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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sáb maio 05, 2018 11:39 am
Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Nippur10
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Seg maio 07, 2018 4:58 am
Ninguém se lembrava a última vez em que havia acontecido. Não se havia feito presente por meses. Na sua ausência, os templos permaneciam cheios. Oravam a toda sorte de deidades, ultrapassando o domínio de cada uma. Guerra, Morte e Paz deveriam responder ao chamado dos fiéis, aos seus pedidos. No entanto, certas coisas permaneciam fora do alcance até mesmo de Deuses Poderosos. Quando a situação estava quase insustentável, e as colheitas ameaçavam morrer, quando as famílias estocavam provisões e se desesperavam, ela veio.

A chuva abençoou a vasta planície.

E como era bela! Os habitantes de Nippur se ajoelhavam do lado de fora de suas casas, banhados pela chuva. Beijavam o solo ou assistiam emocionados as plantas, outrora ressecadas, serem limpas pela água que caía dos céus. Os recipientes que tradicionalmente se localizavam à porta de cada uma das pequenas e aglomeradas casas de barro, usados para depositar o sangue de animais abatidos que serviria de alimento aos Deuses de Nippur, estavam cheios de água. Os moradores regozijavam enquanto os Deuses observavam, silenciosos, das mais altas janelas da cidade. Suas faces escuras e olhos brilhantes também esboçavam contentamento pois sabiam que se não existissem mortais, se fossem mortos pela seca e falta de alimento, os Deuses também pereceriam.

Em pouco tempo as pequenas torres escuras de Nippur estavam banhadas. As ruas, agora enlameadas, pareciam ter dificuldades para sustentar a quantidade de chuva. Aquele labirinto urbano, repleto de passagens pelos telhados que davam acesso a entradas nas partes altas das casas e portava às torres dos Deuses, se tornava visivelmente diferente quando chovia. As construções, quando secas, tinham a cor típica do barro da planície. Quando molhada, porém, a cidade assumia colorações mais escuras. A terra deixava fugir o calor acumulado durante o dia, calor que envolvia todos junto ao perfume do renascimento, da esperança, da Fé.

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- As preces foram atendidas, afinal.

Era uma voz profunda, densa. Sarosh se virou, deixando de olhar a janela, de onde assistia a festa dos mortais de Nippur que dançavam e tocavam instrumentos para agradecer aos Deuses. Era sua câmara pessoal, um local simples, adornado com tesouros de terras distantes, nas quais o Filho de Laza havia caminhado. Na porta de acesso, de pé, a figura imponente e musculosa de seu irmão Karotos.

A câmera de Sarosh se localizava na torre que servia de residência a Laza, quando estava em Nippur, e aos seus filhos. O Pai havia determinado que todos os seus descendentes vivessem juntos no mesmo local, que aprendessem a conviver com suas diferenças, que amainassem suas animosidades, sob a sua supervisão direta, uma vez que Laza ocupava o último andar da torre. De fato, funcionou. Poucas famílias poderiam se orgulhar de tamanha coesão e harmonia quanto o Clã da Noite. Ao menos essa era a imagem externa. Internamente, Sarosh sabia, como sabiam todos, mesmo Laza, das animosidades entre seus irmãos.

Não obstante, ali estava Karotos, O Primogênito. Que belo homem, era. Seus cabelos escuros, como os de todos os filhos de Laza, eram curtos. O rosto era um primor, equilibrado, com notórios toques de ferocidade e violência. Apoiado em uma das paredes, observou seu irmão. Sua face era iluminada pela pálida luz da lua que entrava pela janela, encoberta pelas pesadas nuvens de chumbo. Vestia somente um saiote de couro cru. Na cintura, uma espada de bronze.

- O Pai retornou, Sarosh. Deseja vê-lo.

Mudou, deixando a expressão calma para trás e expressando algum descontentamento.

- Deixarei Nippur nas próximas noites, visitarei minha Família. Você, como segundo nascido, assume a casa se o Pai resolver deixar Nippur novamente.

Sarosh deve continuar no tópico "Torre de Laza"
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Acordou com a música. Era magnífica! Acordou mais forte. A música se tornava cada vez mais alta na medida em que se levantava, deixando o calmo abismo que chamava de lar para alcançar a superfície.

Ao fim, lá estava. A mais bela canção, a da chuva a alimentar os rios.

Havia outras canções, pois os mortais celebravam a chegada da tempestade. Os céus, escuros, observavam tudo em silêncio, assim como as montanhas, distantes. Nippur estava escura, os fogos externos apagados pela água. Não havia força como a água, pensou. Não havia nada que desse mais alegria aos mortais daquele lugar quanto a força que ele regia. Permaneceu ali por algum tempo, o corpo envolvido pelo Tigre. Depois, deixou seu refúgio, alcançando a margem e caminhando até Nippur.

Em sua cabeça, porém, permanecia o sonho. Havia sonhado esta noite, coisa que raramente acontecia. Alguma coisa o chamava, repetindo seu nome com insistência. Não havia um sentimento de urgência, não era um pedido de socorro. Era somente uma voz feminina, doce e triste, que continuava a chamá-lo em meio à Escuridão. Quando esta se dissipava, via uma jovem mulher, com longos cabelos escuros. Deitada no chão, contemplava as estrelas. Chamava seu nome. "Enki, Enki, ajuda-me". O sonho terminava, nas quatro vezes que havia se apresentado durante seu descanso diurno, invariavelmente com uma pesada espada de bronze trespassando o ventre da mulher.

Sabia que Gallod era um exímio intérprete de sonhos. O Pai não estava em Nippur, então seguiu para encontrar seu irmão de Sangue.

Enki deve continuar no tópico "Zigurate do Estrangeiro".
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Sentia no ar a umidade. Do lado de fora, chovia. Nenhum barulho penetrava naquele local, profundo como era. No entanto, sua intuição lhe dizia que a cidade estava em festa. Sempre imaginava como seria se as águas invadissem a caverna. Nunca havia acontecido, mas o cenário o preocupava. As tabuletas de argila ali estocadas guardavam milênios de conhecimento. As defesas místicas que guardavam o local seriam suficientes para suportar a força da natureza. Difícil saber. Esperava.

Naqueles túneis, escavados sob Nippur graças ao poder do Pai, poucos ousavam entrar. Poucos que não partilhassem seu Sangue. Era incomum, portanto, que a paz daquele santuário fosse rompida, como estava sendo naquele momento, em que passos lentos e arrastados denotavam a aproximação de alguém.

Mancheaka se entrou no recinto.

Um grande homem, era Mancheaka. Encarnava tudo o que o Pai havia determinado como essencial em sua progênie. Força, honra, sabedoria e altruísmo. Era amado por todos, até mesmo por aqueles de fora da Família, que ouviam suas palavras e seus ensinamentos. Aquele homem alto, negro como a noite profunda. Coberto de jóias feitas de bronze e ossos que adornavam os pulsos, pescoço e tornozelo, trazia nas mãos um recipiente. Vitae. A única coisa que dominava a existência de todos os Deuses. Humano. Doado de boa vontade em troca de proteção. Ya'rub sabia tudo aquilo sem ao menos se esforçar. O Sangue era parte dele e parte do mundo, era o que ligava todas as coisas e explicava todas as questões.

Mancheaka depositou o recipiente ao lado de seu irmão. Beijou-lhe a testa, com amor e respeito.

- O Pai ordena que seus Filhos se apresentem a ele. Quando estiver pronto.

Ya'rub deve continuar no tópico "Túneis de Haqim".

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Sabia que a chuva se aproximava. Era muito sensível a todas as mudanças, a todas as possibilidades. Não tinha certeza, porém. De todas as coisas que podiam ser vistas e sentidas antes que viessem a ocorrer, a chuva sempre se apresentava como possibilidade e não como certeza. Talvez Aquele Acima não desejasse que ele fosse capaz de trazer conforto e esperança a corações quebrados pela seca. Se fosse este o caso, era a confirmação de Sua crueldade.

O templo estava tranquilo, silencioso. O som da chuva reverberava pelos corredores, porém, chocando-se com harmonia em cada curva, coluna e arco. Sentia-se bem. Não sentia a presença do Pai, ao menos não neste tempo. Estaria imerso em suas viagens, sua consciência vagando pelo infinito. Sentia, porém, seus irmãos, cada um ocupando um setor do grande templo.

Sentia, sobretudo, os mortais.

Aproximavam-se aos montes. A chuva os havia retirado do torpor e da tristeza. Uma grande procissão se dirigia ao Templo, banhados de água, suor e sangue que escorria de feridas autoinfligidas. Vinham para agradecer aos Deuses que, em sua infinita benevolência, haviam permitido a renovação do mundo. Vinham, sem medo ou receio, entregar parte de suas vidas aos Deuses do Templo de Granito. Desejavam vê-los, ouvir suas palavras de conforto, de que tudo ficaria bem e de que as colheitas seriam o suficiente.

Ele sabia que as colheitas seriam o suficiente. Tinha certeza. Sorriu.

Os mortais já estavam na porta do Templo, ajoelhados, esperando seus Deuses de Sangue e de Glória.

Amon deve continuar no tópico "Templo de Ilyias".
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Sex maio 25, 2018 10:34 pm
*Lamdiel era uma surpresa, mas uma surpresa imensamente grata. Enki sentia um enorme carinho por Malkav e sua progênie, os considerando quase como uma família adotiva. Seu caminho era outro, dos espíritos da terra e das vicissitudes do corpo e carne, mas ainda assim sua mente não estava no mesmo lugar de quando era mortal. Ela havia se deslocado para um ponto além após os traumas do Abraço, e este ponto na qual voava, se não era o mesmo do Clã da Lua, era similar, próximo.*

-Seu pai vê todo o mundo e muito mais, amado primo. Não sabe o quanto eu amo a ti e a ele por ter me julgado digno de uma ínfima parte dela.

*Enki sorri. Seu coração se enchia de alegria ao ver os fieis em caravana para Nippur, mais ainda por sua protegida. E ele vê mais. Vê Mashkan-Shapir após tanto tempo, vê coisas que julgava, e julga, inexistentes.*

*Lamdiel não se encontrava mais ali, mas Enki ainda falava. Com os espíritos ao redor? Com o primo ausente? Consigo mesmo? Nem ele poderia dizer.*


-Meu nome é uma canção em Mashkan-Shapir. Minha canção traz felicidade, júbilo e adoração.

-Como eles se atrevem? Como se atrevem a encontrar felicidade com meu nome na Fortaleza da Dor? E como se atrevem seus arautos a ter para si minha adoração? Oh, Mashkan-Shapir tem urgente necessidade de meu amor. Tamanha necessidade que não sei se meu coração conteria; não, ele transbordaria, como um rio. Um coração cheio de amor e uma mão gentil para guiar, sim, essas são as necessidades. Essa é minha missão.

-Enki do Abzu não fará nada que seu amado Pai lhe proíba, mas Enki do Abzu espera. Espera pela noite em que aqueles acima, que tanto se importaram, não se importem mais. Pela noite em que, enfim, sua represa esteja livre. Até lá, Enki precisa ver. E proteger que precisa de proteção.

*Ele aguarda na saída da cidade, o local definido por Sutekh. Ele fica parado, imóvel, olhando para o horizonte. Sem qualquer movimento, quase como se fosse um gesto involuntário, um novo braço nasce na sua manga antes vazia.*
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Sáb maio 26, 2018 6:42 am
Mal sentiu a manga das vestimentas serem preenchidas e ouviu passos atrás de si. Olhava o horizonte e não se girou, mas sentiu intensamente a presença de seu parente Sutekh. Era como se a paz da planície fosse subitamente substituída por nuvens escuras e tempestuosas, que trariam a mudança e a transformação. Sutekh era incrivelmente semelhante ao seu Pai e ao seu tio Malkav. Os três personificavam, dentre todos os Treze, a Transformação, ainda que de formas diferentes.

O céu, contudo, permanecia límpido.

Quando girou-se, viu Sutekh. Na reunião sua Glória era contida pela glória coletiva dos Treze. Estar sozinho com o Senhor das Tempestades era um experiência particular. Sutekh era facilmente adorável, um líder, um Rei, à sua própria maneira. Vestia-se de forma elegante, com um saiote estrangeiro, ao estilo de Khemet, branco, que contrastava com sua pele escura. No torso uma camisa larga, costurada cuidadosamente. Jóias de bronze enfeitavam seu corpo: um colar com pedras avermelhadas, anéis, pulseiras e brincos em ambas as orelhas. Olhou para Enki e sorriu, um sorriso largo e cheio de dentes brancos mas, aparentemente, muito sincero.

- Cá está você, o Filho mais enigmático do Estrangeiro. Tenho apreço pela tua figura, Enki, gostaria de convidá-lo a Khemet. Gostaria que você visse o Nilo, o Grande Rio, e como suas correntes enchem de vida o deserto da existência.

Olhou o horizonte, como fazia Enki. Parecia que podia ver, com seus olhos serpentinos, Mashkan-Shappir.

- O Inimigo se move, em suas ações desprezíveis, e é nossa tarefa impedi-lo, Enki. Sei que teu Pai o proíbe de pisar em Mashkan, ao menos por agora. Eu, no lugar dele, faria o mesmo. Teu Pai teme, embora não mencione, perder um filho capaz como você. No entanto, não pode privar-lhe da ação, mesmo que à distância.

Sutekh estendeu o braço direito e retirou uma das pulseiras. Era um belo objeto, composto de uma fina liga de bronze e cravejado de pedras azuis e verdes. Estendeu-a na direção de Enki.

- Enquanto os outros não se reúnem a nós, permita-me presenteá-lo. Ouvi falar de suas capacidades como Feiticeiro, e gostaria que estas capacidades se desenvolvessem, tendo em mente as guerras que virão pois, como Deus da Guerra de Khemet, as sinto no horizonte. Este presente te ajudará a canalizar melhor os teus esforços e atingir resultados... notáveis. Considere tua herança advinda de um tio que se preocupa com o teu bem estar. Alguns dos meus outros parentes receberão heranças semelhantes, mas somente aqueles a quem aprendi a me afeiçoar.

Sorriu novamente.
Enki
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Sáb maio 26, 2018 9:35 pm
*A chegada de Sutekh muda todo o ar à sua volta. Fica subitamente mais pesado, mais carregado, exatamente como logo antes de uma tempestade. Os pensamentos de Enki eram dúbios: por um lado, seu Pai tinha alguma desconfiança com o Deus da Tempestade, por outro, Sutekh era inegavelmente uma figura de sabedoria, um poço profundo de conhecimento. E suas posições sobre Mashkan-Shapir eram igualmente ambíguas - se por um lado pronunciava-se abertamente como seu inimigo, por outro, foi o autor da trégua tão misteriosa com a Cidadela da Dor. Sutekh era, de fato, a Tempestade, o Deserto. Ele representava o Desconhecido, o Limiar, o medo e paixão que cada coração sentia ao se perguntar o que havia além do horizonte.*

*Enki sorri na presença do Tio, lhe oferecendo a curvatura exagerada que lhe era típica.*


-É maravilhoso, afortunado que nos encontremos agora, Tio, ainda que não seja surpresa para nenhum de ambos. Seu convite para conhecer suas terras além do deserto é de uma gentileza enorme; até aqui ouço sussurros dos espíritos sobre o Nilo, o maior rio que há. Me agradaria muito conhecê-lo, mas não agora. Por ora, o Crescente me prende, assim como votos que aqui fiz.

-É com grande amor que o Mais Velho me proíbe de pisar em Mashkan-Shapir, e vejo que compartilha esse amor. Eu sinto grande vontade de derramar as torrentes da fúria no lugar, como uma gentileza a todos que lá vivem. Mas há sabedoria na proibição, pois embora o Pai fale poucas palavras, seu silêncio diz muito para os que sabem ouvir. Meu nome é conhecido e cantado lá, e nomes, como sabe a Tempestade do Deserto, têm um poder próprio. Ao visitar Mashkan-Shapir, conheceremos a Cidadela. Ao acompanhar vocês, conhecerei os limites de meus próprios poderes lá.

*Enki pega a pulseira com interesse. As pedras refletiam as águas que tanto amava, e é como se visse um rio diferente em cada uma delas. Ele segue examinando a obra enquanto responde.*

-Outra gentileza! Notável, notável. A Tempestade é aquilo que sempre espreita no horizonte, por isso é apropriado que poucos dentre os Treze dominem mais o mundo além da visão do que você, meu Tio. Tamanho interesse em minha pessoa é uma vergonha para mim, pois meus limites são muitos, e meu conhecimento pouco, pois somente escuto as vozes da água e dos espíritos ao seu redor. Sua atenção, como disse, é vergonhosa, mas o presente é uma grande honra. Muito me agradaria a gentileza de saber suas propriedades.
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Seg maio 28, 2018 4:00 am
Sutekh sorriu diante das palavras de Enki. As escutou com atenção e concordou, com movimentos de cabeça, a algumas das assertivas. Enki sabia que a relação entre seu Senhor e a Tempestade do Deserto não era das melhores. Porém, dada a ausência contínua de ambos na região de Nippur - O Estrangeiro imerso em suas infinitas andanças pelo mundo e Sutekh, quase sempre, residindo na distante Khemet - Enki se perguntava se haviam motivos a mais para tal configuração. Se havia, não era demonstrada por Sutekh, que parecia extremamente gentil ao ouvir as preocupações de seu parente.

Aproximou-se de Enki quando da última pergunta.

- Segundo se diz em Khemet, o Nilo é o Pai de todas as águas do mundo. Na mente daquelas pessoas, o rio escorre por todos os planaltos e planícies, alimentando todos os povos. Evidentemente é uma concepção metafísica, mas que ajuda, considerando o quanto a crença é difundida, a criar uma relação material empática entre o Nilo e os outros corpos aquosos ao redor dos quais a civilização se estabeleceu.

Sutekh tomou a mão de Enki, observando a pulseira. Pareceu ao cainita mais jovem que seu tio tinha uma grande afeição pelo objeto que agora confiava a ele.

- Utilizando-se deste objeto você fará parte deste vínculo empático. Teus olhos alcançarão locais que você, por enquanto, desconhece, mas que fazem parte da grande rede de águas sagradas que abastece o mundo. Onde quer que um rio seja adorado, teus olhos lá estarão. Com o tempo aprenderá a conhecer mais sobre as capacidades do objeto, assim como sobre as suas. O Tigre e Eufrates são tua casa, mas teus olhos alcançarão o Nilo de minha terra e o Indo de Zapathasura.

Sutekh sorriu.

- Será um presente útil no futuro que virá. Não existe vida sem água, Enki, assim como não existem civilizações. Espero que você o aprecie.

Voltou a olhar o horizonte. Sua expressão era ligeiramente cansada., com olhos pesados e boca torcida.

- Estamos nos preparando para uma segunda guerra, Enki, mas meus irmãos parecem tentar evitá-la a todo custo. Não entendo o que temem. Desestabilizar as grandes bases do Equilíbrio? Eu sou um amante da guerra e do conflito, está em minha natureza. É dali que nasce a Mudança. É meu dever, então, proteger meus parentes dos efeitos nocivos do conflito, ainda que deva garantir que eles compreendam as mudanças que virão dentro deles mesmos. É uma tarefa difícil, não acha?

Sutekh parecia estar imerso em uma digressão consigo mesmo. Seus olhos escuros fixaram os de Enki depois de algum tempo.

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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter maio 29, 2018 12:09 am
*Enki retribui o olhar de Sutekh com o sorriso aéreo que lhe é típico. Seus olhos são azuis, mas num tom que não é encontrado em nenhum mortal, pois a própria cor não era constante - podiam ser quase cinzentos, num tom aquoso e triste ou de um azul luminoso como o mar banhado pelo sol, como estavam agora. Enquanto Sutekh se concentra em seu próprio dilema interno, Enki coloca o bracelete no pulso e abre os braços, sentindo o vento e admirando o horizonte.*

-Maravilhoso! De fato, postulo há algum tempo que os grandes rios da Criação são de uma só origem e um só sangue, e isso pouco está relacionado ao seus pontos físicos. Os espíritos da água falam a mesma língua e obedecem aos mesmos comandos, e eu posso sentir algo a mais, como uma grande árvore cujas raízes se estendem até um poço primordial, daí vêm os rios que aprendemos a amar. Eu deveria, talvez, ter em meu Pai uma lição, e conhecer o mundo por trás destes vale, escutar as línguas dos espíritos das muitas terras diferentes. Sem dúvidas ele ficará empolgado com minha ideia, assim como com o presente magnífico dado por meu tio. Mais do que nunca, me sinto ligado. Pois tem toda a razão, tio. A água é o sangue vital de cada coisa viva que caminha por este mundo, e se nos é fadado beber o sangue, bem, é porque comungamos com a água; com a vida criada por cada gota d'agua existente, toda ela destilada e canalizada para os vivos, que por sua vez se canalizam e destilam até nós.

*Ele retorna o olhar ao antediluviano, seus olhos cinzentos novamente, como que mais focados.*

-Mas me perdoe, se eu deixar minha mente sem represas, ela flui como uma torrente, e fica difícil segurá-la! O Senhor fala sobre Mudança, e poucos lhe entenderiam tão bem quanto minha família, por mais que existam outras... diferenças. E há algo que represente com mais evidência a mudança do que a água? Ela é a fonte da vida e civilização, como concordamos, e há mudança maior? Há algo mais adaptável, mais maleável?

*Conforme fala, a carne de Enki estremece, como as ondulações em um lago antes calmo. e era como se o Moldador não tivesse ciência do que acontecia com o próprio corpo.*

-Não. A Mudança está aqui. E você pode sentir? Há uma tempestade no horizonte.
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Ter maio 29, 2018 6:06 am
Sutekh sorria, enquanto observava o horizonte. Seus olhos, diversamente daqueles de Enki, era sempre castanho-avermelhados, como uma brasa em uma fogueira. Permaneceu atento à planície por alguns segundos, antes de desviar o olhar até Enki uma outra vez.

- Sim, a tempestade já está aqui. E nós sobreviveremos a ela, como sobrevivemos a todas as que vieram antes. Como sobrevivemos à tempestade enviada por Aquele Acima.

O cainita pareceu ter saído de um transe. Girou o corpo em direção a Enki e admirou a jóia em seu pulso. Enki se sentia diverso. Era quase como se pudesse ouvir os rugidos do Tigre e do Eufrates que se localizavam a alguns quilômetros de distância. Seu corpo estava leve, como era nos momentos em que estava submerso nas águas que tanto adorava.

- Tua sabedoria será reconhecida, Enki do Abzu, nas eras e séculos que virão. E, se posso dar-te um conselho, seria de conhecer o mundo. É belo, é vasto e imprevisível. Se você escolher permanecer nesta lugar, ele irá destruir uma parte de você, pois aqui reina a estagnação.

Enki percebeu que seus parentes se aproximavam. Em uma das ruas de Nippur que dava acesso ao portão norte, era possível ver Daharius Sarosh e aqueles que seguiriam com ele para a batalha. Marchavam decididos, altivos, como é típico dos filhos de Ventru, Laza e Arikel. De uma outra parte, notou a aproximação de Ya'rub e Japhet que conversavam discretamente e, por um terceiro acesso, a presença de Amon, que parecia abatido, ainda que mantivesse a beleza etérea dos filhos de Ilyias.

Sutekh se girou diante da aproximação de seus sobrinhos. Enki percebeu que a Tempestade do Deserto tinha deixado, por completo, sua expressão e comportamento disperso, filosófico. A cada passo dos cainitas, Sutekh se tornava maior e mais potente, até o momento em que um forte vento açoitou a planície. Enki não tinha certeza se o céu estava claro ou escuro enquanto estava a sós com Sutekh mas, naquele momento, o firmamento era uma massa de nuvens acinzentadas. Alguns relâmpagos rasgaram os céus. O vento levantava as areias da planícies, fazendo-as correr em direção a Nippur, passando velozmente pelas pernas de Enki. Pareceu ao filho do Estrangeiro que o deserto invadiria Nippur. Sutekh cumprimentou aqueles que chegavam, sua voz alta e límpida, ainda que furiosa, ecoando por uma planície sem montanhas.

- Eu os saúdo, filhos dos meus irmãos, bravos como são. Humildemente me ofereço para protegê-los das adversidades e dos inimigos, com o pouco poder que é meu por direito. Pois eu sou o Deserto em que caminharão, comando as Bestas e o Mistério, Mudança e Permanência.

O ar ao redor de Sutekh cheirava fortemente a ozônio. O Antediluviano pareceu a todos, por um breve momento, invencível. Era um Deus que caminhava na Terra.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter maio 29, 2018 8:31 am
* Daharius Sarosh aproximou-se do antigo e daqueles que o cercavam. Caminhava em um compasso lento, Sarosh, com o seu saiote negro sem qualquer detalhe a contornar a parte inferior de seu corpo enquanto seu torso nú bem definido, na qual as tatuagens sombrias permanecem estáticas, se mantinha visível.

Cumprimentou os presentes com um leve meneio de seu fronte e observou-os com seus olhos negros que seguiam a obscura cor de seus longos cabelos e barba.

Sutekh emanava poder, bruto e impressionante. Era, sem dúvidas, uma força da natureza quase incompreensível. Todos os antigos o eram. Seres de inimaginável poder e idade, imbuídos de capacidades que estão além da compreensão até mesmo de seus próprios filhos.

Mas não eram, ainda sim, Deuses. E não eram, como a reunião e a falha da primeira guerra claramente mostraram, invencíveis. Eram, sim, representativos e impressionantes em emanar tais sensações. Sarosh não poderia, jamais, culpar os mortais por sua crença. Como não os adorariam, dada a magnânima presença daqueles seres? Cabia a nós, os que detém o poder, usá-lo com sabedoria.

Sarosh sorriu em meio à seus pensamentos e a demonstração de poder de seu tio, antes de fazer sua grave e polida voz ecoar*


- Os saúdo, Sutekh - A Tempestade que se forma nos céus - e a todos os descendentes dos antigos aqui presentes. O grupo liderado por mim está pronto para compartilhar de vossa sabedoria e poder, Tio meu, pois partiremos em breve de encontro ao inimigo e à guerra.

* Havia nos olhos escuros e profundos de Daharius uma altivez e decisão conforme suas palavras avançavam*

- Pois a Guerra virá e seremos nós a vencê-la.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter maio 29, 2018 9:52 am
Sutekh não respondeu Daharius. Não por arrogância ou por ignorá-lo. Sutekh não estava mais ali. Seu corpo sim, estava, de pé diante dos portões de Nippur. Os olhos, fechados, a cabeça levemente inclinada em direção aos céus. Sutekh tinha na face uma expressão de desafio, de impáfia comedida. As mãos, estendidas diante do corpo, estavam espalmadas em direção ao céu escuro. Não era mais acinzentado, senão completamente negro. Mais do que o comum. Não haviam estrelas, não havia lua. As tochas que iluminavam a entrada de Nippur se haviam apagado. Escuridão e silêncio, somente o vento e o barulho da areia do deserto, que corria açoitando os corpos dos presentes, era ouvido.

A cada relâmpago parecia aos presentes que um rosto disforme e imperioso podia ser visto entre as nuvens. Apesar da distância e da falta de clareza, era visível que era o rosto de Sutekh. Tinha a boca aberta e parecia engolir toda a claridade, toda a luz que ainda restava. Um frio intenso, como o frio do deserto, envolveu todos os presentes. O Sutekh diante deles, abriu os olhos. Eram inteiramente brancos, contando somente com uma estreita fenda, como aquela de uma Serpente. Sua voz era o trovão, a tempestade, a vida e a morte e todas estas coisas juntas.

Era poder bruto, aquilo que sentiam. Sutekh parecia desafiar os céus e, quando falou, se tornou claro que era exatamente isto que fazia.

- Não tens poder aqui. Não tens poder sobre nossos corpos e nossas almas, não podes destruir nossa carne e acabar com nossa imortalidade. Pois somos Eternos, sempre fomos e sempre seremos e, antes mesmo que a Grande Luz se acendesse, aqui já estávamos.

Os presentes sentiram, subitamente, como se o Sangue dentro de suas veias fervesse sem que lhe causasse nenhum dano.

- Não tens poder aqui. Não tens poder sobre meus filhos e meus parentes, pois são abençoados pela Tempestade, pelo Rei, pela Guerreiro e por Tudo O Que Há Fora de Khemet.

A voz de Sutekh era alta, ensurdecedora. Alguns dos cainitas levaram as mãos aos ouvidos. A face nas nuvens cedeu, o céu se abriu. A lua ressurgiu em toda a sua glória e aqueles cainitas, aqueles jovens cainitas sob o céu escuro, se sentiam invencíveis.


*Em termos de jogo, o Vigor dos personagens, mesmo aquele gerado pelo uso de Pontos de Sangue, poderá ser usado para absorver qualquer tipo de Dano Agravado. Além disso, todos os personagens recebem, automaticamente, +3 pontos temporários de Vigor*
Amon
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter maio 29, 2018 11:17 am
O céu já estava totalmente negro quando Amon encontrou o grupo reunido ao redor de Sutekh. O vento e a areia o açoitavam continuamente enquanto a voz e o poder do senhor das tempestades se faziam presentes.

Havia um estranho silêncio em Amon. Apesar de ser, entre todos os presentes,um dos mais comedidos, havia uma dureza em seu caminhar, em seu olhar. Amon sentia que tudo estava errado, que tudo deveria ter um fim.

Amon pensou no futuro e todas as suas possibilidades o assustaram.

Sem falar com seus primos, ou até mesmo com Sutekh, seguiu para seu refúgio. Precisava ver Belit Sheri, precisava.
Enki
Enki
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Ter maio 29, 2018 1:26 pm
*E assim chega a tempestade. Era sem dúvidas magnífico poder observar Sutekh exercer seu poder, e Enki sentia mais do que nunca o sangue pulsando dentro de si, como uma cachoeira. Algo havia sido libertado dentro de seu corpo.*

*Cada cainita que se aproxima é recebido com um sorriso e uma curvatura do Moldador, mas ele não fala por ora.*

*Se sentia pronto.*
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Qua maio 30, 2018 2:21 pm
A chuva havia caído com força também durante o dia e ao entardecer. A terra estava úmida, quase ao ponto de lama. Toda a Nippur estava estranhamente escura naquela noite, os mortais recolhidos às suas casas. Sarosh percebeu isso quando olhou pela janela da Torre de seu Pai. Na sua câmara estava seu irmão Tepelit: Laza havia encarregado que ele conduzisse o grupo que seguiria para Mashkan-Shappir, evitando três dias de viagem. Arrumaram-se e deixaram a Torre.

Assim como Enki percebeu, ainda durante seu sono, que as águas se renovavam e que havia alegria no ar. Constatou quando chegou na saída do Zigurate, o cheiro de vida que renascia invadindo seus pulmões mesmo que não respirasse. Gallod, sentado na base da construção, observava os poucos mortais que ainda trabalhavam. Abençoou e abraçou seu irmão antes que ele seguisse para a saída norte.

Yarub acordou pra perceber que a lança reluzia, em um leve tom azulado, no escuro de sua câmera. Quando a tomou em mãos, o fenômeno cessou. Subiu os túneis para encontrar Rashadii, recuperado, que o desejava boa sorte. Este o alertou que Mancheaka já havia retornado, ele e Haqim haviam saído para encontrar Malkav e Ventru.

Alcançaram a saída, cada um ao seu tempo, observando a beleza que era Nippur quando chovia. A cidade mudava. Era como se tudo estivesse bem, nenhum problema realmente importasse. Cruzaram com mortais que os saudaram com atenção e clamor, mas sempre à distância. Os três alcançaram a saída norte e, pouco a pouco, os outros cainitas foram chegando ao local. Mi-ka-il e Tammuz, Medon, Nakurtum e, por último Japhet, acompanhado de um outro homem. Era alto e imponente, ainda que profundamente pálido como Japhet. Os cabelos eram longos e escuros, estranhamente lisos. Exalava uma aura de sabedoria, ainda que diversa da do irmão: parecia que ele havia visto coisas e lugares que Japhet jamais imaginaria existir. Sua face era diferente, estrangeira. Foi Japhet quem o introduziu:

- Amon não seguirá conosco, Ya'rub, deve realizar outras tarefas relacionadas à sua família. Em seu lugar, nos acompanhará meu irmão Caias, um exímio guerreiro e diplomata.

Tepelit, que tinha chegado com Sarosh, apresentou a Ya'rub e aos outros a sua disponibilidade de conduzi-los, através da Escuridão, diretamente às proximidades de Mashkan-Shappir. Segundo ele, apesar de tornar a viagem mais célere, não a tornaria certamente mais agradável.

Um vento frio acariciava a pele de todos os presentes. A chuva tornaria a cair em breve.
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Qui maio 31, 2018 1:55 pm
Antes de partir, ainda em seus aposentos, Ya’rub olha para a lança de Haqim em suas mãos. Após apreciar o estranho brilho azulado que ela emitia, não conseguiu conter sua curiosidade. Precisa compreender o que havia naquele artefato.

Sentado em posição de lótus no meio de sua câmara, Ya’rub apóia a lança horizontalmente em suas pernas. Em seguida, leva o polegar direito à boca, abrindo um pequeno ferimento com seu canino. O precioso vitae verte algumas gotas, que o feiticeiro prontamente espalha na ponta laminosa da arma. Com o dedo ainda aberto e sangrando, fecha os olhos e, lentamente, passa o polegar na pálpebra do olho direito e depois no esquerdo.

Usando as artes místicas do sangue, Ya’rub se concentra, buscando descobrir tudo o que fosse possível a respeito da história e das potências da arma de seu Pai [Conferir com a Lâmina - Trilha Despertar do Aço 1].

Ao terminar, Ya’rub se levanta devagar. Olha respeitosamente para a arma que tinha em mãos. Caminha para cumprimentar seu irmão e parte em direção aos portões de Nippur, onde encontrará seus primos e partirá em missão para Mashkan-Shappir.

Caminhando, ele aprecia os muitos cheiros da noite, em especial o da chuva que estava prestes a cair. Ya’rub cumprimenta Japhet e Caias. Quando ouve o Filho de Cappadocius notificando que Amon não os acompanharia mais, o feiticeiro apenas aquiesce com um meneio de cabeça. Estava pronto.
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Qui maio 31, 2018 11:26 pm
*A noite era promissora. Os céus choravam de alegria, e o sangue vital da terra pulsava: a mudança estava no ar, e a estação das chuvas - e Enki sentia isso na sua carne, sangue e ossos - significava uma nova estação, em vários sentidos além do óbvio.*

*Ele se despede de Gallod com ânimo e carinho, e é com o mesmo estado de espírito que recebe seus primos.*


-Estamos todos aqui! Menos nosso sábio primo Amon, é verdade, mas é substituído pelo nobre Caias, garantindo que a progênie daquele que luta para conquistar a Morte guie nossos passos. Que afortunados somos nós!

-E amado Tepelit, nossa existência não é uma de benesses e confortos. Somos criaturas de dor e sede, e por isso aguentaremos com graça os desconfortos da viagem, pois sabemos que será um gesto de amor. Peço apenas a gentileza de não entrar em Mashkan em si, pois como já disse, os acompanharei em corpo apenas até certo ponto.
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Sex Jun 01, 2018 5:07 am
A gota de sangue escorre pela lâmina da lança, fundindo-se com ela em poucos segundos. Em seguida, uma pequena torrente de informações se apossa da mente de Ya'rub. Era velha, a arma. Velha como a antiga cidade de seus ancestrais. Com ela Haqim havia caçado as grandes bestas que vagavam pelo mundo. Jamais havia se quebrado, sequer trincado. Era velha, e envelheceu com Haqim. E, quando seu dono adentrou a Noite Eterna, ela o fez junto a ele, tornando-se forte e capaz. Havia sido forjada pelo próprio Haqim e, tendo com ele uma ligação de Sangue, suas capacidades cresciam à medida que ele envelhecia. Nas mãos do Pai, podia romper montanhas e dilacerar corpos e almas.

Mas a característica mais notável da arma era seu ódio intranquilo direcionado à Prole de Baal. A estes ela fazia questão de se esforçar para machucá-los. Desejava, ansiosamente, purgar o mundo da influência daqueles seres, e eles conheciam seu nome, pois a temiam. E ela era orgulhosa disto.

*Em termos de jogo, para Ya'rub, a Lança de Haqim acrescentará dois dados à todos os ataques desferidos contra os Baali. Além disso, acrescentará dois níveis de dano automático aos ataques bem sucedidos.*

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tepelit sorriu diante da resposta de Enki, concordando com um aceno de cabeça. Aparentemente estavam todos prontos para partir mas, antes que o Místico do Abismo procedesse na convocação da Escuridão, Enki ouviu a inequívoca voz de seu Criador em sua cabeça. Ou em seu Sangue. Não estava em nenhum lugar à vista, mas Enki ouvia sua voz como se ele estivesse ao seu lado.

- Meu irmão Sutekh me convenceu de que é hora. Você entrará em Mashkan-Shapir.

Da mesma forma que veio, a voz se foi.

Tepelit ergueu as mãos espalmadas e voltadas contra o solo. Os cainitas virão a Escuridão se prolongar das palmas, envolvendo todo o corpo do Místico. O frio se acentuou. Em pouquíssimo tempo Tepelit não estava mais ali, era somente um humanoide feito de trevas. Dele se prolongaram tentáculos que, envolvendo lentamente Caias, Japhet, Ya'rub e Enki, os puxaram para baixo. Começaram a cair.

Nada. Não havia nada ali. Não obstante, Ya'rub os ouviu. Consciências. Murmuravam coisas ininteligíveis, segredos ocultos do início dos tempos. Durou um segundo.

Assim como durou um segundo a sensação de cair. Sentiram os pés tocando o chão, era seco e escuro. Diante deles, em uma depressão - eles estavam no alto de uma colina - Mashkan-Shappir se desnudava em toda a sua Glória.
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Sáb Jun 02, 2018 7:45 am
* Sarosh cumprimentou brevemente os demais. Sua mente inquieta vagava pelo plano traçado anteriormente. Aproximou-se de seu grupo e sua voz se fez ouvir. Bela e grave, como de costume*

- Aliados valorosos, é esta a noite na qual os servos de Mashkan-Shappir serão induzidos a quebrar a trégua. Lembrem-se, sempre, que é este o objetivo final.

* Seus olhos escuros como a noite sem estrelas repousou sobre Nakurtum e, em seguida, Mi-Ka-Il*

- Estabeleça a comunicação entre nossas mentes, Primo, pois levarei Nakurtum ao seu destino de onde observará e nos informará dos passos do inimigo durante o nosso ataque.

* Aguardou que o filho de Arikel empregasse suas habilidades e em seguida disse parcas, mas pesadas palavras*

- Mantenha-se firme, em corpo e mente, Nakurtum. Presenciarás o que habita para além desta terra que caminhamos. Espere o pior.

- Os demais, aguardem meu retorno.

* Seus olhos negros ganharam a presença de sombras ondulantes que se estenderam, como lágrimas sombrias, para as suas tatuagens que também passaram a se movimentar. Uma substância escura, muito mais escura do qualquer outra, começou a subir por suas pernas - e pelas pernas de Nakurtum - tomando-os completamente. O chão se foi e a escuridão os dragou.

A mente de Daharius estava igualmente escura, vazia. Somente a imagem do local descrito em detalhes por seu primo na noite anterior se montava em seus pensamentos. O cheiro da terra, a brisa noturna, o contorno das montanhas e até mesmo a posição das estrelas.

Estavam e, em um efêmero momento, não mais estavam diante de seus primos. Nakurtum sentiu-se envolvido e incapaz de deixar a sua posição. Não fisicamente, mas através de sua mente que experimentava o vazio absoluto jamais visitado. Era frio, inconstante e nada enxergava. Era, acima de tudo, angustiante.

Daharius Sarosh rumou para as proximidades, calculadas da melhor forma possível para que não se aproximem demais, do forte mais norte que pertence ao inimigo. O maior dos vilarejos controlados pelos infernalistas.*
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Dom Jun 03, 2018 4:22 am
Mi-ka-il aquiesceu e fechou os olhos por alguns segundos. Sarosh sentiu, subitamente, que sua mente se abria à de seu primo que, mesmo que usasse seus dons sobre o Filho de Laza, o fazia de forma delicada e respeitosa. Uma imagem mental surgiu em sua mente. Era a de uma sala vazia, dentro de uma espécie de caverna. Ali havia somente uma mesa de pedra, na qual se sentavam Mi-ka-Il, Nakurtum, Medon, Tammuz e o próprio Sarosh. Estavam interligados.

Nakurtum também assentiu diante das palavras de Daharius. Manteve-se próximo de seu primo quando Sarosh começou a convocar a Travessia. A viagem foi rápida mas infinitamente angustiante, Sarosh percebeu que Nakurtum se agarrava ao seu braço com força, embora mantivesse uma expressão aparentemente serena, com os olhos fechados. Emergiram a uma distância segura do vilarejo que era o centro de poder do inimigo na região.

À distância, não parecia mais que um vilarejo comum. Não haviam muralhas e as casas eram espalhadas irregularmente pelo terreno. Haviam grandes espaços abertos e ruas largas. O local estava, aparentemente, movimentado. Tochas iluminavam os muros das residências e uma grande fogueira parecia acesa na parte mais central da localidade. No total, o local parecia não dispor de mais de trinta casebres e nenhuma construção de nota. Não se assemelhava, por nada, a um centro de poder ou de adoração.

- Não se preocupe comigo, meu irmão. Concentre-se em teus afazeres. O manterei informado.

Nakurtum deixou Sarosh, mesclando-se com a escuridão para não mais ser visto.
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Seg Jun 04, 2018 8:21 am
* Sarosh e Nakurtum emergiram da escuridão. A sensação terrível sentida pelo seu primo era, para ele, agradável. Talvez o Abismo fosse o único lugar longe do olhar severo de seu pai que lhe trouxesse uma paz de igual proporção.

Surpreendeu-se. O vilarejo em nada lembrava o descrito pelo próprio Nakurtum na noite anterior. Usando da ligação empática criada por Mi-Ka-Il, dirigiu-se a todos antes mesmo de retornar a Nippur. Circulou a mesa desenhadas nas mentes unidas através dos dons de seu primo na qual todos estavam sentados, enquanto "falava".*


"Devemos ser mais cutelosos. O forte mais ao norte não passa de um vilarejo, nossas informações são imprecisas sobre o inimigo. Nakurtum, inspecione o local com a máxima cautela. Se não é este o forte mais guarnecido, talvez seja um outro."

* Encerrava suas palavras quando abaixou-se e concentrou-se. Queria buscar emanações não naturais ou feitiços de proteção naquelas terras. O místico tocou as sombras naturais do solo e através delas buscou conhecer melhor aquele terreno. Ao fim do processo, seu corpo fora dragado pela escuridão que o envolve, retornando à Nippur e emergiu como uma figura sombria diante do grupo ao passo de sua voz se erguer, desta vez de forma física*

- Preparem-se, quando surgirmos no outro vilarejo atacaremos rápidamente e com força. Lembrem-se de suas taferas secundárias, Tammuz. Busque informações úteis nas mentes dos mortais.

* Sua voz mal se encerrava quando as suas tatuagens sombrias começaram a deslizar por sua pele. Expandiram-se e cobriram seu corpo. Placas de aço negro e sombrio tomaram forma de seus pés até a sua cabeça, como um elmo negro e assustador. Uma armadura que parecia flamejar em sombras cobriu todo o seu corpo. As placas pareciam, ao mesmo tempo, firmes, indestrutíveis e maleáveis. Pequenas "labaredas" sombrias emanavam de seus ombros e mãos, deixando claro que aquela armadura de trevas estava, acima de tudo, viva.

Por fim, as sombras subiram lentamente pelas pernas de todo o grupo e os envolveram em um abraço de agonia e frio, absurdo frio. Envolvidos, mergulharam na mais profunda escuridão em direção ao vilarejo da direita, o primeiro alvo do ataque.*


- Que o inimigo conheça a nossa força.

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Seg Jun 04, 2018 9:14 am
Antes de retornar às proximidades de Nippur, Sarosh se concentra. Toca o chão próximo ao vilarejo em busca de uma intuição sobre o inimigo, mas nenhuma mágica ou proteção residia ali. Parecia estranha a ausência de locais de nota ou de fortificações. Nakurtum parecia seguro, durante a reunião, das informações que tinha, ainda que não estivesse estado no vilarejo anteriormente. Enquanto Sarosh se concentrava, sem resultados, foi a voz do Filho de Haqim que tomou de assalto a sua mente.

- Minhas informações eram incompletas. O centro de culto está abaixo.

Sarosh retornou à região de Nippur, descobrindo que os outros três cainitas já estavam cientes da informação fornecida por Nakurtum. Tammuz aquiesceu à lembrança feita por Sarosh sobre a sua tarefa; em sua mão direita repousava uma estranha espada, particularmente fina e aparentemente muito afiada. Medon segurava uma espada comum, de bronze, embora com um acabamento extremamente elegante. Mi-ka-il, por sua vez, estava com as mãos nuas. Sua fama, contudo, era de que não precisava de armas para ser particularmente mortífero.

As sombras envolveram os quatro cainitas. Sarosh adentrou o Abismo, conduzindo seus parentes. Sentiu que a conexão com Nakurtum vacilou por um instante. O Abismo estava particularmente silencioso naquela noite, Sarosh não ouviu ou sentiu nenhuma das presenças comuns àquele lugar. Seu corpo e o de seus acompanhantes deslizaram por pouquíssimos segundos por entre a Escuridão opressiva antes que se vissem, novamente, no mundo exterior. Sarosh voltou a sentir Nakurtum como parte da ligação estabelecida por Mi-ka-il. O Filho de Haqim parecia esperar que a conexão fosse retomada. Uma vez interligados, sentenciou:

- Entradas localizadas.

Sarosh, Medon, Mi-ka-il e Tammuz se viram diante do vilarejo de destino. Era um local de parcas extensões: não mais que vinte casebres compunham o perímetro urbano. Tinha forma circular, com as casas muito próximas umas das outras. Havia movimento nas ruas, mortais iam e vinham com alguma tranquilidade. No entanto, era impossível disfarçar a aura do local. Sarosh sentiu, e notou que seus primos também, a presença de outros de sua raça. Não tinha certeza se estavam cientes da presença deles ali. O vilarejo não dispunha de construções altas, templos ou zigurates, todas as casas estavam na altura térrea. As ruas principais eram quatro, em forma de cruz, e ao redor destas se espalhavam as residências.

O primeiro a se mover quando alcançaram o perímetro do local foi Tammuz, que avançou em direção ao vilarejo com velocidade e presteza, embora com cuidado. Medon, Mi-ka-il e o próprio Sarosh avançaram em seguida.
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Seg Jun 04, 2018 2:58 pm
*Abaixo do solo e submerso da visão dos passantes. Ali havia a mácula, a podridão e o culto a criaturas que sequer deveriam existir no consciente humano - ou cainita.

A verdade é que Daharius sabia pouco, de forma angustiante, sobre o inimigo. Sentia uma necessidade de aprofundar-se acerca dos Baali, de sua adoração profana e de seus modos escusos. Ao menos, é assim que os enxerga. Um pensamento permeia sua mente durante suas breves divagações.

Se a raiz do problema com o inimigo é a fé que propagam e exalam, a força motriz para a ameaça são os mortais. O elo mais fraco.

Daharius caminhava altivo e atento por entre o vilarejo. Ele sabia que sua presença, recoberto pelo Aégis Sombrio, faria os mortais despertarem em si os maiores dos medos e fugirem em pavor. Aquele que caminhava no vilarejo inimigo não era mais o belo e vívido Daharius Sarosh, era um avatar da escuridão primal que o recobria.

Era, acima de tudo, uma parcela do abismo a caminhar sobre a terra. Sejam quais forem os adorados naquelas terras, nem mesmo eles fariam frente as trevas abissais. Sua presença era aterradora, intimidadora e era exatamente este o sentimento que Sarosh buscava despertar nos mortais ao adentrar o vilarejo. O inimigo, onde quer que estivesse, sentiria e veria aqueles que são necessários em sua adoração profana em desespero e, por consequência, incapazes de prosseguirem com suas atividades. Sarosh era a sombra fria e profunda da noite que caía sobre o inimigo.

Sua aparência, de fato, intimidava. Placas de aço negro lhe cobriam o corpo como uma armadura completa. As placas dançavam e flamejavam, em pequenas explosões, conforme passavam por seu corpo. Sua face antes bela e impositiva agora estava encoberta pelas sombras que compunham um elmo negro a se unir com seus cabelos e barba. Apesar de toda a escuridão, eram aqueles olhos que carregavam o abismo em sua essência que se destacavam por baixo do elmo.

Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. 0dbae110

Em sua mão estava a espada que lhe foi presenteada por Enki, o filho do Estrangeiro. Se tratava de uma cimitarra  longa e curva. Aquela utilizada pelo seu povo enquanto Sarosh ainda os liderava sob o sol do deserto. Feita do próprio braço daquele cainita. Magnífica, pensava o Místico do Abismo. Magnífico também seria o significado de usar uma parte viva do corpo de alguém que foi molestado em Mashkan contra os seus próprios servos.

Ao lado de Mi-Ka-Il e Medon, Daharius avançou. Buscava sentir efeitos de feitiçaria presentes através de seus conhecimentos de misticismo. Mas, acima disso, empregava seus dons mentais ao passar pelos mortais.

Expandia sua visão para além da carne, perscrutando a alma dos presentes afim de conhecer sua natureza e, além disso, invadia a parte mais rasa de suas mentes a fim de conhecer seus pensamentos superficiais. Nada e ninguém escaparia a seu olhar, assim como nenhum dos presentes o observaria sem sucumbir ao pavor do Aégis Sombrio.

Sua voz ressoou, mentalmente, naquele salão escuro projetado por Mi-Ka-il.*


- Tammuz, interrogue-os através de seus meios. Mantenha-se, ainda sim, na minha linha de visão.

- Medon, cubra o flanco esquerdo. Sinto o inimigo próximo.

- Mi-Ka-Il, o lado direito lhe compete. Eu tomarei a dianteira.

- Avancem somente até a linha de visão uns dos outros. Os mortais  não são nossos alvos, mas mantenham-se atentos. Alguns servirão a seus mestres até a morte, assim creio. Portanto, todo aquele que erguer a mão contra nós - mesmo os mortais - deverá encontrar a destruição. Aqueles que necessitarem de ajuda e forem cativos, por outro lado, deverão ser poupados.

- Nakurtum, nos mantenha informados dos efeitos de nosso ataque no forte que investiga.


* Avançou, despertando o mais primal dos medos no coração dos homens, para que o verdadeiro inimigo se mostrasse. Pequenas chamas se esvaíam. Tochas se apagavam.O coração dos homens gelava e seus pêlos se eriçavam instintivamente. Ali, diante dos presentes, estava o Arauto do Abismo.*


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Ter Jun 05, 2018 2:48 pm
Avançaram. Sarosh à frente, uma figura de pesadelo envolta em Escuridão. A espada de osso de Enki abria seu caminho, enquanto ele era seguido de perto por Medon e por Mi-ka-il. Em poucos segundos, alcançaram a entrada da cidade. As reações dos poucos mortais que ainda transitavam pelas ruas não poderia ser outra. Talvez estivessem acostumados à entrada de guerreiros e pudessem ter reagido de forma diferente. No entanto, Sarosh era por demais assustador para não ser percebido. Gritos invadiram as ruas, pessoas corriam, outras desmaiavam. Fugiam, a toda velocidade possível, do ser abissal que adentrava o vilarejo.

Nenhum dos moradores atacou os cainitas. Mas seus gritos acabaram alertando outros mais corajosos. De uma das esquinas avançou uma pequena guarda, formada por não mais de oito indivíduos. Eram altos e de pele escura, cobrindo os rostos com máscaras de couros que representavam diversos animais. Quatro dele hesitaram diante da visão de Sarosh, recusando-se a avançar. Os outros quatro, mesmo que a passos mais comedidos, avançaram. E foi então que Medon avançou sobre eles.

Sarosh teve pouco tempo para observar seu primo. Medon sempre tinha sido muito cortês e calmo, mas Sarosh sabia que ele era o melhor dos guerreiros da Casa de Ventru. Uma fúria pareceu irromper em suas veias, ainda que Sarosh observasse que seus golpes eram comedidos, calculados para não acabar com a vida de seus oponentes. Atrás dos homens que hesitavam, foi Tammuz quem surgiu, havia passado despercebido por todos. Os homens se alertaram, girando-se para atacá-lo. Mas, antes que Sarosh pudesse realizar alguma ação, a porta de uma das cabanas foi arremessada, deixando a passagem livre para um homem que se aproximou deles com velocidade.

Era nitidamente um cainita. Sua pela era pálida e extremamente branca. Era careca, com tatuagens tribais que lhe cobriam a cabeça. Os olhos eram escuros e a boca estava aberta, com as presas expostas. Vestia somente um longo manto escuro e estava, aparentemente, desarmado. Não perguntou nada. Mi-Ka-Il, que estava ao lado de Sarosh e percebeu o avanço do novo oponente, se retesou quando o infernalista se lançou sobre ambos.


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Qua Jun 06, 2018 7:15 am
* A figura sombria caminhava pelas ruas do vilarejo exalando terror.

Nesta forma, Daharius Sarosh incorpora a escuridão absoluta e antiga que há no Abismo e deixa de ser - em sua totalidade - o encantador Sarosh de outrora. Era ele o Arauto do Abismo, aquele a levar somente dor e morte por onde passava. Saberia o inimigo que em Nippur há também aqueles capazes de causar espanto e agonia mas que, diferente dos seus, não se curva ao Abismo e sim o abraça.

Os mortais corriam em desespero e com gritos alarmantes. Seu propósito foi alcançado. O inimigo se mostraria.

E vieram. Primeiro uma guarda, nítidamente mortal, que deteve-se ao ver as trevas levantarem-se contra o seu vilarejo. Os mais bravos avançaram somente para encontrar o fio da espada de Medon. Admirou, por um instante, a maestria do Filho de Ventru com a lâmina. Sarosh era O Guerreiro e sempre será. Todo aquele capaz de empunhar uma espada apropriadamente o desperta curiosidade. Foram seus golpes comedidos que o chamaram atenção, também. Sua voz ecoou naquele salão obscurecido que havia somente em suas mentes*


" Os que fogem, devem ser poupados. Os que lutam encontrarão a destruição sumária. Matem a quase todos, deixem apenas um com vida para que leve o terror que viu - e sentiu - aos seus em outros lugares tomados pelo inimigo."

*O barulho da porta a ser arremessada o fez olhar na direção apropriada. Seu oponente finalmente mostrou-se. As presas sobressalentes e o avanço de seu corpo o indicavam um ataque físico. O elmo negro que contornava seus olhos e mesclava-se a seus cabelos e barba escondiam um leve sorriso a surgir na face de Daharius Sarosh.

O combate. O enfrentamento. Ele era, afinal, O Guerreiro.

Sarosh não subestimava o oponente. Era justamente o oposto. Desconhecia as capacidades marciais do inimigo para além das informações básicas. Ele e o restante do grupo tinham parcas informações. Esta incerteza gera dúvida e dúvida gera fraqueza. O líder, Daharius, sabia bem o mal que a dúvida pode gerar no coração dos comandados. Por isso, faria de seu primeiro golpe algo a ser lembrado. Uma prova concreta de que o inimigo sangra, sofre e pode ser destruído.

Mostraria que Mashkan-Shappir não é superior a Nippur. Que os seus caem perante os nossos. Inflamaria os corações de Mi-Ka-Il, Medon, Tammuz e Nakurtum.

O sangue, por um breve momento, esquentou em suas veias e correu firme por elas. Seu corpo moveria-se mais rapidamente e suas capacidades físicas seriam ampliadas. Seu golpe será implacável.

Analisou, velozmente, a postura de ataque do oponente. Seu corpo sombrio manteve-se imóvel até o último instante. Quando a proximidade foi suficiente, sua mão direita que terminava em prolongadas garras de trevas envolveram firmemente a haste da espada de ossos que segurava e a arrastou para a esquerda, cruzando-a à frente de seu corpo. Foi rápido, destrutivo e violento.

Ergueu o braço em diagonal para que a lâmina encontrasse o inimigo e o rasgasse da virilha ao pescoço, com toda a força que lhe é característica e com a maestria que o Filho de Laza  possui com as armas. Visava rasgar-lhe ao meio, como um cordeiro, em um único e poderoso golpe. Suas vísceras e maculado sangue seriam lançados ao ar e através deles ergueria a moral do grupo para que continuassem o ataque nos demais vilarejos.

Naquela noite, o inimigo conheceria o terror da força de Daharius Anun-Har Sarosh.*


Uso do sangue e valores para o ataque:
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Qui Jun 07, 2018 3:42 am
Teste de Ataque e Dano:

Esperou. Retesou as pernas no solo firme e os músculos dos braços. As mãos, cobertas de escuridão, agarravam o cabo da espada. Foram segundos que pareceram durar uma eternidade, aqueles que marcavam o início de uma nova guerra. Seria o primeiro a ser desferido, a abertura de um conflito que poderia transformar tudo o que Sarosh conhecia. Ainda assim, não vacilou. Chegou a perceber que um novo cainita avançava pelo seu flanco, somente para ser interceptado por Mi-Ka-Il. Quando o primeiro estava a uma distância suficiente, a espada cortou o ar, de baixo para cima.

Sarosh sentiu claramente a arma presenteada pelo seu primo cortando carne, ossos, cartilagem, vísceras. Deslizou sem nenhum impedimento pelo corpo do inimigo, abrindo-o ao meio e, elegantemente, terminando seu rastro de destruição no pescoço. O sangue jorrou em borbotões, uma chuva carmesim que cobriu o corpo de Sarosh, somente para ser absorvido pelo Aegis. Sentiu-se forte, invencível, quando as duas metades destruídas caíram pesadamente no chão. Os gritos continuavam ao redor de Sarosh, mas ele não se importava. Era o Arauto do Abismo e aquela era a sinfonia que precedia a sua chegada e as suas ações.

Girou-se para encarar seus aliados. Diante de Medon, nenhum homem estava de pé. O Filho de Ventru tinha a espada banhada de Sangue, a face cheia de fúria. Sarosh sentiu uma empatia em relação a Medon, ambos pareciam guiados pelo mesmo instinto, pelos mesmos ideais. Tammuz havia derrubado facilmente três dos quatro homens hesitantes; o último tinha o rosto preso entre as mãos do Filho de Arikel, que olhava profundamente nos seus olhos.

Mi-Ka-Il, por sua vez, estava sobre o segundo atacante. O havia imobilizado no chão, a mão esquerda de Mi-Ka-Il em seu pescoço. Sarosh percebeu que sua mão direita havia se tornado animalesca. Garras negras se prolongavam desta, e destruíam o tórax do inimigo em golpes rápidos e cirúrgicos. Mi-Ka-Il não esboçava a fúria guerreira de Medon ou do próprio Arauto. Ao contrário, parecia concentrado, quase fleumático.

Naquele breve instante, Sarosh recebeu várias mensagens sobre a situação.

A primeira foi de Nakurtum. Segundo o Filho de Haqim a notícia do ataque ainda não havia chegado no vilarejo mais ao Norte. Tudo procedia normalmente, o inimigo desconhecia o que estaria ocorrendo mais ao Sul. A concentração de Sarosh foi interrompida com a aproximação de Tammuz. Enquanto o último sobrevivente da guarda atacada por ele jazia no chão, aparentemente imobilizado por alguma força invisível, o Filho de Arikel dirigiu-se ao seu comandante:

- Não há inimigos no próximo vilarejo. Aparentemente seguiram todos para o vilarejo do Norte, para algum tipo de celebração, eles também estavam seguindo para lá, se não fosse a nossa chegada.

A terceira mensagem, a mais relevante delas, surgiu no meio da sala escura em que Sarosh dividia os pensamentos com seus primos. Era a voz de Saulot, o Pastor.

- Estou posicionado para fazer com que o inimigo quebre a trégua, seguindo ordens de Sutekh. Mas, para isso, a violência do teu ataque a norte deverá ser lendária , a ponto de mover o inimigo de Mashkan-Shappir. Me encontrarão no meio do caminho.

Nakurtum interrompeu novamente.

- Há algo acontecendo. O chão treme. Há feitiçaria no ar, algo maligno e ancestral.
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Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses. Empty Re: Nippur: A Segunda Cidade dos Deuses.

Qui Jun 07, 2018 10:27 pm
* A terra ressequida e sem vida era apenas uma imagem pálida de todo o seu esplendor. O povo, os que ainda caminham sob o sol, erguiam suas mãos aos céus e ajoelhavam-se perante a seus Deuses a espera da água milagrosa que se demorava a chegar. Dependiam dela, da chuva, para que fossem verdadeiramente completos e prósperos. Quando as águas se precipitaram das nuvens escuras, o povo vibrou e se alegrou. Havia vida novamente em Nippur.

São memórias recentes e apropriadamente cabíveis. Pois esta noite, assim como aquela já passada, a chuva se fez presente e avivou os que estavam sob suas pesadas gotas.

Daharius Sarosh sentia-se vivo uma vez mais. Estava completo e, assim como seu povo, próspero. Pois naquele instante sua espada fez com que a água que caísse dos céus fosse rubra. Choveu Sangue, inundou-se de Guerra e banhou-se na Morte. O Guerreiro havia despertado e finalmente percebido que apenas no conflito ele é, verdadeiramente e na íntegra, aquele que foi escolhido por Laza Omri Baras há tantos séculos.

Seu olhar por baixo do elmo sombrio encontrou seus liderados, valorosos em combate, vitoriosos sobre seus oponentes. O Arauto do Abismo caminhou em direção à Mi-Ka-Il e ao ainda não-vivo cainita que jazia sob suas garras afiadas. As palavras de Tammuz ainda ecoavam em sua mente quando a mão revestida pela escuridão que se prolongava como garras segurou a cabeça do inimigo e o ergueu do chão.

Apertava, com uma só mão, o crânio daquele infernalista ao ponto de fazê-lo estalar e jatos de sangue espirrarem dos buracos que seus alongados dedos sombrios causavam. Sua voz ergueu-se, não no salão escuro e vazio que era sua mente, mas no vilarejo recoberto de sangue a seus pés.

As trevas que envolviam sua boca em forma de elmo abafavam a sua voz que tornou-se quase gutural, primal, como se o próprio Abismo pudesse falar. As palavras se propagavam pelo ar, em um eco assustador.*


- Norte.

- Banharemos de sangue inimigo o solo do Norte.


* Nada mais disse, nem mesmo quando a voz do Pastor - Saulot - ecoou em sua mente. O homem em sua armadura de placas negras caminhou arrastando o corpo - ainda consciênte - do inimigo aproximando-se dos demais. Por um breve momento pareceu que não havia mais luz naquele vilarejo. Todas as sombras convergiram e cobriram os céus e, em seguida, mergulharam em direção à Tammuz, Mi-Ka-Il e Medon. Quando puderam observar, notaram que as trevas se propagavam dos olhos escuros e profundos por baixo daquele elmo sombrio.

Estalou uma vez mais, desta vez mais forte. O crânio do inimigo partiu-se em dezenas de pedaços e seu vitae escorreu pelo braço forte e tenebroso de Daharius Sarosh no exato momento no qual as sombras engoliram todo o grupo. Era frio ao ponto de cortar a pele, escuro como o fronte de um homem privado de seus olhos e as vozes permeavam todo o ambiente. Foi súbito e breve, mas foi inesquecível.

Estavam, então, aos pés do Vilarejo do Norte.

Daharius caminhou cortando a luz das estrelas e da lua carregando a escuridão consigo. Adentrou ao vilarejo e com sua passagem os mortais fugiam em desespero, caíam em colapso ou deitavam-se em posição fetal ao ver o Arauto do Abismo passar, indiferente, por eles. A brisa gélida o acompanhava e todas as pequenas tochas nas moradas apagaram-se subitamente. A escuridão havia chegado.

Guiado pelas descrições de Nakurtum, caminhou com os demais até a entrada do Forte Subterrâneo. Era uma escavação no centro do vilarejo. A terra cheirava a sangue e o túnel se mostrava longo à sua frente. Foi então que vieram.

Homens trajando mantos escuros ou armaduras de couro batido e máscaras com as feições de animais diversos. Hienas, chacais e lobos. Portavam lanças e falavam um idioma desconhecido pelo filho de Laza. Pouco, ou nada, importava. Antes que os demais pudessem tomar o fronte da batalha, a mão esquerda de Daharius se ergueu com os dedos voltados para cima e, naquele momento, o terror tomou conta daquele lugar.

O primeiro homem a portar uma máscara de Chacal avançou com a lança em riste e não notou quando, de sua própria sombra, um imenso tentáculo surgiu e o envolveu, erguendo-o a mais de dois metros de altura. Apertou-o como uma serpente constritora e o barulho de todos os seus ossos a se partirem ecoou pelo túnel e só eram abafados pelos urros de dor e agonia daquele mortal. Sangue vertia pelo braço da escuridão que alcança os dois metros e meio de altura.

Ao mesmo tempo, do teto de terra escavada, um segundo braço de Ahriman desceu violentamente contra outro dos guerreiros fera, com tamanha força que o impacto o dividiu em dois, esmagando e separando os membros do corpo.

O terceiro esboçou um grito de pavor e, de sua própria boca por baixo da máscara, milhares que pequenos fachos de escuridão se prolongaram e, afiados como navalhas, contornaram seu corpo e atravessaram-lhe nas pernas, braços, tronco e pescoço. Aquele homem se esvaiu em sangue e fezes e agonizou até a morte.

Corriam, desesperados e inutilmente. O quarto foi pego por dois tentáculos de trevas ao mesmo tempo, pelos braços e pernas. As prolongações do Abismo puxaram em sentidos opostos até que o braço esquerdo foi arrancado, junto do ombro. Em seguida seu corpo foi golpeado com violência descomunal contra a parede.

Mais três pereceram, trespassados pelos Braços de Ahriman que atacavam velozes e poderosos. O túnel, antes cor de terra, tornou-se carmesim.

Daharius avançou e sua armadura sombria tornou-se ainda mais rígida e firme. As sombras em seu entorno pareciam fortalecê-la. As placas que o revestiam assemelhavam-se à um diamante negro que refletia tudo a seu redor e aparentava ser completamente indestrutível. Os tentáculos, sombrios e longos, o rodeavam e o seguiam serpenteando pelo túnel, como bestas sedentas por sangue controladas por seu mestre.

Sua voz ecoou,  gutural e tenebrosa*


- Não haverá sobreviventes. Nenhum inimigo ou servo sairá com vida deste local. Matem a todos.

*Impressionava e assustava ver a criatura terrível que Sarosh havia incorporado. Era ele aquele mesmo cainita de bela voz e presença altiva? Não. Ali estava o Abismo, a Morte e a Guerra. Era ele o Arauto da Dor. O tempo das decisões fáceis se foi. Misericórdia não caberia naquela noite, haveria apenas Sangue e Morte.*


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