos e dela um globo negro do tamanho de um punho humano se ergueu, escuro como seus olhos que ganharam sombras dançantes. Concentrou-se e através da escuridão sua visão vagava por toda a extensão do Crescente, buscando a seus homens e Khanon através dos olhos de Ahriman que a eles entregou. Acompanharia a escolta dos Sacerdotes à Nippur enquanto aguarda a chegada daqueles que estarão a seu lado no campo de batalha.*
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Qui maio 24, 2018 6:21 am
Khanon-Mer cavalgava como um Rei, diante dos homens de Sarosh e daqueles que eram subordinados a Karotos. Sarosh viu a cena de uma perspectiva aérea, trinta cavaleiros desafiando a planície escura. Os cavalos, magnânimos, sustentavam sem apresentar sinais de cansaço os homens que estavam sobre eles. No horizonte, Sarosh divisou três grandes grupos de mortais, cada um deles procedente de uma direção diferente, mas todos oriundos do sul, de cidades como Ur e Uruk. Haviam homens, mulheres e crianças. Os velho seguiam em carroças, assim como as mães com crianças de colo. Estavam a cerca de três dias de Nippur.

Khanon, seu irmão, era um ser fascinante. Sarosh o conhecia a séculos, sabia que Khanon era de temperamento difícil e agressivo, mas dono de um coração imenso. Khanon era forte, infinitamente capaz, mas havia passado sua não-vida empregando sua força em favor daqueles que nada tinham, que nada teriam. Coordenava o movimento dos homens, indicando-os que deveriam abraçar as caravanas, formando um anel de proteção. Não era um líder como Sarosh, mas era imensamente respeitado tanto pelos seus homens quanto por aqueles de Karotos. Os homens gostavam da companhia de Khanon-Mer, aquele que contava piadas e não hesitava em adentrar os espaços selvagens, retornando com uma caça robusta que seria compartilhada pelos mortais sob seu comando.

Mas, durante a visão, uma estranha sensação atingiu o segundo Filho. As palavras de Malkav retornaram à sua mente quando os homens se aproximaram, finalmente, da caravana. Quando Khanon-Mer se aproximou de uma das carroças, cumprimentou respeitosamente um ancião, um homem que aparentava cerca de setenta anos. Tinha uma barba longa e branca, mas não dispunha de cabelos. Suas orelhas eram cobertas por inúmeros brincos de bronze e tatuagens enigmáticas cobriam seus braços. Exalava um ar de sabedoria. Na carroça, quatro mulheres cuidavam de cerca de sete crianças, todas incrivelmente parecidas com o velho. Uma delas, porém, carregava nos braços um recém nascido. E Sarosh viu, pela primeira vez, aquele que seria o seu primeiro filho. Um relâmpago cortou o céu neste momento.

Sarosh sabia que seus primos haviam chegado antes mesmo que um dos servos abrisse a porta de seus aposentos e os anunciasse. Queria saber se deveria deixá-los entrar.
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Qui maio 24, 2018 10:28 pm
*Sarosh tremeu.

Não por fraqueza. Não por incerteza. Mas por ansiedade.

Haveria de aguardar anos, décadas talvez, até que o primeiro de seus filhos pudesse ser trazido à noite e à família. O vislumbre devastador de um futuro no qual aquela criança é a única a lhe ancorar em um mundo sem amor, sem família, sem laços que o façam querer continuar o arrastou para o mais profundo dos abismos ao qual um cainita pode ser lançado: Viver as noites atuais enquanto espera a eternidade que tanto deseja.

Khanon, seu irmão, o impressionava sempre. Era um rival, um amigo e um espelho. Era mais jovem, mas ativo e firme como um irmão mais velho. Agressivo, temperamental. Haveria ele de ter gargalhado se pudesse ter ouvido as palavras de Sarosh no salão da Fortaleza Negra. Foi a chegada de seus primos, anunciada, que o retirou da imersão de sua visão e dos próprios pensamentos. Ordenou que o servo os permitisse adentrar aos seus aposentos.

Aquele era um lugar simplório, mas imerso na escuridão que se prolongava do próprio Daharius Sarosh.

Além de sua cadeira que era um reflexo menor do trono de seu pai, nos andares superiores da torre, havia uma mesa circular de madeira - incomumente escura - com assentos dispostos a seu redor. Acima da mesa havia um mapa entalhado em couro animal da região do Crescente Fértil. Ali, traçado por um artesão dentre os seus servos que residem em Ahriman, a cidade dos Guerreiros das Sombras, estavam as principais províncias e vilas demarcadas em desenhos simples, quase rupestres, além da extensão dos rios que cortam aquelas férteis terras.

Aguardou que entrassem e os designou para que se sentassem ao redor da mesa. Não havia nenhum traço na face de Sarosh da dor ou do misto de sentimentos que se permitiu sentir enquanto estava só, daquele peso imenso que foi confrontar os antigos há pouco tempo. É como se nada tivesse acontecido. Seus olhos negros fitavam respeitosamente os seus primos enquanto seu corpo se erguia de seu pequeno trono, para que pudesse caminhar em direção ao mapa.*


- Sejam bem-vindos, meus aliados. Esta noite planejaremos nossas intervenções nas vilas ocupadas pelo inimigo.

* Sarosh deposita as mãos sobre o mapa e as desliza, lentamente, circulando a localização de Mashkan-Shappir*

- Dentre vós, qual conhece melhor esta região e o que pode trazer de informação para que possamos traçar nosso plano de ação?
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Sex maio 25, 2018 9:24 am
Sarosh procurou ocultar seus sentimentos e aspirações quando seus primos adentraram seu refúgio. Escutou os passos dos visitantes nas escadas da Torre e, quando se fizeram visíveis, todo o cenário já estava montado, e um Sarosh altivo e decidido os aguardava.

Os dois primeiros a adentrarem a sala foram Mi-ka-il e Tammuz.

Eram ambos Filhos de Arikel. Mi-ka-il era uma visão perfeita: um corpo perfeitamente equilibrado e uma face que poderia fazer os anjos chorarem para tocá-lo. Era visivelmente de fora da região, dispondo de cabelos alourados e encaracolados e simétricos olhos verdes. Tinha uma aura tranquila e agradável, que fazia nascer a vontade de passar horas ao seu lado. Sarosh sabia que Mi-ka-il havia sido um escravo na cidade de Ebla, trazido ao local graças a uma das inúmeras operações militares. Movia-se com graça e era de riso fácil. Abraçou novamente Sarosh quando passou pela entrada.

Tammuz também não era da Planície, atestando a preferência de Arikel de conceder o Dom das Trevas a mortais oriundos de terras distantes. Era mais baixo que Mi-ka-il e menos belo. Tinha cabelos e olhos escuros, e vestia-se de forma elegante e colorida para os padrões da região. Caminhava descalço, e sua presença era menos agradável que aquela de seu irmão, mas aparentemente muito mais sagaz e inteligente. Entre os olhos escuros, havia uma marca em tinta avermelhada, um pouco abaixo de onde normalmente se localizava o Terceiro Olho dos Filhos de Saulot. Cumprimentou Sarosh segurando brevemente seu antebraço.

Em seguida, adentraram Nakurtum e Medon. O primeiro era um colosso, forte e musculoso. Os cabelos eram crespos e os olhos escuros, quase na mesma tonalidade da pele. Vestia-se com uma túnica de pele de leão e tinha na cintura uma espada de bronze finamente trabalhada. Nakurtum era o espião dos Filhos de Haqim, aquele que entrava e saía sem que ninguém se desse conta. Além disso, se dizia que era um excelente planejador militar.

Medon foi o último. Era notadamente Filho de Ventru. Altivo e orgulhoso como seu Pai, Medon era, segundo as lendas, um guerreiro tão capaz quanto Khanon-Mer. Tinha uma expressão austera, violenta, além de cabelos escuros cortados em estilo militar e olhos expressivos. Vestia somente um saiote escuro e sandálias. Era sabido que alguns dos Filhos de Ventru haviam desenvolvido uma afeição pelos Filhos de Laza: Orthia competia constantemente com Khanon-Mer e Tepelit mantinha uma relação de longa data com Tinia. Medon, por outro lado, era constantemente visto na companhia de Tammuz.

Os quatro se sentaram após o convite de Sarosh, observando atentamente o mapa disposto sobre a mesa de pedra. Diante do questionamento do anfitrião, foi Nakurtum que se levantou. Levantou a túnica para revelar uma bolsa de couro amarrada na cintura, de onde retirou pequenos modelos de vilarejo, cuidadosamente esculpidos em madeira, e passou a organizá-los no mapa. Em seguida falou, com sua voz grossa, porém sutil.

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A estrela de quatro pontas simboliza Mashkan-Shappir. As outras estrelas simbolizam os vilarejos com presença do Inimigo.

- Agradeço por nos receber em tua casa, Sarosh. Cada um destes pontos simboliza um vilarejo onde a presença do Inimigo foi notada. Aqueles dois mais próximos de nós tem um número menor, algo entre dois a quatro ocupantes permanentes, com influxo relativo e ocasional de outros oriundos de Mashkan. O vilarejo mais ao Norte é a nossa situação mais complicada. Ali foi erigido um pequeno centro de culto, que começa a atrair mortais da região e que por isso mesmo é fortemente protegido por outros cainitas e carniçais de poder relativo. As muralhas são constantemente patrulhadas por homens à cavalo e há rumores de que, à noite, seja patrulhada também por criaturas de natureza profana.

Foi Tammuz quem continuou, após a apresentação de Nakurtum.

- O que nos coloca em uma situação difícil. Atacar um dos vilarejos colocará os outros em estado de atenção, gerando um pedido de apoio à Mashkan-Shappir que pode fazer com que a situação evolua para um conflito de grandes proporções. Em um cenário como este, imagino que as forças daqueles nesta sala se tornarão insuficientes.

Continuou, apontando para o vilarejo mais ao Norte.

- Teu irmão Karotos, em conversa comigo, me havia notificado o local onde havia identificado o traidor. É possível que o vilarejo mais protegido seja uma base de poder profano do Inimigo, e que seja munido de conhecimento sobre o nosso modo de operar. Precisamos estar atentos.

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Sáb maio 26, 2018 1:01 pm
* Daharius ouviu, atentamente, as explanações de Nakurtum e Tammuz. Em seguida sua mão deslizou por entre os modelos, tocando somente o mapa, para que então o Místico se fizesse ouvir.*

- Caso nossas atenções sejam voltadas ao ponto mais ao norte, o centro de poder do inimigo, estaremos convidando as vilas vizinhas a nos emboscar. Ficaremos cercados.

* Sua mão retorna aos primeiros pontos de apoio do inimigo, os mais próximos de Nippur*

- Se os atacarmos nestes pontos, logo o inimigo tomará conhecimento e enviará reforços ao vilarejo mais protegido que aparenta ser a base do inimigo, conforme as orientações de Tammuz.

- Ataquemos, então, em todos os lugares.

* Retirou a mão do mapa e colocou-a, junto a outra, atrás de seu corpo. Era sua postura usual quando traçava planos. Pouco se passou até que sua voz, grave e bela, se fizesse ouvir novamente.*

- O inimigo saberá de nosso avanço, de uma forma ou de outra, após o primeiro movimento de nossa parte. Devemos nos ater ao propósito deste ataque, conforme explicitado pelos antigos: incitar o inimigo a agir e  quebrar o tratado conosco.

- A tomada dos vilarejos, sob esta perspectiva, é indiferente neste momento. Basta que façamos com que o inimigo acredite estar sendo atacado por uma grande força.

* Sua mão se ergueu sobre o mapa e sobre os modelos ricamente entalhados que representavam os vilarejos. Assim, uma sombra se projetou sobre todos.*

- Atacaremos a todos os vilarejos, de uma só vez. Aproveitando-nos de nosso maior aliado na primeira noite: o ataque surpresa.

* Olhou Nakurtum, o rastreador*

- Descreva-me, em detalhes, as localidades próximas aos vilarejos. Nós viajaremos rapidamente entre eles, realizaremos ataques precisos e violentos e passaremos ao próximo, sem uma ordem clara definida. Começaremos pelo da esquerda, cruzaremos as areias através de meus rápidos modos ao mais longínquo deles e os golpearemos e, em um piscar de olhos, estaremos no vilarejo mais próximo de Nippur onde alçaremos o caos sobre o inimigo.

- Assim, mesmo que a informação chegue aos outros pontos de apoio dos servos de Moloch durante os ataques, eles acreditarão que várias forças os atacam de todas as direções. Não terão opção a não ser recuar, liberando os vilarejos menores.

- Percebam que permaneceremos juntos durante todo o ataque. Atacaremos com força e decisão, viajaremos velozes através das sombras e atacaremos o outro ponto. Todos, em uma só noite.


* Olhou, através de seus profundos olhos negros, para Nakurtum*

- Durante os ataques, caberá a vós observar e coletar o máximo de informação sobre a estrutura do inimigo enquanto os dilacera. Suas construções e proteções, das mais simplórias às mais complexas.

* Em seguida, destinou o olhar à Tammuz*

- Caberá a vós, primo, coletar das mentes dos servos o máximo de informação sobre o inimigo. Sejas cauteloso, contudo, busque os servos mortais e deles prescrute o que sabem. Na guerra que se fará presente em breve, a informação sobre o oponente será valiosa e determinante, aproveitemos os ataques para coletá-la ao máximo.

* Por fim, fitou Medon e Mi-Ka-il.*

- A nós caberá dizimar todos os que nos oporem. Vampiros, carniçais e demais abominações que nos interpelem. Destruam-nos e esmaguem-nos, os seus e os seus feitos. Nada deve restar.

* Inclinou-se sobre a mesa, observando o mapa uma vez mais*

- Lembrem-se de permanecerem juntos, próximos a mim todo o tempo. Pois viajaremos ao meu comando sob o manto da escuridão que carrego ao próximo vilarejo e, ao fim de todo o ataque, retornaremos à Nippur.

* Ergueu o olhar, passando-o por cada um dos presentes*

- Expressem vossos pensamentos, meus primos e aliados. Este é o momento de moldar o plano narrado da melhor forma para cumprimos nosso objetivo. Após isto, com a decisão tomada, devemos nos alimentar e nos preparar para o ataque.
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Seg maio 28, 2018 4:43 am
Os quatro cainitas escutaram o plano de Daharius Sarosh. Aparentemente, não havia discordâncias ou oposições. Era de conhecimento daqueles de geração similar à de Sarosh que o Filho de Laza era um comandante capaz, habilidoso. Dentre os presentes, somente Medon possuía características semelhantes sendo, dos Filhos de Ventru, aquele mais orientado à guerra e ao planejamento desta. Contudo, até mesmo ele parecia concordar, observando enquanto Sarosh apontava os pontos no mapa. Ao final da explicação do Filho de Laza, foi ele quem continuou.

- Tenho total acordo contigo, Daharius. O meu único receio é relativo à cidade mais ao Norte, possível base de nossos inimigos. Imagino que tuas forças mortais, assim como as minhas, sejam habilidosas o suficiente para fazer frente, sem muitas dificuldades, aos cultistas mortais do Inimigo. No entanto, me preocupa os nossos números. Achas que nós seremos o suficiente? Desconhecemos a maior parte das habilidades do inimigo e temo que seus números possam ser razoáveis. Existe ainda o risco de encontrar o traidor dentre os nossos, que poderá instruir o inimigo quanto às nossas capacidades.

Levantou-se e observou Sarosh antes de abaixar os olhos ao mapa. Medon tinha muito de Ventru. Era altivo sem ser arrogante como boa parte de seus outros irmãos. Parecia comportar-se como um líder natural.

- Eu proporia que, enquanto atacamos os dois vilarejos menos guarnecidos, Nakurtum, munido de seus Dons servisse como nossos olhos ao Norte. É importante saber como reagirá o inimigo aos primeiros ataques, se se deslocará ou permanecerá guardando o centro de culto. Desta forma, podemos nos orientar melhor na ordem dos ataques. Digo, se o inimigo segue em direção ao sul, esvaziando sua posição ao Norte, é para lá que devemos seguir com os teus Dons. Se o inimigo se mantém encastelado, continuaremos o ataque pelas posições mais vulneráveis. De qualquer forma, Nakurtum será capaz de nos enviar informações sobre números e posições, de forma a avaliar as nossas forças antes do ataque à base. E de pedir reforços, se necessário, pois convenhamos: será uma ação difícil.

Nakurtum permaneceu calado, aguardando a avaliação de Sarosh sobre as palavras de Medon. Mi-ka-il, por outro lado, começou a falar. Sua voz era belíssima e quando o fazia projetava uma aura de sabedoria naqueles ao redor, o que era estranho, uma vez que era o mais jovem dos Filhos de Arikel. Seus olhos, porém, deixavam claro que havia passado por muitas experiências quando ainda era mortal.

- Eu tenho acordo com Medon, acredito que devemos manter um posto avançado. É de conhecimento geral que Nakurtum é invisível mesmo aos olhos mais capazes, além de se mover como o vento se necessário. Coloco à disposição minhas habilidades, meus irmãos, para formar um laço empático que nos permitirá manter contato durante todo o processo, além de ouvir as informações de Nakurtum de forma constante.

Tammuz havia concordado com a indicação de sua tarefa, sem levantar objeções. Observava Sarosh com olhos admirados. Nakurtum se ergueu após a fala de Mi-ka-il e, apontando para o mapa enquanto se debruçava sobre ele, começou a explicar a Sarosh as características da região. Era amplamente sabido que Nakurtum era uma espécie de mapeador de Nippur, informando aos Treze quaisquer alterações percebidas na organização dos vilarejos, movimentos de tropas ou de caravanas. De fato, explicou detalhadamente a região ao redor dos vilarejos a Sarosh, em uma maneira que o Filho de Laza era quase capaz de visualizar os cenários diante de seus olhos. Nakurtum podia não ter o dom da oratória e do debate, mas certamente dispunha do dom de contar o mundo que via ao seu redor.
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Seg maio 28, 2018 10:44 am
* A presença altiva de Daharius dava lugar a um ouvinte dedicado. Aprendera, ainda enquanto mortal, que um líder é aquele que incita o melhor das capacidades dos seus liderados e os ouve para que compreenda seus anseios e possa, desta forma, tomar a melhor das decisões possíveis.

Seus olhos negros repousaram em Medon, ao fim de suas palavras*


- Suas palavras são sábias, Filho de Ventru. Somos poucos, sim. É em virtude disso que pretendo confundir o inimigo sobre os nossos números, o atacando em todos os pontos graças a possibilidade de viajar de forma veloz e que seria impossível por meios físicos. Assim, geraremos a impressão de um número muito maior e faremos o inimigo recuar ou reagir, protegendo o que lhe for de maior importância.

- É exatamente neste ponto que tua sabedoria se faz precisa. Concordo em enviar Nakurtum para que observe a movimentação inimiga no forte mais ao Norte. E, através das capacidades de Mi-Ka-Il, manteremos a comunicação ativa em todos os momentos para que possamos tomar as melhores decisões no campo de batalha.

- Faço dois adendos, meus aliados, para que tenhamos sucesso em nosso avanço.


* Seu olhar escuro e profundo foi direcionado a Nakurtum, dessa vez*

- Desconhecemos as habilidades do inimigo. Sabemos apenas que conseguem manipular as chamas, o que é um risco imenso por si só, além de possuírem meios para influenciar aqueles que os rodeiam. Peço então, Nakurtum, que se mantenha invisível e cauteloso todo o tempo. Tenho um receio pessoal quanto a possíveis defesas místicas no forte de maior tamanho. Por isso não o adentre antes de nossa chegada.

* Em seguida, seus olhos passaram por todos os presentes, antes de encerrar*

- Unidade será essencial. Além da comunicação estabelecida por Mi-Ka-Il, nos manteremos próximos durante todo o ataque. Não afastem-se e não se desprendam do grupo. Juntos, podemos empregar nossas habilidades de forma a derrubar os fortes menores rapidamente, conforme as instruções de Nakurtum que estará em campo.

- O segundo adendo diz respeito ao traidor. Dado os ausentes na reunião com os antigos, alguns de nossos irmãos e primos, por mais doloroso que seja vislumbrar, estão entre os possíveis traidores. Sejamos sábios, não levem este plano para fora desta sala e, se o encontrarmos no campo de batalha, tenham força e decisão ao agir acima dos laços familiares.

- Preparem-se, nós seremos os Arautos da Fúria da Segunda Cidade que cairá sobre o inimigo. Sigamos para encontrar Sutekh e, em seguida, Saulot.


* Aguardou apenas possíveis considerações para que seguissem em busca dos antigos que supervisionarão suas ações.*
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Ter maio 29, 2018 5:44 am
Nakurtum assentiu diante das palavras de Sarosh.

- Não se preocupe, Daharius. Estarei atento às defesas místicas e as informarei a vocês assim que concluir sobre os detalhes. Meus conhecimentos místicos, contudo, não são tão avançados quanto os de meus irmãos Rashadii e Ya'rub, mas farei o meu melhor.

Os outros não expressaram oposições, mas aceitaram as recomendações de Sarosh. Pareciam preparados e decididos embora, exceto por Medon, todos tivessem razões para estar preocupados com a possibilidade de que o traidor fosse um cainita de suas famílias. Ergueram-se quase que ao mesmo tempo, preparando-se para caminhar ao encontro de Sutekh, que os aguardava na saída norte de Nippur.


*Sarosh deve continuar no tópico de Nippur.*
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Qua Jul 11, 2018 8:23 am
O corpo de Daharius Sarosh desprendeu-se das sombras de um dos cantos em seus aposentos. Sentou-se no chão de pedra, com o corpo semi-nu envolto apenas em um saiote negro chamuscado. As marcas profundas e dolorosas daquela noite estavam em seu ombro e mente.

Sarosh sentia medo.

Medo do destino de seu Criador. Medo dos sacrifícios que lhe seriam exigidos. Medo do futuro incerto. Medo do destino de seus iguais. O Príncipe da Escuridão não se sentia tão humano - e tão frágil - desta forma desde suas primeiras noites na eternidade.

Os olhos escuros fitaram a escuridão, inquietos. Buscava nela o acolhimento de outrora. Buscava, nas sombras, Laza. Não estendeu suas habilidades e não empregou seu dons, não era necessário. Sua ligação com o Pai era tamanha que apenas ao focar-se nas sombras saberia se ele lá estava. Desta vez, não, apenas o vazio.

Sarosh sabia, em seu íntimo, que as sombras emanavam paz e por isso o Rei das Trevas continuava a caminhar por aquela terra amaldiçoada pelo Deus vingativo acima de todos. Isto lhe bastava.

Permitiu-se descansar. Estava fadigado. Mentalmente esgotado.

Deitou-se ali mesmo, no chão frio, acolhido somente pela escuridão de seus aposentos enquanto sua mente vagava ao longe e perto. Nos eventos recentes e nos efeitos que aquela guerra causariam aos seus, futuros, filhos. Sim, ele teria filhos. Para um fim o tormento do inimigo se fez importante, ele o mostrou que a sua luta não se localiza somente no passado e pelos que já são. Não. Daharius Sarosh lutaria pelos seus, por todos os seus, os que são e principalmente aqueles que serão nas noites vindouras.

Ele, o homem de cabelos cacheados e olhos castanhos seria o primeiro. Por ele, levantaria-se uma vez mais e assim o fez.

Caminhou pela torre buscando a saída. Como pôde se permitir descanso e dor, medo e incerteza se os que dependiam dele ainda não tinham retornado? Apressou-se. Deveria encontrar Medon, Nakurtum, Mi-Ka-Il e Tammuz. Haviam eles sobrepujado as defesas do inimigo após sua saída daquele local? Estariam feridos? Destruídos?

Seus passos se tornaram lentos. Precisava buscar a calma e a altivez de outrora pois estava fora de si. Temia e isso nublava os seus pensamentos. Eles triunfariam, são eles igualmente filhos dos antigos e são tão capazes e sagazes quanto o próprio Príncipe da Escuridão.

Precisava crer na vitória, estimulá-la, liderá-la. Precisava superar seu próprio medo.

Caminhou, com o ombro direito enegrecido e chamuscado, em busca da saída da Torre. Tinha muito a fazer nesta noite e não permitiria que o medo lhe tomasse o curso da ação.
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Qua Jul 11, 2018 9:10 am
Deixou seus aposentos, local onde tinha sido lançado pela vontade de seu Criador. A Torre estava em profundo silêncio. Pressentia seu irmão, Karotos, que estava em seus aposentos, mas provavelmente não tinha percebido o retorno de Sarosh. Os ferimentos ainda ardiam, a carne morta queimada e escura. Os cabelos também tinham sido chamuscados, e Sarosh tinha alguma dificuldade em caminhar. As dores físicas, porém, eram irrelevantes diante da ausência. Laza não estava em nenhum lugar, e mesmo a torre parecia estranhamente clara, quase iluminada, em sua ausência. Sarosh sentia um vazio no peito pois, onde quer que estivesse, Laza se fazia sentir. Desta vez, o Pai parecia distante, muito distante.

Ao caminhar para a saída da Torre, na esperança de se dirigir ao Trono Negro, vozes chamaram sua atenção. Eram pessoas que estavam reunidas do lado de fora. Antes que as visse, porém, observou Khanon-Mer subir os degraus, a passos largos. Seu irmão também estava ferido, com uma grande cicatriz no rosto, abaixo do olho esquerdo, que por pouco não fora danificado. A cicatriz estava cauterizada, parecia ter sido feita com uma espada ardente, assim como estavam cauterizados dois dos dedos da mão direita, cortados à metade. Khanon não abraçou o irmão, não expressou nenhum sentimento. Apenas deteve-se ao passar por Sarosh.

- Não sinto o Pai, e em sua ausência é Karotos quem comanda. Parte dos refugiados começam a chegar a Nippur, mas meus ferimentos me impuseram o retorno. Necessito me alimentar. Me substituem Orthia e Veddartha, Filho de Ventrue, assim como Hukros, Filho de Ennoia que surgiu do nada para nos ajudar durante um ataque do inimigo às caravanas. Devo descansar, irmão, meu espírito está quebrado pelas coisas que vi. Peço sua licença para não comparecer ao Trono Negro.

Sarosh notou, enquanto Khanon estava parado, que seu rosto estava manchado de lágrimas de Sangue seco. Seus olhos pareciam extremamente perturbados. Havia uma fúria monstruosa dentro dele, uma revolta, contida somente pela tristeza mais profunda que Sarosh já havia visto. Adentrou a Torre, e Sarosh notou que mesmo na parte detrás da cabeça de seu irmão havia um corte profundo, também cauterizado.

Diante dele, porém, as vozes continuavam.

Provavelmente eram os primeiros refugiados conduzidos por Khanon. Sarosh percebeu que vários mortais que não conheciam caminhavam pelas ruas, e os habitantes de Nippur lhes davam abrigo, água, comida e consolo. Era belo ver a gentileza e o cuidado com que tratavam os desconhecidos, que estavam sujos e feridos, mas que resistiram à viagem. O Príncipe sabia que muitos outros estavam por chegar, e se perguntava se Nippur conseguiria sustentar a todos. Estavam no início da colheita, e os cereais já davam sinais de escassez.

Aqueles que estavam ajoelhados diante da Torre, porém, eram nitidamente diferentes. Se vestiam com roupas mais finas, mas estavam sujos e cansados como os outros. Um homem de cerca de sessenta anos estava mais próximo da torre, atrás dele três mulheres e sete crianças com idade entre seis e quatorze anos. As mulheres mantinham a cabeça baixa, entoando litânias estranhas ao ouvido de Sarosh. O homem cortou a palma da mão com a ajuda de uma elegante adaga, vertendo seu Sangue no solo.

E Sarosh percebeu que tinha Fome. Muita Fome. A Besta se agitou furiosa, mas o pensamento de que havia Sangue na Torre, doações dos mortais magicamente preservados da coagulação pela magia de Tepelit fez com que o Monstro recuasse. Por ora.

As crianças observavam Sarosh, com ares que variavam da admiração ao medo. Os mais novos roíam lascas de pão e bebiam leite de cabra. Os mais velhos pareciam passar fome, para que os outros se alimentassem.

No braço de uma das mulheres, uma belíssima jovem de cabelos escuros como a noite e olhos estranhamente azuis escuro, repousava uma criança. O bebê chorou. E, quando o fez, o mundo desabou ao redor de Sarosh, com o peso da alegria e da preocupação. Com a certeza de que valia a pena lutar.

Lá estava ele. O Amor que nunca havia conhecido. Seu Filho, seu Herdeiro.

O ancião proclamou aos quatro ventos, ignorando a presença de Sarosh.

- Que todos saibam que Adnun, Filho de Assuero, agradece ao Deus do Rio das Trevas pela proteção na longa jornada. Que teu nome, ó Pai, guie os caídos entre os Montes Sombrios rumo ao Vale da Verdade, onde serão julgados e absolvidos, pois morreram como heróis.

Só então Sarosh notou que o velho era cego. O ancião continuou.

- Apresento meu filho, Kurush-Amir, nascido durante a Lua Escura. Agradeço pela sua vida e por sua saúde. Entrego seu Destino a Tua Casa, Laza Omri Baras.

"Trono e Rei", pensou Sarosh, traduzindo o significado do nome.

O velho passou a mão ensanguentada na testa do recém nascido. O pequeno não chorou. Era já bravo.

O ancião beijou as escadarias do Templo com amor e devoção, e sua família fez o mesmo, incluindo os irmãos mais novos. Depois, comandou que sua família se retirasse. Desceram as escadas, misturando-se a multidão. As mulheres passaram a tratar as feridas dos outros viajantes, as crianças a tomar conta das crianças que haviam perdido os pais. O ancião tinha a mão beijada pelos outros imigrantes, Sarosh percebeu que ele ocupava uma posição de respeito. O bebê repousava sobre um monte de feno. Seus olhos azuis e sua fronte manchada de Sangue estavam girados na direção de Daharius Sarosh.
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Qua Jul 11, 2018 1:08 pm
Sarosh estava ferido.

Seu corpo jazia maculado pelas chamas que escureceram sua pele e chamuscaram seus cabelos. Isto, ainda sim, era irrelevante.

O ferimento aberto estava em seu interior. A dor, a dúvida e o peso das decisões que logo precisariam ser tomadas. Ver Khanon-Mer em situação semelhante esfacelou o pouco de altivez que possuía. Desvaneceria como a escuridão atingida pela luz do sol, impiedoso e cruel. Mas, não era sob a luz que as sombras ganhavam forma?

Abraçou-o, fraternalmente. Não permitiu-se chorar. As lágrimas carmesim contiveram-se e não se fizeram presentes. Haveria ele de suportar a dor atual de Khanon. As vindouras de Laza, Karotos e de todos aqueles a seu redor. Era seu dever, sua tarefa maior. Afinal, jamais poderia refletir as próprias dores. Era amaldiçoado a refletir o nada.

Abraçou-o e o disse, olhando por cima de seus ombros e vislumbrando os refugiados e, sobretudo, a criança com os olhos azuis que também não chorava.


- Perdoe-me, irmão.

- Perdoe-me por exigir de seus braços, os mais fortes dentre os nossos, que suportassem o peso do meu mundo. Perdoe-me.


Apertou-o contra o peito e sorriu. Deixou-o caminhar, pois a cada sombra é dado o direito de esconder-se da luz quando esta começa a apagá-la.

Sarosh caminhou, com dificuldades em virtude dos ferimentos físicos, em direção ao velho homem que acabara de abrir um talho em sua mão. O monstro dentro de si gritou, mas acuou-se, não era o momento. Segurou a mão do ancião e sorriu. Com uma de suas unhas, abriu um corte inexpressivo em seu dedo indicador e espalhou seu próprio vitae sobre o ferimento daquele mortal, fechando-o somente após o ritual desempenhado por ele, não interferindo na posição social que ele parecia ocupar diante de seu povo.


- Por nós, sábio homem, não deves sangrar em vão. Cabe a nós protegê-los, guiá-los e garantir que possam os teus - e todos os outros - viverem vossas vidas livres e incólumes. Perdoe as falhas deste que vos fala, perdoe as falhas daqueles que os falarão em breve. Não somos divinos e sequer beiramos a perfeição. Somos distintos, como cada um dentre vós e somos, acima de qualquer crença, criaturas falhas que buscam compreender o seu lugar no mundo.


Não apresentou-se, era irrelevante. Observou-os e permitiu-se admirar a criança. A pureza e a simplicidade da vida humana em sua mais completa forma. Teria ele o direito de privar-lhe da vida quando o momento chegasse? Seria ele Senhor de um homem que poderia ter tantas outras vidas? O amava. Sequer o tinha visto tão perto de seus olhos antes, mas o amava tanto que o comparava a seu Criador. Era esse o tamanho do sentimento criado entre  Pai e Filho?

Sorriu, todas as dores cessaram. Percebeu que o vazio deixado por Laza era passageiro e fugaz. Pois assim como o sol nasce a cada amanhecer, as sombras que seguem sua luz se fazem presentes conforme seu avanço nos céus. Havia esperança pois havia - diante do Príncipe da Escuridão - a luz da vida.

Caminhou e deixou-os, com seus olhos escuros a fitar os azuis da criança. Dirigiu-se, com um singelo sorriso, ao Trono Negro.
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Qua Jul 11, 2018 1:25 pm
Khanon retribuiu, ainda que de forma pouco intensa, o abraço de Sarosh.

Depois, desabou. O mais forte de todos os Filhos de Laza, o Guerreiro, Destruidor de Montanhas, chorou como um bebê nos braços de Sarosh. Soluçava. Conteve as lágrimas, mas falou com uma voz extremamente embargada.

- Não há o que perdoar, irmão, não fizestes nada. Confiastes em mim, e isto me basta.

Khanon, agora, abraçava Sarosh com toda a força que podia. Não fosse o Príncipe do Abismo resistente, teria sido esmagado pela força de seu irmão.

- Esta noite eu perdi meu filho, irmão. Aquele que o Pai me fez ver nas águas salgadas. Não existe mais. Nunca será meu. Devendo escolher entre o meu e o teu, e com minhas últimas forças, salvei teu filho. Pois tenho forças para passar a eternidade em solidão. Mas você, meu amado Sarosh, você não. Tua existência só tem sentido se tiveres uma família.

Olhou para o teto da Torre. Buscava o céu, mas não o encontrou.

- Eles pagarão, Sarosh. Juro pelos Sete Infernos dos meus ancestrais mortais. Juro, em nome do Abismo que nos dá poder. Juro em teu nome e no nome dos Filhos de Laza que eles pagarão.

Fez uma pausa. Sarosh nunca havia visto aquele Khanon-Mer.

- Céus e terra serão testemunhas da minha fúria quando for o momento do combate.

Deixou Sarosh sozinho, caminhando em direção à escuridão da Torre, que parecia, agora, mais clara do que jamais fora.
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Dom Ago 12, 2018 6:07 am
Acordou.

Em sua boca um gosto amargo. O local era escuro e confortável, e ele intuiu com velocidade que se encontrava na Torre de seu Criador, sobre o leito que ocupava nas suas horas diurnas. Com dificuldade lembrou-se de suas últimas horas: viu o Leviathan e o vórtice que arrastou Nakhthorheb para as profundezas do Abismo, onde seria selado até que sua decisão mudasse. Havia, porém, uma última e estranha lembrança. Estava deitado em uma mesa de pedra. Não conseguia se mover, sentia uma profunda dor na altura do peito. Sua consciência era esparsa, leve, estava ali e não estava. Diante dele uma jovem de pele negra, com grandes olhos dourados e cabeça raspada. Tinha tatuagens no couro cabeludo e nas mãos, a quais usava para espalhar um estranho unguento esverdeado em suas feridas.

- Você ficará bem , Filho de Laza. Tudo terminará bem.

E o sorriso. O sorriso de uma criança de quatorze anos combinado com as presas de um imenso e cruel predador.

Tubalcain estava sentado em sua câmera, no colo uma tabuleta de argila que lia, em voz baixa, e sobre a mesa de pedra uma outra, fresca, na qual escrevia suas interpretações após ter pensado um pouco. Seu irmão estava belo, mas com uma aparência cansada. Os olhos escuros estavam imersos em um aparente desafio teórico, daqueles que faziam Tubal empolgar-se e discutir por horas. Levantou o olhar quando Daharius se moveu.

- Nós pensamos que você tivesse sido destruído.

Levantou-se. Caminhou até o leito e sentou-se aos pés de Sarosh.

- Te encontrei vagando pelo Deserto de Khemet, com um olhar perdido e sem rumo. Te trouxe de volta. Isso foi há dois meses atrás.

Levantou-se. Recolheu as duas tabuletas e preparou-se para deixar a câmera.

- O Pai deseja encontrar-te. Recomendo que você recupere suas forças. O último assalto acontecerá em breve.

Tubalcain deixou a câmera de Sarosh. Silêncio, rompido apenas pelos gritos de dezenas de mortais desconhecidos que ecoavam no fundo das memórias de Daharius.

Subiu as escadas da Torre, em direção aos aposentos de seu Pai. Pelas janelas podia ver Nippur. Havia algo de estranho. A cidade estava silenciosa, escura e lúgubre. Os poucos mortais que viu eram magros e com uma aparência de doença. Passou pela antesala da câmera de Laza e adentrou. Seu Pai estava de pé, diante de uma grande janela que se voltava, segundo a geografia, na direção de Mashkan-Shapir. Pelas outras janelas viu alguns de seus primos: na Praça Central Amon dialogava com Medon, Karotos e um terceiro homem desconhecido, mas que lhe inspirava sentimentos estranhos. Num dos cantos da câmera de Laza se encontravam Kurush-Amir, que lia atentamente uma tabuleta a ponto de não perceber sua entrada, Khetamon, que observava um mapa das estrelas e uma outra mulher desconhecida.

Tinha cabelos castanhos, longos até a altura dos ombros. A boca era pequena e marcada, com olhos escuros, da cor dos cabelos, profundos e analíticos. Vestia-se completamente de negro, com anéis de bronze nas mãos. Estava descalça. Emanava uma aura de autoridade pela força, não pelo direito. Havia algo de primitivo nela. Algo de cruel e intenso, que recordava Laza. A Escuridão se agitava em sua presença, exatamente como fazia na presença de Sarosh, com as sombras deformando o ambiente, tornando-o mais ou menos profundo. Ela caminhou na direção do Arauto, fazendo uma mesura com a cabeça. Laza não se virou. Ainda observando Nippur, dirigiu-se a Sarosh.

- Bem vindo de volta. Esta é sua irmã, Sybilla.

Só então girou-se. Sua pele era mais pálida que o de costume, como as areais do deserto sob a lua cheia. Parecia mais alto e os cabelos caiam pelo torso em pesadas tranças. Ao redor dele, não haviam sombras. Era tudo claro, quase desbotado. Os olhos estavam completamente escuros como o piche, lentamente voltando à sua aparência normal enquanto ele se dirigia a Sarosh.

- Espero que estejas recuperado de tuas atividades em Khemet. Nós temos uma guerra para vencer. Teu irmão Khanon está morto e Tepelit ainda não retornou de suas andanças. A Casa da Noite tem seus números reduzidos, portanto estou satisfeito que tenhas sobrevivido e retornado.


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Seg Ago 13, 2018 7:54 am
O despertar era como um sopro de vida a preencher um corpo morto. Súbito, abriu os olhos.

Lembrou-se do Abismo a arrastar o filho da tempestade para as suas mais profundas entranhas. Haviam pago caro pelos erros dos antigos, Sarosh e Nakhthorheb. Haviam pago o preço da Jyhad. Foi tomado por memórias estranhas. A dor, o unguento, o sorriso bestial na face de uma criança. O que houve?

Permitiu-se colocar as dúvidas de lado. Havia paz. Uma profunda sensação de dever cumprido que se abateu sobre Daharius ao lembrar-se dos olhos de Osíris, perto do fim. Era tudo o que importava.

Quando Tubalcain sentou-se a seu lado, Sarosh interrompeu suas palavras, o abraçando em silêncio. Amava, profundamente amava, a sua família. Sabia que sofreria pela eternidade por isso. Ao fim das novas que lhe eram contadas, afastou-o gentilmente enquanto o respondia.


- Não posso cair agora, irmão meu. Pois cabe à mim continuar protegendo-os dele.

Sorriu. Estava triste ao concluir a sua frase, mas sorria amavelmente para Tubalcain.

Caminhou pela torre, subindo-a, em busca dos aposentos de seu pai após ser acometido pelos gritos e lamúrias dos mortais. O que houve? Perguntou-se uma segunda vez. Interrompeu-se na janela ao vislumbrar Amon, Karotos e o desconhecido.

Karotos. Fixou o olhar nele enquanto lembrava-se de Khanon. Doía, aquela dor, mais que qualquer outra que lhe foi infligida nas últimas noites. Subir as demais escadas foi uma tarefa tão difícil quanto enfrentar Nakthorheb. Sentia dor, raiva, agonia e desprezo. Sentia tudo e nada por ele.

Quando adentrou e o viu, diferente em seu porte e aparência, sabia que suas palavras para Sutekh tornariam-se verdadeiras.


"Em toda a sua sabedoria, é ainda limitado. Não será por muito mais, porém, posso intuir. Me alegro em pensar que todos vós, antigos, logo não serão."


Estava errado. Não haveria alegria na mudança de Laza pois ele era incapaz de muitas coisas, dentre elas, trazer o conforto de sua presença para seus filhos. Desejou dizer muito, despejar sua ira sobre aquele homem. O faria, violentamente, não fossem seus olhos alcançarem os de Amir - sua criança. Não seria igual a Ele, não seria.

Silenciou e olhou pesaroso para Khetamon. Sabia que o sofrimento dele não seria justificável sob qualquer circunstância. O entenderia, mais do que qualquer outro, entenderia seu amor pelos seus. A mulher lhe despertou curiosidade, embora estivesse ele em um momento no qual algumas coisas parecessem menores. Para ela, apenas sorriu - leve e quase triste - enquanto a saudou com um gesto simples de seu fronte.

Ouviu o Criador. Limitou-se a respondê-lo, inicialmente.


- A guerra será vencida. Khanon-Mher jamais será esquecido assim como nossas ausências serão perpetuadas pela eternidade.

Pensou em nada mais dizer, mas encarou os agora diferentes olhos de seu Pai e sabia que precisava. O faria, também, por Khetamon.

- Saibas apenas que havia, no fim, gratidão nos olhos de teu filho.

Não esperava resposta, era retórica a afirmação.
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Seg Ago 13, 2018 8:46 am
- Tenho conhecimento deste fato. O vi, através de teus olhos, e ele entendeu que eu escolhi libertá-lo através de tuas mãos. Imagino o quanto possa ser dolorido para ti e para Khetamon que, após minhas palavras, não nutre nenhuma ira contra ti. Nutre somente uma indiferença, o que é natural dado o seu papel nos acontecimentos, mas não ousará levantar a mão contra ti.

Laza caminhou lentamente em direção a Sarosh. Pareceu que flutuava por alguns segundos, suspenso em um vácuo de piso sem cor. À medida em que se movia, o mundo desvanescia em grandiosidade, como se toda a sua luz fosse sugada para dentro do Antigo, somente para retornar ao normal segundos depois. Sybilla deu passagem a Laza, curvando-se. Sarosh percebeu uma imensa devoção em sua irmã. Quando Laza estava à distância de um palmo de Sarosh, tocou seus braços como faria um curandeiro.

- Posso ver que a Prole de Sutekh cuidou de teus ferimentos físicos, embora não tenham se ocupado daqueles espirituais. Menos mal. Os resultados podiam ser catastróficos. Tive o prazer de passar as últimas luas com teu filho, e devo dizer que a tua escolha muito me agrada.

Amir fitava Sarosh. As palavras de Laza eram emitidas de forma mecânica, sem emoção. A pele pálida e a falta de movimentos lembravam a Sarosh a aparência de uma estátua.

- Teu irmão caiu em batalha, exatamente como havia desejado. Uma grande honra para ele. Um desperdício para a Casa da Noite, causada pela imprudência e excesso de confiança de Khanon. No final, eu o trouxe para as Trevas exatamente por essas características. Logo, não se deixa abater pela tragédia. Khanon se foi fazendo o que mais amava, e eu me orgulho dos séculos que ele passou ao nosso lado. A guerra, no entanto, exige clareza de visão e foco, e não sentimentalismos.

Fez uma pausa. Olhou para um canto extremamente escuro da sala, vizinho a onde se encontrava Amir. Deu uma ordem ríspida em uma lingua desconhecida por Sarosh, seus olhos, naquele momento, eram novamente o Abismo. Depois, voltou-se para sua cria como se não tivesse sido interrompido.

- Tu liderarás minha casa juntamente a Sybilla e sob o comando de meu irmão Ventru, que será nosso General no último assalto que ocorrerá em breve. Após a vitória, pois venceremos, deixaremos este lugar. Exerci meu comando sobre Tubalcain, e em breve ele estará aqui. Não poderás, contudo, contar com Karotos, a quem enviarei ao Egito junto à Khetamon para continuar o trabalho de Osiris. Ainda hoje nos encontraremos, todos, diante do Trono Negro.

Caminhou novamente em direção ao seu Trono. Sentou-se, assumindo uma posição de lótus.

- Em caso de discordâncias entre ti e Sybilla, como mais velho, prevalece a tua palavra.

Olhou fixamente para Sarosh. Havia algo diferente em seu Senhor e o Arauto sentia. A alma de Laza era como o mar revolto antes de uma tempestade monstruosa. E Sarosh era como um barco perdido em meio àquele mar. Assim como todos os outros filhos e netos.

- Concederei a ti, somente neste momento, a capacidade de apagar o Sol do céu. Nós atacaremos durante o dia, e todos os meus filhos deverão estar sob o meu comando estreito durante este feito. Após a batalha, trate de avançar teus conhecimentos pessoais no comando do Abismo, para que possas utilizar tal dom, se necessário e somente se necessário, sem a necessidade de minha presença. Você é o meu arauto, e os teus conhecimentos devem servir de exemplo para teus irmãos. Portanto, não fique para trás. Me deixem sozinho, agora, a menos que tenha algo relevante para me comunicar. Os encontrarei no Trono Negro, depois de cuidar de assuntos pessoais.

Dito isso, recostou-se em seu trono e fechou os olhos.
Sarosh
Sarosh
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A Torre de Laza Empty Re: A Torre de Laza

Ter Ago 14, 2018 7:56 am
Laza havia mudado.

Daharius sabia, desde a fatídica noite da morte de Amarantha há trinta anos atrás, que todos eles mudariam. Seu Pai parecia mais distante, mais focado em seus objetivos e mais poderoso. Sorriu, levemente, ao constatar a mudança que também lhe acometia.

Tempos atrás, Daharius exaltaria-se com alguns dos comentários e desafiaria as palavras de seu Senhor em memória à Khanon. Não mais. A Guerra e a perda de seus irmãos clareou a sua visão tomada por sentimentos diversos. Novamente, assim como se deu em Khemet, ele tinha um Dever a ser cumprido e nada mais importaria até que ele o fosse.

Mashkan-Shappir cairá sob a espada dos treze, tendo como General da Casa da Noite Daharius Sarosh.

Somente após isto, tornará a preocupar-se com todo o resto. Direcionou um olhar austero para Sybilla. Denotava firmeza e a convidava para a batalha vindoura, a seu lado, através do abismo que habitava em seus olhos. Era visível, a todos, que Daharius também tinha mudado.

Em sua presença residia a ordem, a autoridade e o dever. Nada mais. Sem julgamentos ou dúvidas. Sarosh foi moldado pela guerra e pela perda. Emanava sua presença impositiva quando a posição de liderança lhe foi destinada e assim deveria ser.

Limitou-se a responder seu Pai após o decreto deste.


- Será feito.

As sombras agitavam-se sob seus pés, conforme suas tatuagens deslizavam sobre a sua pele. Os olhos estavam ainda mais escuros. Eram, assim como os de Laza, tomados pelo Abismo. Foi então que uma pequena sombra no queixo de Kurush-Amir, formada pela lúgubre luz do local, deslizou rumo a seu ouvido e sussurrou.

"Cabe a ti, Filho Amado, cuidar para que eu não vá tão longe quanto Ele."

Passeou o olhar até encontrar o de Amir, passando por Sybilla, antes de encerrar.

- Acompanhem-me, irmã e filho, até o Trono Negro. Há o que se discutir estrategicamente sobre nosso avanço. Faremos no caminho.
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