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Sáb maio 05, 2018 11:37 am
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Qui maio 31, 2018 12:37 pm
Quão bela era Lagash que, às margens do local onde desaguavam Tigre e Eufrates, resplandecia sob a luz da lua cheia. Diante dos portões, abertos, e do imenso vai e vem de mortais, camelos e carroças, Amon se maravilhou. Lagash era belíssima, construída em uma planície extremamente fértil, graças à confluência dos rios. No meio da cidade, uma enorme colina suportava o peso de templo e pequenos zigurates. Havia barulho, muito barulho, música, bebida e tratativas comerciais. Lagash era, no fim das contas, um potente entreposto comercial que abria caminho às cidade mais ao norte da Grande Planície.

No entanto, mesmo em meio ao grande mercado pelo qual passou Amon, em meio às especiarias exóticas vindas da região do Indo e os tecidos de Khemet, em meio aos perfumes desconhecidos e belezas estrangeiras, havia pobreza. Uma pobreza sufocante, mas quase invisível, escondida entre a grandiosidade do local. As casas eram como as de Nippur, majoritariamente de argila e pedra mas, à medida em que a cidade avançava em direção às duas colinas centrais, as construções se tornavam maiores e mais elaboradas. Era como se Amon se concentrasse na pobreza e na miséria, mas ela fugisse dos seus olhos, restando somente as tendas de mercadores e os sotaques estrangeiros.

As ruas eram estreitas e pavimentadas com pedras, diferentes de Nippur. Amon avançou por ela, os mortais dando espaço à sua passagem, quase como se, inconscientemente, soubessem de sua natureza. O cainita sabia que poucos de seus parentes habitavam em Nippur, uma cidade declarada independente por seus tios. Segundo Ventru, Lagash deveria ser deixada sozinha para completar seu desenvolvimento econômico que favoreceria toda a Planície, ao invés de sucumbir nas disputas de poder das Famílias. E assim foi feito.

Não demorou para que alguém se aproximasse. Um homem baixo, corpulento, bem vestido mas mal cheiroso. Tinha profundas marcas de expressão na face e um sotaque estrangeiro. Cobria-se de bronze e pedras preciosas, de forma quase vulgar e ostensiva.

- O amigo precura alguma coiso? Sal, carne exóticas, temperos? Escuravos? O que o amigo desejar, Amid terá.
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Qui maio 31, 2018 1:24 pm
Amon amava os mortais de forma intensa. Amava como eles se desenvolviam longe das amarras cainitas, apesar de desacreditar que Lagash estava isenta da interferência dos cainitas existentes. Ele observava com bastante interesse a organização da cidade, seu mercado e sua distribuição populacional. Apiedou-se daqueles que andavam sob as sombras da impressionante cidade e de sua magnificência. Caminhou entre as tendas, passando as mãos nuas pelos tecidos, regozijando-se pelo seu leve toque. Parou numa das tendas e comprou uma túnica, do melhor tecido.

Amon permitiu-se perder-se por um tempo, enquanto admirava Lagash, até perceber a aproximação de uma figura espalhafatosa. Demais até. Amon sempre foi muito observador e ele sabia que toda aquela parafernália e penduricalhos que envolviam o homem, serviam apenas como distração. Para que o verdadeiro homem não fosse enxergado. Após a abordagem do homem, o cainita o observou em silêncio, até que finalmente falou.

Sua voz era baixa e seu tom era calmo, quase sem emoção evidente.


Amid, estou procurando um mercador chamado Astar. Ouvi dizer que ele tem boas mercadorias. Será que você sabe onde posso encontrá-lo?
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Sex Jun 01, 2018 4:48 am
- HAHAHAHAHA! É sempri assim. Todos precura Astar. Tem escuravos da mais alta estirpe, ti asseguro. Vem e levo você até ele. Em troca de agumas moedas não?

O homem se agitou e tomou a frente de Amon convidando-o, com insistentes acenos de mão, que este o seguisse. Lagash se desvelava diante dos olhos do cainita, uma cidade orgulhosa de sua vocação comercial. Amon amava os mortais, sempre os tinha amado, e Lagash o proporcionava todos os tipos de homens e mulheres possíveis: escuros como a noite, claros como o sol, amarelos e pardos. Vestes de pele, vestes de algodão e linho. Ali confluíam muitas riquezas, fossem elas materiais ou humanas. Aqueles mais atentos - ou mais sensíveis - reconheciam a majestade de Amon, saudando-o enquanto este passava.

Amid guiou o vampiro por vielas estreitas e becos apertados, até que desaguaram em uma grande praça, exatamente abaixo das colinas. De perto, os templos e zigurates que se erguiam sobre a cidade eram realmente magníficos. Amon captava a influência estrangeira naqueles locais: não só na arquitetura, mas dentre as dezenas de escravos de diversas partes do mundo que ali trabalhavam ou mendigavam.

Na praça havia uma espécie de púlpito e, sobre ele, um homem extremamente magro parecia atender alguma pessoas que ofereciam moedas. Vestia-se de forma magnânima, mais luxuosa do que qualquer mortal que Amon tinha visto. A face era encovada e ossuda, a testa estranhamente comprida, a pele muito branca, mas não pálida. Os olhos eram duas safiras azuis cheias de astúcia. Parecia muito feliz com as ofertas, diferentemente dos homens atrás dele.

Enfileirados, homens, mulheres e crianças estavam acorrentados uns aos outros, pelo pescoço e tornozelos, com pesadas correntes de ferro. Amon gostaria de prestar atenção neles, mas sua visão e sua alma foram imediatamente atraídos por um jovem homem que se sentava ao lado do púlpito. Estava sentado, com as pernas cruzadas, e sobre elas apoiava uma tabuleta de argila ainda úmida. Com um pequeno pedaço de madeira, traçava cálculos, provavelmente referentes à venda de escravos. Era de pele clara e bronzeada, com longos cabelos castanhos encaracolados e olhos verde-esmeralda. Era belo, com seus lábios proporcionais, nariz fino e membros longos, porém equilibrados. Tinha um porte régio, elegante.

E Amon sentiu, com uma força avassaladora e desconhecida, que o amaria pelo resto de seus dias.
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Sex Jun 01, 2018 10:20 am
Se Amon ainda fosse vivo, certamente seu coração dispararia naquele momento. Um misto de euforia, incerteza e felicidade o agitava por dentro. Teve que se conter, quando as lágrimas começaram a se formar nos cantos de seus olhos, que fitavam fixamente para o homem sentado. Aquele só poderia ser Troile.

Amon sorriu para Amid e estendeu-lhe a mão.
Agradeço-lhe Amid por ter me guiado até aqui, pode seguir seu caminho e que os deuses o guiem. Falou Amon, enquanto soltava umas moedas, mais do que suficientes para pagar a excursão, nas mãos rápidas do guia, dispensando-o.

Aproximou-se do púlpito, abrindo caminho entre os homens que se aglomeravam ao redor do mercador, que por sinal, demonstrava ser bastante talentoso para negociar. Revelar naquele momento seu interesse, seria dar todo o poder de barganha para Astar, apesar de quê não importava a soma, a felicidade de Ilyias não teria preço em ouro.

Quanto mais Amon o olhava, mais tinha a certeza de que aquele rapaz traria seu senhor de volta. Ele ergueu a voz, de modo comedido, mas ainda assim alto o suficiente para ser escutado pelo mercador.


Saudações Astar! Amid me informou que tens os melhores escravos desta cidade. Vim observar com meus próprios olhos.

Amon se aproximou ainda mais do púlpito, apoiando suas mãos nuas no chão poeirento.
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Sex Jun 01, 2018 12:09 pm
Amon falou e o homem sentado o olhou velozmente. Seus olhos se cruzaram por uma fração de segundo, conduzindo Amon a uma infinidade de estradas não percorridas. Em qualquer situação que observasse, de qualquer ângulo possível, aquele homem seria alguém extremamente importante. Naquele momento, porém, ele se girou, submisso, para continuar seu trabalho.

Astar olhou para Amon de cima do púlpito que ocupava. O vampiro percebeu que os olhos do mortal era repleto de astúcia e crueldade, disfarçadas por uma expressão de gentileza. Curvou-se diante de Amon, talvez exageradamente, nitidamente reconhecendo a natureza do cainita.

- Mas que honra é receber um Deus entre aqueles que se interessam pela minha mercadoria!

Sorriu. Havia algo de forte naquele homem. A intuição de Amon, que dificilmente falhava, dizia que se tratava de um sobrevivente. Alguém que tinha deixado a miséria absoluta para elevar-se acima de seus pares.

- Venha, observe!

Tomou as correntes de ferro nas mãos e forçou os escravos a avançarem. Eram homens e mulheres magros e cabisbaixos, com uma nítida expressão de pesar e sofrimento, mas também de resignação. Não era justo que o forte dominasse o fraco? Naquelas terras famintas mesmo a escravidão poderia ser um bom negócio, se o Senhor justo fosse encontrado. Eram dois homens, três mulheres, um adolescente e duas crianças.

- Os homens estão mais do que aptos ao trabalho braçal, meu Senhor. São saudáveis e resistentes. As mulheres darão excelentes amas mas também podem ser usadas para o trabalho na lavoura. Se o Senhor desejar algo mais... durável, temos os mais jovens, que podem ser educados para uma infinidade de tarefas. Os dois mais jovens podem, inclusive, ler e escrever. Obviamente, custarão um pouco mais caro, mas nada que seja inalcançável para um Deus.

O homem estava nitidamente empolgado. Amon percebeu que, mesmo para ele, era uma honra sem igual negociar com um visitante de Nippur. Talvez o cainita estivesse em vantagem, afinal.

Mas Amon pouco via. Com o canto do olho prestava atenção a Troile. O escravo se levantou e, ainda com a tabuleta em mãos, se aproximou de Amon para apresentar os preços. Seu caminhar era régio, altivo, orgulhoso. Cheirava a rosas e a luz do sol. Curvou-se diante de Amon e estendeu-lhe a tabuleta.

- Estes são os preços, meu Senhor.
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Sáb Jun 02, 2018 1:57 am
A sagacidade do homem não o surpreendeu, mesmo ocultada por seus modos gentis. Todo mercador que se preze, ainda mais de escravos, seria daquela forma, ou até mesmo pior.

Seus olhos sagazes me traem Astar. Falou Amon, fazendo gracejo e sorrindo tão cortês quanto o mercador. Acabastes com o efeito surpresa. Isso de toda a forma é bom. Significa que podemos ser diretos, sem joguetes e barganhas. Sabes o que tens em mãos e sabes o que sou. Ele olhou pacientemente para a tabuleta estendida por Troile e, por um breve momento ainda que ínfimo, desejou tê-lo para si. Sorriu da absurdidade de seu egoísmo e voltou-se para o mercador. Vou precisar de muitos escravos Astar. Estes que tens não servem nem para começar. Pelo que eu havia ouvido, me disseram que você possuía dezenas deles. O que pretendo realizar em breve, precisará de mais do que um punhado de escravos, além de precisar de um escravo mais culto, que possa me auxiliar mais de perto.

Amon escolhia cuidadosamente as palavras, pensando em como obter êxito em sua empreitada, sem a necessidade do uso da força ou mesmo de seus dons. Se aquele homem estava naquela posição é por que, no mínimo, merecia, ainda que sua posição aos olhos de Amon não fosse agradável. O filho de Ilyias recordou sobre a saúde do jovem Troile e o observou de forma mais penetrante, de tal forma que pôde enxergar a sua aura.

Além disso, poderemos iniciar uma parceria promissora, tanto para mim quanto para ti. Comprarei todos os seus escravos aqui presentes hoje. Quanto desejas?

Enquanto questionava e enchia a cabeça de Astar de ideias, Amon evitava olhar para Troile, pois, sabia que poderia evidenciar sua vontade.
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Dom Jun 03, 2018 3:49 am
Astar parecia subitamente interessado na proposta de Amon. Seus olhos brilhavam com ambição e sua aura expressava uma intensa ganância, temperada com elementos de inveja. O mercador observou atentamente o vampiro, parecendo ponderar antes de responder. Afastando-se de Amon e retornando à sua posição inicial, Troile tossia copiosamente. Amon percebeu, somente naquele momento que, apesar de belo de jovem, Troile parecia, de fato, bastante doente. Amon sentiu o cheiro de sangue adoecido no ar quando Troile limpou a boca com as costas da mão. Não obstante, era um perfume adocicado, estranho. Atraía intensamente Amon. Seu desejo de ter Troile para si não era irrelevante. Haveria uma possibilidade em que Troile seria seu descendente ao invés de descendente de Ilyias?

- Sim, tenho muitos escravos, meu Senhor, e uma fonte inesgotável deles. Posso negociar contigo todos os escravos que lhe forem necessários. O preço? Me diga... que tipo de Deus és e o que podes fazer?

Astar encarava Amon, ansioso por uma resposta.
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Dom Jun 03, 2018 9:00 pm
Amon olhou fixamente para Astar e logo depois para Troile.

Que tipo de deus eu sou... Repetiu Amon lentamente, mantendo o olhar em Astar. Um deus que pode fazer o que quiser mas, que prefere manter uma relação igualitária contigo. O que sou e o que faço não lhe convém saber. Estou o procurando por que fostes indicados como o melhor comerciante de escravos, contudo, saibas que qualquer um poderia me oferecer escravos, ou até mesmo eu poderia fazê-los. Amon baixou o rosto por um breve instante e, quando ergueu a cabeça novamente, suas presas estavam expostas, mesmo que desnecessariamente, ele sorria para demonstrar as presas agudas que apontavam para o chão.

Mas, como gosto de você e deste teu jeito franco de ser, vou lhe dizer o que posso fazer. A primeira é que posso estender a sua vida por um longo tempo. Por mais tempo que possa imaginar, desde que eu queira. A segunda é que sei quando alguém está morrendo, como é o caso deste teu escravo que me trouxe a tabuleta e, se o mantiver contigo, certamente ficará doente, assim como que mantiverem contato com ele. Fez silencio por um instante e manteve a boca fechada, enquanto usava telepatia para se comunicar com ele. Posso também entrar na sua cabeça, basta querer.

Amon andou um pouco na frente de Astar, como se estivesse o avaliando.
Será Astar que você merece receber mais tempo para viver mais? O que tens a me oferecer para que recebas tamanha dádiva?
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Seg Jun 04, 2018 5:51 am
O mercador permaneceu calado por alguns instantes. Em seguida, ordenou que Troile assumisse a sua posição diante dos escravos. O jovem se levantou e obedeceu, colocando-se sobre o púlpito e dialogando com os potenciais compradores. Tossia muito e quando o fazia sangue era expelido de sua boca. Estava magro, embora fosse naturalmente atlético. Enquanto subia ao púlpito, seus olhos cruzaram com os de Amon e o vampiro soube imediatamente que Troile intuía o que ele era. O mortal sorriu para Amon, fazendo uma reverência discreta, mas respeitosa.

Astar conduziu Amon para a parte detrás do púlpito. O cainita percebeu que era um maneira de estarem a sós mas, também, uma estratégia que desse a Astar tempo para pensar. O mortal convidou o cainita a sentar-se em um banco de madeira diante dele. Serviu-se de vinho antes de começar a falar.

- Não seu eu quem posso julgar se devo viver mais tempo, é uma tarefa que cabe a vocês Deuses. Eu, no entanto, poderia fazer bom uso de alguns anos a mais de vida. Acumulei muitas riquezas mas, infelizmente, não sou capaz de ter filhos. Os Deuses não me permitiram tal dádiva. Tudo o que acumulei, portanto, não servirá a nada. A menos que eu tenha mais tempo.

Bebeu um gole de vinho. Amon percebeu que o mortal não o ofereceu a bebida.

- É providencial que você esteja aqui. O que posso te oferecer? Meus escravos, ora essa. E outros que virão de locais onde tenho influência. Não entendo, porém, a razão de um Deus necessitar de tantos escravos. Ou melhor, não entendo a necessidade de comprá-los. Não é simples, para vocês, receber adoração e servidão dos mortais? Não é isso que os distinguem de nós?

Pousou a taça de vindo no chão de terra.

- De qualquer forma, imagino que possa ser um negócio razoável para ambos. Que me diz? Meus escravos - e quantos outros desejares - em troca da extensão de minha vida.
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Seg Jun 04, 2018 10:22 am
Amon acompanhou o comerciante, observando-o atentamente. Sentou-se no banco e ouviu tudo o que ele tinha a dizer. Finalmente chegara o momento certo, sabia o que o mortal temia e, apesar de toda aquela esperteza e sagacidade, era como todos os outros, temia a morte.

Você está correto em suas observações meu caro Astar. Eu poderia me satisfazer com a adoração e a servidão, porém, elas só me satisfazem se forem voluntárias e de coração. Os escravos que comprarei de ti serão libertos. Se quiserem me acompanhar, serão bem vindos, os que não quiserem, seguirão com as suas vidas. Pretendo construir uma cidade, uma nova cidade, e precisarei de homens e mulheres que possam erguê-la de acordo com meu sonho.

Tenho uma ideia que beneficiará a ambos Astar. Darei a ti mais tempo, o quanto desejares para viver. Darei a ti também a oportunidade de me servir. Já és um grande homem, mas, pode ser ainda maior. Darei a ti um tempo para pensar, enquanto isso, levarei os escravos que vim buscar, incluindo o doente.
Amon olhou-o com mais intensidade e ordenou: Aproxime-se Astar, filho de Set. Dar-te-ei o que desejas, para que andes por mais tempo entre seus pares e para que sua influência e fortuna cresçam tanto quanto possível for para ti, não esqueças de mim e, quando for a hora, me procures, posso te dar ainda mais do que desejas.

Neste momento Amon usa temporis 6, com este poder ele controla o envelhecimento do alvo, podendo inverter o envelhecimento. O cainita rejuvenesce 10 anos de Astar.

Pense bem Astar, estarei o aguardando em Nippur amanhã. Me chamo Amon e estou ansioso por nosso novo encontro. Amon olhou para o púlpito e falou com Troile.
Vamos rapaz, liberte os outros e me sigam, temos uma viagem a fazer.

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Seg Jun 04, 2018 12:03 pm
Amon viu as rugas retrocederem. Viu a pele perder as marcas de sol e as cicatrizes de combates mal sucedidos. Os fios brancos enegreceram. Os olhos se tornaram mais vivos, a boca mais rosada. A pele reluziu e os músculos tornaram a ser visíveis sobre ela. Astar arfou por alguns segundos, somente para se erguer posteriormente. Olhou as costas das mãos e com elas tocou a face, sentindo sua vitalidade recuperada.

Olhou para Amon. Parecia assustado e encantado ao mesmo tempo. E então, sem nenhuma cerimônia ou nenhuma vergonha, ajoelhou-se diante do cainita. Tomou o pé direito entre suas mãos jovens e o beijou, uma única vez. Depois, se ergueu, acenando a Troile. Não dirigiu nenhuma palavra a Amon.

- Retire as correntes destes e traga os outros. Vocês agora pertencem a este homem.

Troile, que havia se aproximado, ouviu atentamente as palavras de seu - agora - antigo dono. Tornou a olhar para Amon. Sua expressão era alguma coisa entre o fascinado e o cético. Obedeceu a ordem, retirando com presteza as correntes que envolviam os tornozelos dos escravos. Levou-os até onde estava Amon e, falando em uma língua desconhecida para o cainita, o indicou aos escravos, que se curvaram em obediência e reconhecimento. O próprio Troile fez o mesmo, antes de se retirar para cumprir o restante da ordem.

Só então Astar se dirigiu a Amon.

- Eu não preciso de tempo para decidir. Estou disposto a servi-lo, se isto aumentar minha influência, minhas riquezas e meu tempo na Terra. E tu terás, em troca, o servo mais fiel que jamais imaginou ter.

Era curioso, porém, que Amon não conseguia intuir automaticamente, como normalmente ocorria, o Fim do Ciclo de Astar.

Não demorou muito até que Troile retornasse. Junto a ele, se aproximavam cerca de cinquenta pessoas, uma pequena comitiva de homens e, majoritariamente, mulheres. Algumas crianças faziam parte do grupo. Amon percebeu que Troile falou exatamente as mesmas palavras que havia dito aos outros, e a resposta foi igual: curvaram-se respeitosamente em direção ao seu novo Senhor.


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Ter Jun 05, 2018 4:12 am
Satisfação. Essa palavra define bem o sentimento de Amon. Não apenas por ter conseguido seu intento primário. Ele jamais duvidou de que não conseguiria. Estava traçado, nesta e em outras linhas temporais o futuro jovem Troile. O mais amado dos filhos de Ilyias, seu senhor. Amon observou alegremente a súbita submissão de Astar. De fato aquele homem era um sobrevivente e, não importava o que ele tenha passado ou o que tenha feito para chegar até aquela posição, em maior ou menor grau, aquele homem merecia o respeito, recém adquirido, dado pelo "deus" parado a sua frente. Seu olhar passeava pelos escravos e parava de tempos em tempos em Troile. Apesar de toda emoção gerada por aquele momento, manteve a sua voz calma ao dirigir-se ao seu novo servo.

Astar, esta é uma noite especial para mim, por diversos motivos. Saiba que poucas coisas entre vós, filhos de Set, passam desapercebidas por mim. Desde o primeiro momento que o vi, soube que és um sobrevivente entre seus pares. Ganhastes minha apreciação nesta noite e espero que ganhes muito mais. Estarás comigo quando iniciar o meu projeto, apenas peço-te uma coisa: A partir de hoje, seja ainda mais prudente do que já és. Não serás mais um anônimo e o teu futuro o aguarda. Mantenho o convite feito há instantes atrás, vá até Nippur que estarei o aguardando no templo de Ilyias. Sua existência e suas ações mudaram e mudarão muitas coisas entre nós, seres de Nippur, por mínimas que tenham sido. Agora devo partir.

Amon acenou para os escravos para que o acompanhassem. Olhou para Troile e deu-lhe uma instrução.

Diga a estes que nos seguem que adquiri o direito sobre as suas vidas, contudo, não é o meu desejo que permaneçam como escravos. Dar-lhes-ei abrigo e comida para que se recuperem deste período em que foram mantidos como cativos. Aos que desejarem permanecer comigo em Nippur, lhe serão dadas moradias, trabalho e proteção, para que sigam com as suas vidas. Os que não quiserem, poderão partir ao final do período de dez dias. Não será exigido nada deles, tanto dos que ficam quanto dos que partirão, além do que é esperado dos atuais moradores da cidade.

O brujah observava, o já amado, Troile dar as instruções para os recém libertos, enquanto caminhava. Ao fim das instruções, Amon acenou para que Troile o acompanhasse na caminhada.

Nesta noite Troile, vim de Nippur para encontrá-lo. Seu lugar não é entre os cativos e tampouco entre os mortais. Sei, assim como tu sabes, que tua vida se esvai lentamente de seu corpo. Minha intenção não é apenas de restituir a tua vida como também a vida de alguém que amo, ou ao menos julgo amar. Espero que não temas, pois, agora estás seguro. Além disso, peço-lhe desculpas por não ter falado contigo antes, mas, não poderia colocar meus planos em risco. Agora guie os demais, a viagem será curta e logo logo estaremos em casa.

Amon olhou para a Lua, enquanto lágrimas rubras começavam a verter de seus olhos. Ele estava imensamente emocionado naquele momento. Pensou em Ilyias, em Belit-Sheri, nas diversas linhas temporais que poderiam acontecer dali para frente. Mashkan-Shappir tornou-se um pequeno problema em comparação aos seus sentimentos. Ele então continuou a andar, pois, as noites pareciam não ser mais tão escuras quanto eram ultimamente.
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Ter Jun 05, 2018 2:04 pm
Astar aquiesceu diante das palavras de Amon e comprometeu-se a visitá-lo em Nippur na noite seguinte. Em seguida, se afastou, deixando o cainita e os mortais. Amon percebeu, enquanto Astar se afastava, quer a face do mortal havia perdido a empáfia e segurança que exibia. Astar parecia confuso, embora feliz. Sua forma reduziu-se até se perder em uma das inúmeras vielas do mercado de Lagash.

Enquanto Troile traduzia as palavras de Amon, o cainita observava, encantado. Os homens e mulheres ouviam com atenção, alternando os olhares entre Troile - que tossia entre as palavras - e Amon. Ao final, uma mulher se destacou da multidão, aproximando-se de Amon. Sem nenhuma cerimônia, tocou o rosto do vampiro. Tateou, sentiu-o, enquanto olhava profundamente nos olhos de Amon. Sem desviar o olhar, mas girando levemente a cabeça, dirigiu algumas palavras a Troile. O intérprete, então, as traduziu para Amon:

- Seguiremos o Deus Frio onde quer que ele nos levar.

A mulher voltou à multidão, ainda com os olhos enigmáticos em Amon. Era bela, mas maltratada, com uma pele extremamente escura, olhos grandes e expressivos igualmente negros e uma boca pequena. Os cabelos eram compridos e encaracolados, estranhos às pessoas ao sul de Khemet. Troile acelerou o passo para acompanhar Amon, ouvindo o cainita durante a caminhada. Quando Amon terminou, e as lágrimas começaram a rolar dos seus olhos, Troile se aproximou e as enxugou, delicadamente, com as pontas dos dedos. Depois, falou. Sua voz era mais tranquila e, incomensuravelmente mais bela.

- Não chore. Tenha orgulho do que fez hoje. E embora eu não saiba o meu lugar no mundo, tenho certeza que não seria ruim que ele fosse próximo ao senhor.

Deixaram Lagash para trás, adentrando a planície e iniciando a longa viagem de retorno à Nippur. Demoraria algumas horas, mas Amon sabia que alcançaria a cidade pouco antes do amanhecer. Transcorreram em segurança o percurso, adentrando os portões da Cidade Sagrada quando o ar se tornava mais frio. Seguiram para o Templo de Ilyias e os homens e mulheres foram deixados aos cuidados dos servos e fiéis. Amon dispunha de ao menos uma hora livre antes que o sol nascesse.
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Qua Jun 06, 2018 3:06 am
A humanidade certamente seria a sua ruína.
Amon manteve-se em silêncio durante todo o caminho até Nippur. De vez em quando, ele olhava para o céu, para ver a Lua, destacada e brilhante na imensidão escura do céu. Seu pensamento viajava longe, não apenas em Troile ou até mesmo Ilyias. Relembrou a toque sutil e inesperado da mulher, que há pouco o havia chamado de "deus frio". Seria mesmo um deus frio, entre os seus pares? Ele se esforçava para que não. Entre todos, ele se considerava o mais próximo da humanidade. Poderia estar enganado. Enquanto caminhava, olhava preocupado para Troile, a cada tosse expelida por ele, no entanto, sabia que não era a hora dele.

Ao chegar em Nippur, finalmente relaxou.


Troile, ordene-os que se encaminhem até aqueles homens e mulheres que estão no templo. Pergunte a mulher seu nome e diga para me procurar amanhã, desejo que Belit-Sheri, nossa irmã, a conheça. Ela me parece ser uma pessoa ímpar também. Logo após me siga, entraremos no templo de meu criador. Temos pouco menos de uma hora antes do amanhecer. Quero que os conheça ainda esta noite.

O filho de Ilyias aguardou que Troile orientasse os ex-escravos e então caminhou ao seu lado, adentrando o templo.
Seguiu pelos corredores, tendo como som apenas os passos e a respiração, do ainda mortal, Troile. Amon ainda parou na entrada do local combinado com Belit-Sheri. A partir daquele momento o mundo dos cainitas não seria o mesmo, ele sabia disso.


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Qui Jun 07, 2018 3:57 am
Troile conduziu os escravos, sob as ordens de Amon. O cainita viu quando o mortal dialogou com a mulher que o havia tocado anteriormente. Enquanto falavam, a mulher observava, de longe, Amon.Seus olhos eram estranhos, enigmáticos, dotados de uma força moral e espiritual tangíveis. Amon foi capaz, inclusive, de ouvir o nome da mulher quando ela o disse a Troile.

- Shalmath.

Troile retornou e o disse a Amon, inconsciente de que o vampiro tinha ouvido, ou de que a mulher parecia tê-lo dito especificamente para ele. Adentraram o Templo. Troile parecia maravilhado com a construção, e não deixou de realizar uma pequena reverência religiosa antes de colocar os pés ali dentro. Tossiu mais uma vez, enquanto o fazia, e uma pequena fração do seu sangue foi expelida no chão do Templo.

Amon se deteve diante do local onde se encontrava Belit. Intuía o que estava para acontecer, mas as possibilidades eram tão vastas, tão infinitas, que a certeza era impossível. E a coisa lhe agradava. Era interessante flutuar entre as possibilidades. Entrou.

Belit-Sheri estava sentada diante de uma mesa de pedra, suas mãos deslizando habilmente sobre uma tabuleta de argila ainda úmida. Estava sentada, e levantou os olhos quando da entrada de Amon e Troile. Seu rosto se abriu em um sorriso imenso, sincero, espontâneo. Amon jamais havia visto uma expressão semelhante na face de sua irmã. Parecia que a felicidade havia retornado àquele local e que ela havia sido a primeira a receber a antiga amiga. Nada disse. Levantou-se e rumou para uma prateleira de pedra suspensa na parede, de onde retirou um frasco de argila. Amon sabia que sua irmã era uma profunda conhecedora de ervas e unguentos. Caminhou em direção a Troile, estendendo o frasco em sua direção.

- Isto irá acalmar tua tosse e teu mal estar.

Troile tomou o frasco e o bebeu imediatamente. Parecia confiar, cegamente, nos dois vampiros diante dele. Quando terminou, agradeceu a Belit-Sheri e Amon pode perceber que ele a observava com um amor antigo, como se não fosse a primeira vez em que se viam. A face de Troile estava contorcida em dúvida, como a de alguém que tenta se lembrar de algo ou entender uma sensação que o toma de assalto. Belit sorriu para ele, mas abraçou Amon com força em seguida.
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Sáb Jun 09, 2018 4:55 am
Amon permitiu-se envolver nos braços de sua irmã de sangue, sentindo seu frio abraço. Sorriu, ao lembrar das palavras da mortal que o havia chamado de deus frio. Seu sorriso aos poucos foi desvanecendo, pois se deu conta que no fim, algo trágico aconteceria. Seu pensamento fora mais profundo que a percepção sobre a realidade de Belit-Sheri que previra a possibilidade da destruição de Ilyias, seu senhor e mestre. Seus pensamentos chegaram ao primeiro, àquele que cedera perpetuou a maldição, condicionando outros a fazer o mesmo. Além disso, a sina de um filho ou de um irmão matar o pai fazia parte da maldição de Caim, um ser maldito desde a sua mortalidade. Às vezes Amon era tomado por esses pensamentos, que o levavam do otimismo à realidade num curto espaço de tempo. Imaginou ver Troile ou até mesmo ele destruindo Ilyias. Depois, finalmente pensou em Mashkan-Shappir, que neste momento era alvo da fúria dos cainitas de Nippur, com ou sem razão. No final, todos se destruiriam.

Contudo, ele vivia o tempo presente e assim como estes pensamentos surgiam, desapareciam. Era melhor não sofrer por antecedência e viver o que o tempo dava de bom. Agarrou sua irmã e a abraçou com força, como se não quisesse que aquele momento nunca passasse.


Troile, descanse hoje durante todo o período em que o Sol estiver no céu. Ao anoitecer volte aqui. Poderíamos estender esta noite, entretanto, desejo que se recupere. Nos vemos amanhã. Creio que minha irmã já separou um lugar para que descanses um pouco. Ele olhou para Belit e finalizou a conversa, que sequer tinha começado. Façamos o mesmo. Teremos tempo para conversar no início desta noite.

Ele se separou do abraço que o envolvia, beijou-lhe a testa e seguiu em silencio para o seu local de descanso. Imerso em seus pensamentos, adormeceu, relembrando toda a sua existência pós abraço.
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Dom Jun 10, 2018 6:55 am
Amon dormiu.

E sonhou.

Sonhou consigo mesmo. Caminhava em uma construção estranha, feita de pedras marrons. Era um longo corredor sem janelas ou passagens, sem móveis ou decorações. Somente um odor era onipresente, o cheiro de guerra e sangue, de morte e violência. Ouvia gritos do lado de fora, pedidos de misericórdia. O corredor passou. Se viu em uma sala redonda, parcamente decorada, mas com um grande trono no centro onde se sentava Troile. Atrás dele, uma varanda permitia a visão do mar e de uma cidade que sofria com diversos focos de incêndio. Incontáveis navios sitiavam o local e ali o cheiro de morte era ainda mais intenso. Troile o observou por alguns segundos antes de falar.

- Estou feliz que estejas aqui, irmão. Eles chegaram.

Acordou. Tinha um gosto estranho na boca, como se faltasse uma parte de si mesmo. Pouco a pouco a sensação passou e Amon se ergueu, pronto para enfrentar uma das noites mais decisivas de sua vida. Belit estava ausente das catacumbas onde repousavam, sinal de que já estava de pé. Amon seguiu sua voz, caminhando em direção à superfície. A encontrou sem nenhum esforço: estava na parte mais alta do Templo, numa sacada, local onde ela e Amon costumavam sentar para admirar Nippur e a planície. Troile estava do lado dela. Os dois riam. Fazia anos que Amon não ouvia risadas no Templo. A linguagem corporal de sua irmã era relaxada e ela ouvia as palavras de Troile, que parecia contar-lhe anedotas sobre a sua vida.

Belit se ergueu diante da chegada de seu irmão. Abraçou-o uma outra vez. Depois, sentenciou sua percepção:

- É muito agradável. Imensamente inteligente, com um potencial imenso. Devemos levá-lo ao Pai imediatamente.

Não foi, porém, necessário.

Amon sentiu que atrás de si o mundo se dissolvia em milhões de possibilidades. Sentiu que o que era novo nunca havia sido e que o que era velho seria novo novamente. O céu estava escuro repleto de estrelas, mas havia um perfume de guerra no ar; Amon sabia que uma grande batalha havia começado. Ouviu os passos nos degraus do Templo. Olhou para trás para admirar a chegada de seu Senhor, Ilyias. Estava vestido de forma muito elegante, com uma túnica verde com detalhes prateados. Os cabelos encaracolados escuros e a barba negra lhe concediam um ar de seriedade e concentração. Ilyias avançou lentamente até se aproximar de Amon e Belit. E, então, viu Troile. E Amon soube, imediatamente, que seu Senhor estava vivo novamente.
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Ter Jun 12, 2018 7:12 pm
Amon sorriu, pois, intuía o que ocorreria dali para frente.
Não olhou de imediato para seu senhor, apesar de saber que ele estava ali, parado. E mesmo aquele ser, naquele momento de repouso, parecia mover o tempo ao seu redor e mesmo Amon, quando próximo a ele, enxergava as dezenas de possibilidades que surgiriam daquele encontro. Então, veio o sonho em sua mente. Guerra, sangue, morte, dor. A inevitabilidade da existência de um cainita e, graças a Troile, não, graças a ele e a sua irmã, o futuro daquele mortal estava destinado a grandiosidade, ainda que fosse pelo conflito, pela guerra, pela morte. Pensou um pouco, quem seriam eles? Os Baali? Ou seriam seus irmãos e primos?

De qualquer forma, sentiu-se bem, o futuro não importava, ao menos por agora. Virou-se para Ilyias.


Este é Troile, meu senhor. Trouxemos-o a ti, pois, sabemos que precisas de um novo sopro em sua existência.

Calou-se, observando cada ação de Ilyias.
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Sáb Jun 16, 2018 6:22 am
Ilyias se aproximou. Beijou a mão esquerda de Belit-Sheri e tocou no ombro de Amon, de forma amorosa, saudando seu filho. Depois, voltou os olhos para Troile. Amon percebeu que ambos se encararam por alguns segundos, antes que Troile percebesse que estava diante de um ser de imensa sabedoria e poder. Levantou-se com pressa, os olhos vidrados em Ilyias. Curvou-se. Ilyias continuou a encará-lo por alguns segundos antes de voltar-se para seus dois descendentes.

- Então vocês o encontraram. Sabia de sua existência mas, por alguma razão, não consegui determinar seu paradeiro.

Aproximou-se de Troile. Tocou o rosto do mortal com a mão esquerda, em um gesto íntimo mas, aparentemente, sem significado. Amon notou que Ilyias parecia confuso, quase frustrado por alguma razão. Era como se fizesse um esforço monstruoso para alcançar algo que insistia em escapar-lhe por entre os dedos. Troile se mantinha em silêncio, mas alternava entre olhares confusos para Amon e Belit e amorosos para Ilyias. No horizonte o laranja de um sol que acabara de se por completava o cenário, mas não machucava os vampiros. Choveria naquela noite.

Ilyias se voltou para Amon, afastando-se de Troile. Tomou a mão direita de seu filho entre as suas.

- Às vezes eu sinto muito, Amon. Realmente sinto. Não posso ser o que você deseja, o que deseja Belit ou o que desejará Troile. E essa é a minha maldição, e só minha, enquanto que para vós existe uma chance de superar este estado miserável. Escolhas, tudo é feito de escolhas, e eu sempre escolhi vocês antes mesmo de escolher a qualquer outra coisa.

Foi veloz e inesperado. Amon sentiu toda a tristeza e pesar que emanavam de um Ilyias sério e compenetrado. Eram como ondas de frio glacial, que conduziam o vampiro a um lugar inexplorado. Estavam ali todos os sentimentos que ele sempre tinha esperança de sentir, represados por um muro não natural. Amon tornou a sentir raiva do Primeiro, que havia amaldiçoado seu Pai àquela existência. O que teria feito Ilyias?

Foi Ilyias quem quebrou a torrente de pensamentos.

- Você o encontrou, Amon, e agora o ciclo está completo. É hora da família crescer. É hora de você deixar de se preocupar comigo, pois Troile estará aqui para cumprir esta tarefa, e passar a se preocupar conosco. Eu tenho uma ordem para você. Você viajará, para longe, para qualquer lugar que lhe atraia e que você sinta que pode chamar de lar. E ali encontrará aquele que você irá amar como eu amo você. E você o trará para a noite. E assim ele fará com outros que farão com outros, pois a proibição do Primeiro nada vale diante de nós, e cairá em breve.

Ilyias parecia querer continuar, mas Amon entendeu a razão de ele interromper o discurso. Anis havia chegado em Nippur. Anis, sua aura emanando poder e glória, seu corpo que era cheio de beleza e seus olhos escuros, que escondiam uma crueldade sem limites.
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Seg Jun 25, 2018 4:41 am
E mais uma vez, em tão pouco tempo, Amon chorou. Não se sentia envergonhado em chorar na frente dos seus, apesar de saber que aqueles sentimentos que o levavam a isso, logo desapareceriam de sua existência. O ódio que sentia do primeiro era latente e, por mais que ele tentasse, não conseguia entender por que um pai puniria seus filhos com tamanha crueldade. Seus pensamentos fluíam, enquanto observava aquele a quem tanto amava.

Amon, desde o abraço, sempre fora muito prático e seu raciocínio igualmente sagaz.


Ilyias, ainda que digas que este fardo é apenas teu, não estamos todos nós condenados à mesma sorte? Todas as crias de vós, netos do primeiro, não padecem do mesmo mal? Estamos todos condenados, a não ser que ... A voz de Amon se perdeu no ar, ele não acreditava que fosse possível reverter tal maldição.

Além disso, meu senhor, tenho receio em perpetuar nossa família, pois, com o passar do tempo, seremos seres insensíveis com os outros ao nosso redor e isso, pode ser deveras perigoso. O que uma criatura sem emoções seria capaz de fazer para sentir o mínimo de emoção possível? Ou então, não interferir nas más ações de nossos semelhantes?

Mais uma pausa. Amon olhava de Troile para Ilyias, enquanto ponderava seu pensamentos.

Quanto a sair de Nippur, já considerei esta possibilidade, como já o disse noites atrás. Já encontrei alguns mortais que me acompanharão na criação de uma nova cidade, pois esta, com toda a certeza, está fadada a destruição e ao esquecimento...

Ao sentir a presença de Anis, Amon olha pela sacada, atento aos acontecimentos de sua cidade.
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Ter Jun 26, 2018 6:36 am
Ilyias sorriu diante das palavras de Amon. O cainita mais jovem percebia que, lentamente, algo parecia mudar em seu Senhor. Seria esperança? Havia uma fagulha levemente iluminada nos olhos de Ilyias que parecia sugerir tal sentimento. Em todo caso, o Senhor não parecia disposto a compartilhar suas impressões, ao menos não em detalhes.

- Eu compreendo teu medo. Mas não quero que ele o domine. Tudo mudará pois tudo muda, Amon, nada é perpétuo e nós somos uma das poucas famílias que estamos cientes disto.

Ilyias olhou para Troile e, fazendo um movimento com a mão esquerda, convidou o mortal a se aproximar. Troile obedeceu sem pestanejar, mas Amon percebeu que seus passos eram cuidadosos. O Antediluviano tocou o ombro do mortal, indicando que ele deveria entrar e subir as escadas do Templo, em direção aos seus aposentos privados. Troile seguiu, sem olhar para trás.

Ilyias, então, se voltou aos seus dois filhos. Amon sentia a presença de Anis a aproximar-se.

- Nós não seremos limitados para sempre, Amon e Belit. Eu sou o culpado, dado o meu egoísmo, pela maldição que vocês carregam. E eu serei o responsável por libertá-los.

Ilyias se aproximou, beijando a testa de Belit-Sheri. Fez o mesmo com Amon e, em seguida, deixou seus dois filhos na sacada, seguindo Troile e evitando encontrar-se com Anis, que aproximou-se alguns minutos depois.

Como era bela Anis, a Rainha da Noite. Era mais jovem que Amon, e suas andanças a haviam conduzido aos quatro cantos da Terra. Amon sabia que Anis detestava Nippur e tudo o que ela representava, e isso a havia posto em rota de colisão com Ilyias. Em uma discussão particularmente calorosa, o Pai declarou à filha que a sua presença ali era irrelevante. Anis, então, partiu. Isso havia acontecido há mais de um século atrás.

Anis se vestia em branco, um longo vestido feito de tecido que parecia ser algodão. Seus cabelos escuros estavam soltos, emoldurando os olhos de um castanho avermelhado. O colo estava adornado por um grande colar verde e dourado e nos pés mantinha sandálias de couro. Anis tinha uma força imensa, um caráter difícil e um ódio latente, que parecia ameaçar todas as coisas ao seu redor. Não obstante, sorriu quando diante de seus irmãos.

- Eu vos saúdo, Amon e Belit-Sheri. Senti vossa falta. E é muito bom que estejam aqui, pois é convosco que gostaria de discutir sobre as minhas Visões mais recentes. Tenho todos os motivos para acreditar que a existência do Pai esteja em perigo.
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Ter Jun 26, 2018 12:57 pm
O filho apenas acompanhou com o olhar a saída de Ilyias. Seu coração havia ganhado nova esperança, considerando as palavras do pai. Se ele disse que era possível vencer a maldição, então, certamente era verdade. E se Ilyias sabia, uma hora ou outra ele também saberia.

Antes da chegada de Anis no recinto, Amon caminhou até uma mesa de pedra negra , erguida num canto do cômodo. Pegou um tecido de algodão, molhou-o numa bacia cheia de água limpa e então limpou seu rosto, ainda sujo de suas lágrimas rubras.

Assim que Anis chegou a sua presença, Amon sorriu. Apesar dos desentendimentos entre seu senhor e ela, o brujah não desgostava da irmã, pelo contrário. Ela seu oposto, a intempestividade que Amon jamais alcançaria.


Seja bem vinda de volta irmã! Sua falta também foi sentida. Nippur não é a mesma coisa sem ti. A sua presença aqui é mais do que oportuna nesta noite, receberei aqui no templo a presença de dois mortais, os quais acredito, merecem receber nosso sangue. Um deles até acho que vai agradá-lo irmã. Falou Amon, olhando fixamente para Anis.De qualquer forma, vamos até o alto do templo, de lá poderemos observar a cidade e também o céu, assim poderemos aproveitar o frescor da brisa noturna. E assim verei quando nossos visitantes chegarem.

Amon caminha até próximo a Anis e a abraça pela cintura, guiando-a para a ala superior externa, olha para Belit-Sheri e indica com a cabeça que ela o abrace pelo outro lado. MAis uma vez, todos estavam juntos e em pouco tempo, seriam em maior número.[/b]
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Qui Jun 28, 2018 4:07 am
Caminharam, os três juntos uma vez mais, em direção ao topo do Templo. Avançaram pelas escadas e Amon pode perceber que suas duas irmãs pareciam particularmente felizes de se reencontrar. Por mais que Amon amasse de maneira igual Belit e Anis, sempre soube que as duas partilhavam de uma conexão especial, algo intangível mas passível de ser sentido. Caminhavam de maneira semelhante, tinham expressões corporais parecidas. Anis parecia se inspirar na calma e elegância de Belit-Sheri que, por sua vez, parecia extrair lições da impetuosidade e determinação de Anis. Era um conexão que ele desconhecia. Talvez a tivesse sentido no momento em que viu Troile pela primeira vez.

Do alto, Nippur era estonteante. A Cidade dos Deuses se descortinava diante dos olhos dos cainitas, com suas torres e casas se estendendo pela planície, em direção ao norte. Mortais caminhavam pelas ruas, realizando seus afazeres. Alguns passavam diante do Templo e, identificando os deuses na parte mais alta, os saudava com acenos e reverências. Anis respirou profundamente o ar de Nippur, parecia feliz de estar mais uma vez na cidade de seus ancestrais. Com a mão direita acariciava os cabelos de Belit-Sheri. Seus olhos amorosos pousaram em Amon.

- Não me parece que você deu a devida importância ao meu aviso, irmão. E, se não o fez, é em razão de saber melhor do que eu o que aguarda nosso Pai. Você sempre viu muito mais distante do que nós, enxerga além do Tempo exatamente como faz o Pai. Portanto, diga-me. Sinto que algo mudou nesta casa. Há alguém aqui, alguém que faz o Pai vibrar de excitação. Sinto nas paredes deste Templo, sinto no ar o que sente meu Pai neste exato momento. De quem se trata?

Amon ouvia as palavras de Anis enquanto observava o horizonte. Conseguiu enxergar, sem nenhum esforço, a figura de Astar que adentrava Nippur. O mortal pedia informações aos transeuntes, aparentemente jamais havia pisado na cidade sagrada. Os outros mortais pareciam indicar o caminho que ele deveria tomar para alcançar o Templo. O cainita olhou também para baixo. Shalmath, a escrava que havia visto na noite anterior, se aproximava. Estava completamente diferente. Havia se lavado e se alimentado, parecendo menos frágil. Caminhava altivamente em direção ao templo. Seus longos cabelos escuros estavam soltos e adornados, no alto, com uma espécie de tiara de metal. Vestia-se elegantemente, com roupas escuras e detalhes dourados. Não parecia uma escrava. Se assemelhava a uma rainha, e talvez o fosse, considerando que a escravidão reduzia a nada mesmo o mais nobre dos homens. Shalmath não adentrou o Templo. Se deteve diante dele, aparentemente esperando um convite ou uma permissão para entrar.

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Astar, o Mercador.

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Qui Jun 28, 2018 8:09 am
Amon afastou-se de suas irmãs, caminhando até o limite do andar. Respirou fundo, como fizera Anis, a instantes atrás. Apesar de Nippur já não lhe causar a mesma fascinação. Ele olhou para baixo, fixando seus olhos na antiga escrava. Shalmath, assim que Astar, o mercador chegar, podem entrar, vocês são aguardados em minha morada. Seus olhos ainda pairavam sobre Shalmath. Como era bela sem o julgo da escravidão e como parecia sabia, certamente ela agradaria Belit-Sheri, enquanto Astar agradaria Anis, assim ele pensava.

Virou-se para encarar Anis.


Irmã, tens toda razão, apesar de que desta vez, foram os olhos de Belit que vislumbraram esta possibilidade. Amon ponderou por uns momentos, se deveria ou não falar sobre Troile, no entanto, tinha certeza de que a irmã já sabia. Não seria uma coincidência ela estar ali. Não seria mera preocupação com o pai. Ela queria vê-lo, Amon sabia disso. Como bem sabe, a maldição que afeta nosso pai o leva para um caminho de solidão e indiferença. Belit e eu estávamos preocupados demais com esta situação, até que nossa irmã viu, entre as mais diversas possibilidades, a existência de Troile, o mesmo que viestes ver. E como previsto, a sua presença foi avassaladora, tanto para o pai, quanto para nós dois. Me parece que este homem vai mexer com a nossa existência. E digo isso num amplo sentido. A sua presença já nos é inestimável.

O brujah se calou ao ver Shalmath e Astar chegando a sua presença. Sorriu para ambos e depois olhou para suas irmãs.

Estes, irmã, são os mortais que lhe falei ontem. Veja-os como são belos, cada um a sua maneira.

Amon toma para si as mãos de Shalmath e as beija. Segue até Astar e diz:

Temos assuntos grandiosos a tratar Astar. Virou-se novamente para suas irmãs. E então irmãs, o que me dizem?
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