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O Trono Negro Empty O Trono Negro

Ter maio 15, 2018 6:25 am
A Fortaleza, construída séculos atrás, havia resistido a tudo. Continuava a observar, imóvel e incólume, Nippur e suas imediações. Assentada na parte mais alta da cidade, uma pequena colina próxima aos portões do norte da cidade, foi testemunha de inúmeras vidas, mortes e retornos. Não era uma construção alta, contava apenas com o andar térreo. Os muros escuros haviam sido projetados por Irad, O Forte, para suportar qualquer tipo de invasor. As defesas místicas haviam sido pensadas pela bela Zillah e estavam ativas mesmo após a sua morte; os cainitas as sentiam, embora não soubessem do que eram capazes. Um muro separava o local do restante de Nippur, pois os Filhos de Set não eram permitidos ali. Aquele era o santuário da Prole de Caim, símbolo de sua força e tenacidade.

Os muros eram negros, com duas torres que forneciam proteção. Sua forma era aquela da base de um Zigurate e sua coloração também era escura. Havia sido erigida com pedras escolhidas pelo Pai Sombrio. Dispunha de somente uma entrada, embora os túneis escavados sobre a colina e sobre a cidade ligassem a Fortaleza aos refúgios pessoais de cada um dos netos de Caim. Não haviam plantas ou animais ao redor, e a terra sob a construção era ressecada e enegrecida. O céu parecia estar sempre mais escuro ali, e os relatos diziam que mesmo durante o dia a luz do sol parecia não atingir inteiramente a construção, que permanecia numa penumbra eterna. Diante dos muros repousavam inúmeros vasos, das mais variadas formas e tamanhos, reletos de Vitae fresca e coagulada. Eram as oferendas dos habitantes de Nippur aos Deuses daquela morada.

Um vento frio acariciou a pele dos cainitas quando atravessaram os muros. Se viram diante da passagem que dava acesso à Fortaleza, uma simples passagem escavada na pedra. Os muros da construção não continham inscrições, diversamente da maioria dos refúgios dos netos de Caim. Eram perfeitos em forma e corte, refletindo a natureza perfeccionista do filho mais velho de Caim, Ynosh, que o havia projetado em honra a um Pai que jamais havia pisado ali.

Era curioso, porém, que mesmo aqueles que haviam projetado a Fortaleza jamais tivessem estado no local.

Segundo se contava, a Fortaleza havia sido pensada por Ynosh e Caim, como uma construção que imortalizaria no tempo a Prole de Caim e, como tal, deveria ter sido construída na cidade que havia antecedido Nippur, destruída pelo Dilúvio enviado por Aquele Acima. Ynosh teria compartilhado o planejamento com seu filho mais velho, Ventru que, após a fundação de Nippur, ordenou que a Fortaleza fosse construída seguindo os planos originais, como uma forma de honrar a memória de seu Pai e do Pai Sombrio. Os cainitas mais cínicos, porém, identificam um certo sentimento de culpa dirigindo o processo. O fato é que a construção foi erguida, embora jamais tenha sido completada em conformidade com o planejamento original. Simplesmente não era possível, segundo Ventru.

Passaram pelo longo corredor de pedra antes de chegar ao salão onde repousava o Trono Negro. Ali havia sido inserida uma réplica do Trono Negro de Caim, uma estrutura escura e onipresente, localizada na parte mais alta da sala, que era organizada em plataformas. Abaixo deste, repousavam os Três Tronos de seus filhos. Todos estavam vazios e ninguém jamais os havia ocupado. Eram parte da memória da Prole de Caim, bem como um aviso. Onde quer que estivesse, Caim olhava e julgava seus descendentes.

Abaixo, os treze. Os tronos eram exatamente iguais uns aos outros, posicionados de frente para o local que a última descendência do Pai Negro, seus bisnetos, ocupavam. Era comum que cada uma das famílias se agrupasse imediatamente diante do seu Fundador. Estavam, porém, na parte mais baixa, metaforicamente submetidos a uma tripla autoridade, ainda que parte dos indivíduos que a exerciam não mais existissem.

A sala era simples. Nenhuma parte do Forte continha inscrições ou decoração, uma ode à simplicidade do Pai Negro, segundo Ventru. Nenhum dos Fundadores, porém estava presente. Na parte mais baixa, alguns cainitas esperavam. Foi possível identificar Tammuz e Mi-Ka-Il, descendentes de Arikel. Nakurtum se encontrava em outro campo. Os Filhos de Ventru, reunidos, esperavam por seu Pai, assim como os Filhos de Laza, à exceção de Karotos. Samiel, belo e resplandecente, cumprimentou-os quando entraram, assim como fez Japhet, Filho de Cappadocius e o mais velho de todos os cainitas daquela geração.
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Qua maio 16, 2018 2:19 pm
Não demorou muito. A chegada daqueles que concederam o Dom das Trevas a cada um dos vampiros presentes foi sentida no Sangue, na alma, nos ossos de cada um. Era uma ligação misteriosa, mas os filhos dos Treze sempre sabiam quando seu Senhor estava próximo. As famílias eram distintas, mas as sensações eram iguais para todos. Era um misto de adoração e respeito, que provinha das próprias fundações de cada um deles. Não era, porém, uma idolatria cega. Talvez não fosse sequer um efeito do poder dos Treze. Alguns cainitas identificavam estes sentimentos como amor, outros como submissão, cada Família tinha suas próprias interpretações sobre o fenômeno. O consenso dizia que era impossível não perceber a chegada de um deles, que o Sangue do Filho estaria para sempre ligado ao Sangue do Pai.

Entraram, divididos em pequenos grupos.

À frente de todos estavam Laza, Haqim e o Estrangeiro. Eram figuras extremamente contrastantes. A pele escura de Haqim e seus modos graciosos chamavam tanta atenção quanto a palidez lunar de Laza, com seu caminhar confiante e orgulhoso. Dialogando com ambos, estava o Estrangeiro. Sua pele era estranhamente arroxeada, como a de um homem afogado. Os lábios estavam ainda mais escuros, assim como os cabelos, brilhantes como o mar à noite. Vestia o mesmo manto de viajante, gasto e puído, que em nada se assemelhava ao manto escuro, finamente trabalhado, que ostentava Laza. Haqim parecia preferia menos pomposidade: usava somente um saiote, os músculos bem definidos expostos.

Era curioso como aqueles três pareciam se encaixar. Exalavam poder e autoridade, ainda de que formas diferentes. Eram profundamente diversos, ainda que iguais. Para os três, a força era um elemento dominante, o físico, a matéria era extremamente importante. Contudo, era necessário superá-la, fosse tornando-se uno com a Escuridão, com o Sangue ou com a Terra.

Se sentaram. Haqim e Laza cumprimentaram, com um aceno de cabeça, seus filhos.

Alguns segundos se passaram antes que uma voz feminina fosse ouvida no corredor. Falava apressadamente, mas com uma fluência invejável. À esta, respondeu uma segunda voz, calma, quase infantil. E o mundo, o mundo mudou.

Quando Arikel entrou no salão, era óbvio que nada de feio, violento ou desagradável poderia existir no mesmo mundo que aquela criatura. Era bela. A coisa mais bela que todos jamais haviam visto. E a haviam visto várias vezes, mas o sentimento sempre se repetia. Inspirava amor, paixão e desejo, e todas as coisas que acompanham estes sentimentos. Mas, ao mesmo tempo, inspirava temor. Não respeito ou admiração. Temor. Se contava que Arikel havia sido a primeira de todos, a despeito dos protestos dos filhos de Ventru. Artista, guerreira, profeta. Conjugava em si todas as qualidades.

Ninguém tinha uma definição precisa para Arikel. Os detalhes sobre sua aparência mudavam de acordo com que os descrevia. Alguns elementos, entretanto, eram permanentes, e eram estes que os cainitas viram predominar naquele momento. Um corpo longilíneo e elegante. Pés descalços. Pele alva, mas não pálida. Braços longos e finos. Os cabelos castanhos-fogo, encaracolados, cascateavam pelas costas, formando arcos perfeitos. O rosto era divino, transcendental. Era diversa, diversa das mulheres da região. Os olhos eram de um verde intenso. Todo o conjunto era jovem, se dizia que Arikel havia sido trazida à noite com não mais de dezenove anos.

O mundo mudou novamente. Os filhos do Estrangeiro, Enki e Gallod, se sentiram confortáveis, pois era uma sensação parecida àquela emanada por seu Pai. Era Malkav, quem entrava. Não havia nada nele que fosse diferente de sua irmã gêmea, Arikel. Contudo, nada era semelhante. Tinha um passo lento, cansado. O físico era como da irmã, esguio, mas aparentemente mais frágil. Os cabelos eram da mesma cor dos dela, com os mesmos cachos, e lhe caíam igualmente pelas costas. Os olhos eram de cores diferentes, um castanho muito escuro e outro muito claro. O nariz era pequeno, como o da irmã e a boca fina, quase inexistente. Era sabido que Arikel e Malkav tinham vindo do Oeste. Sorria com facilidade, Malkav. E, quando o fazia, como naquele momento, a sensação geral era de estar em meio a um vórtice imenso, com uma capacidade infinita de destruição, mas que começa, sempre,
como uma brisa ligeira.

Depois dos dois, foi Saulot quem adentrou o salão. E então, ela veio. A certeza. Certeza de que tudo daria certo, todos os desafios seriam vencidos e todos os inimigos esmagados. Saulot era um otimista de natureza, e isso se propagava àqueles ao redor. O Pastor era o mais ruborizado de todos os Treze, com a pele ligeiramente bronzeada. Os cabelos eram castanho-claros, mas com leve tonalidades de dourado: Saulot havia sido um pastor, um homem que trabalhava sob o sol. Os olhos, porém, eram extremamente escuros, inquietantes, destoavam da aparência angelical. Uma barba curta cobria sua face angular, também queimada de sol, com marcas de expressão profundas como as fissuras da terra. Quando sorria essas marcas se tornavam mais acentuadas, dando-lhe uma expressão ligeiramente orgulhosa, mais autoritária.

Saulot tinha marcas no corpo, cicatrizes jamais curadas totalmente. Não falava sobre o assunto. Os corpos de Arikel e Malkav, por outro lado, eram imaculados, sem marcas ou sinais, quase artificiais, o dela mais que o dele. Cumprimentaram seus filhos - Saulot saudou Samiel, único de seus filhos que estava presente, com um forte abraço.

Em seguida, adentraram Ventru e Capaddocius. Naquele momento as sensações se tornaram conflitantes. Capaddocius era pálido, ainda mais do que Laza, de aparência frágil, quebradiça, com o corpo coberto por estranhas tatuagens indecifráveis. Parecia ter sido Abraçado muito jovem, mas sua postura era como a de alguém muito mais velho. Os cabelos eram escuros e curtos, o nariz bastante longo e os lábios bem marcados. O rosto, porém, era fino e encovado. Não obstante, vestia-se muito bem, com um saiote escuro e uma bata a cobrir-lhe o torso, além de sandálias de couro. Era altivo, embora de uma maneira não régia. Era altivo em razão do que sabia. Pois Capaddocius sabia mais do que todos os outros sobre O Mundo Além Do Mundo, e isto influenciava na aura que emanava. Era hostil e acolhedora. Fria, mas ao mesmo tempo morna como um abraço. Sufocante e libertadora. Era como o mundo. Como a Morte que tanto adorava.

Ventru, por outro lado, era uma força. Era grande, intenso, nobre. Era belo e altivo, gentil, agressivo e adorável. Ventru era alto, com o corpo de um guerreiro. Pernas longas e fortes, braços bem trabalhados. Era o mais alto dos Treze e o fisicamente mais impressionante. Ostentava uma cabeleira vasta, como a de Laza, mas de cor clara, quase alourada. Ventru também não era da região. Seus olhos eram azuis como o mar que poucos haviam visto, o nariz equilibrado acima de uma boca generosa. O rosto era quadrado, com linhas bem marcadas, intensas. Mas, acima de tudo, Ventru era inspirador. Na sua presença, todos sentiam-se capazes de mover o mundo. Nada era impossível, nada era invencível, exceto, talvez, a Morte representada ao seu lado. Mas não tinham os cainitas vencido a Morte? O sorriso confiante de Ventru parecia confirmar que sim, que não existe inimigo capaz de derrotar a raça cainita.

Por último, entraram Ilyias e Sutekh.

Ilyias era um belíssimo homem. Cabelos escuros, cacheados e bem aparados, embora com vários fios brancos. Barba espessa, também escura, que contornavam uma boca generosa. O nariz era médio, os olhos castanho-claros. Ilyias era um homem comum. Belíssimo, mas comum. Pertencia a todas as etnias e a todos os lugares. Seu porte era mediano, sem exageros, mas atlético. Vestia-se sobriamente, com uma túnica marrom. Caminhava descalço.

Mas a sua presença, essa sim era a mais incomum de todas. Ilyias existia somente na mente de cada um dos presentes. Ilyias estava e não estava ali, existia e não existia. Ilyias era uma possibilidade. Todos o eram. Subitamente, era como se fosse possível visualizar todas as cadeias de eventos que levaram cada um deles até aquela sala. Era como se o passado fosse uma tabuleta, ou várias, que pudessem ser revistas. Na verdade, muitos cainitas apreciavam a companhia de Ilyias. Amores, família, riquezas e batalhas, tudo parecia flutuar no ar, ao alcance da visão.

Sutekh era o mais belo cainita de sexo masculino de Nippur, talvez menos belo que Malkav, embora de aparência mais real. Emanava uma aura de calma, de confiança. De Fé. Os cabelos eram curtos, crespos, bem cortados. O rosto era perfeitamente simétrico, fino. Sob os olhos castanho-avermelhados repousavam tatuagens tribais de Khemet. O físico era o de um guerreiro, de um caçador. Quase tão alto quanto Ventru, embora menos musculoso e aparentemente mais ágil. Os dedos eram longos e finos. O nariz era largo e os lábios particularmente grossos. Sutekh vestia-se elegantemente, com um saiote claro, de algodão. Colares e pulseiras de bronze decoravam seu corpo, acompanhados de belíssimas pedras preciosas.

Sutekh era a Tempestade. Na sua presença nada parecia ter sido feito para durar. Não era uma instabilidade como a emanada por Malkav ou aTranscendência d'O Estrangeiro. Não, era destruição pura e simples, embora não sem propósito. Sutekh era o furor da batalha, era o flagelo do inimigo. Subitamente, o tema da reunião pareceu ter muito mais relevância e urgência. O inimigo se movimentava. Era hora de esmagá-lo.

Quando todos se sentaram e seus filhos se agruparam. Ventru rompeu o silêncio. Sua voz ecoou, forte como a aurora, por todo o salão.

- Eu dou as boas vindas aos meus irmãos e aos nossos descendentes. Esta é a nossa casa. Nela, valem as leis de nosso Pai. Convoco um de nossos filhos para proceder à explicação da situação. Após este momento, discutiremos como iguais e chegaremos a uma decisão.
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Qua maio 16, 2018 8:56 pm
*Daharius Anun-Har Sarosh caminhou até a fortaleza negra, aquela projetada à imagem da mítica construção que abrigaria o Primeiro e sua descendência.

Parou por algum tempo no caminho, observando a ode em representação ao que ela teria sido. Grandeza. Imponência. Falha.

Sorriu, profunda e sinceramente. Era um sorriso curto mas repleto de significados. Aproximou-se de seus iguais, cumprimentando-os com leves inclinações em sua face até vislumbrar Samiel. Ah, um dentre tantos que lhe despertavam o interesse resultante em conversas infindáveis e momentos de reflexão sob a luz parca das estrelas da vastidão.

Talvez dentre todos os primos, apenas Amon e Samiel compreenderiam - de fato e completamente - as palavras que Daharius faria serem ouvidas naquela reunião. O Filho de Ilyas porque, como nenhum outro, sente o peso das decisões em seu coração morto e a dispor das consequências e dos caminhos tortuosos não se furta em tomar o caminho mais difícil e doloroso.

A Cria de Saulot porque, ainda neste âmbito, compreende melhor que nenhum outro o valor da doação e do sacrifício pessoal. Estava em seus olhos, sua postura e suas palavras de tantas noites em debate com o Segundo filho de Laza.

Seus olhos passaram pelo salão após a entrada de seus tios. Eles eram, acima de qualquer outra definição, hipérboles daquilo que representam.

Impossível desviar os olhos da vibrante beleza e do temor causados por Arikel. Empalidece os conceitos triviais do belo e demonstra, com certa ironia, como a mais bela das flores pode engolir os insetos que nela ousam repousar.

A animalidade graciosa de Haqim era um lembrete claro e direto. Não havia um só presente naquele salão que não fosse capaz de mover céus e terras em um único movimento. Olhar para ele era ter a sensação de que um gesto daquele ser seria capaz de dividí-lo em dois. Ainda sim, com toda essa capacidade, eram seus movimentos precisos e repletos de perfeição que chamavam a atenção. O poder comedido, a capacidade controlada.

O Estrangeiro? Sarosh voltou a sorrir, leve e rapidamente, ao olhá-lo. A mudança, o novo, o incerto. Sua existência hiperbolizava o passar constante da vida e as vicissitudes que ela traz. Do nascer ao envelhecer e perecer ao tempo de tudo que é vivo.

Tempo. Ali estava Ilyas, o Pai de Amon a quem aprendeu a admirar. Estava? Talvez não mais, talvez nunca estivesse ou ainda sempre se fizesse presente. Olhá-lo era como lembrar-se de algum evento. Detalhes que se perdem na forma como as memórias vêm e outros que parecem surgir quando menos esperamos. Havia pressa e toda a calma do mundo no olhar daquele vampiro.

Tem o tempo um fim? Uma pergunta a ser feita à Amon, em noites mais calmas que certamente virão. Nesta, a única certeza é de que a vida e, mesmo a não-vida, possuem um fim. Ou, ao menos, uma passagem para um novo início. Assim era estar na presença de Capaddocius. Quão pequenos nos vemos quando pensamos que tudo pelo que ansiamos está deste lado e apenas deste lado. Ele conhecia mais, sabia mais e, sem dúvidas, sofria mais que os demais.

Foi quando destinou seu olhar a Saulot que a tristeza lhe fugiu, como uma sombra a correr da luz. Havia nele a certeza da luta justa e da vitória certa. Não sem sacrifícios, não sem dor, mas com propósito. Era ele a inspirá-lo naquele momento ao que deveria falar, embora se sentisse - ele, o segundo mais velho criado por Laza - pequeno diante de tantos seres com existências quase incomensuráveis.

Sorriu novamente. A mesma palavra retornava. A Falha.

Viu Malkav e mudou. Mudou da sensação de pequenez diante daqueles gigantes para a certeza da possibilidade. Da tentativa sagaz e da ação que reverberará por aqueles muros e se converterá em atitude dos demais. Ah, Malkav, o que ele via em todos os outros que Sarosh jamais seria capaz de ver? Admirava-o, honesta e sinceramente, talvez fosse ele o único a ver tudo e todos de fora. De fora de seus conceitos, de seus modos, de sua forma linear de pensar.

Ironicamente, foi a visão de Ventru que o incitou a agir. Inspirador. A figura que faria com que qualquer guerreiro se lançasse - sozinho - contra um exército inteiro sem qualquer temor em seu coração. Vivo ou não. Majestoso e impositivo. Ventru emanava poder e sua figura engrandecia a existência dos que habitam a noite.

Hipérbole, uma vez mais.

Deu um passo à frente e foi para ele que olhou antes de falar. E, através daquele breve olhar, lhe disse o imenso respeito e orgulho que possui em ser quem é. Olhava Laza Omri Baras e indicava, com sua postura e em seus profundos olhos negros, que provavelmente o desagradaria com sua próxima ação.

Não seria  a primeira vez e, certamente, também não seria  a última.

Caminhou lentamente destacando-se de seus primos, avançando alguns passos. Usava somente um saiote negro como seus olhos, cabelos e barba. Seu torso nú, mais longilíneo que protuberante, era coberto por tatuagens escuras que não mais dançavam. Estavam estáticas, como se aguardassem a vontade de seu mestre para que se movessem.
Parou mantendo uma distância respeitosa e, se possível, igualitária entre seus primos e tios, ficando exatamente no meio dos dois destacamentos enquanto sua voz tomou o recinto.
Falava em tom brando, porém firme. Havia algo em sua voz que a tornava agradável, forte ou impostiva a medida que suas palavras eram ditas. Era a sensação de que tudo o que falava se tornava maior. Se tornava, hipérbole.*


- Tomarei a palavra e pedirei aos Senhores, Primos e Tios, que as considerem como a avaliação das informações coletadas e a expressão única e exclusiva de Daharius Sarosh.

- Neste momento eu não falo por qualquer um dos presentes e, mesmo sendo o Segundo Filho de Laza e atualmente o mais velho a estar em Nippur, minhas palavras não representam a voz de meu Pai ou de meus irmãos.

- Apenas Sarosh fala e apenas a ele deverão ser atribuídos os julgamentos morais - mesmo que mentais e não ditos - que serão feitos quanto às minhas palavras.


* Fez uma pausa, queria fixar as palavras iniciais nos ouvintes. Em seguida, olhou a Fortaleza por alguns segundos e prosseguiu*

- Uma Ode belíssima. Grandiosa, inspiradora e também uma demonstração clara de nossa posição. Aqui estamos e nos colocamos, acima e para além do alcance dos mortais.

- Aqui, os filhos de Set não são bem-vindos, pois este é o santuário da prole do Pai Sombrio. Símbolo de sua força e tenacidade.

- Símbolo, também, de nossa falha.

* Novamente pausou, olhou Amon por algum tempo, embora o tempo para ele possa ter passado de forma distinta. Talvez o filho de Ilyas não soubesse, mas era na paz daqueles olhos que sabiam que para tudo existe o momento que Sarosh buscava forças, quando elas ameaçavam lhe faltar.*

- Poderei ser um tolo a julgar as informações que trarei antes dos Senhores e do Conselho que aqui se faz presente. E serei, se necessário for, pois é de minha natureza pecar pela ação ao invés de falhar por omissão.

- O farei, pois é impossível trazer as informações sem imbuir nelas a carga de sentimentos que elas me infligem.

- Construímos símbolos de nossa superioridade ao longo do séculos - milênios para os mais antigos - e construímos também uma imagem junto aos mortais. Alguns chamam tal imagem de divindade. Outros acreditam que o bem se faz presente quando estendemos nossas mãos e dons sombrios aos que vivem, abençoando-os, auxiliando-os e clamando por seus sacrifícios.

- Sim. Sacrifícios. Desde a destinação de parte de seu tempo dedicado à orações ao tributo em sangue se fazem notar como sacrifícios. A extensão e o limite deles é somente dada pela quantidade de fé que cada adorador possui e - o mais assustador - da vontade da divindade que ele cultua.

- Há poucos homens, mulheres e mesmo crianças abaixo desta fortaleza que não dariam todo o sangue que possuem, se esvaindo em crença e perdendo sua tão preciosa vida no processo, se qualquer um dos Senhores assim pedissem, exigissem, deliberassem.

- É fácil esquecer que nós viemos da exata condição de todos aqueles abaixo de nós. Fomos mortais e a nós foi concedido o dom das trevas, cada um a seu tempo e por razões específicas que não nos pertenciam.

- Não. Não nos pertenciam. Foram os nossos senhores que nos escolheram e nos trouxeram para a noite eterna. Isto, Senhores, não nos torna Deuses e embora tenhamos  a tendência a esquercer desse fato, o nosso inimigo está prestes a nos lembrar de uma forma dura e devastadora.


* Fez uma nova pausa. Daharius olhou unicamente para seu Pai, Laza, pois somente na escuridão contida daqueles olhos encontrava conforto não importava a situação a ser enfrentada. Se Amon lhe conferia forças, Laza o impulsionava a usá-la por aquilo que acredita ser correto*

- Um objeto místico que será melhor descrito por meu sábio primo, Ya'hub, ou talvez por seu Criador, Haqim, está em posse dos que reinam em Mashkan-Shappir. Um ritual que é de conhecimento do inimigo é capaz de atingir todos os que integram determinada linhagem de sangue através daqueles que os cultuam.

- De forma simples, eles seriam capazes de atingir Arikel, Ventru e meu próprio Pai e também toda a sua linhagem através do mais fraco dos elos que criamos: os que depositam sua fé em nós. Desta forma, um simples sacerdote poderá significar a morte-final, o controle ou o que quer que eles planejem para qualquer um de nós, ou mesmo todos os que aqui estão presentes.

- Tal afirmação provém das capacidades de caminhar no tempo de Amon, que viu o sacrifício de uma sacerdotisa. Da visão de Gallod que profetizou o fato e vislumbrou ainda mais, o surgimento de um Arauto. Das palavras de Ya'hub, que localizou a tabuleta em Mashkan através de suas capacidades místicas e das informações de seu Pai, Haqim.

- Embora eu não possua os detalhes do ritual, tal descrição me faz pensar. Se o objeto e o poder místico consegue atingir os que possuem a mesma linhagem, talvez atinja a todos nós. Pois não somos todos descendentes do Pai Sombrio a quem erguermos esta Ode? Possuímos distanciamentos de sangue diluídos, sim, mas a nossa origem é única.


* Buscou Saulot com o olhar. Embora Ventru inspirasse a todos, era ele que simplesmente por existir passava a sensação de vitória. Talvez fosse ele a hipérbole da esperança. Continuou*

- Não me coloco como um passivo observador de nossas falhas, senhores. Fui eu incapaz de controlar os ímpetos de minha família e há, dentre meus irmãos, um que é visto como Deus nas terras que governa. Talvez o que emane a maior quantidade de fé em todo o Crescente Fértil e, através do mais humilde de seus clérigos, o inimigo pode ter acesso a meu Pai.

- Isto me assusta, me causa agonia e irritação. Falhamos, falhamos sequencialmente.Não precisamos nos colocar na posição de Deuses. Não somos e não há a menor necessidade de exalar tal existência.

- Um leão não sente a necessidade de se autoafirmar para as moscas que o circundam. Ele simplesmente é. Cabe a natureza seguir o seu curso.


* Olhou para Enki, antes de prosseguir*

- Estava pronto para dizer que falhamos em permitir que a ferida aberta que é Mashkan-Shappir continuasse a existir. Que já deveríamos tê-la esmagado, como insetos indesejáveis.

- Vejo meu Primo, Enki das águas escuras, aquele que os povos também cultutam como o Senhor do Abzu. Vejo a sabedoria do Estrangeiro a trazê-lo para a família. Testemunhei sua capacidade mística que, sem dúvidas, pesará na balança a nosso favor.

- Contenho meu ímpeto ao saber que ele é originário de Mashkan e, mesmo tendo vivido abaixo dos olhos do inimigo e sofrido seus abusos, tornou-se um de nós e está do nosso lado em um momento decisivo.

- Como praticante das artes místicas que meu sangue me possibilitam, indico claramente que um ritual de tamanha complexidade exige sacrifícios enormes. Talvez por isso, seja de interesse do inimigo deflagrar uma guerra pois, como a visão do sábio Gallod indicou, do sangue derramado se levantará o primeiro e último Arauto.

- Talvez tudo não passe disto, de trazer à terra que pisamos um ser indescritível. E, me causa um tremor involuntário pensar na possibilidade de que nós, todos nós, poderemos ser o sacrifício necessário para tal.


* Olhou Amon, uma vez mais*

- Talvez haja um tempo para tudo, afinal. Por isso, Senhores, eu clamo que este seja o tempo da decisão final e irremediável.

* Ergueu o olhar e o passou sobre todos os antigos. Um a um. Não havia mais incertezas ou qualquer indício de fraqueza em sua postura. Isto não lhe cabia mais, não neste momento*

- Avaliem. Discutam. Deliberem. Façam o que lhes parecer mais justo e correto. Mas o façam agora e com decisão. Não há mais espaço para discordâncias e intrigas, fragilidades e dúvidas.

- Mashkan e os seus precisam ser extintos, de uma única e decisiva vez.

* Sarosh era, agora, a Hipérbole da decisão*
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Qua maio 16, 2018 11:26 pm
Ali, diante do Trono Negro e em meio aos representantes de sua espécie, Ya'rub sorria. Cá estavam: os supostos deuses da Noite e seus filhos. O poder reunido sob aquele teto era quase incomensurável. E esse mesmo poder se manifestava a partir de diferentes expressões, encarnadas nos corpos mortos dos amaldiçoados por Cain. Esperança, beleza, sabedoria, medo, força, morte. Cada neto do Primeiro Assassino representava a epítome de uma dessas expressões.

E ainda assim, ali estavam todos eles, com medo. Ya'rub sabia que sempre houve medo do inimigo, mas agora este sentimento era paupável no ar. Tanto poder, reunido em tão poucas mãos, para no fim se reunirem para agir diante do medo.

Lá estava Arikel, a beleza eterna e sublime. Com medo de perecer diante da perversão dos infernalistas.

Lá estava seu irmão Malkav, a sabedoria advinda da incerteza e da inconstância da mente. Com medo da loucura destruidora dos infernalistas.

Lá estava o nobre Saulot, a certeza da vitória justa. Com medo de que essa mesma certeza também move os infernalistas.

Lá estava o altivo Laza, o poder sobre a escuridão. Com medo de que os infernalistas também conheçam o poder do Abismo.

Lá estava, esteve ou estará Ilyias, com memórias do presente, do passado de dos futuros possíveis. Com medo do além-tempo onde residem aqueles que os infernalistas veneram.

Lá estava Cappadocius. Dentre todos os pais, este era o que Ya'rub mais admirava depois de Haqim. O criador do Clã da Morte conhecia parte do Mundo Além do Mundo. E, ainda assim, esse conhecimento não lhe retirava o medo do poder que os infernalistas também tinham sobre a alma dos mortos.

Lá estava Sutekh, amigo de seu Pai. A destruição, a tempestade e o vento do próprio deserto. Com medo da entropia representada pelos infernalistas.

Lá estava o Estrangeiro, a mudança eterna e a capacidade de transcender a própria natureza. Com medo do possível fim de sua evolução, quando os infernalistas trouxerem o fim de tudo.

Lá estava Ventru... o mais alto, mais orgulhoso, mais poderoso entre todos os seres. Com medo do fato de que representa tudo aquilo que um infernalista procura.

E por fim, lá estava seu Pai, Haqim. O juíz. O professor. O guerreiro. O que seu Pai temia? Sabia que os infernalistas o aterrorizavam. A própria existência de Ya'rub era parte de um plano para enfrentá-los. Mas por que?

Quando Sarosh tomou a palavra e fez seu longo discurso, Ya'rub abriu ainda mais seu sorriso. As palavras do Filho de Laza soaram como música para seus ouvidos. Sarosh não poupou críticas e disse tudo o que deveria ser dito. Ao menos, tudo aquilo que Ya'rub pensava que deveria ser dito. Quando o Místico do Abismo ficou em silêncio, o feiticeiro se adiantou. Aproveitou a menção de seu nome para se levantar e se dirigir ao centro do salão do Trono. Aproximou-se de Sarosh e tocou-lhe o ombro, sorrindo.

- Falastes aquilo que é importante, primo meu. Eu não retiraria nenhuma palavra de seu discurso. Só posso endossá-las.

Ya'rub circula o olhar entre os presentes e levanta o tom da sua voz, para ter certeza de que será ouvido por todos.

- Há algumas noites, uma tabuleta recuperada por um dos meus irmãos, em uma viagem que fez às margens do Rio Indo, caiu nas mãos de nossos inimigos. Essa tabuleta contém as instruções para a realização de um poderoso ritual, cujo criador ainda é desconhecido por nós. Esse ritual, quando realizado, permite colocar em curso um efeito perverso de magia simpática. Ele perverte os corações e a vontade de adoradores, para assim atingir aqueles que são adorados. Trata-se de uma mágica complexa, cuja elaboração toma tempo e requer preparo. Mas nossos inimigos já começaram, tal como os senhores puderam ouvir pelas palavras de Sarosh. Eu não tenho dúvidas, conhecendo as habilidades dos governantes de Mashkan-Shapir, que eles são capazes de executar esse ritual. Eles são como nós, compartilham nosso sangue. Se somos capazes de algo, eles também o são.

Ya'rub olha para seu pai, sentado na terceira fileira dos tronos.

- Meus tios e meus primos. Eu não ficarei aqui pedindo desculpas por minhas opiniões e julgamentos. Eu lhes devo respeito. A própria configuração arquitetônica desta sala e deste templo é uma lembrança constante de como eu e meus primos devemos respeitá-los. Mas não me privarei de expressar o que penso, pois acredito que a prova desse respeito é não poupá-los de minhas humildes palavras.

O feiticeiro levanta o braço magro e aponta para Sarosh.

- Sarosh está correto. O segundo Filho de Laza lhes disse a verdade sem nenhum artifício. E por isso vejo nele um líder. Vejam: um líder! Não um deus... Não somos deuses, amados Senhores. Nunca seremos. Somos espíritos presos em nossos corpos já mortos. Nada mais, nada menos.

- O medo que sentimos hoje, diante de notícias tão terríveis, é em parte resultado de nossas ações. Pois se tivéssemos tratado os mortais de outra forma, o que sentimos hoje poderia ser diferente. Assumimos uma posição de superioridade, esquecendo que todas as coisas têm seu lugar sobre o céu. E não venham me dizer que fazemos é uma troca. Em troca do sangue, poderão dizer alguns, damos proteção, prosperidade, esperança e sabedoria. Faríamos o mesmo se, ao invés de depositarem o sangue e nos venerarem, viessem bater em nossa porta com e dissessem "Cá está nosso sangue, agora cumpra com sua parte"? Se no lugar de orações e súplicas, viessem até nós para negociar? Se ao invés de templos, construíssemos mercados? Mesas horizontais, ao invés de altares?

Ya'rub fica em silêncio, buscando decifrar as reações. Antes que alguém responda, ele continua.

- Senhores, novamente, reforço que não é minha intenção ofendê-los. Mas sabem o que nos diferencia dos infernalistas que tememos? Não é aquilo que somos, pois somos a mesma coisa. O que nos distingue é o modo como fazemos. Os infernalistas suplicam aos seus deuses negros. Eles veneram criaturas antigas. Em troca, eles recebem algo. Esse algo, porém, são sempre migalhas. Não devemos trilhar o mesmo caminho. Sigamos por outra rota enquanto é tempo.

Ao terminar, Ya'rub faz uma reverência e fica em silêncio.
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Qui maio 17, 2018 1:43 am
*A fortaleza e o trono eram, acima de qualquer coisa, um monumento ao amor. O amor D'Aquele Acima, que trouxe tamanha mudança ao Seu mundo, o Amor do Pai Eterno, o primeiro dentre os filhos do sangue, que teve a audácia, a visão de construir a Primeira Cidade. Amor de seus três filhos, que decidiram que o dom do sangue deveria se espalhar pelo mundo, e o amor dos Treze, que tão gentilmente tiraram o fardo da liderança de seus pais, e agora tomavam o fardo da responsabilidade sobre si. Bem, não todos os Treze, mas o suficiente.*

*Haqim, que fazia a todos na Segunda Cidade e além a gentileza de agir como a mão da justiça, sempre rápida, sempre poderosa.*

*Ilyes, a mente mais brilhante e límpida da Criação, que era difícil de definir porque nunca era, mas estava, uma existência que qualquer mente, mortal ou não, teria problemas em definir.*

*Sutekh, que possuía toda a gentileza de uma tempestade e furacão, e a limpeza e purificação trazidas por elas; muito embora seu amado Pai tenha-lhe dito uma vez que ele não passava de uma serpente diante de um dragão.*

*Cappadocius, modelo e inveja para todos aqueles que buscavam conhecimento, que fazia a gentileza de conhecer o mundo além dos vivos, para que nenhum outro o precisasse fazer.*

*Laza Omri Baras, sábio, governante, místico, guerreiro. Todos e nenhum, fluido e versátil como as sombras que definiam seu ser.*

*Malkav, cuja gentileza era saber. Talvez não como um erudito como seus irmãos Ilyes e Cappadocius, mas alguém que não apenas olhava o mundo, mas o via. E cuja percepção Enki sacrificaria muito com alegria para ter.*

*Arikel, cuja beleza era uma gentileza por si só ao mundo, pois este era um lugar mais amoroso graças à sua mera existência.*

*Saulot, que não fazia gentilezas. Ele era a gentileza. Em todas suas muitas e terríveis faces.*

*Ventru, que fazia a gentileza de liderar a todos, ainda que nem todos vissem tal ato como uma gentileza.*

*Seus tios desaparecidos: Absimiliard, cuja gentileza era mostrar aos seus semelhantes o que não ser, Ennoia, que tanto amava o mundo que nele e dele vivia, encontrando pouco tempo ou motivo para confraternizar com seus irmãos e Zapathasura, que fazia a gentileza a todos de se manter distante, pois sabia que todos assim o queriam.*

*E seu Pai, cuja existência havia transcendido nomes, definições ou mesmo a realidade. Uma visão talvez próxima da de Malkav, mas muito mais focada, por ser maleável. Como argila. Como água.*

*Deveras, aquela sala era repleta de gentileza e, por que não, reverência.*

*Sarosh fala, como um príncipe, e Ya'rub, como um sábio. Resta a Enki sorrir de forma polida e enfática quando seu nome surge no discurso de Sarosh.*


-Você me honra e presta imensa gentileza com suas palavras, Príncipe do Abismo, mas em verdade, minha origem de Mashkan-Shappir significa pouco. Significa apenas que os infernalistas me moldaram naquilo que sou, uma alma dedicada à gentileza, pois todo o resto foi lavado com água e queimado com fogo...

-Mas eu me distraio fácil, e por isso imploro o perdão aos meus amados Tios. Meus primos falam com verdade, amor e sabedoria sobre o ritual e o conhecimento roubado - a ação tomada, independente de qual for, precisa ser imediata.

-Porém, eles estão errados em algo: nós somos deuses.

*Ele sorri novamente. Um sorriso tímido e fraco, como se pedisse desculpas por discordar de seus colegas. Delicadamente, Enki põe as mãos finas e translúcidas em cima do colo enquanto continua.*

-Nenhum deus escolhe sua posição, mas sua posição escolhe ele. E são os mortais, os Filhos de Set, que criam um deus. Eles o veneram, cultuam, temem e agradecem, e dessa crença que nasce um deus. Querer, meus amados Sarosh e Ya'Rub, significa pouco; fomos feitos assim, e assim somos. O que nos resta é apenas estender uma mão amorosa e gentil para aqueles que nesta posição nos colocaram.

-Essa condição, porém, exige duas pérolas de sabedoria, coletadas do mar da existência: saber que não somos os únicos deuses, nem mesmo os mais poderosos. Pois mesmo nosso Pai Eterno encontrou Aquele Acima e Seus servos para amaldiçoá-lo, e quem mais estaria acima Dele?

-E nenhum deus é imortal *Ele olha brevemente para os três tronos vazios abaixo do Trono Negro.*. Deuses morrem quando seus devotos não os amam mais. Morrem pelas mãos de outros deuses. E é por isso que afirmo de novo, precisamos amar com força aqueles que nos amam. Precisamos estender nosso amor aos nossos servos para protegê-los, e uma mão gentil a Mashkan-Shappir, para que esta mão transforme sua carne em argila e seus ossos em poeira e vigas, para que assim, guiando de forma consciente e amorosa, transformemos a cidade em mais, muito mais do que o infeliz estado que se encontra hoje.

*Enki se curva novamente, de forma tão exagerada que parece estar num ângulo sobrenatural, enquanto fala.*

-Meu mais sentido pedido de perdão pela extensão e conteúdo de minhas palavras, amado Pai, amados tios, amado irmão e amados primos.
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Qui maio 17, 2018 2:22 pm
As palavras de Ya'rub, Sarosh e Enki ecoaram no salão de pedra. Não se ouvia absolutamente nada a não ser as vozes dos três cainitas. Expuseram a situação em que todos se encontravam, as ameaças do Inimigo e seus planos para atingir Nippur e os que lá viviam. Havia um misto de preocupação e desacordo na sala. Preocupação diante dos fatos expostos: parecia ser um consenso, ao menos julgando pelas faces dos presentes, de que o inimigo havia ido longe demais. Por séculos os Filhos de Baal haviam ameaçado Nippur e mais de uma vez conflitos abertos tinham arrasado a região. Os rumores falavam sobre a Grande Guerra, mas poucos dos presentes, além dos Treze, haviam sido trazidos à Noite Eterna. Sarosh, Enki e Ya'rub não eram sequer nascidos. Nem mesmo Amon o era, mas este havia visto, em vislumbres guiados pelo seu Pai, alguns dos efeitos do conflito.

Quando os inimigos erigiram Mashkan-Shapir, Nippur entrou em alerta. Quando o inimigo começou a se expandir, dominando os vilarejos e terras circundantes, a fúria da Cidade Sagrada se abateu com toda a força sobre os Filhos de Baal. Naquele momento, contudo, a maioria das Famílias havia subestimado o inimigo que, em verdade, ainda era fraco e inexperiente. Uma coalizão liderada por Haqim, Saulot e Sutekh conseguiu forçá-los a recuar, não sem esforço e um grande custo em vidas. As terras ao redor de Mashkan foram permanentemente marcadas pelo poder dos Três e, enegrecida, jamais voltou a ser habitada.

Outras famílias combateram ao lado dos Três. Alguns dos filhos de Laza se tornaram marechais de campo, ainda que a anuência de seu Senhor fosse um mistério, dada a sua distância de Mashkan à época. Os Filhos de Ennoia abraçaram a causa, e seu apoio foi fundamental na obtenção da vitória. Alguns dos Filhos de Ventru combateram, e o próprio adentrou o campo de batalha depois de algumas noites, após haver ponderado longamente. As outras famílias tiveram participações menores. Dos Treze, somente os descendentes de Arikel, Malkav e Japhet, à época único filho de Capaddocius não tomaram partido. Ilyias se encontrava também ausente, era a época do Abraço de Belit-Sheri, sua primeira progênie, cuja origem é núbia. O Estrangeiro estava em uma de suas longas viagens, e sua presença não foi sentida no conflito.

Naquele momento, porém, a situação era outra. O Inimigo não se limitava a conquistas territoriais mas, tendo erigido uma poderosa Fortaleza, ameaçava diretamente aqueles que adoravam os Deuses da Cidade Sagrada. E era exatamente este o ponto que parecia causar discórdia. Eram ou não eram deuses?

Foi Malkav quem quebrou o silêncio que se ergueu após a fala dos três cainitas mais jovens. Os olhos de cores diferentes brilhavam quando falou. Sua voz era límpida, cristalina, ainda que etérea, como um eco de um mundo distante e desconhecido.

- Enki tem razão.

Os olhares dos cainitas mais jovens se voltaram ao Pai do Clã da Lua. Malkav, porém, não expressou nenhum outro juízo, limitando-se a olhar para Ventru. O Pai do Clã dos Reis era um líder reconhecido pela maioria, um cainita dado a longas ponderações antes de agir. Ventru, porém, não falou. Sua expressão era um mistério, mas denotava que uma série de velozes e intensos pensamentos desfilavam pela sua mente. No lugar dele foi Capaddocius quem continuou o debate. Sua voz era surpreendentemente forte, encorpada. Quase autoritária.

- Tendo a discordar. Sarosh está correto sobre a nossa natureza.

Por um instante, pareceu a todos que se iniciaria um grande debate sobre o fato de serem ou não o que declaravam ser, o que aceitavam ser. A ansiedade nas falas foi contida quando Arikel elevou sua voz. Era muito similar àquela de Malkav, embora fosse menos etérea e mais física, quase visível.

- Nós somos o que somos. Alguns de nós atuam como Deuses, e o faz com competência e discrição, protegendo os mortais que os prestam homenagens. É uma forma de encarar a Eternidade e não há absolutamente nada de errado com ela. Outros abusam do poder, exercendo autoridade sobre os cultos, exigindo sacrifícios sangrentos. São estes que devem ser reeducados mas, se a relação simbiótica entre mortais e cainitas funciona, se esta região prosperou durante séculos desta forma, não vejo motivos para que isto se torne a pauta central deste debate. Cada um que viva como quiser, evitando, obviamente, excessos.

Arikel não olhou para ninguém em específico. Mas, dentre os presentes, não era desconhecida a identidade daqueles que, agindo como Deuses da região ou de terras mais distantes, afogavam-se em sacrifícios de Sangue e Fé. Alguns dos Filhos de Ventru, Zapathasura e Sutekh adotavam práticas semelhantes.

Saulot observava fixamente Ya'rub, interrompendo o olhar para se pronunciar.

- No entanto, como forma de encerrar este debate, que será retomado em um momento oportuno, peço que avaliem com atenção as palavras de Ya'rub. Ponderem. O que nos difere do Inimigo? Quanto tempo levará até que nossos excessos transforme Nippur em uma Mashkan-Shapir, com a única diferença que os Deuses adorados não serão personificados em touros de bronze, mas em estátuas nossas? Somos criaturas de paixão e luxúria. Nunca estamos satisfeitos. É o Sangue quem nos guia e o desejo por ele nos leva a realizar coisas inimagináveis. Considerem suas condutas individuais e se perguntem. Quão próximo estou eu do Abismo?

Laza sorriu, discretamente antes de falar.

- Procedamos ao que é importante. Ventru, qual a tua análise?

Ventru se ergueu. Por um segundo, era como se a sala escurecesse e se tornasse desfocada. Somente ele parecia ser relevante. Era uma sensação menor em relação às outras famílias, mas era notável que os Filhos de Ventru observavam atentamente seu Criador. Pareciam dispostos a qualquer coisa, qualquer ação que fosse determinada pelo seu Genitor.

Ventru, porém, foi comedido nas palavras.

- Eu aprecio as informações trazidas pelos nossos Filhos. Aprecio o desejo de urgência e de eficácia. Mas a prudência é e sempre será um elemento chave na nossa relação com Mashkan-Shapir.

Apoiou-se na mesa, inclinando-se em direção aos presentes. Sua presença era esmagadora, ainda que não impositiva.

- Nós temos uma trégua com o inimigo. Uma trégua que não será quebrada neste momento, não nos envolveremos em uma guerra aberta, não invadiremos Mashkan-Shapir. Não fomos atacados diretamente, mas o inimigo está se preparando para fazê-lo. Mandaremos um aviso. Dois, na verdade.

As reações a estas primeiras palavras eram de atenção, com algumas poucas discordâncias imediatas, notadamente de Gallod, Samiel, Haqim e Ilyias.

- Nos relembraremos ao Inimigo os termos desta trégua. Eles deverão permanecer circunscritos à sua Fortaleza. Nenhum mortal deverá ser levado a Mashkan-Shapir se não for por sua própria vontade. Aqueles que desejam sair o farão, como tem sido nos últimos séculos. A tabuleta deverá ser devolvida à Família de Haqim, e o assunto dado como encerrado. Isso será feito através de Diplomacia.

Ventru observou ao redor. Aparentemente não pretendia continuar. Estendeu a mão a Laza, indicando que seu irmão deveria falar. Ele o fez.

- Contudo, Nippur agirá. Com força e eficiência. Atacaremos as terras ao redor de Mashkan-Shapir. É sabido que o inimigo tem marchado, discretamente, e ocupado em silêncio vilarejos e cidades fora dos espaço onde outrora ocorreu a Grande Batalha. Nos retomaremos estes lugares, destruindo qualquer um que se oponha às nossas forças. Isso mandará uma mensagem e, com sorte, fará enfurecer o Inimigo que agirá de forma imprudente, violando o quanto descrito na trégua. E sofrerá os efeitos desta violação. Então, e só então, entraremos em guerra. Até lá, contenham os ânimos.

A Trégua não era desconhecida. Os efeitos de sua violação, contudo, aparentemente haviam sido determinados por Sutekh, cujo talento na feitiçaria era notável. Se realmente havia um efeito colateral ou se era somente uma desculpa para manter Mashkan e Nippur em estado de observação, era um mistério. Sutekh não falava sobre o assunto e jamais havia espalhado suas habilidades para os de fora de sua Família, que residia em Khemet.

Ainda assim, as expressões eram contraditórias. Partidários de uma ação mais efetiva e definitiva conseguiam se identificar entre si. Samiel e Haqim não pareciam convencidos, enquanto Ilyias parecia ponderar sobre as palavras de Ventru e Laza. Gallod encarava seu Senhor, tentando obter alguma impressão sobre suas opiniões, mas o Estrangeiro parecia estar em outro lugar. Os Filhos de Ventru reagiram concordando com seu Pai. Haviam fraturas entre os Filhos de Arikel.

Foi Saulot, porém, quem se pronunciou outra vez.

- A solução de meus irmãos me parece adequada e razoável. Acredito, porém, que um tema de natureza tão delicada ainda não esteja exaurido. Se alguém desejar agregar impressões ou pontos de vista, que o faça agora.
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Sáb maio 19, 2018 1:08 pm
* Foram, ironicamente, as palavras de Arikel que o levaram a erguer novamente a sua voz. Sua postura era calma, seus olhos negros emanavam uma paz interior. Mantinha ambos os braços para trás, entrelaçados, como costumava fazer ao debater questões existenciais com seus primos mais próximos - Amon e Samiel - em específico. Ao ouvir Saulot, se pronuncia*

- Sim, amável tio, trarei impressões que certamente incitarão novos pontos de vista.

- Arikel, tuas palavras foram tão belas quanto a tua presença e o significado delas tão terrível quanto seu olhar austero, quando se faz presente.


* Ponderou, buscava as palavras, embora o caminho do seu discurso tivesse um único fim.*

- Somos o que somos. E isto, claramente, nos torna amaldiçoados pela sede eterna, pela incapacidade de caminhar ao sol e pela prisão de nossa existência em corpos mortos. Discussões e opiniões diversas a parte, é óbvio que não somos Deuses.

- Basta um estudo simples de nossa origem para notar que o Pai Sombrio foi amaldiçoado por Deus a viver em desgraça. Oras, certamente o Pai Sombrio não foi premiado a se tornar um Deus por seu crime em assassinar o irmão e nós, como seus descendentes,  obviamente também não somos.

- Alguns, no entanto, necessitam do título e da adoração dos mortais. Seja por traumas não superados
* Olhou Enki* Seja por egocentrismo ou pela pura necessidade de se colocar acima dos outros. Seja qual for a razão, é uma falha de caráter e não uma condição divina. No mais, a noite deve ser vivida da forma que melhor convir, não é mesmo, Arikel?

- Contudo, esta forma de viver a noite coloca toda a família em risco, pois o inimigo aprendeu a usar desta fraqueza criada pelos Senhores que se colocam como Deuses para atingir toda uma linhagem. E isto me leva aos próximos pontos.


* Em sua postura havia um tom questionador, como se buscasse unir os pontos de uma grande trama, embora não fosse impositivo e não acusasse, deliberadamente, aqueles que questionaria*

- Nós, seus filhos, lutaremos uma guerra que vocês foram incapazes de encerrar e, assim sendo, precisamos estar informados adequadamente sobre o que enfrentaremos.

- Isto me leva a primeira pergunta, que eu creio ser de competência de Sutekh - A Tempestade - nos explicitar. A nós, primos de seus filhos e sobrinhos, e também a seus irmãos que por ventura também desconheçam a resposta.

- Quais  limites desta trégua mística foram empregados? Pois, a meu ver, o inimigo a quebrou ao atacar o vilarejo que adorava Enki e arrancar do peito de sua sacerdotisa o seu coração ainda pulsante. Aparentemente, o ritual da trégua possui características muito específicas e seria fundamental sabermos sua extensão e efeitos, uma vez que o plano traçado por meu Pai é atacar as vilas ao entorno de MashKan.

- Antes desta resposta, há um outro ponto a ser levantado. Porque, Tios, vocês falharam em destruir o inimigo na primeira das Guerras?

- Talvez caiba a Ventru, o Inspirador, nos explicitar porque os mais velhos dentre nós  não conseguiram extirpar uma cidade de amaldiçoados que estavam - visivelmente - abaixo de vocês em idade e poder e o fizeram cedendo uma trégua fraca e absurda. E, novamente, antes desta resposta cabe uma pergunta complementar a todos os Senhores.

- Conhecendo o simples de nossa história e descendência, além da natureza do inimigo, creio que a reposta à minha próxima pergunta pode elucidar muito de minhas questões que eu creio que se estendam aos meus primos.


* Estavam ali a descendência quase completa dos que habitam Nippur, era esse o seu objetivo*

- Se nós descendemos de vocês, Pai e Tios, além daqueles que escolheram não estar em Nippur e do que foi exilado, eu lhes pergunto:

* Fitou os antigos por um breve momento*

- Quem de vós concedeu a vida eterna ao inimigo?

- Lutarei a guerra inacabada dos meus antecessores por cada mortal que está abaixo dessa fortaleza. Por meu Pai, meus irmãos e meus primos e pelo bem que precisa habitar nesta terra. Mas, diferente dos pobres coitados que os cultuam, conheço nossa origem e não lutarei às cegas por falsos Deuses.
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Sáb maio 19, 2018 3:19 pm
As palavras de Sarosh ecoaram nos ouvidos de Ya'rub. As três perguntas reverberavam em sua mente, como que se fossem repetidas por ele mesmo, em busca de uma verdade que dificilmente seria alcançável. O feiticeiro fecha os olhos, pensando nas possíveis respostas e imaginando quem dentre os 13 antigos poderia esclarecê-las.

Ya'rub abre os olhos. Seu sorriso continua estampado no rosto, mas agora ele é ainda mais ostensivo. Ele olha contempla Arikel por alguns segundos, em seguida desviando o olhar para Malkav e, por fim, Enki. Todos os 3 se posicionaram favoravelmente ao fato de alguns Membros se posicionarem como deuses diante dos mortais.

- Meus queridos tios e amado primo. Os senhores falam como se a adoração de alguns de nós por parte dos mortais fosse uma escolha que cabe apenas a eles. Observada dessa forma, trata-se de uma situação muito confortável. Ela tira de nós toda e qualquer responsabilidade pelos problemas que podem surgir dessa relação desigual que se estabelece. Afinal, foram os mortais que vieram até nós para adorar-nos, não é mesmo? Estávamos aqui, seguindo com nossa não-vida, quando eles decidiram que éramos deuses. Por que não seguir dessa forma? Só não podemos cometer... excessos. A quem caberá decidir quando um ato é excessivo? Não importa, pensemos nisso posteriormente...

O Assamita abaixa a cabeça, balançando-a negativamente.

- Ó, perdoem-me por essa digressão. Creio que, após as palavras de Saulot e Sarosh, temos pensamentos para ponderar sobre esse assunto e podemos deixá-lo de lado por hora, tendo em vista que ele não foi a razão para a convocação deste Conselho.

Ya'rub olha para Sarosh, sorrindo.

- Creio que as perguntas feitas por meu amado primo são pertinentes. A resposta para elas, se existirem, nos ajudarão a prosseguir.

Agora, ele olha para seu Pai, Haqim, pedindo apoio e, sem seguida, mira os olhos de Ventru.

- Antes das respostas, porém, me adianto para dizer perante o Conselho que, se for decisão deste manter a ideia se seguir com uma missão diplomática, eu, Ya'rub Bani Qahtani, Filho de Haqim, me candidato para representar a Nippur perante Mashkan-Shapir. Venho estudando nossos inimigos há algum tempo e, confesso, gostaria de vê-los de perto enquanto conseguem proferir palavras.

Ya'rub termina, sorrindo.
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Dom maio 20, 2018 5:15 am
Amon foi o último a entrar no grande salão negro. Seus olhos perscrutavam o ambiente de forma criteriosa, minuciosa.
Quando finalmente estava na presença dos Antigos e de suas crias, não pôde sentir o vislumbre que todos sentiam ao ver aquelas figuras, porque não divinas?
Seus pés vacilaram, sua cabeça girou e o mundo parecia não estar ali, ou estava?
Ecos chegavam aos seus ouvidos ao mesmo tempo em que as palavras de Sarosh eram proferidas de forma Magnânima, decididas e verdadeiras. Ele apoiou-se em uma das pilastras do salão, tentando fixar-se naquele tempo, porém, uma sensação já conhecida o afastava daquele lugar, daquele tempo, tal qual um déjà-vu.

Amon via dois de cada um dos presentes, confrontando palavras e ideias, com exceção de Enki e Ya'rub. Ele tentou-se recompor. Em vão. Sentiu o cheiro de sangue, ouviu risadas histéricas, sentiu o peso do olhar dos antigos. Ele sabia que precisava focar no agora, toda aquela visão não passava de uma possibilidade que sequer existiu. Ou teria de fato existido?
Como se tivesse sido puxado por algo, deteve seu olhar ao olhar de Illyias que funcionou como uma âncora para ele. Os ecos sumiram e só a voz retumbante de Ventru chegava aos seus ouvidos. Sentou-se, encostado na mesma pilastra onde se apoiara anteriormente. A vertigem estava passando.

Quando as palavras de Ya'rub finalmente cessaram, Amon levantou e se posicionou entre os Pais e os Filhos.


Creio que toda esta conversa está se alongando demais, por motivos meramente interpretativos. Como disse Arikel, somos o que somos, por mais que queiram discordar. Somos deuses. Somos amaldiçoados. Somos o que desejamos ser. Quem sou eu ou quem sois vós para dizer o que um ou outro é? Este não deveria ser o foco de nossa conversa, de nosso debate. Havia uma dureza poucas vezes vistas na entonação de voz de Amon. Ele observava a todos com ternura, porém, sua voz era impiedosa, como o tempo.

Mashkan-Shappir é uma chaga entre nós. Uma chaga criada, invariavelmente por um de vós que estais acima de nós! E mais! Por que uma cidade, cujos indivíduos molestam nossas terras, matam nossos protegidos e profanam os nosso costumes tiveram o direito a uma trégua? O olhar de Amon pára no Ventru. Se sois o responsável por nos liderar meu caro Ventru, pergunto-lhe humildemente, por que permitistes tal fato? Por que não nos lidera de imediato contra os Baali que se erguem contra nós? Vamos de fato esperá-los erguerem-se em poder e em subterfúgios contra nós? Estas são as questões meus amados primos. Tens toda a razão em estarem assim, contudo, devemos debater sobre nossa natureza, divina ou não, em outra ocasião. Existe uma urgência, não para nós, e sim, para aqueles que dependem de nós, que serão vitimados no processo de perseguição ao nosso sangue.

Além disso, me pergunto. Este ataque, é gratuito ou trata-se de uma retribuição a algo que ainda não sabemos. Desejamos respostas. Ainda que duras, mas ainda assim, verdadeiras.


Amon mantem o olhar fixo em Illyias, temendo que aquele tempo lhe escape por entre os dedos.
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Dom maio 20, 2018 6:12 am
As palavras de Ya'rub, Sarosh e Amon ecoaram pelos salões. Todos ouviam com atenção e em silêncio, respeitando o direito de manifestação. E, embora as respostas de Ya'rub e Amon fossem voltadas a apaziguar as tensões, ou postergar a discussão sobre a natureza cainita, a fala de Sarosh havia sido claramente incisiva. Não parecia, porém, existir um desconforto geral durante o tempo em que falou. Pelo contrário, seus tios pareciam apreciar a natureza das dúvidas do Príncipe das Sombras mas era óbvio à maioria que certos assuntos ainda eram considerados tabu. Foi Arikel quem falou, sua voz melódica ecoando pelo salão após a dureza da intervenção de Amon.

- Seu raciocínio é acurado e, ao mesmo tempo, equivocado, Daharius. Mas, como já foi dito anteriormente não obstante você teime em trazer o assunto à tona, se precisamos rediscutir nossa relação com os Filhos de Seth isso será feito em outra oportunidade. Até lá, assuma um tom mais humilde. Não é necessário recordar-te de que existe hierarquia nesta casa. Abstenha-se de seus julgamentos sobre nós e tenha em mente que lhe será dito somente o que acharmos que é relevante.

A Mãe do Clã da Rosa não parecia irritada ou exasperada. No entanto, suas palavras carregavam uma forte carga de autoridade natural. Após Arikel, foi Sutekh quem se ergueu para falar. A voz da Tempestade era rouca e intensa, assemelhando-se ao vento quente do deserto que tanto adorava.

- Acredito que possa responder parte de suas dúvidas, jovem Daharius. Não, a trégua não foi quebrada, pois eu saberia instintivamente se fosse o caso. Seus efeitos e limites, porém, não são assuntos que discuto com pessoas externas à minha família. Meus irmãos confiaram em mim para impor as restrições necessárias ao avanço de Mashkan-Shapir, e isto é o suficiente para vocês. O plano de seu Pai poderá ser seguido à risca, sem que os efeitos recaiam sobre Nippur.

Sutekh sorriu antes de continuar.

- Tenho plena ciência de que a minha resposta pode frustrar-te. No entanto, nem tudo o que fazemos e a maneira em qua fazemos é de domínio público. Cada uma das famílias aqui presentes dispõe de capacidades particulares, e protegem a sete chaves o conhecimento que acumularam através dos milênios. Não é diferente no meu caso. Imagino que a sua argumentação, ainda que muito acurada, seja simplória. No entanto, a questão se traduz em uma variável muito simples. Ou confias em mim ou não. Ou confia em teus Ancestrais ou se levanta contra eles, acreditando que o teu julgamento é melhor que o nosso.

Sutekh sentou-se. Havia respondido Sarosh, mas não olhava para ele naquele momento. Ao invés disso, observava Malkav. E foi o Pai do Clã da Lua que, sem se levantar de seu trono, assumiu a palavra.

- Você julga, Daharius. Imagina saber a Verdade. Em detalhes. Nosso inimigo estava abaixo de nós em poder? Você já o enfrentou? A maioria de meus irmãos detesta admitir esta verdade inconveniente, mas é um fato que o inimigo é tenaz e habilidoso. Se nós realizamos uma trégua, ao teu ver fraca e absurda, foi em razão da necessidade. Nós falhamos por uma razão muito simples: nossa força não é capaz de derrubar todas as barreiras. Foi minha a ideia da trégua, e a defendi em razão de não desejar lançar meus filhos em uma guerra que estariam destinados a perder, ao menos naquele momento. Optamos por postergar a ação até o momento em que ela fosse mais possível de resultar em vitória.

Malkav se levantou. Estreitou os olhos como se desejasse ver algo que não estava ali.

- O custo do combate é sempre extremamente alto. E nós sabemos disso, pois muitos de sua geração foram destruídos durante o primeiro conflito. As forças envolvidas eram capazes de destruir toda a Prole de Caim, tanto nós como o inimigo. Você os subestima ao mesmo tempo que nos superestima. Não é uma linha de raciocínio razoável para alguém como você, de quem se espera muito nas noites que virão, mas cuja inexperiência e impetuosidade pode colocar o teu futuro em risco. Eu lhe digo, Sarosh. Aprenda a aceitar o que foi feito e a modificar somente o que é possível. Nem tudo está ao alcance de tuas mãos, assim como nem tudo está ao alcance das nossas.

A fala de Malkav, ao contrário das anteriores, parecia despertar um certo desconforto na maioria dos Treze. Ilyias, O Estrangeiro e Haqim, por outro lado, pareciam concordar com ele.

Ventru tomou a palavra. Sua presença continuava inigualável.

- Talvez um dia o teu Pai decida contar-te o que realmente aconteceu nas noites antigas, Daharius Sarosh. Até lá, limite-se a agir conforme o que for decidido nesta casa. O inimigo será enfrentado conforme o que foi determinado por mim e por Laza, a menos que hajam objeções por parte de meus outros irmãos. Quanto à sua curiosidade sobre a sua origem, é algo sobre o qual nem mesmo nós estamos informados. Mas, ainda que estivéssemos e a identidade do Criador, se é que está nesta sala, se é que é parte de nós, fosse sabida, me pergunto o que achas que ele seria capaz de dizer-te. Me pergunto se invocarias uma punição exemplar.

Olhou para Amon.

- Me parece que não fui claro o suficiente. Nós tomaremos ações contra o Inimigo. Mas não o faremos de forma impulsiva e intransigente. A juventude talvez os cegue. Mas isto não é um problema grave. Vocês verão, com seus próprios olhos, do que o inimigo é capaz e entenderão porque quando em confronto com Ele todo o cuidado e preparação é pouco.

Laza interrompeu.

- Vocês lutarão as batalhas que devem ser lutadas, munidos do conhecimento que nós acharmos relevantes e adequados para cada período de suas não-vidas. É isto o que significa respeito e obediência. Se as condições desagradam, devo deixar claro que nada os impede de deixar a cidade e a região.

Foi Japhet quem interrompeu a reunião. Sua voz era fria e calma, mas munida de uma autoridade notável. Era o mais velho dos Filhos dos Treze, sua idade alcançava a casa dos milênios. Olhou para seus primos e, em seguida, para os Treze.

- Peço que perdoem a impertinência de meus primos. Peço que recordem que mesmo vocês já foram jovens e impulsivos, mas que vossas ações eram regidas por uma ânsia em fazer deste lugar um local seguro para a Prole de Caim e de Seth. Peço que se lembrem que aprendemos com o tempo e a experiência.

Olhou para Ya'rub.

- Concentremo-nos no que é relevante e aprendamos a confiar nos julgamento de nossos Pais, pois se eles nos deram o Dom das Trevas foi em razão de ver em cada um de nós um potencial inexplorado. Aprendamos a ter paciência. Aprendamos a ter confiança em suas ações. Não deixemos que nossos pensamentos inquietos e ansiedades corroam o já frágil equilíbrio que temos nesta Cidade Sagrada.

Continuou.

- Pai, eu me ofereço para acompanhar Ya'rub Bani Qahtani, Filho de Haqim, em uma eventual ação diplomática. Sugiro que meus primos fisicamente mais capazes comecem a pensar como organizar-se. Estamos perdendo um tempo precioso desafiando a nossa Família e enfraquecendo a nós mesmos, uma ação que, certamente, agrada ao Inimigo e a seus espiões.
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Dom maio 20, 2018 5:42 pm
*O Segundo filho de Laza mantinha a postura impassiva e imutável diante das palavras de seus ancestrais. Sua face e seus olhos escuros emanavam uma calma sobrenatural, diante de algumas palavras mais ásperas. Para ele, toda a informação colhida a apartir de suas perguntas era essencial para as noites que viriam.

Aguardou que todos concluíssem suas argumentações e foi a seu Pai, Laza, a quem primeiro respondeu.*


- Deixarei Nippur, em razão de discordar da forma como lideram os seus e respondem - ou se negam a fazê-lo - por vossos atos.

* Pela primeira vez, descruzou os braços, deixando-os soltos conforme avançava*

- Não partirei antes de garantir que todo mortal, primo, irmão e inclusive o Senhor, meu Pai, estejam livres do risco imenso que é manter Mashkan-Shappir e os seus compartilhando de nossas terras.

- Lutarei a Guerra na qual vocês falharam com o máximo de minhas capacidades e, uma delas, me obriga a expressar em palavras à sua forma errônea de liderança.

* Encarou Ventru e seu próprio Pai ao falar sobre liderança, mas tratou de responder na ordem exata a qual as palavras lhe foram direcionadas, começando por Arikel*

- Quando tu, Arikel, se coloca na posição de dizer aos seus filhos e subordinados que somente lhes dirá o que achar que é relevante à beira de uma Guerra na qual serão eles - e não vocês - a pagarem primeiro com as existências, não lhe é dado nenhum direito a cobrar humildade dos presentes.

- Sou jovem e impetuoso, se comparado a vós. E é exatamente a minha juventude que me credencia a avaliar os erros dos mais antigos para que não sejam repetidos. Assim com é minha impetuosidade que me dá forças para dizer-lhes o curso de ação errado que tomaram e que insistem em continuar. Esta impetuosidade me coloca acima da passividade de alguns presentes.

* Prosseguiu, olhando Malkav*

- De mim, iluminado Tio, apenas meu Pai sabe exatamente o que esperar. Talvez estejas acostumado à sua prole e a da sua irmã, que naturalmente ocupam o espaço destinado a apoiar incondicionalmente os que lideram, mesmo que eles estejam errados. É uma posição necessária, mas lhe incapacita de avaliar a minha.

- De mim e do sangue que corre em minhas veias se espera mais. É nossa a responsabilidade de assumir a frente das grandes decisões e arcar com suas consequências. Por isto me coloco aqui, diante de vós e de todos os primos, sendo aquele que questiona e discorda de um curso que já se provou errado a fim de proteger os nossos.

- Eu cumpro a exata função da qual de mim se espera.


- Punam-me por minhas palavras, assumo total responsabilidade. Mas não falharei por omissão como fizeram ao tempo da Primeira Guerra.

* Fez uma pausa, deveria continuar firme, embora não fosse nada fácil dizer as palavras seguintes para aqueles que admirava, enaltecia e amava. A necessidade, contudo, lhe impunha um dever maior que seus sentimentos.*

- A trégua é falha e absurda. E, explicarei em detalhes, que foram vossas ações que subestimaram o inimigo e superestimaram a suas próprias forças.

- É de conhecimento geral que à época do conflito a liderança desta casa não foi capaz de reunir os Treze, ou ao menos a maioria destes e marchar com decisão sobre o inimigo que se formava.

- Não, a maioria dos senhores não marchou. Seus filhos marcharam. Alguns sequer estavam presentes, outros, incluindo meu Pai, não tomaram partido embora sua linhagem - infinitamente mais jovem e menos capaz à época - o fez.

- Assim, não tomando partido na batalha e enviando os mortais e os mais jovens, foram os Senhores a subestimar o inimigo e superestimar as próprias capacidades. E o fizeram novamente ao tempo da trégua.


- O que imaginavam, ao dar séculos ao inimigo para se organizar e se fortalecer? Que ele definharia e não evoluiria suas forças profanas de modo a nos superar? Que apenas nós cresceríamos em força e número?

- O custo do combate seria muito alto sim, Malkav. Talvez um ou mais de vós perdessem a existência para expurgar o inimigo e sua existência imunda. Esse preço deveria ter sido pago. Vossa fraqueza em recuar e incapacidade de assumir a frente da Guerra geraram o caos que estamos prestes a entrar.

- Pensamento raso, simplório e falho.


* Voltou a Sutekh. Olhou-o fixamente e continuou*

- Sou um Místico do Abismo, Senhor. Infinitamente menor e de capacidade ínfima se comparado às vossas habilidades. Ainda sim, lhe indico que qualquer um que lide com forças místicas compreende que conhecer os limites e efeitos de um ritual não lhe garante e muito menos facilita o aprendizado sobre ele.

- Não é porque conheço o limite de minha fome e os efeitos da ausência de sangue em meu corpo que consigo sobrepujar a minha sede. Perguntei-lhe claramente quais os limites da trégua, pois o inimigo arrancou o coração de um dos servos de Enki. Perguntei-lhe os efeitos do feitiço, pois Ya'hub e agora Japhet adentrarão à Mashkan sem essa informação graças a sua postura enquanto o inimigo a tem.


- O inimigo tem a vantagem, enquanto nós - sua descendência - somos peões com rasas informações sobre o que enfrentaremos.

- Colocas a todos em risco por tua fixação em teus próprios poderes. Lastimável.

- Lastimável também foram as palavras que escolheu proferir. "Ou confia em teus Ancestrais ou se levanta contra eles, acreditando que o teu julgamento é melhor que o nosso."

- Os Senhores foram incapazes que confiar em nós, seus filhos, com informações vitais sobre a Guerra que enfrentaremos e cobram de nós confiança?


- O Senhor, Sutekh, foi incapaz de confiar em nós - e principalmente em seus irmãos - para revelar um simples efeito de vosso poder a fim de poupar os nossos de um fim desagradável por uma ação realizada a mais do que deveríamos, se soubéssemos.

- Todos os Senhores foram incapazes de confiarem uns nos outros e marcharem contra o inimigo, ao invés de manterem distância  deixarem os mortais e seus descendentes lutarem uma batalha que lhes pertence de igual forma.

* Com os braços abaixados, ergue um deles e aponta a parte superior da fortaleza onde residem três tronos vazios*

- Indicas a fazer exatamente o que fizeram?

- Pois vejam, se tivessem seguido aquilo que falam com tanta autoridade nós não estaríamos na Segunda Cidade e sim na Primeira.

* O peso de suas palavras era imenso. Estava cansado, exaurido pela quantidade de sentimentos que lhe corroíam. Ainda assim, continuou, pois era seu o dever e sabia que ninguém mais o faria. Esparava que isto demonstrasse aos mais antigos que eles deveriam fazer o mesmo.*


- Não me levantarei contra os Senhores. Não desta forma. Mas levantarei a voz e minha ação em prol de meus irmãos e primos sempre que vossas ações os jogarem contra as chamas geradas por uma liderança cega.

- Levantem de seus tronos e tomem o curso da ação. Vejo, neste exato momento, Ya'hub e Japhet se arriscando em adentrar a cidade dos amaldiçoados, rasos de informação e sedentos por demonstrarem valores a seus pais que se mantém aqui, na segurança da Segunda Cidade, vendo o inimigo crescer e se avolumar.

- Isto não é confiança e Respeito, isto é tolice. Liderem pelo exemplo, mostrem que são mais que hipérboles de características físicas e emocionais. Mereçam a adoração dos mortais que os tratam como Deuses, pois, até então, apenas assistem passivos o inimigo se fortalecer e agir.


* Foi direcionado a Ventru que encerrou suas palavras.*

- O Criador do Inimigo deveria ser revelado. Pois, é sabido por meu Pai que há um traidor dentre nós.

- Talvez um filho, um primo. Talvez um dos Senhores.

- Eu só posso aumentar minhas suspeitas depois de ouvir palavras tão deploráveis e egoístas de alguns de vós, que se mantém na defensiva ao invés de assumir as rédeas de vossas responsabilidades.


* Encerrou, fitava seu Pai, em última instância*

- Reitero. Deixarei Nippur e vossas leis para toda a eternidade, mas somente após ver o inimigo cair. Acima de vossas vontades, esta é minha posição e dela somente serei retirado em cinzas.
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Dom maio 20, 2018 10:13 pm
*Ya'rub, os Anciões, Japheth, todos falavam de forma que ao mesmo tempo que traçavam um curso de ação, revelavam segredos obscuros, e evidenciavam sangue ruim e rixas não resolvidas, feridas não cicatrizadas.*

*Até que Sarosh fala. E nenhum outro som pode ser ouvido na sala do trono.*


-Isso é maravilhoso.

*Enki sorria, literalmente, de orelha a orelha.*

-Isso é além de discutir nossa divindade, ou maldição. Nossa existência quase-eterna deveria ser gasta nisso. Aprendizado. Esta noite mostrou mais a nós do que um século de placidez e tédio entre nossos afazeres mais... mundanos.

-Nós aprendemos uma lição de valor incalculável de nossos gentis predecessores. Sobre o que é liderar, da forma que lideram; sobre o que é força, da maneira que a exercem, sobre História, e como a escreveram. Aprendemos como eles se importam.

*As palavras do espírito do Abzu pendem no ar. Após o discurso de Sarosh, poderiam significar tudo. Ou nada.*

-Caso meus primos Ya'rub e Japheth, sábios além da medida, vão de fato a Mashkan-Shappir, reafirmo meu compromisso de acompanhá-los. Sob ordem e juramento, não pisarei na Cidadela da Dor antes que meu sagrado Pai para lá me envie, mas tenho maneiras de acompanhar meus primos através dos olhos dos espíritos, e garantir, ainda que em pequena medida, a segurança deles.

*Era uma afirmação, não um pedido. Enki havia sido autorizado pelo Estrangeiro, e isso lhe bastava.*
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Seg maio 21, 2018 5:32 am
Eram duríssimas as palavras de Sarosh. Ninguém naquela sala se recordava de um enfrentamento tão direto, quase violento, apesar da placidez inviolável de Daharius, aos Pais de cada um dos clãs. Um silêncio de alguns segundos, que pareceram durar uma eternidade, acometeu o salão de reuniões. Os cainitas da mesma geração de Sarosh permaneciam calados mas, no ar, sentia-se que as palavras do Príncipe haviam calado fundo em alguns corações. Samiel tinha uma expressão entristecida, não por causa do que havia sido dito. Gallod observava seu Pai, esperando uma resposta. Japhet concordava silenciosamente, com movimentos de cabeça. Durante a fala de Sarosh outros dois cainitas haviam se juntado a reunião: Belit-Sheri, filha de Ilyias e Lamdiel, o Intocável, Filho de Malkav. Este último era o cainita de aparência mais jovem em Nippur, havia sido Abraçado com apenas quatorze anos. Não obstante, parecia compreender o mundo em maneira muito mais completa que a maioria dos outros. Sorria para Sarosh, mas seu sorriso continha também um elemento de tristeza.

Pareceu, por um instante, que Sarosh seria ignorado. Enki interveio e, no final de sua fala, tornou a por em voga a questão organizativa. Quando terminou, era claro que os Pais prosseguiriam às partes mais práticas, menos subjetivas do problema.

Até que Saulot se levantou.

Caminhou, lentamente, abandonando seu trono de pedra e descendo o pedestal no qual se encontravam seus irmãos. Posicionou-se juntos aos Filhos. Saulot nunca fora fisicamente impressionante, apesar de belo. No entanto, a nobreza que fazia morada em sua alma o fazia um gigante, por um ínfimo instante maior que todos os outros juntos. Sua voz era como uma manhã de sol, carregada de esperança e gentileza. Suas palavras, porém, foram tão duras quanto as de Daharius.

- As palavras de Sarosh são duras. Mas necessárias.

Caminhou e observou os Filhos. Seu olhar parou em Samiel, Sangue de seu Sangue. O jovem fez uma mesura com a cabeça, acompanhada de um sorriso de cumplicidade. Era sabido que a relação entre ambos era mais que fraterna, mas que uma relação de Pai e Filho.

- Sarosh desconhece detalhes, mas somente graças ao fato de que nós decidimos assim. E assim o decidimos por uma simples razão. Temos medo. Não medo do fim de nossas existências, embora esse seja o temor primal que rege a todos nós. Temos medo de que a história se repita e, ao contrário do que defende Sarosh, tentamos fazer as coisas de modo diverso. Não obstante, cometemos os mesmos erros, ou erros ainda mais grotescos.

Olhou para Sarosh. Seu olhar era inundado de uma calma edificante. Mesmo o Príncipe, com sua personalidade forte e gênio indomável sentia a necessidade de escutar as palavras de Saulot.

- Contudo, Sarosh, preciso que tenhas em mente que não somos deuses. Não somos capazes de realizar tudo, em parte por causa deste medo incapacitante que nos impede. Cada um de nós Treze viveu coisas durante a Guerra anterior, eventos sobre os quais prometemos nunca falar, pois evidenciam nossas falhas e nossas perdas. Éramos... jovens. Ainda somos.

O Estrangeiro interrompeu.

- Éramos, e alguns de nós ainda o são, estáticos.

Saulot aquiesceu diante das palavras de seu irmão.

- No entanto, não podes se comportar de maneira injusta, Sarosh. Se Sutekh não compartilha do seu conhecimento, por exemplo, é em razão de nenhum de nós o fazer. Nós confiamos - eu confio - em meu irmão, e apoio a sua decisão de esconder suas habilidades e os resultados delas. Se isso fragiliza menos ou mais a relação entre as famílias, é um tema que deverá ser discutido em outra reunião. No entanto, todos nós estivemos de acordo na decisão de que somente Sutekh teria acesso ao ritual de trégua e às suas consequências. Pensávamos que isto evitaria problemas, que outros mal intencionados fossem capazes de rompê-la para seu próprio interesse.

Sorriu.

- Além disso, és jovem. Não imaginarias o quanto se pode aprender sobre uma pessoa ou suas intenções através da leitura de uma única palavra, através da descrição de um único efeito. Lhe peço que tenha estes elementos em consideração antes de ofender aqueles aqui presentes. Sutekh não é e nunca foi um homem fixado por seu próprio Poder. Você desconhece seu Tio. Eu lhe aconselharia conhecer a nobreza que existe na Tempestade.

Sutekh olhava Saulot. Subitamente era óbvio. Havia um peso imenso, incalculável, sobre os ombros daquele Cainita. A sensação, porém, durou por somente um segundo.

- Alguns de nós cometeram erros, sim, ao não marchar em direção ao inimigo. Contudo, o que perdemos naquele momento nos impediu de fazê-lo, além de outras condições de natureza mais esotérica. Você não conhece o quadro real, Sarosh. Suas palavras são acuradas para se referir ao presente, às decisões que devemos tomar agora, mas teu conhecimento sobre o que ocorreu é insuficiente e, apontando o dedo aos teus Ancestrais, chamando-os de lastimáveis, simplórios e falhos, você comete um pecado contra a tua Família, desrespeita a dor que cada um carrega no fundo de seus corações, embora detestem demonstrá-lo. Muito foi perdido. Muito ainda será perdido.

Saulot suspirou. Parecia tão cansado, tão desiludido quanto Sarosh.

- Nós somos os vossos Pais. Se não revelamos a totalidade do cenário é em razão de compreender que o conhecimento do inimigo é amplo e profundo, além de extremamente sedutor. Novamente, é o medo que rege nossas ações. Medo de que nossas Famílias sejam devastadas pelo que o inimigo tem a proporcionar. Não seria a primeira vez.

A última frase pareceu causar algum desconforto nos mais velhos.

- Novamente, tu não conheces as forças do inimigo. Não pode dizer que ele tenha se fortalecido mais ou menos que nós. Tu julgas a nossa trégua como fútil, mas não compreende a razão de sua necessidade. Não sabe sequer com quem esta trégua foi assinada. Contudo, não é a minha função revelas tais detalhes, se não é a vontade deste Conselho. Te peço somente, e uma vez mais, que tenhas temperança e compreensão.

A face de Saulot pareceu se escurecer. Uma sombra baixou sobre seus olhos. Era algo muito próximo de uma fúria contida.

- E te peço, sobretudo, que não cite a cidade de Enoch. Não fale do que não compreendes.

Saulot começou a caminhar de volta ao seu trono de pedra. Continuava a falar.

- Tudo considerado, Sarosh tem razão. Ou assumimos uma postura mais direta no conflito que virá ou estaremos cometendo os mesmos erros que cometemos na primeira vez. Nossos Filhos não podem e não serão usados como representantes em uma batalha que não é somente deles. Enquanto acharmos que certas coisas devem ser mantidas em segredo, como forma de protegermos a Nippur, a nós mesmos e a nossos Filhos, não podemos enviá-los rumo ao desconhecido.

Fez uma pausa.

- Quando ao traidor, era uma deliberação da maioria de nós que este assunto permanecesse em segredo o máximo de tempo possível, de forma a possibilitar que ele agisse e, durante sua ação, se tornasse possível identificá-lo. Tua imprudência, entretanto, alertará aquele que negocia com o Inimigo. Eu acredito que é melhor para este Conselho que você se ausente desta sala, neste momento, e pense sobre o que disse e sobre o que lhe foi dito. Erramos, muitas e muitas vezes. Porém não toleraremos desrespeito e falta de cortesia por parte de vocês, pois não foi para isso que vocês foram trazidos à Noite Eterna.

Havia um olhar desaprovação na face de Laza quando Saulot finalizou.

- Por fim, não sei se compreendeu a resposta. Não podemos revelar o Criador do Inimigo. Simplesmente não sabemos quem ele é. É, portanto, irrelevante persistir em um assunto que consome as nossas próprias existências como se fosse apenas uma informação simplória.
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Seg maio 21, 2018 6:20 am
* Sarosh não se curvava. Não era de sua natureza. Demonstrar respeito a seu ver era agir com a verdade incontida e com a temperança limitada pelo dever.

Ainda sim, curvou-se à Saulot. Sua cabeça abaixou-se, assim como seus ombros, levemente após as palavras do Antigo e ao erguê-los, o respondeu*


- Sou grato por vossas palavras, meu Tio. Tua sabedoria em retirar o sentido de minhas jovens palavras e o externar me bastam. Sobre o assunto, nada mais direi.

* Olha em volta, após a chegada da filha de Ilyas e do filho de Malkav, já eram um número considerável os descendentes dos mais velhos*

- Quanto ao traidor, deixo claro que minhas palavras não foram impensadas. As minhas dificilmente o são.

- Estamos reunidos, alguns de vossos filhos, neste salão. Que o traidor seja revelado de uma vez por todas ou ao menos que as possibilidades sejam reduzidas. Àqueles que aqui não estão, que sejam imediatamente convocados a passar pelo mesmo processo.

- Há mais de uma forma possível e rápida a se empregar pelos antigos para que descubram tal abominável traição, agora mesmo. E se questões sobre dever, honra e o emprego de suas habilidades se erguerem diante da necessidade do fato, eu vos digo:

* Olhou fixamente para seu Pai*

- O tempo da gentileza se foi, a Guerra clama por ação.

* Olhando em específico para Ventru, conclui*

- Sou o primeiro a me colocar diante deste conselho e me oferecer para que vasculhem da forma que julgarem necessário a fim de achar indícios de qualquer traição. Após isto, os deixarei, conforme as palavras de Saulot.
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Seg maio 21, 2018 11:05 am
Quando Japhet se prontificou a acompanhá-lo na missão diplomática até Mashkan-Shapir, Ya'rub apenas concordou com um aceno de cabeça. Seria interessante ter o mais antigo de sua geração por perto durante a viagem. Sabia que o necromante tinha um conhecimento invejável e aquela seria uma oportunidade única para aprender algo com ele.

Mas foram as palavras seguintes de Sarosh, bem como a resposta de Saulot, que deixaram a reunião ainda mais rica. O clima pesado que se instaurou era algo com o qual Ya'rub nunca havia se deparado. Não se lembrava de ver alguém de sua geração afrontando diretamente os mais antigos, ainda que da forma elegante e polida típica de Daharius Sarosh. A cada vez que se pronunciava, o Místico deixava claro que era um Filho de Laza. Não sabia se o olhar desaprovador de Omri Bara se dirigia à Sarosh ou Saulot. Se fosse uma desaprovação com relação à Sarosh, Ya'rub não via sentido. Afinal, o Pai do Clã da Noite não escolhia a dedo aqueles que são capazes de liderar e questionar lideranças incompetentes?

Quando todos terminaram de falar e o peso que se abatia sobre o salão foi se aliviando, Ya'rub achou que era um bom momento para se pronunciar novamente. Dessa vez não havia sorriso em seu rosto.

- Se me permitem fazer uma última colocação - que faço apenas à título de reflexão, pois não quero retomar o debate - peço que escutem as palavras de Sarosh como palavrars que representam muitos daqueles que sentam-se abaixo de vocês, meus tios. Se posso extrair algo daquilo que ele disse, chegando ao núcleo de sua mensagem, eu diria o seguinte: o respeito de nós para com vocês não deve ter como fonte a idade e muito menos a hierarquia.

Ya'rub olha para Haqim, com uma expressão calma e de admiração.

- Hoje respeito meu Pai, sábio e guerreiro. Isso não se deve pelo mero fato dele ter me trazido para a Maldição da Noite, ou por ser mais antigo do que eu. Meu Pai me ensinou que devemos lutar e nos mover por algo maior do que nós mesmos e todos os seus atos são uma prova de que ele vive por essas palavras. Haqim é meu mestre e me mostrou coisas que eu não conhecia. Por isso o admiro. Por isso o obedeço. Ele conquistou a confiança de seu filho.

Ele volta a olhar para seus tios. O estranho sorriso volta ao seu rosto.

- Somos levados a acreditar que devemos respeitar aqueles que são hierarquicamente superiores. Uma besteira, eu diria. Muitos de vós, quando vivos, vieram de lugares parecidos com aquele de onde venho. Duros, inóspitos e mortais. Aprendemos que nada nos é dado e que precisamos tomar e mostrar que somos merecedores do que temos. Mais do que isso: somos obrigados a negociar constantemente.

- Creio que fomos levados a acreditar na história daquele que se chama Caim de modo acrítico. Um homem que nasceu há milênios, em uma pequena tribo do Crescente Fértil. Este homem e essa tribo adoravam um dos muitos deuses que são adorados nessa região. Eis que esse homem cria aqueles que sentavam acima de todos nós, que por sua vez deram origem a vocês, até que seu sangue chegasse em nós...

Ya'rub pausa por um momento. Estava prestes a dizer algo que alguns ali poderiam considerar quase que uma heresia.

- Eu não conheci aquele que se chama Caim, mas tenho certeza que era uma criatura mais poderosa do que todos nós. Porém, não vejo motivos para acreditar na história que ele contou. Afinal, quantos homens já foram amaldiçoados pelos muitos espíritos que vagam por este mundo? Ser amaldiçoado por um deus todo poderoso torna este Caim uma criatura única. Tão única que nos vemos obrigados a respeitá-los pelo que ele diz ser. Assim, somos todos amaldiçoados por um deus qualquer de uma tribo qualquer. Por que devemos nos pensar tão especiais?

- Nosso lugar no mundo não é dado, meus tios e primos. Devemos negociá-lo constantemente. Não acreditemos cegamente na história de Caim para justificar nossa existência e, consequentemente, a necessidade de sermos respeitados pelo lugar que ocupamos em uma hierarquia que não faz sentido para nenhum caminhante dos mundos além de nós mesmos.

Ya'rub termina sua fala e olha para Sarosh. Seu sorriso se altera, deixando de ser sardônico para mostrar-se terno.

- Dito isso, primo meu, sabemos que existem muito mais coisas neste universo do que aquilo que nossos olhos conseguem ver e nossos corpos conseguem tocar. És um estudioso de artes esotéricas que eu não domino e entende muito bem o que estou tentando dizer. Pensemos nisso quando falamos sobre nossos inimigos. Talvez eles tenham sua origem em alguém entre nossos pais. Mas é fato que negociaram com entidades além de nossa compreensão, tornando-se algo diferente de tudo aquilo que nós somos.

O feiticeiro volta à encarar seus tios, bem como retorno com o sorriso sardônico.

- Talvez aquele entre vocês que os tenha criado não imaginava que os Baali se tornariam o que são hoje. Talvez não devam se sentir culpados. Responsáveis sim, mas culpados não. Não creio que alguém deva pagar pela criação dos Baali. A existência deles é um crime, de fato. Mas por eles não devemos punir ninguém que se encontra nessa sala.

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Ter maio 22, 2018 6:16 am
Pouco a pouco a tensão inicial do encontro parecia arrefecer. Ainda que os ânimos não tivessem se exaltado mais do que o adequado, a sensação geral era de que havia inúmeros assuntos que aqueles cainitas deveriam discutir nas noites que viriam. Não obstante, a pauta dos enfrentamentos era muito mais determinante e, após as intervenções de Saulot e Ya'rub, a proposta de Sarosh foi ouvida. Nenhuma reação adversa pareceu nascer ali, nenhuma discordância sobre a avaliação proposta pelo Filho de Laza. Pelo contrário, as expressões eram de concordância, com outros cainitas, além de Sarosh, dando passos a frente para submeter-se ao escrutínio de seus Ancestrais.

Foi Ventru quem respondeu à proposta de Sarosh.

- Que seja feito desta forma, Daharius Sarosh. Incumbo a tarefa ao nosso irmão Malkav, de nós aquele com a maior percepção sobre o que é oculto e sobre o que é mantido oculto.

Malkav se levantou, abandonando a tribuna onde seus irmãos permaneciam sentados e alcançando os cainitas mais jovens imediatamente abaixo. Seus olhos de cores diferentes causavam um certo desconforto na medida em que pousavam, rapidamente, sobre cada um dos presentes. Os cainitas mais jovens estavam divididos em pequenos grupos, permanecendo de pé diante de cada um de seus genitores. Malkav caminhou até a ponta da sala, onde se colocou diante de Japhet. Observou-o por um curto período de tempo e depois, aproximando-se do ouvido do cainita, pareceu sussurrar alguma coisa. Era visível a mudança de expressão de Japhet. Não parecia assustado ou ultrajado, mas olhou atentamente para Malkav, curvando-se em seguida.

Continuou a caminhar. Aproximou-se de Mancheaka, que se encontrava afastado dos outros, mas ainda assim próximo do seu irmão. Realizou o mesmo procedimento que havia realizado com Japhet, encarando-o e dizendo-lhe algo no ouvido. Prosseguiu com Nakurtum, realizando a mesma operação. Parecia que aquilo seria feito com todos os presentes, o que se confirmou quando aproximou-se de Ya'rub. Sorriu enquanto o observava e, aproximando-se, sussurrou em seu ouvido:

- Esteja atento aos sussurros, mas não os escute em demasia.

O Filho de Haqim os ouviu, os sussurros. Murmuravam seu nome em meio à Escuridão. Durou, apenas, meio segundo que eram mais longos que sua vida. Calafrios.

Cumprimentou Ya'rub e prosseguiu. Passou por Belit-Sheri, comentando algo em seu ouvido que a fez empalidecer mais do que o normal. Aproximou-se de Amon, lentamente. Olhou-o e aproximou-se:

- Ainda que sob a guia do pastor, nem todas as ovelhas são iguais.

Amon sabia que Malkav tinha razão.

Sorriu e prosseguiu. Realizou o procedimento com Taweret e em seguida com Khanon-Mer, Tepelit e Tubalcaim. Terminando sua tarefa com os Filhos de Laza, aproximou-se de Sarosh. Observou-o por alguns segundos antes de sentenciar:

- Teu herdeiro já caminha sobre a Terra.

Sarosh o viu. Um bebê, erguido em direção à Lua e consagrado à ela. Seu choro fazia tremer os Impérios.

Era nítido a todos que Malkav parecia fora de si. Não que em condições normais parecesse um cainita vinculado aos acontecimentos diante de si. Aparentemente flutuava constantemente em locais inacessíveis aos outros de sua espécie. No entanto, naquele momento em particular, o cainita parecia muito mais etéreo, absorto em nuances invisíveis. Prosseguiu, passando por sua progênie Lamdiel e seguindo até as progênies presentes de Saulot, Samiel e Rayzeel. O que quer que tenha dito a esta última, a assustou. Rayzeel estava ainda mais lívida que Belit-Sheri, encarando Malkav com olhos incrédulos.

Passou por Mi-ka-il, único a quem tocou a face carinhosamente. Procedeu até Tammuz e passou por Gallod, demorando-se mais do que o normal ao falar com aquele cainita. Procedeu até Enki, para quem dirigiu um sincero sorriso:

- Teu nome já ecoa na Fortaleza da Dor.

Havia uma festa em seu nome. Ou seria em nome do Abzu?

Por fim, aproximou-se dos flihos de Ventru, única família completa naquele momento. Visitou Medon, Tinia, Veddartha e Orthia. Por fim, girou-e e caminhou, em silêncio, em direção à tribuna, sentando-se em seu trono de pedra.

- Nenhum dos presentes foi maculado através de contatos com o Inimigo. Suas almas permanecem limpas e puras, situação impossível após dialogar com aqueles que nos opõem. A mácula daqueles é tão grande que escurece os pensamentos e intenções de qualquer um que com eles tenha contato. Nossos filhos, ao menos aqueles presentes, são inocentes das acusações de traição.

Olhou para seus irmãos.

- Alguns de vocês, irmãos, tiveram contato no passado com o Inimigo, por ocasião dos primeiros enfrentamentos e, portanto, são mais visíveis aos meus olhos. Haqim, Saulot, Sutekh, Laza e Capadoccius, vossas almas apontam tais marcas. São, contudo, quase invisíveis, sem importância. Arrisco dizer que nenhum de vós teve contato com o Inimigo nas últimas décadas.

Calou-se, passando a palavra a Ventru.

- Confiamos na percepção de nosso irmão Malkav, e esperamos que vocês dividam o mesmo sentimento. Os resultados nos colocam diante da tarefa de convocar nossos filhos espalhados pela Planície para que se submetam à mesma avaliação. Rashadii e Anis, Caias Koine e Hukros, além de Karotos, Amarantha, Hazimel e Hrorsh. Todos estes deverão atender à convocação imediata. Aqueles de nossos Filhos que não habitam a planície, por enquanto, estarão fora deste quadro, a distância serve, inicialmente, como álibi. Se nenhum dos ausentes citados for determinado como culpado, procederemos à convocação dos outros. Se, ao invés disso, encontrarmos o traidor, ele será submetido ao julgamento de Mancheaka, mais velho dos filhos de Haqim.

A decisão de Ventru parecia agradar a todos embora, intimamente, as Famílias com membros ausentes sentiam-se preocupadas por seus irmãos que seriam convocados.

Foi Haqim quem continuou a reunião.

- Procedamos, agora, às decisões práticas. Dois grupos deverão ser determinados. Um seguirá até os vilarejos ocupados pelo inimigo e liderará os ataques de retaliação. Sugiro que tal grupo seja liderado por Daharius Sarosh. O segundo seguirá até Mashkan-Shapir, em missão diplomática, protegidos pelos meus dons e aqueles de Sutekh. A minha indicação de líder é meu próprio filho, Ya'rub, junto à Japhet, filho de Capadoccius. Necessário dizer que este último grupo deverá ter dimensões reduzidas, dada a natureza da demanda. Agrupem-se como desejar. Aqueles que procederão a Mashkan estarão sob minha supervisão integral e eu intervirei, caso seja necessário. Os termos da trégua, entretanto, nos impede de pisar em Mashkan até que ela seja rompida. O grupo de ataque será supervisionado diretamente por Saulot, que igualmente intervirá quando e se necessário.
Sarosh
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Ter maio 22, 2018 7:36 pm
* As palavras de Malkav o atingiram, mas foi a visão, sonho ou vislumbre de um possível futuro que o arrebatou. A perda, a dor, o verdadeiro amor. Quando retornou a si, as palavras de Haqim se seguiam com o curso a ser tomado nas duas frentes que começariam o avanço, mesmo que discreto, sobre a Fortaleza da Dor.

Ao fim das palavras do Pai de Ya'hub, primo que Daharius passou a tecer o merecido respeito, o Filho de Laza se fez ouvir uma vez mais*


- Sou grato, Ventru e Malkav, além dos primos presentes, por prosseguirem com a análise em busca do Traidor. Desta forma, temos a certeza de que tudo que foi dito e traçado nesta sala não cairá no conhecimento do inimigo pois, entre nós, não há traidores.

* Lembrou-se de Karotos, seu irmão, que não se faz presente e embora tivesse a plena consciência de que um filho de Laza seria incapaz de tamanha traição, uma dor lhe preencheu o já morto coração. Era a dor do talvez, da possibilidade, de imaginar o inimaginável*

- Que os demais descendentes dos antigos passem pelo mesmo olhar acurado de Malkav e a justiça de Mancheaka caia sobre ele, sobre quem quer que seja ele.

* Olhou para seus primos ali presentes. Habilidosos e capazes de inúmeras distintas formas*

- Honram-me também com a liderança do grupo que fará a retaliação pelas vilas invadidas ao redor de Mashkan-Shappir. Peço, então, que dentre os presentes se voluntariem os que cumprirem os seguintes requisitos.

- Precisarei de dois guerreiros implacáveis, um rastreador com habilidades de percepção infalíveis e de um dos filhos aqui presentes dotado de dons sociais. Apesar das tarefas específicas a serem cumpridas, todos deverão estar preparados para possíveis embates físicos com o inimigo em terras hostis.

* Ergueu seus olhos negros aos antigos. Havia ainda uma informação a lhes passar.*

- Neste momento, os sacerdotes e sacerdotisas que cultuam as famílias que residem em Nippur se encaminham à Segunda Cidade. Meus homens e os do Estrangeiro os escoltam e logo se farão presentes ao portão. Tomamos esta medida preventiva, visto que a junção das informações nos levou a crer que as vidas do clero são necessárias para a completude do ritual do inimigo e que, como os mais fracos e acessíveis, seriam sumariamente caçados nas noites seguintes.

- Acreditamos que mantendo-os dentro de nossos muros estaremos salvaguardando nossas próprias existências. Solicitei a Gallod, filho do Estrangeiro, que avalie a entrada de cada um dos Sacerdotes pessoalmente - a quem somente serão permitidos entrar durante a sua vigília - através de seus dons de percepção. Além disso, meu irmão Khanon auxiliará os homens durante a escolta enquanto minhas habilidades me possibilitam acompanhá-los com o olhar e me fazer presente, caso sejam interpelados no caminho.


* Em seguida, encarou a seu Pai. Havia respeito, mas também havia urgência*

- Dadas as características de meu irmão, Osíris, tentei avisá-lo através de meus dons do risco iminente que ele enfrenta, mas não o encontrei. À seus servos entreguei a mensagem. De nós, filhos de Laza, é ele o mais cultuado e aquele que corre o maior risco no momento já que seus adoradores não poderão estar em Nippur. Pai, peço que faças o que julgar mais cabível com esta informação.

* Por fim, olhou todos os tios e concluiu*

- Tal decisão foi deliberada antes desta reunião, pois a situação pedia urgência. Me responsabilizo por tal, caso os senhores considerem as ações tomadas imprudentes e prejudiciais.
Amon
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Qua maio 23, 2018 4:04 am
Amon observou todo o diálogo em silêncio. Para ele, e somente para ele, o silêncio era cabível.
As palavras determinadas de Sarosh, o tocavam de forma profunda. Por mais que Sarosh não soubesse, Amon via nele a imagem refletida de Laza, seu criador.
Seus olhos passeavam por todo o salão negro, fixando-se de vez em quando nos tronos vazios.

Ele pôde perceber que havia entre os seus iguais uma excitação contida, um desejo irrefreado de confrontar seus pais e tios, ainda que fosse inconsciente. Ya'rub, com seu sorriso sempre à mostra, explanando de forma magnânima a sua sabedoria e o seu desdém por aquela reunião e pelas crenças que muitos ali tinham. Enki, com sua complacência quase que apática, tal qual um lago de águas calmas, inspirava uma sabedoria distinta. Sarosh, aquele a quem tanto admirava, guiava os outros para um patamar até então inédito dentro dos limites da segunda cidade. E Samiel, o amado Samiel, em seu triste silêncio, era um espelho do que o próprio Amon sentia.

As palavras duras, porém conciliadores de Saulot, em nada tocava Amon. Apesar de não ser tão velho quanto Japhet, ele sentia o peso do tempo. Pensou no tempo.
As palavras de Ya'rub ainda ecoavam na mente de Amon, enquanto um desejo crescente de sair dali, de viajar por onde seus primos jamais poderiam ir por vontade própria, de chegar até a primeira cidade, de ver seus "avós", ou até mesmo ir mais além, de ver a figura do Altíssimo amaldiçoando Caim, dando início àquela linhagem maldita, quando foi surpreendido pela voz de Malkav. "Ainda que sob a guia do pastor, nem todas as ovelhas são iguais." Sobressaltou-se, abandonando seu devaneio. Mesmo sabendo que Malkav dissera era verdade, talvez somente ele e Samiel entenderiam isso.

Neste momento, seus olhos procuraram os olhos de Illyias. Sustentou o olhar por tempo o suficiente para manter um contato mais intimo, discreto e que não seria percebido pelos demais.

(neste momento Amon usa Telepatia > Auspícios 4.)

Seu silêncio é mais perturbador do que todas as palavras ásperas de Sarosh e de Saulot. Ainda que eu tente entender, não consigo. Eu sei e você sabe que eu sei que podes muito bem resolver algumas questões que estão soltas no ar. Não o farei por respeito a vós, que entraram num acordo, seja ele qual for, contudo, tenho uma pergunta a fazer meu amado pai. A quem queres proteger e o que temes com a possível revelação?

Antes de ouvir a resposta de Illyias, Amon ergueu sua voz uma vez mais. Irei para Mashkan-Shappir. Ainda que eu não seja um feiticeiro, preciso colher algumas informações sobre o local, seu povo e dos habitantes sombrios. Creio que minha presença será benéfica para meus primos. Algum desacordo de vossa parte?


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Qua maio 23, 2018 5:10 am

Foi ainda durante sua oferta de prosseguir até Mashkan-Shapir que Amon escutou a resposta de seu Pai.

- Não desejo proteger ninguém mas, ainda que realmente possa fazê-lo, não é a minha tarefa. É tarefa de quem realizou o ato torná-lo público. É um tema de natureza delicada, e imagino que, se o culpado está nesta sala, deva se remoer todas as noites em culpa e desespero. Cada um deve superar os próprios problemas, Amon. Não é nossa tarefa expor ninguém, mas observar os desdobramentos de cada escolha. Ainda que as consequência se abatam sobre todos nós, mas todos nós sofremos as consequências dos atos dos outros. É isso que significa viver em comunidade.

Fez uma pausa antes de continuar.

- Além disso, não é inteiramente seguro retornar a certos momentos.

O diálogo se desenvolveu sem que ninguém notasse. Ilyias respondia olhando profundamente para Amon, ouvindo, ao mesmo tempo, sua oferta. Ainda que fosse seu Pai, se absteve de autorizar ou proibir seus movimentos.

Ventru foi o primeiro a responder Sarosh. Parecia razoavelmente satisfeito com os rumos que os planejamentos estavam seguindo.

- Em primeiro lugar, creio que todos nós estejamos dispostos a perdoar Daharius Sarosh pela intensidade de suas palavras. Permaneça entre nós. - Olhou para Saulot, que não opôs objeções. - Mas espero que cada um de nós, ainda que tenham frustrações e expectativas, passem a respeitar esta casa. Em nossos refúgios, nossas Famílias podem se sentir livres para se manifestar como desejarem, segundo as orientações de cada Criador. Aqui, entretanto, mantenhamos o respeito aos nossos Ancestrais.

Sorriu para Sarosh. Não havia grosseria ou ira em suas palavras.

- Dito isso, não me oponho à decisão tomada de conduzir até Nippur os sacerdotes que devem ser protegidos. A única coisa que me preocupe é a capacidade da cidade de sustentar um maior número de mortais, ainda que temporariamente. Procuraremos as soluções adequadas.

Fez uma pausa e olhou para seus irmãos, como se buscasse autorização. Diante do silêncio, prosseguiu:

- Autorizado por meus irmãos, e conhecendo as capacidades de cada cainita presente, tomo a liberdade de fazer as assignações necessárias. Sintam-se livres para declinar, contudo.

Olhou para os mais jovens.

- Sarosh, teus guerreiros serão Medon e Mi-ka-il. Teu rastreador será Nakurtum e a tua voz será Tammuz.

Nenhum dos eleitos pareceu levantar objeções. Ao contrário, aproximaram-se de Sarosh. Mi-ka-il e Tammuz abraçaram seu primo. Medon e Nakurtum se limitaram a breves, porém respeitosas, saudações com um movimento de cabeça.

Ventru prosseguiu.

- Além de Japhet e Ya'rub, Amon seguirá para Mashkan-Shapir. As condições desta tarefa serão especificamente esclarecidas por nosso irmão Sutekh e auxiliadas, à distância, por Enki.

A Tempestade do Deserto interrompeu.

- Lhes deixarei tempo para seus afazeres e para a preparação. Dentro de duas horas, encontrem-me na saída norte da cidade. Os instruirei sobre quais são os nossos limites e os protegerei, com ajuda das minhas capacidades, o máximo que puder, de forma a evitar imprevistos.

Laza continuou, os olhos escuros fitando Sarosh.

- Osíris neste momento cumpre uma tarefa de vital importância para a nossa Família. Mas não se preocupe, ele será adequadamente avisado.

Foi O Estrangeiro quem finalizou os argumentos.

- Quanto à capacidade da cidade de sustentar um influxo de mortais, não se preocupem.

Pouco a pouco cada um dos Criadores começou a se erguer e encaminhar-se para a saída da sala. Haqim se aproximou de Ya'rub e daqueles que com ele seguiriam, enquanto Saulot fez o mesmo com o gurpo liderado por Sarosh. Ambos os Pais desejavam a mesma coisa: conduzir os grupos sob suas supervisões até suas moradas, onde aprofundariam as instruções sobre o que deveria ser feito e como deveria ser feito. Encontrariam-se dentro de uma hora, dando tempo aos presentes de resolver eventuais problemas privados.

Duas coisas relevantes, porém, ocorreram antes que todo deixassem o salão.

Ya'rub sentiu um breve calafrio. Tinha certeza de que o Ghûl estava próximo. No entanto, foi a voz da criatura, em seu ouvido, que o sobressaltou:

- Eles sabem o teu nome.

A segunda foi a aproximação de Ventru. Se dirigia a Sarosh.

- Quero que saibas que imagino como te sentes. Nós não falharemos desta vez.
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Qua maio 23, 2018 8:28 am
* Daharius cumprimentou seus primos conforme ele o fizeram, Mi-ka-il e Tammuz em abraços apertados e Medon e Nakurtum com saudações respeitosas. Aguardou as palavras dos antigos para que pudesse guiá-los com suas palavras. À seus primos e à Saulot.*

- Primos, encontrem-me dentro do período de tempo estabelecido por nossos senhores, em minha morada na torre de meu Pai. Lá, traçaremos nosso curso de ação. Minha confiança se ergue diante da vossa presença nesta empreitada.

* Pronto para deixar o Salão de reuniões onde tanto foi dito e mais ainda sentido, Ventru aproximou-se e suas palavras o envolveram naquilo que ansiava ouvir dos mais experientes dentre os seus ancestrais. O respondeu, mas seus olhos negros fitavam seu Pai ao longe. Suas palavras eram sim para o Pai de seus primos, o Inspirador, mas ecoavam baixas na esperança de alcançar os ouvidos de seu Criador, o Rei da Noite.*

- É por respeitá-los que os afronto em busca do melhor para esta casa, tio meu. É por admirá-los que os incito à ação. É, acima de qualquer coisa, por amá-los que ultrapasso meus limites para extrair o melhor de vós.

* Seus olhos que buscavam Laza encararam os de Ventru por um milésimo de segundo. Era difícil, senão impossível, encarar aquela altivez. Nada mais disse e deixou o Salão seguindo a seus aposentos.*
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Qua maio 23, 2018 11:03 am
*A mensagem de Malkav desperta algo em Enki. Ele possuía uma intensa admiração pelo Filho da Lua, e não gostaria de nada além de possuir um ínfimo de sua sabedoria, não, de sua visão. Seu nome ecoava na Fortaleza da Dor. Seu nome era uma canção. Uma melodia calmante, um cântico desesperado por socorro, um brado triunfante, um lamento fúnebre. Era todos.*

*Com as palavras finais de Ventru, ele se inclina em reverência, num ângulo sobrenaturalmente agudo.*


-Minha gratidão a todos. A experiência foi iluminadora. Em breve, verei a Tempestade para seguirmos em frente. Por ora, tenho outros afazeres.

*Enki anda até Sarosh, o encontrando na saída da fortaleza. Ele fica parado na frente do filho de Laza por alguns instantes, sem dizer nada, com apenas um sorriso no rosto. Até que Sarosh percebe uma movimentação em seu braço esquerdo. Enki o levanta, e com a queda da manga de seu manto, pode ver o membro pálido, e como se mexia por dentro. Era como se sua omoplata estivesse se deslocando ao longo do braço, até que um osso começa a apontar pelo pulso. O osso segue cada vez mais longo, com uma ponta fina como uma lâmina, e curvo, a mão de Enki agora estava inerte, como um saco sem ossos, até que a própria carne começa a derreter diante de seus olhos. Em alguns segundos, todo o antebraço de Enki se foi, restando somente uma lâmina curva feita de osso. O Abzu então estende a mão direita, e destaca o próprio braço do corpo, com um som suave como se fosse uma peça de encaixe, e oferece o resultado ao seu primo. Agora que a obra estava completa, Sarosh podia ver que era uma espada de lâmina curva, com a medida ideal para as proporções de seu corpo, sendo o cabo feito de osso polido, o lugar onde se encontrava a articulação do cotovelo.*

-Aqui, amado, um presente por suas palavras. Faça-me uma imensa gentileza, e use isso para demonstrar aos emissários da dor o quanto Enki, o Moldador, se importa com eles.

*Após a resposta de Sarosh, Enki segue para os arredores de Nippur, com a manga esquerda pendendo vazia na lateral de seu corpo.*


Última edição por Enki em Qua maio 23, 2018 11:48 pm, editado 1 vez(es)
Ya'rub
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Qua maio 23, 2018 2:38 pm
As palavras sussurradas por Malkav ainda reverberavam eu seu ouvido ao final da reunião, quando Ya'rub sentiu e escutou o Ghül. Mesmo após séculos de convivência com o maldito, este ainda tinha plena capacidade para assustá-lo.

Ya'rub congelou onde estava, interrompendo sua retirada da sala do Trono Negro. Fechou os olhos e abaixou a cabeça. Medo. O Feiticeiro sentia Medo. Na verdade, este era um dos sentimentos que mais orientava suas escolhas. Porém, ao contrário de muitos, Ya'rub acreditava na potencial transformador, na capacidade de ação que o Medo lhe dava. O Medo, quando compreendido e respeitado, o tirava do perigoso caminho em direção ao Orgulho. Este sim, era o sentimento a se evitar. O Orgulho pode retirar qualquer um do caminho que deve ser seguido. É ele que faz com que se perca a noção do lugar que cada um deve ocupar.

Desde que conheceu o Ghül, Ya'rub aprendeu sobre o Medo. A dificuldade era encontrar a medida certa. Saber até onde deveria dar ouvidos ao Medo e a uma criatura que o assombrava.

Talvez foi isso que seu tio Malkav quis lhe dizer. E se não o foi, era mais uma lição a ser levada.

Após algum tempo ali parado, Ya'rub abre seus olhos novamente e volta a sorrir. Ele retoma seu caminho em direção aos túneis.
Amon
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Qua maio 23, 2018 3:23 pm
Enquanto os cainitas saiam, Amon se deteve, inerte, manteve o olhar em Illyas. Seus pensamentos ainda cruzados numa conversa que ninguém via.
Ainda que diga meu pai, que a pessoa de se pronunciar, digo-lhe que deve ser denunciada. A verdade, se não vem espontânea, deve ser imposta. Falas sobre viver em comunidade, contudo, esta comunidade só é válida para vós, a terceira geração de amaldiçoados. Nossas mentes foram perscrutadas por meu tio, enquanto as vossas, ficaram incólumes. Isso, definitivamente, não é viver em comunidade. 


O tom de voz de Amon era neutro, sem qualquer exaltação.


É fato que não há igualidade entre nós pai, então, não me venha com esta história de comunidade. E, por mais que seja dolorido, farei como Sarosh. Já que não há acordo, seguirei meu caminho após a guerra terminar. Isso se a minha existência ainda permanecer neste tempo.
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Qui maio 24, 2018 5:41 am
- Viver em comunidade pressupõe aceitar a autoridade e a hierarquia, Amon. Eu não acredito nestes conceitos, mas meus irmãos sim. Se é necessário que eu me abstenha de certas ações para preservar a já débil harmonia desta Cidade, assim o farei. Eu e meus irmãos nos conhecemos há milênios. Não é necessário que Malkav escrutine nossas mentes para identificar certas coisas, assim como ele não escrutinou as vossas. A técnica de Malkav é muito mais... sofisticada, quase semelhante à nossa. Ele sabe, limitadamente, O Que Foi e O Que Será. A única coisa que falta a ele é o elo com Aquilo Que É. Limitadamente mas, talvez, de uma forma mais completa do que nós. Acredito que você teria muito a aprender com a sua Sabedoria.

Ilyias desviou o olhar de Amon e voltou-se para seus sobrinhos, que começavam a deixar a sala. Seu rosto não expressava absolutamente nada. Não parecia ofendido com o que Amon havia dito, não parecia exaltado, parecia não sentir nada. Amon sabia que momentos como aquele estavam se tornando cada vez mais frequentes, apagando do semblante de Ilyias o homem preocupado com o mundo e de natureza afável e dando lugar a uma estátua. Os cabelos encaracolados e a barba escura pareciam perfeitamente alinhados, suspensos no tempo.

- Você é livre, Amon. Meu amor por ti não o acorrenta aos meus pés ou às paredes desta cidade. Você pode ir, se desejar, e eu chorarei a tua decisão. No entanto, não me peça para agir em desconformidade com o que eu acredito somente por achar que certas verdades devem ser ditas. Você, mais do que qualquer um deles, deve aprender o valor da paciência. Reconheço tua afeição por Daharius Sarosh, de natureza muito mais impulsiva e pragmática, e a valorizo. A admiro. Vocês tem muito a ensinar um ao outro, passarão por muitas coisas juntos. Se você decidir deixar Nippur e seguir seus passos eu restarei tranquilo. Não imagino ninguém mais capaz de cuidar de ti do que ele.
Amon
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Seg maio 28, 2018 9:04 pm
O que acontece contigo Illyias? Apesar de o tempo ser algo palpável para nós, tem estado distante tanto em tempo quanto em presença.

Desta vez, não foi uma mensagem telepática. Amon falava em tom alto, que ecoou pelo amplo salão negro. Seus olhos expressavam um ódio contido, uma ira acumulada de milênios não vividos. Ele se vira para o pai e o encara. Havia dor em seus olhos.

Não sei por que vem se afastando sistematicamente de nós, contudo, suas crias e os mortais que lhe prestam homenagens sentem a sua falta. Há algo acontecendo? Há algo além de nossas fronteiras que demandam a sua atenção? Nos tornastes dependentes de vossa presença e agora és tão escasso quanto a chuva nos últimos tempos. Responda!!! Mesmo que seja uma verdade dura, me diga! não podemos e não devemos ficar no escuro quanto a isso.

Era visível a irritação de Amon, um sentimento pouco comum ao brujah, que sempre se mostra calmo e ponderante.
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